Lidando com a peste

Lidando com a peste



Capítulo 8 – Lidando com a Peste


Mais tarde, Almoço no Salão Principal


Lily Observadora: Quarto dia


Observações Totais: 24


Sabe, realmente demora muito para uma garota ser verdadeiramente capaz de se chamar de elegante...


Veja bem, elegante é, na verdade, uma palavra bastante complicada, e uma característica ainda mais complicada. Quando falamos em ser realmente, verdadeiramente elegante, há, na verdade, apenas uma quantidade de pessoas bem seletiva que realmente tem uma habilidade de ser elegante. A arte da elegância – com sua perspicácia, sua brilhante brandura, e seu total e completo sentimento de afabilidade – não é, infelizmente, uma coisa que todo Tom, Dick, e/ou Harry consegue. A utilização da elegância poderia ter um efeito colateral desastroso também. Quando usado incorretamente ou por alguma pessoa incapaz, a elegância poderia muito bem levar ao fim do mundo como nós conhecemos.


Sabendo de tudo isso foi que eu achei um feito real e profundo que hoje, agora mesmo, eu, Lily Christine Evans consegui a honra de me chamar de elegante.


É, é isso mesmo. A Lily Evans boba, avarenta, e cheia de carma ruim, estava TÃO elegante, que eu acho que eu mereço algum tipo de aplauso, ou, possivelmente, uma recompensa. Eu fui tão genial. Muitas pessoas não poderiam ter feito o que eu fiz e, ainda assim, sair ileso, mas eu fiz.


Eu estou simplesmente irradiando elegância de tão elegante que eu estou.


Eu estava caminhando para a sala de Poções, A Tarefa presa fracamente na minha mão esquerda. Eu acho que é bem seguro dizer que eu estava perto demais de ter um ataque de pânico, o que não é considerado saudável. Sério, não é brincadeira. Eu acredito que eu estava a um sussurro de desmaiar e cair no chão. Quero dizer, eu não faço coisas como essa. Eu entrego todas as minhas tarefas, respeito completamente todos os meus professores (não importando o ressentimento existente entre nós dois), e por último e mais importante, eu não escuto o James Potter quando ele me diz para eu não fazer essas coisas. Essa não sou eu. Eu não sou assim. E agora, repentinamente, lá estava eu, agindo...bem, não como eu. O que, possivelmente, poderia estar me compelindo a fazer tal coisa? (Quero dizer, além da minha completa estupidez e do meu estilo de vida avarento?). Essas características bastante condenáveis não pareciam suficientes. Nada parecia suficiente. Mas eu ainda iria fazer isso. Eu não tinha mais nenhuma escolha, a não ser fazer isso. E era isso que me assustava.


Bem, de qualquer forma, eu não desmaiei, nem morri e nem tive um colapso ou algo assim, apesar de que eu estava internamente hiperventilando e externamente mordendo os meus lábios tão forte que eles, praticamente, sangraram. Eu entrei na sala ainda viva, para o meu grande desapontamento.


“O que há de errado com você?”, Grace perguntou, pegando o lugar ao lado do meu enquanto nós entrávamos na sala, um tom levemente preocupado em sua voz “Você parece muito pálida, Lily”.


Eu passei a minha mão no meu rosto, esperando que isso, de alguma forma, acalmasse meus nervos, ou talvez não os fizessem tão aparentes. Essa era a última coisa que eu precisava agora mesmo – ser mandada à Ala Hospitalar porque eu parecia doente.


“Nada. Eu estou bem”, eu insisti, propositalmente colocando os meus livros na nossa mesa para que eles pudessem cobrir A Tarefa. Grace me olhou.


“Não seja idiota, Lily. Você está agindo loucamente toda a manhã. Agora, você vai me dizer o que está acontecendo, ou eu vou ter que arrancar isso de você?”.


Eu recuei levemente por causa de seu ultimato. Eu poderia contar a ela, não poderia? Não seria assim tão grande coisa. Como eu disse antes, Grace ficaria totalmente empolgada com a coisa toda. Ela pensaria que eu virei algum tipo de renegada ou algo assim. Ela é minha amiga. Ela não julgaria o fato de que eu não estou agindo como eu mesma, e o fato de que eu estou fazendo algo tão inacreditavelmente idiota, que é quase cômico. É pra isso que as amigas servem: pra te apoiar quando você está sendo inacreditavelmente idiota.


Mas antes que eu pudesse inventar uma desculpa qualquer ou finalmente criar coragem e contar a ela sobre a aposta estúpida, alguma coisa atrás de mim chamou a atenção de Grace. Um pouco aliviada pela distração momentânea, eu me virei para ver o que ela estava olhando. Eu não fiquei tão surpresa como eu deveria ficar, ao encontrar Potter lá em pé. Parece que ele sempre está onde você não quer que ele esteja.


“Tudo bem, Evans?”, ele me perguntou com um sorriso infantil e com um brilho travesso em seus olhos. Eu lutei contra o desejo de olhá-lo furiosamente. Ele estava gostando do meu sofrimento muito mais do que era absolutamente necessário.


“Tudo bem, Potter”, eu murmurei, me forçando a sorrir. “E você?”.


“Eu estou ótimo”, ele me disse, sobrancelhas levantadas. Eu poderia dizer, apenas pelo jeito que ele ainda estava sorrindo, que ele não acreditou no meu sorriso de fachada nem por um segundo. Ainda assim, a minha única outra opção era começar a chorar bem ali, então, vocês vão entender porque eu escolhi continuar com a minha farsa.


“Que bom”, eu respondi calmamente, abaixando os meus olhos. Eu não queria mais olhá-lo. Potter riu.


“Na verdade”, ele continuou, me olhando nos olhos, apesar de minha cabeça estar curvada, “Eu acho que eu posso ter achado dez galeões essa manhã, então, eu diria que eu estou mais do que bem, você não acha?”. Ele me olhou criticamente, me desafiando a contradizê-lo. Eu queria olhá-lo furiosamente, mas eu sabia que eu não podia. Eu estava quase reagindo, tentando fazer alguns comentários inteligentes, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Grace entrou na conversa.


Pode ter achado dez galeões?”, ela bravejou, olhando de um para o outro de forma cética. “Você simplesmente não acha dez galeões, James! O que vocês estão – “


“Reynolds!”.


A voz da Professora Abbott se espalhou pela sala, interrompendo e imediatamente paralisando Grace. Nós três movemos nossos olhos para onde Abbott estava nos olhando com raiva do seu lugar na frente da sala. Grace fechou sua boca, sua fala interrompida. “Sr. Potter”, Abbott falou com raiva, ainda nos encarando com sua expressão mais horrível, “Eu sugiro que você se sente! Agora.”.


“Desculpa, Professora”, Potter respondeu, ainda sorrindo. Ele moveu-se rapidamente até o seu lugar do outro lado da sala, nem um pouco intimidado com o fato de que um professor tinha acabado de gritar com ele na frente da turma toda, enquanto eu estava quase morrendo de medo, sendo que ela nem tinha percebido que eu estava lá ainda. Eu odiava o fato de que ele podia ser tão despreocupado, o fato de que nada disso importava pra ele. Eu me virei para frente, sentindo que Potter ainda estava me observando, mesmo depois dele ter sentado em seu lugar. Quando eu lhe lancei um olhar, ele estava se reclinando casualmente em sua cadeira, olhando para mim. Ele me lançou seu sorriso mais triunfante.


Seu idiota vaidoso e cruel.


A aula seguiu normal depois disso. Como sempre, Abbott iria recolher nossas tarefas no fim da aula, o que, naturalmente, me deixou mais ou menos uns quarenta minutos de aflição. Eu pensei em não entregar nada, mas descobri que isso provavelmente seria tão ruim quanto entregar minha carta. Depois, eu pensei em pedir para a Grace para eu copiar a sua redação, mas depois eu rejeitei essa idéia porque Professora Abbott perceberia. Depois, eu ponderei sobre os prós e contras de dez galeões e como o seu ganho poderia me afetar, afetar a minha vida e meu status completo como uma pessoa avarenta. Depois que isso começou a ficar chato, eu comecei a rabiscar. E quando isso ficou chato, eu fiz anotações. Apesar de tudo, foi uma aula muito produtiva, e antes que eu percebesse, o sinal do almoço tocou.


“Tarefas! Na minha mesa! Agora!”, Abbott gritou alto, assegurando que seu pedido alcançasse até mesmo os alunos mais apressadinhos. Houve gemidos e protestos, mas todo mundo começou a se mover até a mesa de Abbott com suas tarefas.


Era hora. Eu não podia acreditar. Eu não deveria estar tão chocada sobre isso tudo – eu estava contando os minutos desde o maldito segundo que eu tinha entrado na sala, pelo amor de Merlin! – mas eu estava. Eu olhei para A Tarefa, observando minha letra torta com um silencioso sentimento de medo. Eu disse a mim mesma que tudo ficaria bem; que daqui a vinte anos, ninguém iria se importar que Lily Evans não tivesse entregado a sua tarefa de Poções. De alguma forma, esses pensamentos fracassaram ao me confortar.


Eu respirei fundo, sabendo que se eu continuasse a perder tempo, eu não entregaria nada no fim das contas. Eu repeti o meu mantra de que tudo ficaria bem, enquanto eu dava uma rápida e última olhada na minha Tarefa...e então, eu tive uma idéia. Eu rapidamente usei a minha varinha para copiar a carta em outro pedaço de pergaminho em branco. Com um último suspiro, eu peguei o original e, decididamente, caminhei até a frente da sala. O mais fria e rapidamente que eu podia conseguir, eu coloquei o original no topo da crescente pilha de tarefas, a observando com um sentimento levemente nauseante, enquanto ela desaparecia debaixo das redações dos meus colegas. Era isso. Estava feito. E o mais chocante de tudo é que, assim que eu vi o pergaminho desaparecer completamente, o sentimento nauseante que vinha agitando o meu estômago sumiu. Assim, do nada, ele desapareceu. Ao invés disso, eu senti...calma.


Sim, calma.


Eu sei, eu sei, como eu podia estar calma? Mas a verdade era que estava acabado. Eu tinha entregado e não tinha mais nada que eu podia fazer para mudar isso. Eu posso tirar um zero, ou não. Abbott pode decidir ler a minha carta na frente da turma toda como algum tipo de punição e me forçar a olhar os meus colegas rirem por debaixo de suas mãos, mas o que eu poderia fazer? Nada. Eu não podia fazer nada. E eu aceitei isso. E de alguma forma estranha e sem sentido, eu acho que eu também estava...orgulhosa de mim mesma. Quero dizer, eu tinha conseguido. Eu tinha realmente conseguido. Com motivo ou sem motivo, mesmo assim, eu ainda tinha conseguido. Eu era agora, oficialmente, uma criadora de caso. Junto com o leve sentimento de pânico que veio com tal declaração (e mais do que um leve sentimento de total alegria), eu também me senti satisfeita. Completa, até. Eu não era mais Lily Evans, a boazinha e comportada. Eu era Lily Evans, A Escritora de Cartas Escandalosas.


E acredite ou não, Lily Evans, A Escritora de Cartas Escandalosas tinha um plano.


Um bom plano.


Um plano elegante.


Depois de entregar A Tarefa e rapidamente pegar os meus livros da minha mesa, eu peguei o pedaço de pergaminho que continha a cópia da minha carta que eu tinha feito antes. Eu examinei a sala rapidamente, aliviada ao descobrir que a pessoa que eu estava procurando ainda estava na sala. Jogando meus ombros para trás e levantando o meu queixo, eu respirei fundo mais uma vez e depois comecei a caminhada pela sala. Eu andei confiantemente até o outro lado da sala, parando em frente à mesa onde Potter, Black, Remus e Peter ainda estavam arrumando suas coisas para sair.


“Oi, Evans”, Peter disse, sendo o primeiro a perceber que eu estava lá. Ele lançou a Potter um olhar rápido, o que me fez imaginar que Potter tinha contado aos seus amigos sobre a aposta. Ele, diferentemente de mim, parecia não ter problema nenhum em contar.


“Oi, Peter”, eu o cumprimentei com um sorriso. O cumprimento gentil chamou a atenção dos outros três marotos, e assim que perceberam minha presença, todos eles trocaram olhares, parecendo ter algum tipo de conversa silenciosa em questão de segundos. Potter foi o primeiro a se aproximar de mim, e o olhar confiante que ele ostentava foi o suficiente para me fazer querer cair na gargalhada.


Mas eu não ri. Ainda não.


“Bem, essa é uma surpresa boa”, ele disse com um sorriso afetado, cruzando seus braços. “Está aqui para um pouquinho de conversa, Lily? Ou talvez, você tenha algo que você queira me dar?”.


As gargalhadas estavam morrendo de vontade de sair, mas eu as engoli rigorosamente para não estragar a minha diversão. Ele estava tão pomposo com a coisa toda que era quase triste. Ele obviamente achava que eu tinha me acorvadado e entregado a tarefa correta. Hunf! Ele obviamente não me conhece tão bem quanto ele acha que conhece.


Mantendo o meu comportamento calmo, controlado e elegante, eu simplesmente sorri em resposta ao Potter, tirando a cópia da minha carta das pilhas de livro que eu estava carregando.


“Na verdade”, eu disse, segurando a carta na sua frente, “Eu queria te dar isso”.


Obviamente, o pergaminho não era o que ele estava esperando; seu olhar me mostrou isso. Ele olhou o pergaminho na minha mão estendida curiosamente, me lançando um olhar incerto. Ele o pegou lentamente da minha mão, e eu o observei com um sorriso, enquanto ele, silenciosamente, começava a ler. Eu esperei pela resposta inevitável, enquanto Potter começava a perceber, lentamente, o que exatamente era o pergaminho.


“O que é isso?”, Sirius perguntou, se aproximando de Potter. Eu esperei pela reação de Potter, enquanto ele examinava o pedaço de pergaminho. Sirius se aproximou ainda mais dele, tentando ver melhor a carta por sobre o seu ombro, mas Potter o tirou de suas vistas.


“Não é nada”, eu disse a Sirius. “Eu prometi a Potter que eu o deixaria olhar a minha tarefa”.


O olhar descrente que Sirius me lançou me levou a acreditar que talvez Potter não tivesse contado a seus amigos sobre a aposta, no final das contas. No entanto, eu não estava preocupada com isso. Eu não me importava se o resto deles sabia ou não. Eu continuei com os meus olhos grudados no Potter. Seu rosto estava completamente inexpressivo, enquanto ele examinava a página. Não tinha nenhum jeito de eu descobrir o que estava passando em sua cabeça. Seu rosto estava vazio de emoção.


E então, depois do que pareceu pra sempre, ele finalmente olhou pra mim. Um pequeno sorriso estava brincando em seu rosto.


“Você não faria isso”, ele disse, estreitando seus olhos.


Eu ri.


“É claro que eu faria”, eu disse a ele com um sorriso muito elegante. “E eu suponho que você, em breve, terá algo pra mim em troca?”.


Potter balançou sua cabeça lentamente. “Você está mentindo”, ele ainda insistiu.


Eu não pude evitar de sorrir orgulhosamente, ao mesmo tempo em que dava de ombros. Estava acabado. Eu tinha ganhado. Ele podia negar o quanto quisesse agora, mas mais cedo ou mais tarde, ele iria ter que jogar a toalha. Essa idéia me encheu de uma alegria tão contagiante que eu sabia que eu tinha que sair de lá rápido ou eu iria arruinar toda a minha fachada elegante com uma combinação de gargalhadas infinitas.


“Acredite no que quiser”, eu terminei simplesmente, ainda observando o rosto do Potter. Ainda não havia nenhum sinal de que ele acreditava em mim, mas eu não me importava. Eu sabia que por trás daquela fachada incerta, ele estava internamente chocado com o meu comportamento. E por isso, eu sorri de novo.


E então, assim como ele tinha feito várias vezes antes, eu me virei e caminhei casualmente para fora da sala, rindo silenciosamente pra mim mesma durante todo o tempo.




Mais tarde, Herbologia


Lily Observadora: Quarto dia


Observações Totais: 24


Sabe, eu acho que ser elegante realmente ajudou a minha disposição. Quero dizer, ainda essa manhã eu estava arruinada – me preocupando insensatamente com a carta idiota e com aquela aposta ridícula – mas agora que isso está acabado, e que eu ganhei meu lugar no Mundo dos Elegantes ...bem, vamos apenas dizer que a vida está parecendo um pouquinho mais resplandecente.


Como por exemplo, na hora do almoço. Quando Emma se sentou com o Mac na mesa da Corvinal e ficou me olhando furiosamente, eu não fiquei chateada e nem tentei acenar para ela de um jeito muito amistoso como eu geralmente faço. Ao invés disso, eu simplesmente a ignorei e não a deixei me incomodar. É um sentimento muito reanimador, toda essa não-preocupação. Eu acho que eu gosto disso.


E agora eu acho –


Oh.


O que é isso?


Um bilhete?


Hum. Potencial.


Absurdo. Você não entregou a carta. – JP


Ora, ora, ora, o que nós temos aqui? Outra coleção de bilhetinhos do James Potter, pelo que vejo. O pobre idiota não aprendeu com a última vez? Quero dizer, se ele quer ser acertado na cabeça por pedaços de pergaminho voadores, ok, tudo bem, quem sou eu para dizer não? Melhor pra mim, eu acho. No entanto...eu deveria responder dessa vez? Os bilhetes dele, quero dizer? Eu não estou exatamente mais com raiva dele, estou? E eu não tenho certeza se pessoas elegantes fazem coisas como essa, de qualquer forma. Jogar pergaminho na cabeça das pessoas, quero dizer. Não parece muito com o tipo de coisa que James Bond faria.


Hum.


Interessante.


Se você não tem os dez galeões, eu vou entender. Sério. Ao invés disso, você poderia ser o meu escravo particular. – LE


Quando você é elegante como eu, afirmações como “Você poderia ser meu escravo particular” não são consideradas como indireta sexual. Ao invés disso, elas são consideradas comentários engraçados e inteligentes. É por isso que eu gosto de ser elegante. Se a Lily Não-elegante tivesse dito algo assim, isso poderia muito bem ter sido considerado um comentário implicantemente paquerador e de piranha, o que, você sabe, eca.


É bom ser elegante.


Tão intrigante quanto isso pode parecer, eu acho que não é muito justo, considerando que você perdeu. Se você não tiver o dinheiro, talvez você possa ser minha escrava particular...?


Percebe? Sendo um membro ávido no Mundo dos Elegantes, Sr. Potter pode dizer essas coisas de uma maneira não-paqueradora.


Como sua primeira tarefa, você pode começar a copiar essas informações sobre as plantas Riciferd para mim.


Copiar as informações? Você quer dizer que você já não sabe tudo que há pra saber? Evans, você está falhando.


Pelo contrário, Sr. Potter. Eu nunca falho. Ah, e escreva de modo organizado, por favor.


Talvez eu deva ir perguntar para a Abbott sobre a sua tarefa, então?


Talvez você deva.


Ótimo. Eu acho que eu vou.


Na verdade, eu sei que eu vou.


Esse é o momento em que você começa a entrar em pânico e confessa que você realmente não entregou aquela carta idiota.


Comece, a qualquer momento.


Eu estou esperando.


Preferivelmente em algum momento deste século, por favor.


Eu realmente não sei como você pode estar escrevendo essas coisas insignificantes, enquanto também copia todas aquelas informações do quadro.


Eu não tenho que copiar aquilo. Eu tenho uma escrava particular que está fazendo isso.


Sério? Tenha certeza que a sua escrava particular esteja copiando de forma organizada. Eu tenho que conseguir ler as anotações, sabe.


Minha escrava particular sempre escreve de forma organizada. Ela nunca falha.


Bem, bom pra você então. Sua escrava particular parece perfeita.


Ela é.




Mais tarde, Biblioteca


Lily Observadora: Quarto dia


Observações Totais: 26


“O que foi aquilo?”.


A voz decepcionada de Grace soou atrás de mim, e eu não pude evitar suspirar. Francamente, eu estou tentando fazer o meu dever aqui. Nem todas as pessoas são super-inteligentes e podem simplesmente estalar os dedos e ter as coisas prontas, sabe. E já que monitoras-chefe têm que realmente manter um ritmo de trabalho constante com coisas como notas e vidas, e eu já fiquei pra trás nisso, eu não posso me permitir ter mais algum atraso.


E nem mesmo importa que eu, na verdade, não estava fazendo meu dever, mas sim olhando para aquele garoto bastante encantador algumas prateleiras abaixo, porque essa não é a questão. A questão, claro, é que eu poderia estar fazendo meu dever, e seu estivesse fazendo, Grace não deveria me incomodar com aqueles seus “o que foi aquilo?”, porque eu não sei o que ‘aquilo’ era. Eu nem mesmo sei o que ‘aquilo’ é.


“O que foi o quê?”, eu pergunto a ela, fingindo continuar a escrever a minha tarefa de Feitiços, apesar de eu estar escrevendo isso.


“Aquilo!”, ela exclamou, seus braços se batendo. Eu a encarei inexpressivamente. Ai, coitada, ela finalmente ficou louca. Eu sabia que aconteceria um dia, mas...que hora mais horrível, né? Agora, eu tinha duas melhores amigas, depois uma, e agora nenhuma...Eu vou ter que fazer uma audição ou algo assim. Para novas melhores amigas, quero dizer. Ao menos que eu consiga que Emma volte a falar comigo de novo, e talvez tente “desenlouquecer” a Grace. É difícil, eu acho, mas eu sou uma garota esperta, eu vou conseguir. Bem, não esperta na verdade, mas elegante, o que tem que valer de alguma coisa, certo? Eu imagino -


Lily!”.


Ai, droga. Ela estava falando?


“Você escutou alguma coisa do que eu disse?”.


Madame Pince mandou a gente se calar. Grace a ignorou. Eu sacudi a minha cabeça.


Aquilo”, Grace disse lentamente pela terceira vez, “é a completa e total insanidade que vem acontecendo toda a manhã! Primeiro, com aquela coisa dos dez galeões em Poções, depois com toda aquela troca de bilhetes maluca em Herbologia – sim, não pense que eu não vi aquilo, Lily Christine Evans! Agora, você vai me contar o que está acontecendo, ou eu vou ter que arrancar isso de você?”.


Me levou um momento ou dois para eu descobrir do que diabos ela estava falando. Depois, eu percebi.


Potter.


“Aquilo” é Potter e eu.


“Bem, eu não chamaria passar bilhetinhos uma insanidade, Grace”, eu respondi friamente, ainda considerando a possibilidade de contar sobre a aposta pra ela ou não. “Quero dizer, eu e você fazemos isso toda hora”.


Grace me olhou furiosa. “Sim, mas a última vez que nós trocamos bilhetinhos, eu não ignorei completamente a parte do plano de passar o bilhete e comecei a contar pontos por cada vez que eu conseguia arremessar um pergaminho na sua cabeça. Eu fiz isso?”.


Boa questão. Foi um jogo divertido – bastante inteligente da minha parte também. Apesar de eu achar que jogar pergaminhos nele foi um pouquinho imaturo da minha parte. De novo, divertido, mas imaturo. Hum. Talvez da próxima vez – bem, quero dizer, se houver uma próxima vez. Quero dizer, eu duvido que Potter esteja ansioso para passar o seu tempo trocando bilhetinhos comigo. Ele apenas fez isso da primeira vez porque eu estava com raiva dele, e ele apenas fez isso dessa vez porque ele queria os seus dez galeões (o que ele não vai ganhar, já que ele perdeu). Ele realmente não tem um motivo para fazer isso de novo. Não que eu queira que ele faça isso ou qualquer coisa. Nós não nos gostamos, e pessoas que não se gostam não gostam de trocar bilhetinhos.


Mesmo que esses bilhetinhos sejam, de alguma forma, engraçados já que nós dois somos elegantes e inteligentes e tudo mais.


Então?”.


Ai, droga. Não prestei atenção de novo.


“Er...não está acontecendo nada, Grace”, eu disse com um dar de ombros inocente. Grace me lançou um olhar. “É sério”, eu insisti. “Eu o deixei ler a minha redação de Poções, e ele tinha uma pergunta sobre isso. Isso é tudo”.


Não era realmente uma mentira, quando você pensa sobre isso. Tecnicamente eu realmente dei para ele o que eu entreguei como minha redação de Poções,e ele, tecnicamente, teve uma pergunta/comentário sobre ela, então eu não estava realmente mentindo pra ela. Não que teria importado se eu realmente tivesse tido que mentir. Parece que, apesar de eu ser uma garota cheia de carma ruim, eu sempre tive a habilidade de ser uma boa mentirosa. Não que seja bom ou algo assim. Mentir é feio e as pessoas não deveriam fazer isso. Principalmente as pessoas que são monitoras-chefe. É ilegal ou algo assim, eu acho.


“Vocês trocaram bilhetinhos por um tempo muito grande pra ele ter apenas uma pergunta, Lily!”, Grace respondeu com raiva. Eu olhei para a Grace com raiva. Eu não sei porque ela está tão chateada com isso. Francamente, não eram ela e Emma que ficavam sempre me falando como Potter é um cara legal e gentil?


“Por que você está assim?”, eu perguntei a ela, expondo as minhas preocupações. “Você e Emma estão sempre falando que Potter é um amigo perfeito, e agora, do nada, eu troco alguns bilhetinhos com o maldito garoto e ele, repentinamente, se torna o assassino de jovens inocentes?”.


“Então vocês são amigos agora?”, Grace perguntou rapidamente, alterando as minhas palavras, a raiva sumindo de sua voz. Ao invés disso, sua voz parecia peculiarmente ansiosa. “Você e James?”.


Eu revirei meus olhos. “Não, nós não somos amigos”, eu respondi com raiva, fazendo uma careta. “Nós não nos suportamos! Você sabe disso!”.


Grace estreitou seus olhos com suspeita.


“Mas você acabou de dizer que você deu a ele sua redação!”, ela me lançou aquele olhar ‘alguma coisa não está certa aqui’. “Você simplesmente não sai por aí dando suas tarefas para as pessoas que você odeia, dá?”.


Isso é verdade. Mas a maioria das pessoas também não faz apostas de dez galeões com pessoas que elas odeiam.


“Não é assim”, eu digo a ela, apesar de que, estranhamente, isso é tecnicamente, exatamente o que parece. “É...uh...uma coisa de monitores-chefe. Você realmente não entenderia”.


“O que eu não entenderia?”, Grace perguntou. “O que você não está me contando?”.


Eu fiquei calada e não a respondi. Sinceramente, eu não sei porque eu não conto sobre a estúpida aposta para a Grace. Nem é grande coisa, e não é como se ela fosse Emma para me repreender por causa disso. Na verdade, Grace provavelmente aplaudiria os meus esforços para não fazer a tarefa e me daria boas-vindas por entrar em seu mundo. Eu simplesmente...é só que...ela tem razão, eu acho. Quero dizer, como eu posso dizer que Potter e eu somos inimigos numa hora, e depois eu vou e faço apostas com ele e troco bilhetinhos com ele? Talvez eu só esteja confusa. Talvez é por causa de toda aquela transformação de Potter-Malvado/James-Amigável que ele fica empurrando pra mim. Eu acho que é só que eu realmente ainda não sei o que pensar dele. A última vez que eu aceitei algum tipo de relação com o James-Amigável, eu terminei com uma grande gosma verde na minha cabeça. Quem iria querer se colocar nesse lugar de novo?


“Eu já te disse...tudo”, eu respondi com o coração apertado um tempo depois, nem mesmo me importando em esconder a minha mentira. Grace entendeu a indireta óbvia.


“Bem”, ela me disse se levantando, “Eu estou indo para o treino de Quadribol. Mas se, de repente, você se lembrar de algo que você tenha se esquecido de me contar”, ela fez uma pausa e me olhou criticamente, “você sabe onde me encontrar, certo?”.


Eu concordei, mas minhas dúvidas ainda inquietantes sobre aceitar um relacionamento civilizado com James Potter me impediram de fazer o que Grace realmente queria – contar a ela sobre a aposta. Quando eu não disse mais nada, eu escutei Grace suspirar e a observei ir embora algum tempo depois.


É óbvio que eu tenho que pensar em um monte de coisa.


Psh. Sorte minha.




Ainda mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Quarto dia


Observações Totais: 27


Tem alguma coisa errada comigo. Alguma coisa seriamente e irreversivelmente errada. Eu estou doente. Eu estou mal. Eu sei que estou.


Por que eu não iria nem me importar, nem mesmo piscar os olhos de um jeito sensual, quando Amos passou por mim agora mesmo se eu não estivesse doente? E sim, eu acho que é melhor agir naturalmente quando estou perto dele como eu agi agora, do que dar risadinhas e paquerar como eu geralmente faço, mas dar risadinhas e paquerar é o que uma garota deveria fazer quando ela está perto do cara que ela gosta! Quero dizer, eu mal olhei pro garoto! Eu não fiz nada!


Ugh. Isso tudo é culpa da Grace. E do Potter! Os dois estão ARRUINANDO A MINHA VIDA!


JUNTOS!


Eles não percebem que eu já tenho bagunça suficiente na minha vida? Eles realmente não precisam aparecer com suas gentilezas contraditórias e acusações irritantemente precisas para fazer isso ficar pior. Já está ruim o suficiente, muito obrigada.


EU NÃO PRECISO DISSO!


Por que eu não posso ser como qualquer outra garota? Porque eu não posso ser livre para odiar aqueles que eu sempre odiei, ser amiga das garotas que eu sempre fui amiga e paquerar o garoto com quem eu vou me casar? Por que eu não posso? É assim tanta coisa para se pedir, um pouquinho de normalidade na minha vida extremamente anormal?


Não, eu não acho que seja.


Eu não sei o que fazer. Eu não quero mais falar com ninguém. Toda vez que eu falo, eu sempre faço alguma coisa ou digo algo idiota. Ninguém mais pode confiar em mim. Eu decidi, oficialmente, ficar e me esconder na minha cama todo o fim de semana. Isolamento é a única maneira que eu posso esperar que me recupere do sofrimento que eu tenho enfrentado nas mãos dos estudantes de Hogwarts!


Eu não vou sair desse quarto o fim de semana inteiro. Eu não vou, não vou, não vou!


Ao menos que eu tenha que ir ao banheiro. Ou comer. Mas só pra isso e nada mais.


É, nada mais.




Sábado, 20 de setembro, café-da-manhã no Salão Principal


Lily Observadora: Quinto dia


Observações Totais: 28


Me levantei muito cedo essa manhã. Essa mudança no meu relógio interno está ainda mais maluca que antes, porque hoje é SÁBADO – ou, como eu gosto de chamar, O-Dia-Do-Sono – mas eu não estava dormindo. Todo mundo estava – até Emma que geralmente perde O-Dia-Do-Sono – mas eu não estava. Eu fico pensando se isso vai virar minha rotina. Essa coisa toda de acordar cedo, quero dizer. Não é tão ruim depois que você se acostuma com isso, eu acho – diferente com certeza, mas não ruim. Eu não acordei cedo o suficiente para assistir o nascer-do-sol hoje, mas mesmo sem o nascer-do-sol foi bem legal. Todo mundo ainda estava dormindo, então eu pude sair do dormitório e descer para tomar o café-da-manhã sem arruinar todo o plano de “me esconder na cama”. Ninguém nem saberia que eu havia saído.


E quer saber de uma coisa? Eu nunca vi o Salão Principal ficar tão vazio como ele fica de manhã bem cedo. Há apenas alguns estudantes sentados em cada mesa, e apesar de parecer bem estranho, também é meio confortador. Quero dizer, eu não tive que brigar para pegar um pouco de leite, e eu não tive que me preocupar em parecer bonita porque Amos poderia me ver... só tinha eu, a Mary Sue do sexto ano, Corvinal-Roy, e algumas outras pessoas insignificantes, todas parecendo igualmente desarrumadas como eu a essa hora da manhã. Ah, e o Professor Dumbledore, mas isso nem é uma surpresa muito grande, já que ele está sempre em todos os lugares (Observação #28: Dumbledore nunca parece desarrumado. Nunca. Nem mesmo nessa hora tão desconfortável, quando está tudo bem parecer desarrumado, porque ninguém está te julgando. Deve ser cansativo ficar sempre arrumado. No entanto, ele é o Dumbledore e tudo o mais, então eu acho que isso não importa).


Então, agora eu estou sentada aqui, relaxando, dando esporádicos sorrisos agradáveis para a Mary Sue do sexto ano (que está sentada na minha frente) e comendo um café-da-manhã agradável e sem dramas.


Até agora uma manhã adorável.




Mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Quinto Dia


Observações Totais: 31


Observação #29) Aparentemente Mary-Sue, Roy, Dumbledore e eu não somos os únicos a não estarem dormindo no Dia-Do-Sono.


Ninguém espera que as coisas dêem errado quando você está comendo waffles. Sério, eu não estou brincando. Elas simplesmente não dão errado. Waffles não é o tipo de comida que manda sinais de alerta para indicar que alguma coisa pode ficar fora de ordem. Pelo contrário. Eles fazem você pensar que as coisas vão permanecer calmas e agradáveis, assim como os próprios waffles. Talvez seja por isso que eu gosto tanto deles. Dos waffles, quero dizer. Eles parecem tão seguros e cuidadosos...quem poderia resistir? Ou talvez seja porque eu tenho uma quedinha por waffles de morango – mas sem groselha, com manteiga, porque groselha é pegajoso e de alguma forma ou outra, sempre que eu coloco groselha, ela acaba indo parar no meu cabelo. Toda vez, sem falta. Mas esse não é o problema. O problema é, claro, que eu fui levada a um falso senso de segurança por causa dos waffles e tudo mais. Quero dizer, lá estava eu, lançando sorrisos ocasionais para a Mary Sue do sexto ano e, acima de tudo, estava aproveitando a manhã do meu Dia-de-Sono. Eu não poderia esperar problemas quando eu estava comendo waffles (o que, por sinal, estavam maravilhosos. Observação#30) Comida é, definitivamente, muito mais bem feita de manhã bem cedinho. Esses waffles foram, sem dúvida, os melhores que eu já provei. Pensar que eu estive comendo toda a porcaria com que eles estavam me alimentando mais tarde! Hunf!). Não haveria problema nenhum. Absolutamente nenhum.


Eu não vi a coisa vindo.


Até ela se sentar do meu lado.


“Bom dia, Lily”.


Observação #31) Como o Professor Dumbledore, James Potter nunca parece desarrumado.


Eu acho que é seguro dizer que eu parei de respirar. James Potter estava sentado do meu lado. Bem ali. Lá. De manhã bem cedinho. Desafiando a serenidade prometida pelos waffles. Ele estava...ele...ali! Bem ali, perto de mim! A pessoa que eu estava, no momento, em uma missão para ignorá-la completamente, estava sentada bem ali do meu lado! Eu me senti tão traída. Meu carma atingiu um ponto insuperável que podia até mesmo corromper a inocência de um bando de waffles seguros e agradáveis. A vida não poderia ser assim tão injusta para todo mundo.


“Eu...o que você está fazendo aqui?”, foi o que eu consegui soltar, depois que eu consegui me recuperar do choque inicial de ter James Potter sentado do meu lado como se fosse a coisa mais natural do mundo. Potter nem mesmo se incomodou em levantar a cabeça quando ele respondeu.


“Eu estou comendo”.


“É, eu estou vendo”, eu murmurei sem rodeios, olhando para a quantidade astronômica de café-da-manhã que Potter estava, no momento, empilhando em cima do seu prato já abundante. Waffles, eu notei, não era uma de suas escolhas. Na verdade, era praticamente a única coisa que ele não tinha escolhido. “Você é um dispositivo para coleta e tratamento de lixo, você sabia disso?”.


Ele parou de colocar comida em seu parto. “Dispositivo de que?”.


Eu revirei meus olhos e não me incomodei em responder. Se ele não queria prestar nenhuma atenção em Estudo dos Trouxas, então tudo bem. Eu não me tornaria sua professora particular...er, mesmo ele sendo o meu professor particular. Mas esse não é o assunto. O assunto é que ele é um idiota estúpido, e se ele está muito ocupado fazendo estúpidas“Potterices” (como fazer apostas com monitoras-chefe malucas que simplesmente não deveriam estar vivas, ou passar bilhetinhos com sua antiga inimiga porque ele acha que é engraçado confundi-la) para prestar atenção e aprender o que é um dispositivo para coleta e tratamento de lixo, então eu não vou ensiná-lo. Até onde eu sei, ele merece sua ignorância. Talvez se ele simplesmente parasse de ser um idiota estúpido, ele descobriria o que um dispositivo para coleta e tratamento de lixo é.


“Deixa pra lá”, eu suspirei quando Potter continuou a me encarar curiosamente. “O que eu quis dizer é: o que você está fazendo aqui agora? É cedo. Muito cedo. Você está ciente disso?”.


“Totalmente ciente”, Potter respondeu com um sorriso. Finalmente percebendo que mais nenhuma comida podia caber naquele único prato a sua frente, ele passou a colocar em um segundo prato. Esse ele escolheu encher com ovos e torrada. “Eu sempre acordo cedo”.


“Mas é Sábado”, eu tentei de novo. “Nenhuma aula. Você poderia dormir até meio-dia se quisesse”.


“Eu sei”, Potter disse, dando de ombros. Ele me lançou mais um sorriso bobo. “Mas a comida é sempre melhor de manhã bem cedo”.


Eu tentei não olhá-lo de cara feia e, ao invés disso, franzi as sobrancelhas. Essa tinha sido a minha observação. Minha. E quem ele pensa que é pra acordar cedo como eu? Era pra ser a minha hora – a única hora do dia que eu não precisava me importar com nada, nem ninguém. Potter simplesmente não podia invadir essa hora. É injusto. E daí que, tecnicamente, foi ele que descobriu as vantagens de se levantar cedo antes de mim e tem feito isso por um bom tempo? Onde está seu senso de cavalheirismo? Ele não tem vergonha suficiente para se mandar e me dar alguns minutos de paz?


Claro que ele não tem.


Eu suspirei com mau humor, me forçando a não olhar furiosamente o idiota que estava sendo do meu lado. “Ah, eu suponho que é tudo o que importa para um garoto, hum?”, eu resmunguei. “Comida boa?”.


“Nós somos fáceis de se agradar”, Potter riu, dando de ombros de novo. “Mas também existem outras razões”.


“E quais são elas?”.


“Bem, as pessoas, claro”, Potter respondeu com um sorriso travesso. Mas ele não estava olhando pra mim dessa vez. Ele estava olhando para a Mary Sue do sexto ano. “Não é mesmo, Marley?”.


Sua ênfase no nome dela me confundiu, e Mary Sue (Marley?) rindo e acenando com a cabeça apenas me confundiu ainda mais. Ela era muito bonita. Eu imaginei, brevemente, se talvez ele estava ficando com ela.


“Ah, então agora você sabe meu nome, não é mesmo?”, Mary Sue/Marley disse ironicamente, sorrindo para ele também. Eu lutei para manter minhas sobrancelhas no lugar. Bem, eu espero que ele não esteja ficando com ela. Como se finalmente percebesse que eu estava sentada ali, Mary Sue/Marley se virou para mim e explicou, “Potter sabe os sobrenomes por causa do Quadribol. Eu disse a ele que eu tinha certeza que ele nem mesmo sabia qual era o meu primeiro nome”.


Posso dizer que eu estava um pouco aliviada de ouvir aquilo?


“Então, você está no time de Quadribol?”, eu perguntei.


Marley concordou com a cabeça. “Artilheira”, ela me disse.


“Ai, merda”, Potter disse, chamando nossa atenção. Ele olhou rapidamente por toda a mesa. “Eles esqueceram a bosta do ketchup de novo”.


“Ketchup?”, eu perguntei, o observando curiosamente, enquanto ele continuava a procurar pela mesa. “É café-da-manhã. Pra que, pelo amor de Merlin, você precisa de um ketchup?”.


Potter nem se incomodou em levantar a cabeça para me responder. Quando ele não conseguiu encontrar o condimento na mesa da Grifinória, ele se levantou e começou a procurá-lo em outras mesas no salão também. Ele levou alguns segundos para realmente responder a minha pergunta. “Bem, para colocar nos ovos, claro”.


Ovos?


Com ketchup?


Eca.


O quê?”, eu empaledeci, tinha uma aparência de nojo total no meu rosto. “Isso é muito nojento Potter!”.


Agindo como se eu tivesse acabado de denunciar a Rainha, Potter imediatamente parou a sua procura na mesa da Sonserina e olhou pra mim. Ele, na verdade, teve a audácia de parecer chocado com a minha repugnância.


Nojento?”, ele exclamou. “Por quê? Ovos e ketchup é a melhor coisa que tem desde pão fatiado!”.


Eu revirei os meus olhos. Ah, por favor. E eu sou a Rainha do Rio Nilo.


“Aham”, eu murmurei.


Potter olhou furioso para mim. Eu abri um sorriso.


“Quer saber de uma coisa?”, Marley-antigamente-conhecida-como-Mary-Sue entrou na conversa, fazendo com que Potter parasse de me olhar, e me fazendo parar de provocá-lo. “Eu acho que aquele garotinho loiro pode ter pegado o ketchup de novo, James”.


À menção do ‘garotinho loiro’, James olhou para um garoto sentado não muito longe da gente na mesa da Lufa-Lufa. “Eu vou matar aquele maldito garoto”, ele resmungou, já se levantando da mesa. Eu estiquei o meu pescoço para ver quem era. Eu encontrei um punhado de cabelo loiro muito familiar.


“Timmy, Tommy, qualquer que seja seu maldito nome...”, James continuou resmungando, tirando seu pé de debaixo da mesa.


“É o Thomas!”, eu exclamei, fazendo Potter parar. “Thomas Dunn. Você não pode matar o Thomas Dunn!”.


Potter me encarou inexpressivamente.


“E por que não?”, ele perguntou, olhando furiosamente para o terceiranista acusado mais uma vez.


Eu fiquei sentada lá, boquiaberta, sem saber o que responder. Eu não podia contar o verdadeiro motivo, claro – que ele não podia matar Thomas Dunn porque Grace, Emma e eu (sem mencionar a maioria da população com cromosso X de Hogwarts e, talvez, algumas criaturas com cromosso Y também), desejávamos, ilegalmente, o bonito jovem, porque, você sabe, era o Potter. No entanto, eu não poderia permitir que ele fosse lá e mentalmente e/ou fisicamente machucasse o querido Thomas (o que, mesmo sendo apenas um ketchup, parecia que era o que Potter queria fazer).


“Porque...”, eu falei, procurando por um motivo decente. “Porque...porque você é monitor-chefe! Monitores-chefe não podem matar garotinhos! É contra as regras – é contra a lei na verdade!”.


Potter cerrou os dentes. “É, bem, tem sempre uma primeira vez para tudo”. E para o meu completo espanto, ele andou alguns passos em direção a mesa da Lufa-Lufa. Eu o olhei de cara feia. “Eu vou pegar o ketchup, está bem?”.


Francamente! Era ketchup!


“Ah, senta aí, seu imbecil!”, eu disse com raiva, segurando seu braço e o levando de volta para a mesa. Potter me olhou furiosamente, mas mesmo com raiva fez o que eu pedi.


Potter se sentou de novo, me lançando um olhar furioso, mas concordando com a cabeça mesmo assim. Eu o olhei com raiva. Quero dizer, com que direito ele estava me lançando esses olhares grosseiros? Eu que teria que passar vergonha, tendo que pegar um maldito ketchup na mesa da Lufa-Lufa, porque o monitor-chefe parecia querer cometer um crime capital. Eu que deveria ficar com raiva, não ele.


Mas uma garota tem que fazer, o que ela tem que fazer, eu acho. Quero dizer, eu não podia deixar o garoto ir lá e machucar o pobre Thomas – uma das últimas coisas deixadas no mundo para nós, garotas, sorrirmos. Então, mesmo sendo bastante irritante, e apesar dos meus waffles estarem começando a esfriar depois de toda essa conversa inútil, eu olhei pro Potter pela última vez, antes de me levantar e ir até a mesa da Lufa-Lufa e parar no lugar onde Thomas Dunn e seus amigos estavam sentados.


“Er, Thomas? Com licença”, eu disse educadamente, o cutucando levemente nos ombros. As risadas do grupo pararam imediatamente, enquanto Thomas se virava para me encarar. “Você pode, por favor, pegar aquele ketchup ali para que eu possa devolvê-lo para a mesa da Grifinória?”.


Thomas me encarou, aparentemente envergonhado com o meu pedido. Mas um segundo depois ele pareceu se recuperar e pegou o ketchup. Ele o colocou na minha mão estendida.


“Aqui”. A curiosidade ainda estava presente em seu rosto. “Você é a Lily Evans, certo?, ele perguntou. “Monitora-chefe?”.


Eu concordei com a cabeça, finalmente achando alguma utilidade para o cargo. Thomas acenou também.


“Você é ainda mais bonita de perto”, ele me disse simplesmente, ainda balançando sua cabeça. Eu não pude evitar sorrir, e talvez minhas bochechas tenham ficado um pouquinho vermelhas também, apesar de eu ter tentado desesperadamente que elas não ficassem. Que garotinho encantador – bem, obviamente ilusório, mas ainda sim encantador. Eu estou muito feliz que eu tenha impedido Potter de matá-lo.


“Bem, er, obrigada, eu acho”, eu murmurei suavemente, ainda sorrindo. Eu me virei para ir embora, mas no último segundo, eu parei e me virei novamente, me sentando no banco ao lado de Thomas.


“Escuta”, eu disse, o olhando cuidadosamente, sentindo que eu pelo menos devia alertá-lo, por causa do seu encanto tão ilusório e tudo mais. “Vou te dar um pequeno conselho, certo? Está vendo aquele garoto ali?”, eu disse, indicando o Potter.


“Claro”, Thomas respondeu. “Todo mundo conhece James Potter”.


Eu balancei a cabeça. “Sim, bem, seja como for, eu tenho que te contar uma coisa muito importante”. Eu levantei o ketchup. “Está vendo esse kecthup? Se você, por acaso, não encontrá-lo na mesa da Lufa-Lufa, e achá-lo na mesa da Grifinória, por favor, por tudo que é mágico, não o pegue antes que o Señor Psicopata bem ali tenha tido a chance de usá-lo, certo? Ele é um pouquinho maluco por ketchup”.


Surpreendentemente, Thomas balançou a cabeça compreensivamente. “É, eu sei”, ele disse. “Ele brigou comigo algumas vezes por causa disso. Diz que o ketchup é dele”.


Eu sorri. “É, bem, você tem que desculpá-lo”. Eu cheguei mais perto de Thomas e seus amigos, como se fosse contar um segredo. “Ele tem um probleminha de ego”, eu murmurei. “Pensa que é dono do mundo e tudo mais”.


O grupo riu.


“Mas nós estamos trabalhando nisso”, eu assegurei a eles rindo também. O grupo continuou rindo, enquanto eu me levantava do banco e começava a ir embora.


“Foi um prazer fazer negócio com vocês, cavalheiros!”, eu disse por trás do ombro. O grupo continuou rindo, me dando tchau enquanto eu voltava para a mesa da Grifinória.


Quando eu me sentei de novo na frente dos meus waffles, eu entreguei o ketchup para um James Potter ainda furioso e troquei um pequeno sorriso com a risonha Mary-Marley.


“Do que aqueles palhaços estavam rindo?”, Potter murmurou, ainda muito irritado.


Eu revirei os meus olhos. “Eles estavam rindo dessa sua cara ridícula”.


Sua expressão de mau humor não desapareceu. “Ah, há, há”, ele zombou. “Você é tão engraçada, Evans”. Eu sorri de forma atrevida, mas ao invés de revidar com mais alguns de seus olhares furiosos, Potter decidiu – muito rudemente e sem nenhuma permissão, eu devo acrescentar – pegar um pouco de seus ovos com ketchup e colocá-los, de forma não cerimoniosa, no meu prato.


“Ei!”, eu exclamei, olhando para os meus waffles agora cheios de ovo. “Mantenha no seu próprio prato!”.


“Coma”, Potter mandou. Eu o olhei furiosamente.


“Não, eu certamente não vou comer!”, eu exclamei, tentando, inutilmente, tirar os ovos infestados com ketchup dos meus waffles com o meu garfo. Era nojento, e não estava funcionando. Eca. “Olha o que você fez!”, eu respondi, gesticulando na direção do meu prato. “Todos os waffles estão misturados com ketchup, e os morangos estão misturados com...ugh! Nojento!”.


Coma!”, foi a única resposta que eu recebi.


Eu estava apavorada. Eu olhei com raiva para o Potter. Eu não queria ‘comer’! Eu realmente, realmente não queria comer. Era totalmente nojento. Me dava vontade de vomitar. Mas, parecia que, apesar do estado no qual meu estômago se encontrava, eu não tinha muita escolha no problema de comer ou não os malditos ovos, porque James ficava gesticulando na direção do meu prato de um jeito bastante hostil, me lançando um distinguível olhar de ‘Coma-Ou-Eu-Vou-Enfiar-Isso-Na-Sua-Boca’, que eu sabia que não era só uma ameaça. Então, o que eu deveria fazer? Deixá-lo enfiar uma enorme gosma na minha boca? Eu não tinha escolha. Era tão injusto.


“Parece péssimo”, eu resmunguei, hesitantemente colocando uma massa vermelha e amarela no meu garfo. Marley riu, mas eu não conseguia ver como isso poderia ser cômico. Enquanto o garfo se aproximava cada vez mais da minha boca, a situação ficava cada vez menos engraçada.


“Ah, apenas coma logo”, James disse de forma impaciente, revirando seus olhos. Eu não o respondi, nem mesmo o olhei com raiva. Tudo que saiu foi um pequeno lamento de protesto.


“Não é tão ruim assim, Lily”, Marley insistiu, dando uma mordida nos seus próprios ovos limpos. Eu segurei o impulso de olhá-la com raiva. Mas eu não fiz isso, porque teria sido uma coisa muito infantil para se fazer. Quase tão infantil quanto segurar um garfo perto de sua boca contendo uma substância horrível, mas não se recusar a comê-la. Monitoras-chefe não são infantis. Principalmente monitoras-chefe ‘ainda mais bonitas de perto’. Ainda com esse pensamento na cabeça, eu levantei o garfo até minha boca e empurrei a gosma suja pra dentro.


“Finalmente!”.


A coisa estava desordenada e instável na minha boca, e passeou um pouquinho por lá. Meu paladar estava sentindo. Potter e Marley estavam me olhando com expectativas, esperando pela minha reação. Eu permaneci em silêncio. Depois de algum tempo provando e experimentando, eu descobri que ovos e ketchup não eram venenosos e não eram a pior coisa que eu já tinha provado. De fato, não era nenhum sundae ou uma tigela de arroz, mas também não era ração pra cachorro. Não é algo que eu vou comer de novo, mas não é tão nojento como eu esperava.


“Você gostou”, James acusou algum tempo depois, sorrindo de forma atrevida.


Eu engoli com dificuldade, revirando os meus olhos. “Não é tão ruim, eu acho”.


E não era tão ruim. Eu não estava mentindo. De qualquer forma, a visão dos ovos perto dos meus waffles não me fazia mais ter vontade de vomitar. Mas sem levar em consideração tudo isso, quando eu olhei de novo para o meu prato e vi o ketchup e os ovos misturados com os meus waffles e os morangos, eu, de repente, me senti incomodada. Realmente e verdadeiramente incomodada. Eu não sei porque, mas eu me senti assim. Quero dizer, eu conversei casualmente com o Potter por algum tempo, e apesar de alguns olhares furiosos e provocadores, ele ainda não tinha sido terrível. Então, por que se sentir incomodada agora? Eu não estava certa, mas eu sabia que o meu apetite tinha sumido junto com a minha comodidade. Suspirando levemente, eu empurrei o meu prato na direção de James.


“Aqui”, eu disse. “Eu não estou mais com fome”.


James me olhou de um jeito esquisito. “Eu não tive a intenção de...é só um pouco de ketchup, Lily. Você não precisa ir embora”.


Eu sacudi a minha cabeça. “Não, não é isso. Eu só não estou mais com fome”.


O que eu realmente quis dizer foi que eu não estava mais confortável, mas eu não podia lhe dizer isto.


Potter concordou com a cabeça, ainda parecendo um pouco incerto. Eu acho que ele não acreditou em mim.


“Você vai se juntar a nós amanhã?”, Marley perguntou.


A pergunta me pegou desprevenida. Eu me juntaria a eles amanhã? Eu acho que não. Quero dizer, Marley parecia ser bem legal, mas eu deveria estar evitando o Potter. Mesmo com a minha elegância ainda intacta, uma menina só poderia ser exposta a alguém que ela está tentando evitar tantas vezes, apenas depois de ela não o estar mais evitando. Eu acho que não é permitido tomar o café-da-manhã com eles amanhã. São as regras da, er, natureza, eu acho.


“Hum, talvez”.


“Ah, que bom”, Marley disse, sorrindo para mim com uma cara tão inocente, que meu coração começou a bater forte. Eu não sei porque eu estava tendo tanta dificuldade para mentir. Eu nunca tinha vacilado diante de pressão antes.


“É, certo, eu, hum, tenho que ir. A gente se vê...amanhã”.


Então, eu saí o mais rápido que eu pude do Salão Principal, sendo a mulher louca que eu sou.




Mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Quinto dia


Observações Totais: 32


Dez.


Foram dez vezes que eu o chamei de James da última vez que eu escrevi aqui.


Isso é ruim. Muito, muito ruim.


O que eu estou fazendo? O que ele está fazendo? Ah, Merlin, eu estou tão confusa! Dá onde tudo isso veio? Ele já não me torturou o suficiente? Quero dizer, um segundo, ele é o filho do diabo que sempre me odiou e que sempre me odiará, e depois, ele é essa pessoa perfeitamente normal, conversando comigo e fazendo apostas comigo e agindo como se nós fôssemos...fôssemos...eu não sei, amigos ou algo assim!


Mas nós não somos. Amigos, quero dizer. Nós nem mesmo somos próximos.


Eu acho que não.


E, tudo bem, geralmente você troca bilhetinhos com seus amigos, faz apostas com os seus amigos, e come o café-da-manhã com os seus amigos, mas essa não é a questão. E daí que eu escrevi sobre ele tanto quanto eu escrevo sobre Grace e Emma – minhas amigas de verdade - nesses últimos dias? De qualquer forma, a maioria das vezes é reclamando dele! E sim, eu reclamo da Emma, que é minha amiga, mas isso é diferente. Ela não é...bem, ela é, mas...ELE não é...


Ai, droga.




Mais, mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Quinto dia


Observações Totais: 33


Eu NÃO vou ser amiga do James Potter.


Eu NÃO vou ser amiga do James Potter.


Eu NÃO vou ser amiga do James Potter.


EU NÃO VOU SER AMIGA DO JAMES POTTER!




Mais, mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Quinto dia


Observações Totais: 33


Eu vou simplesmente continuar com o plano. – Plano: Esconder. Eu vou continuar a me esconder no dormitório, completamente isolada do mundo lá fora, o que INCLUI JAMES POTTER. Eu não vou mais cair nas suas brincadeiras ‘gentis’ de novo. Eu não posso. Eu não vou. Na verdade, eu nem mesmo vou lhe dar a chance, porque agora ele acabou de ser proclamado o equivalente de A Peste, e eu tenho que fugir da Peste como...bem, como a peste. Ou então, eu morrerei.


Literalmente.




Ainda mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Quinto dia


Observações Totais: 33


Relatório das Tarefas:10:35 da manhã


Redação de feitiços


Status: Metade pronta


Questões de Transfiguração


Status: Psh. Como se eu fosse fazer.


Previsões de Adivinhação


Status: Só inventar mais uma situação fatal e eu termino.


Redação de DCAT


Status: A ser terminada


Vida ocupada essa que eu levo.


Ainda mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Quinto dia


Observações totais: 35


Observação#35) 10:43 Emmeline se levanta. Ela arrasta seus pés pelo quarto, sem prestar atenção em mim (apesar de que, sendo justa, três lados da minha cama estavam cobertos pela cortina), e rapidamente sai do dormitório alguns minutos depois. A Observadora Genial observa que isso pode ser uma saída apressada para um encontro romântico com o Sr. Fulton Mac.


Observação #36) 11:22 Grace murmura coisas sobre Quadribol enquanto dorme. Sabe, como “Acerta!” ou “Mais rápido!” ou “Use sua vassoura!”. Acidentalmente, todos esses murmúrios podem muito bem parecer insinuações extremamente sexuais, o que a Observadora Genial acha muito engraçado.


Observação #37) 12:37 Álcool não é uma coisa para se brincar. Essa observação foi provada quando Elisabeth e Carrie fixaram residência no banheiro, gemendo e se lamentando bastante ferozmente, enquanto vomitavam o estoque de Firiwhiskey da noite passada.


Ainda mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Quinto dia


Observações Totais: 38


Relatório das Tarefas: 3:52 da tarde.


Redação de Feitiços


Status: Completa.


Questões de Transfiguração


Status: Continuam sem fazer sentido como a algumas horas atrás.


Previsões de Adivinhação


Status: Eu já morri pelo menos umas três vezes essa semana. Eu tenho que aprender a ser mais criativa.


Redação de DCAT


Status: Quase terminada.




Ainda mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Quinto dia


Observações Totais: 39


Ai, droga. Eu estou morrendo de fome. Mas eu não posso ir até o Salão Principal. Talvez, eu tenha algum tipo de guloseimas aqui...




Ainda mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Quinto dia


Observações Totais: 39


Tenho pensado se eu desço para o jantar, ou se eu continuo com o Plano: Esconder. Eu estou morrendo de fome, mas eu não acho que eu esteja suficientemente preparada para enfrentar o mundo lá fora ainda. Eu ainda pareço ser bastante vulnerável a brincadeiras de mau gosto. Eu tenho que ser severa comigo mesma e continuar com o isolamento. É o único jeito.


Então, no final das contas, eu decidi continuar com o plano, apesar de estar me sustentando com apenas Canetas de Açúcar e Sapos de Chocolate o dia todo e apesar de eu estar absolutamente suplicando por comida de verdade. Eu simplesmente acho que eu não posso me arriscar. Porque, primeiro: eu pegarei a Peste, e depois morrerei. Segundo: eu acho que eu fiz alguma coisa para irritar Emma ainda mais, porque eu acho que ela jogou um sapato em mim agora a pouco, apesar de eu não estar completamente certa, porque as cortinas da minha cama estavam fechadas e eu não pude realmente ver nada. No entanto, eu pude vislumbrar ela sair correndo do quarto. Portanto, como você pode perceber, eu não posso sair, apesar de eu estar morrendo de fome.


Eu não tenho certeza do que é mais patético: eu ou o meu plano.




Tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Quinto dia


Observações Totais: 40


Agora, eu vou dormir. Eu vou dormir agora com o que, eu tenho certeza, deve ser o estômago mais vazio de toda a Inglaterra.


Eu odeio James Potter.




Domingo, 21 de setembro, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Sexto dia


Observações Totais: 42


Eu, mais uma vez, acordei cedo essa manhã. Diferentemente de ontem, eu não posso escapar para o Salão Principal dessa vez, apesar de meu estômago estar roncando tão ferozmente que eu acho que poderei sofrer uma combustão química se eu não comer algo em breve. Mas eu não posso. Eu vou ter que simplesmente sentar aqui, abandonada nessa cama, sonhando com comida até alguém acordar e eu poder convencê-los a me trazer alguma comida.


Essa será uma manhã bem longa, eu sei.




Mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Sexto Dia


Observações Totais: 42


Depois de ficar deitada em minha cama pelo que parecia ser a eternidade (ouvindo o ritual de roncos do meu estômago, tentando qualquer coisa e tudo para tentar tirar isso da minha cabeça), Grace finalmente acordou e então eu pude convencê-la a pegar um pouco de comida pra mim do Salão Principal.


“Por que você simplesmente não mexe o seu traseiro preguiçoso e vai lá pegar você mesma?”, Grace resmungou, colocando seus sapatos, parecendo cansada. Eu mordi meus lábios nervosamente. Eu devia contar a ela? Ela já estava com raiva de mim por eu não ter contado sobre o que estava acontecendo com a Peste no outro dia...


“Eu não estou me sentindo bem”.


A mentira saiu da minha boca antes mesmo que eu pudesse impedi-la.


“O que você tem?”, Grace perguntou.


“Eu acho que eu comi alguma coisa estragada”, eu expliquei rapidamente. “Ovos envenenados”.


Grace ergueu sua sobrancelha. “Desde quando você come ovos? Abandonando o seu jeitinho waffle de ser, então?”.


Eu suspirei miseravelmente.


Hum, não. A Peste me forçou a comer.


“Foi só uma vez”, eu disse a ela sem rodeios. Da minha cama, meu estômago soltou mais um enorme ronco. Eu lancei a Grace um olhar de desespero. Ela revirou os seus olhos e suspirou.


“Você está ficando mais maluca a cada dia que passa, Evans”, ela disse, me olhando antes de pegar seu suéter e sair do dormitório.


Confie em mim, Grace querida. Ninguém sabe disso mais do que eu.




Ainda mais tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Sexto dia


Observações Totais: 44


Observação #44) Mesmo depois de completar toda a sua tarefa, o dever de Transfiguração não fica mais fácil. Se isso é possível, fica ainda mais difícil.




Muito, muito tarde, dormitório feminino do sétimo ano


Lily Observadora: Sexto dia


Observações Totais: 44


Já são quase oito horas e meu dever de Transfiguração ainda não está pronto.


Eu estou agora, oficialmente, começando a entrar em pânico.


Se eu não fizer o dever, McGonagall vai me matar – eu vou me matar. Eu não entendo porque eu estou tendo tanta dificuldade com tudo isso. Honestamente, não é assim tão difícil. Quero dizer, eu consigo decifrar runas antigas com o amor da minha vida sentado duas cadeiras à frente, mas eu não consigo responder algumas simples questões de Transfiguração com a ajuda de um livro onde tem tudo?


Parece que eu não consigo.


Grace está em detenção, então ela não pode me ajudar.


Emmeline não está falando comigo, então ela não pode me ajudar.


O que diabos uma garota deve fazer?

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.