Os McWells



Capítulo 10 – Os McWells


Um lampejo brilhante cortou o céu. Grossas gotas de chuva batiam contra o chão e as casas. Outro relâmpago fez a noite parecer dia e, seu som, fez as janelas das casas tremerem.


No bairro Grimmauld Place, em Londres, o número 12 se ocultava entre os números 11 e 13. Era o 7º dia da semana dada por Owen e, logo, os habitantes provisórios daquele número embarcariam em um avião para Liverpool.


Apenas um jovem não dormia naquela madrugada. Ele estava sentado sobre o chão do corredor com as inúmeras portas dos quartos. Harry sentia sua cicatriz latejar e a apertava tentando, inutilmente, diminuir a dor. Voldemort sentia raiva, muita raiva.


O moreno fechou os olhos e deixou a mente e os sentimentos de Voldemort sobreporem os seus próprios.


Dois gritos ecoavam pela pequena sala. Um deles emanava raiva e prazer; o outro dor e sofrimento. Alguém estava no chão, sob efeito do Cruciatus de seu próprio mestre. O feitiço foi cancelado e o torturado deu um gemido, soltando o corpo sobre o chão frio.


Voldemort caminhou até o corpo e se abaixou. A pessoa possuía cabelos compridos, negros e desgrenhados, sua voz saiu forçada e dolorida.


- Perdão... perdão mestre!


Oculto sobre os pensamentos e sentimentos de Voldemort, Harry se assustou. Aquilo era uma mulher e uma conhecida. Voldemort estendeu o braço e segurou os cabelos dela, erguendo-a até seu rosto ficar alinhado com o dele. Ela estava extremamente pálida, a única cor em sua face era de um fino filete de sangue. Ele passou o dedo por sua boca, retirando-o.


- Você... – começou ele com calma, a voz fria – é a mais capacitada para o que eu quero. Contudo, se continuar errando tão pateticamente, terei de escolher outra.


- Eu juro, milorde... – a voz da mulher saiu fraca – não fracassarei mais.


Ele a soltou e deu-lhe as costas. Ela se ergueu com dificuldade, não ficou ereta, mas se manteve sobre as pernas. Ele se sentou no seu “trono” e a olhou com compaixão.


- Vá para seu quarto e fique lá.


- Sim, milorde. – sussurrou ela, fazendo uma reverência com a cabeça e saindo.


Harry forçou sua mente a voltar ao seu corpo. Exigindo de seus pensamentos e sentimentos para retomar o controle.


A chuva havia diminuído e o céu começava a dar sinais do nascer do sol. Ele se ergueu, a cicatriz ainda formigando, e desceu até a cozinha. Ele sabia que em alguns minutos Hermione desceria, pois ela era a que sempre acordava primeiro.


Ele estendeu uma toalha sobre a mesa e colocou os pratos e copos. A porta se abriu, Hermione entrou.


- Bom dia. – desejou Harry com um sorriso.


- Bom dia. – ela retribuiu o sorriso – Pelo tempo deverá ser um péssimo dia, não?


- Não seja pessimista. – ele deu uma risada leve - Tudo vai ficar bem.


- Assim espero. – ela sorriu e caminhou até o armário para pegar comida.


Em dez minutos, o café estava pronto. Gina já havia acordado e estava preparando seu leite quando Rony entrou fazendo muito barulho.


- Olhem aqui!


- Mas que droga! – xingou Gina ao derrubar seu leite pelo susto.


- O Profeta! – Rony cruzou a cozinha correndo, balançando o jornal sobre a cabeça – Olhem!


- Dê-me logo isto. – Hermione arrancou o jornal das mãos dele.


Fuga de Azkaban!


Ontem à noite, a fuga de dois presos foi comprovada.


As grandes fotos de Bellatriz Lestrange e Lucio Malfoy tomavam toda a primeira página. A morena não se atreveu a continuar a leitura. Harry arrancou o jornal das mãos dela e leu a notícia completa. As garotas ficaram silenciosamente chocadas e Rony possuía o rosto vermelho de raiva. Por fim, Harry deu um grito de ódio e jogou o jornal no fogo.


- Eu sabia! – exclamou, observando o jornal ser consumido.


- Do que, Harry? – Hermione olhou-o.


- Eu vi Voldemort torturando Bellatrix. – ele não olhou para ela.


- Vamos logo embora. – falou Rony, saindo correndo da cozinha antes que houvesse resposta.


- Ele tem razão. Temos que ir. Que horas é o avião? – Gina virou-se para Harry.


- Às nove. – murmurou ele e se sentou para comer.


- Perfeito. – exclamou Hermione, sentando-se e servindo-se.


Rony voltou, cinco minutos depois, trazendo toda a bagagem que possuíam. Em meia hora todos já estavam saciados. Eles foram para a sala e ali ficaram sentados até que Hermione se pôs de pé.


- Quando chegamos aqui a casa estava imunda. Temos que deixá-la do mesmo jeito.


- Concordo. – Rony se levantou.


- Vou também. – falou Harry e eles saíram pela porta.


Gina correu atrás deles reclamando por tentarem deixá-la sozinha.


Harry e Gina ficaram de sujar os quartos e Rony e Hermione com a cozinha e a sala. Harry fez todo o trabalho, já que Gina não podia realizar feitiços com a própria varinha.


Eles desceram e viram Hermione e Rony fazendo um pequeno duelo. Ficaram olhando eles duelarem até que o relógio anunciou oito e meia. Eles saíram da casa e andaram pela rua, atentos a qualquer movimento. Ao chegaram a uma avenida movimentada, pediram um táxi.


=-=-=


O moreno ergueu a cabeça, tentando ver alguém conhecido. Olhou no relógio novamente, o avião teria se atrasado? Talvez. Ele sentou-se novamente e ficou esperando. Uma voz feminina informou:


- Vôo 648, Londres, Liverpool acaba de pousar.


“Finalmente”. - pensou ele, levantando-se.


Caminhou até uma pilastra, que ficava ao lado da saída dos passageiros. Inúmeras pessoas saíram pela porta. Passou alguns segundos até que quatro jovens atravessaram a porta e ficaram parados, olhando em volta. Uma ruiva o viu e puxou a manga do garoto que segurava sua mão, este o mirou e sorriu. Os jovens andaram até ele.


- É bom te ver! – Harry estendeu a mão.


- Digo o mesmo. – disse ele, apertando-a.


- Esses são: Hermione, Rony e Gina. – Harry apresentou-os.


- Prazer. – disseram eles.


- Eu sou Owen. – o moreno se apresentou, curvando-se levemente.


- Vamos? – perguntou Rony.


- Claro. – Owen sorriu e começou a andar, sendo seguido por eles.


- Ele é mais bonito que eu imaginava. – sussurrou Gina para Hermione.


- É mesmo. – concordou Hermione.


- Obrigado pelo elogio senhorita Weasley. – falou Owen, sorrindo.


- Ele é perito em ler mentes. – informou Harry, risonho, para elas, que coraram.


Eles saíram do aeroporto e entraram em um Porsche Cayman prata. Owen e Harry ficaram na frente, os outros ficaram olhando-os com curiosidade. Owen ligou o carro e disparou pelas ruas e avenidas. Percorreram muitos quilômetros e saíram da cidade.


Minutos depois, entraram em uma pequena vila. Era tão deserta e arruinada quanto Godric Hollow. Eles percorreram toda a rua principal e Owen parou o carro na frente de uma velha casa. Os jovens olharam pela janela. Era uma casa com dois andares, gastada pelo tempo. Owen saiu pela porta e eles fizeram o mesmo.


- Escutem. – falou ele baixinho – Quem vocês irão conhecer... – ele fez uma pausa, lançando um olhar critico para uma janela do segundo andar – não é como qualquer outro bruxo. Não é bondoso como Dumbledore ou tolerante como McGonagall.


- Certo. – assentiram eles.


Owen guiou-os até a porta e tocou-a com a varinha. A maçaneta girou e a porta abriu. Eles entraram e Owen fechou a porta e tocou-a com a varinha novamente.


Os jovens olharam em volta. Estavam no hall, que era mal arrumado e possuía três saídas, uma porta de cada lado e uma escada ao fundo. Owen apontou para a escada e eles subiram-na. No corredor estreito havia seis portas. Eles passaram por elas, sem lhes dar atenção e pararam na frente da última porta. Owen a tocou e ela se abriu lenta e silenciosa. O ambiente era iluminado pela lareira e as cortinas estavam fechadas. Havia uma escrivaninha no lado oposto à porta e uma cadeira atrás dela, que estava virada de costas para eles. Owen fechou a porta e falou:


- Ele está aqui.


A cadeira girou revelando um homem. Ele possuía cabelos grisalhos, que caiam sobre os ombros, e olhos azuis profundos. Aparentava ter pouco mais de quarenta anos, embora os jovens o achassem mais velho pelo aspecto dos cabelos. Ele se ergueu e contornou a mesa, fazendo sinal para Owen. Este foi até a lareira e a apagou, abrindo as cortinas logo depois. O homem vestia vestes negras, muito parecidas com as de Severo Snape. Ele encarou Harry e os amigos.


- Já deve ter ouvido falar de mim. – a voz era grave e sábia.


- Sim, senhor. – Harry estendeu a mão – É um prazer conhece-lo senhor McWell.


- Quem são eles? – Cassius ignorou o cumprimento dele e olhou os outros jovens.


- Eu lhe contei sobre eles. – respondeu Owen, encostado na parede ao lado da janela – São os amigos do Potter. – ele não parecia mais o mesmo, estava mais sério e frio.


- Outros que querem desvendar os mistérios da magia antiga. – supôs Cassius, olhando-os com superioridade.


- Se o senhor aceitar. – ponderou Hermione com rapidez e muita educação.


Cassius franziu a testa e virou-se, caminhando à escrivaninha. Ele olhou Owen com autoridade, Owen pareceu entender e aproximou-se dos jovens.


- Venham comigo. – falou ele a Rony, Hermione e Gina.


- Mas... – Gina olhou Harry.


- Vá. – pediu ele.


Owen abriu a porta e eles saíram.


Cassius estava parado, encostado na mesa com as mãos se apoiando na madeira escura. Seu olhar estava fixo na janela mais próxima, parecia imerso em pensamentos. Harry respirou fundo, tenso, esperando alguma ação por parte do outro.


O homem, então, virou-se para fitá-lo. O garoto sentiu sua mente sendo mapeada, cada lembrança e sentimento ressurgindo aos seus olhos e sendo vistos por Cassius. Ele caiu sobre os joelhos, a cabeça latejando.


- Pouca proteção mental. – avaliou Cassius, frio - Como acha que pode aprender, se Tom pode entrar na sua mente e ver tudo o que você vê?


- Eu tenho meus meios de impedir. – respondeu Harry, mal-humorado.


- Ah, claro. Fechando os olhos e desmaiando de tanta dor. – ironizou Cassius, a voz seca e desprovida de sentimentos, embora sua expressão ainda fosse serena – Ótimo meio.


- Afinal o que o senhor quer de mim? – Harry olhou-o com fúria.


- Sou eu quem te pergunta. – retrucou Cassius.


- Quero matar Voldemort! – Harry falou o nome com toda a vontade que tinha e pôs-se de pé – O senhor mandou Owen me procurar! Quer me ajudar, não quer?


- De fato, não. – a serenidade e frieza de Cassius começava a irritar o moreno.


- Então, por que me quis aqui?


- É da vontade de Alvo que eu lhe ensine. – respondeu Cassius, tolerante.


- Como conheceu Dumbledore?


- Isto não lhe importa. Eu apenas estou seguindo o último pedido dele. – Cassius desencostou-se da mesa – O qual só inclui ensinar você e não essas crianças.


- Eles são mais fortes que eu! – sibilou Harry, visivelmente irritado.


- Não. Eles não são. – Cassius se aproximou rapidamente – Você não sabe o que é garoto.


- O que eu sou então? – Harry ergueu o olhar, fitando os olhos de Cassius.


- Isso o tempo lhe mostrará. – respondeu Cassius, ríspido – Se você não quer aprender por que seus amigos não serão ensinados, eu não poderei fazer nada. Contudo, – ele fez uma pausa e sua voz soou ainda mais grave e fria – deixar de aprender algo que mudará a guerra por causa desses fedelhos. Quanta responsabilidade, não é, Potter? – completou ele despejando ironia e sarcasmo.


Cassius virou-se e contornou a mesa, parando ao lado da cadeira. Harry o encarou procurando alguma saída. Entretanto, ele sabia que não havia nenhuma. Por fim, suspirou, vencido.


- Está bem. Eu aprenderei sozinho. – ele sentiu o chão sumir sob seus pés.


A porta se abriu e Owen entrou. Cassius olhou-o. O moreno virou-se para Harry e apontou para a porta. Eles saíram e a porta se fechou silenciosa. Caminharam alguns metros e entraram em um quarto onde Rony, Hermione e Gina estavam. O aposento era pequeno. As paredes eram de madeira, sem nenhuma tinta. Havia duas camas de madeira antiga, como o pequeno guarda-roupa.


- Então, o que aconteceu? – perguntou Rony.


- Ouvimos vozes exaltadas. – explicou Hermione.


- Fala Harry! – suplicou Gina.


Ele não disse nada, apenas caminhou até a cama vazia e se sentou sobre o colchão. Owen fechou a porta e foi até a presença de Cassius.


- Você não pode fazer isso! – disse ao fechar a porta.


- É claro que posso.


- Você sabe que eles, unidos, são mais fortes! – Owen selou a porta para que os jovens não ouvissem a conversa.


- Não vi nenhuma mudança. Toda a força vem dele. – garantiu Cassius.


- E se o senhor estiver errado? – Owen fitou-o.


- Escute. – a expressão de Cassius abandonou a serenidade e ficou dura - Se você treiná-los, eu mesmo o mato. Sabe que é contra...


- Não me importa as leis da Ordem. – ralhou Owen, cortando-o – Se o senhor não matou Lars, não conseguirá me matar.


- Abaixe esse tom. – a voz de Cassius abandonou por poucos segundos o tom brando.


- Falo do modo que me couber. Se o senhor não treiná-los, eu os treinarei! – exclamou Owen, saindo e batendo a porta.


- Era só o que me faltava. – ironizou Cassius, sentando-se na poltrona perto da lareira.


=-=-=


Harry contou aos amigos o que ele e Cassius haviam conversado. Rony ficou com as orelhas vermelhas, Hermione não possuía reação e Gina andava de um lado pro outro.


- Ele não pode. – repetia ela.


A porta se abriu e Owen entrou. Ele ficou de pé ao lado da porta, olhando-os.


- Na verdade Gina, ele pode.


- Por quê? – ela se recusou a aceitar.


- Ele é o único mestre vivo. – respondeu Owen, respirando fundo para controlar a raiva.


- Quem é ele, exatamente? – Harry não fazia esforço para controlar tal sentimento.


- Ele é Cassius McWell II. – respondeu Owen.


- Como é que é? – Rony olhou-o, sem entender.


- A família McWell é uma das mais antigas da história bruxa. O primeiro relato de sua existência é do tempo de Merlim. – Owen se sentou ao lado de Harry – Cassius McWell I era um dos dois discípulos mais confiáveis do próprio Merlim.


- A Ordem de Merlim. – sussurrou Hermione.


- Exatamente. – confirmou Owen, sorrindo – Os discípulos de Merlim foram os únicos a aprenderem à magia antiga, que Merlim dominava por natureza. Uma das formas de magia mais forte dentre as já relatadas.


Ele olhou Hermione, esperando que ela soubesse algo mais. Ela, porém, continuou olhando-o, ansiosa pela continuação.


- Essa magia foi batizada de Magia Branca. Ela é o oposto da Magia Negra. É a única forte o suficiente para vencê-la. – disse Owen.


- Fale mais sobre a Ordem de Merlim. – pediu Gina – Quem era o outro discípulo mais confiável de Merlin?


- Alvo Dumbledore I. – respondeu Owen.


- O que? – questionaram os jovens, surpresos.


- Os McWell e os Dumbledore estão entrelaçados desde a morte de Merlin. Eles foram os únicos que sobreviveram. – falou Owen, entristecido.


- Quem matou os outros? – perguntou Hermione, fascinada pela história nova.


- O primeiro mago negro. – Owen fitou-a – O criador da Magia Negra. Nunca foi sabido o seu nome, consta somente como o chamavam. – ele fez uma pausa, olhando-os seriamente - Dragão Negro.


- Mas... – falou Harry, após alguns minutos – voltando ao presente. Eu não quero ser o único a aprender!


- Concordo com você, Harry. Vocês são mais fortes unidos. – Owen sorriu.


- Como sabe? – perguntou Rony.


- Eu estava em Godric Hollow. – o sorriso de Owen diminuiu.


- E não fez nada para nos ajudar? – Harry ergueu-se, enraivecido.


- Sente-se e acalme-se. – Owen o puxou para a cama – Cassius não me deixou.


- Ele estava lá também? – perguntou Gina.


- Sim. Ele queria ver como vocês agiam. – respondeu Owen.


- Perai. – Hermione ficou de pé, sua expressão denunciava o choque – O que ele é seu?


O sorriso de Owen desapareceu por completo. Ele abaixou a cabeça e suspirou.


- Meu nome é Owen McWell e aquele infeliz é meu pai. – sua voz saiu amargurada.


- Isso explica tudo o que você sabe. – Hermione cruzou os braços.


- Owen, ajude-nos. Queremos aprender! – suplicou Gina, olhou-o.


- Eu vou ajudar vocês. – ele ergueu o rosto e deu um leve sorriso – Eu falei para ele que se ele não ensinar a vocês, eu mesmo ensinarei.


- Mas você falou que ele é o único mestre vivo. – contestou Rony.


- Boa observação, Ronald. – Owen sorriu para ele – Eu sou o único aprendiz vivo e estou muito avançado. Creio até que meus estudos já tenham terminado. Posso ensinar a vocês tudo o que eu sei.


- E isso é bom ou ruim? – Hermione duvidava da sabedoria do moreno.


- De certa forma, é ruim. – respondeu Owen com sinceridade – Eu não sei os segredos. E os segredos são a chave para despertar a verdadeira magia em nossos corpos. Isso eu aprenderei quando ele me disser que estou pronto para ensinar.


- Mas... – Gina estava tão desesperada para aprender que sua mente trabalhava a mil por hora – você pode nos ensinar escondido. Não acho que o que aprenderemos seja dado em apenas um mês. Até concluirmos o nosso treinamento, você já saberá o segredo.


- É bem provável. – Owen sorriu satisfeito – Você é bem inteligente.


- Obrigada. – Gina corou.


- Bem... – Owen se levantou e caminhou até a porta – fiquem aqui. Quando o jantar estiver pronto, eu os chamarei. – ele olhou Hermione – Há um banheiro ali. – ele apontou para uma porta.


- Obrigada. – agradeceu ela, corando.


- Até mais tarde. – falou Owen, saindo.


Eles se revezaram no banheiro e, quando terminaram, Harry e Hermione conversavam sobre um jeito de burlar os dizeres de Cassius McWell, para que Owen não fosse prejudicado.


=-=-=


Eram quase oito horas quando Owen bateu na porta e entrou, dizendo:


- O jantar está pronto. – um largo sorriso estampava seus lábios.


- Que animação é essa? – perguntou Rony, levantando-se da cama.


- Não é nada. – Owen deu uma pequena risada.


- Acho que é contagioso. – Hermione riu.


Todos riram e saíram do quarto. Eles cruzaram o corredor e desceram a escada. Ao entrarem no hall, dirigiram-se para a porta do lado esquerdo. Entraram em uma sala de jantar razoavelmente grande. Havia uma mesa retangular, que lembrava a do Grimmauld Place. Ela era contornada por oito cadeiras.


Ao fundo havia uma porta que conduzia para a cozinha. Ela se abriu silenciosa e uma elfa domestica, vestida com um belo vestidinho branco com bordados azuis, saiu de lá de dentro, trazendo uma bandeja com comida e bebidas. Os cinco se sentaram, deixando a cadeira da ponta e a primeira do lado esquerdo vagas.


- Cassius se senta na ponta. – disse Owen, sentando-se na primeira cadeira do lado direito.


- E aqui, quem se senta? – Harry apontou para a cadeira ao seu lado, vazia.


- Meu irmão. – o semblante de Owen ficou duro e frio.


Gina abriu a boca para perguntar algo. Ela foi impedida pela porta, que se abriu. Cassius entrou, sério e sereno como antes. Ele caminhou, sem olhá-los, até sua cadeira.


Neste momento, a elfa já havia trazido toda a comida e a bebida do jantar. Assim que Cassius se sentou, a pequena elfa se aproximou e fez uma reverência.


- A mesa está muito bonita hoje Cristy. – pela primeira vez os jovens viram Cassius sorrindo.


- Obrigada mestre. – a elfa sorriu, virou-se e sumiu pela porta.


Owen também sorria, o semblante incomum abandonado de lado. A porta da cozinha se abriu novamente, outro elfo, vestido com uma calça social preta e uma camisa branca, entrou. Ele começou a servir os bruxos, começando por Cassius.


- Obrigado Benny. – Cassius ainda sorria.


- Não há o que agradecer, mestre. – Benny se curvou e serviu Owen, seguindo para os jovens.


Todos agradeceram e o elfo parou ao lado de Cassius.


- Pode ir descansar Benny, quando terminarmos lhe chamaremos. – Cassius olhou-o.


- Está bem, mestre. – Benny se curvou e saiu.


Eles comeram silenciosamente. O jantar estava delicioso. Harry foi o primeiro a terminar. Ele ficou olhando de Owen para Cassius e vice-versa. Os dois McWells repararam e, terminando de comer em sincronia, retribuíram o olhar. O jovem desviou o olhar de Owen e focalizou Cassius. O sorriso que esteve na face do bruxo desapareceu.


- Sente medo, Potter? – a voz permanecia grave e não possuía nada além de curiosidade.


- Senhor... – pediu Owen.


- Silêncio! Deixe o garoto responder. – Cassius cortou-o, ríspido – Responda, Potter. Você sente medo?


- Por que quer saber? – retrucou Harry, displicente.


- Medo leva à raiva. Raiva leva ao ódio. Ódio leva ao sofrimento. E sofrimento leva às forças das trevas. – citou Cassius, sereno e sábio.


Harry riu, uma risada fria e sombria. Os outros jovens olharam-no assustados. Owen fechou as mãos em punhos sob a mesa, preocupado.


- Então estou a apenas um passo para as trevas. – disse Harry, subitamente sério - Medo, raiva, ódio e sofrimento. Já senti isso inúmeras vezes até agora. – Harry não desviou o olhar de Cassius por um instante sequer.


- As trevas sempre estão contigo. – afirmou Cassius, nenhuma mudança em seu semblante ou tom de voz.


- Sim. Quando durmo, quando me alimento e quando amo. – Harry fitou Gina pelo canto dos olhos, mas voltou-se para Cassius logo em seguida.


- Tu amas? – perguntou Cassius, sarcástico pela primeira vez desde o início da conversa.


- Tenho o prazer de amar. – respondeu Harry – Mas o senhor... – ele sorriu perverso – já conseguiu amar alguém?


- Chega! – Owen se ergueu, a fim de evitar a eminente discussão – Venham comigo, agora!


Rony, Gina e Hermione se levantaram sem cerimônia, mas Harry continuava olhando Cassius, que estava com o semblante duro e vazio. O olhar gélido e a pele ligeiramente pálida.


- Potter! – gritou Owen com os outros à porta.


Harry se levantou e saiu da sala de jantar, seguindo-os até o quarto.


- Nunca mais fale desse jeito com ele! – bradou Owen, fechando a porta do quarto.


- Foi ele quem começou! – retrucou Harry, aos berros, dando um soco na parede.


Os outros três estavam sentados sobre a mesma cama, olhando-os.


- Ele é perigoso Harry! – avisou Owen.


- Não importa! – Harry se sentiu movido por uma raiva incontrolável.


- Tente se acalmar. – pediu Owen, um pouco mais calmo – Vou ver se você não fez nenhum estrago.


- Nenhum estrago? – repetiu Harry, desdenhoso – O que quis dizer?


- Se ele desejar, pode te matar facilmente. Ele está fazendo o que Dumbledore lhe pediu porque ele era seu único amigo e conhecedor de seus segredos. – disse Owen, a voz baixa e perigosa.


- Que me mate então! E que vá atrás de Voldemort depois! – berrou Harry, sentindo uma pontada na testa e não se atrevendo a erguer a mão.


- Você está delirando. – murmurou Owen, chocado.


Ele se virou e saiu.


- Você é louco, cara? – Rony pôs-se de pé.


- Não me venha com sermão você também. – grunhiu Harry, sentando-se na outra cama e colocando a mão na cicatriz.


- Mais essa agora! – Rony cruzou os braços e caminhou até a janela.


- Acha que ele viu algo? – perguntou Hermione, preocupada.


- Não. – respondeu ele – Ele está apenas com muita raiva. Deve estar torturando alguém.


- Provavelmente. – Gina sentou-se ao lado dele e o abraçou.


- Vou me acalmar. – disse ele.


- Creio que você deveria pedir desculpas ao Owen e ao senhor McWell. – falou Hermione, séria e firme.


- Concordo com a Mione. – assentiu Rony.


- Farei isto amanhã durante o café, está bem? – perguntou Harry.


- Claro. – respondeu Gina.


Houve uma batida na porta, Hermione sibilou um “entre” e Benny surgiu pela porta aberta. Ele olhou-os com curiosidade, depois caminhou para perto de Harry e fez uma leve reverência.


- Meu mestre vos chama.


- O senhor McWell? – perguntou Hermione.


- Sim. – confirmou Benny.


- Onde ele está? – Harry soltou Gina e ficou de pé.


- Meu mestre está no escritório. – respondeu Benny, saindo do quarto em seguida.


- Cuidado. – sussurrou Gina nos ouvidos de Harry.


- Eu terei. – afirmou ele, saindo do quarto e seguindo Benny.


O elfo bateu na porta do escritório e a abriu. Ele entrou, com Harry logo atrás, e fez uma reverência. Cassius estava sentado em uma poltrona de frente para a lareira e Owen estava de pé do lado da mesma, encostando as costas na parede. Ele fez sinal com a cabeça e Benny se retirou, fechando a porta. Harry estava mais calmo, muito mais calmo, embora sua cicatriz ainda formigasse levemente.


- Sente-se. – Owen apontou para a poltrona que havia entre ele e Cassius.


Harry caminhou em silêncio e se sentou, olhando Owen. A lareira estava acesa e era a única coisa que iluminava o lugar.


- Eu queria... – iniciou ele.


- Não há necessidade. – Owen cortou-o, um leve sorriso em seus lábios, demonstrando que não estava chateado.


- Owen... – Cassius mantinha o olhar fixo nas chamas – peça para que Cristy prepare o outro quarto para as garotas.


- Sim, senhor. – disse Owen, saindo.


Harry fitou Cassius. O mago parecia estar imerso em pensamentos, tal qual Dumbledore.


- Eu espero... – Cassius ainda olhava as chamas – que a cena do jantar não se repita mais.


Harry pensou em retrucar. Porém, engoliu o orgulho e disse:


- Não acontecerá novamente.


- Tenho certeza que sim. – a voz do bruxo saia com autoridade e, mesmo assim, mantinha-se serena, como seu semblante – Amanhã, às oito horas, quero que esteja pronto para começarmos seu treinamento.


- Sim, senhor.


- Pode ir.


Harry se ergueu e fez uma leve reverência. Por isto, não viu quando Cassius olhou-o pelo canto dos olhos. O moreno virou-se e saiu. Cassius sorriu.


“Será um bom aprendiz. Apesar de tudo”.


=-=-=


- O que ele queria? – perguntou Rony, antes que Harry sequer fechasse a porta.


- Certificar-se de que o ocorrido no jantar não se repita. – respondeu ele, completando ao ver as expressões de desanimo deles - E marcou o primeiro treino.


- Quando? – os olhos de Gina brilharam.


- Amanhã, às oito horas da manhã. – sorriu ele, fitando-a.


- Tão rápido? – Hermione se pôs de pé – Nós ainda nem pensamos em como aprendermos sem ele saber.


- Acalme-se. – pediu Harry – Tenho certeza que você e seu cérebro pensarão em algo até amanhã.


- Assim espero. – ela se soltou sobre a cama, entre Gina e Rony.


- Onde vamos dormir? – questionou Gina de repente.


Ouviu-se uma batida na porta. Cristy entrou e fez uma reverência. Focalizando as garotas logo depois.


- Mestre Owen vos chama.


- Aonde? – Hermione ficou de pé.


- Em vosso quarto. – Cristy fez sinal para que elas a seguissem.


- Até amanha. – desejou Gina para os garotos, fechando a porta.


=-=-=


- Cristy!


- Sim, mestre Owen? – a elfa aparatara ao seu lado.


- Faça-me um favor? – ele se abaixou, ficando quase com os olhos emparelhados com os dela.


- Mas é claro, mestre. – ela sorriu, feliz por ser útil ao seu mestre e amigo.


- Entregue isso à senhorita Sanderson. – ele retirou uma carta do bolso.


- Devo esperar a resposta? – Cristy pegou a carta.


- Sim. Eu acho que ela virá aqui. – Owen deu uma piscada e a elfa sorriu.


- Srta. Sanderson almoçará conosco? – os olhos dela brilhavam, entusiasmados.


- Ela virá para o jantar. – ele sorriu – Agora, vá.


- Sim, mestre. – exclamou ela, aparatando.


Ele suspirou e ficou de pé, caminhou até a janela e olhou o sol. O dia estava claro à quase uma hora. Como de costume, ele se levantava com o sol, para aproveitar mais o dia. Despertou de seus pensamentos quando bateram na porta.


- Entre! – disse.


- Mestre Owen... – Benny entrou e se curvou – vosso pai te chama.


- Obrigado, Benny. – agradeceu Owen, saindo assim que o elfo aparatara.


Como sempre, o escritório ainda não havia recebido os raios do sol. Na lareira havia apenas resquícios da chama noturna. Ao entrar, Owen sacou a varinha e deu uma leve sacudida. As cortinas se abriram e a lareira foi limpa. Assim, ele pôde ver o pai sentado à cadeira, olhando-o sério.


- Chamou-me? – perguntou enquanto guardava a varinha.


- Alguém pediu para abrir as cortinas? – retrucou Cassius, amargo.


- Você sempre ordena a abertura delas. Porque hoje seria diferente? – respondeu Owen frio.


- Boa resposta. – Cassius deu um sorriso torto, embora sua expressão deixasse clara a desaprovação pelo tom da resposta.


- Por que me chamou?


- Hoje começará o treinamento do Potter. – Cassius voltou à seriedade de antes – Quero que o leve até a Sala de Cristais.


- Levá-lo à Sala de Cristais? – Owen caminhou e apoiou-se na madeira da escrivaninha.


- Sim. – Cassius encostou-se na cadeira.


- Vai começar a exigir do garoto com esta magnitude? – questionou Owen, indignado.


- Ele já perdeu muito tempo com aquelas crianças. – retrucou o mago, seco.


- Lá vem. – Owen se afastou, revirando os olhos – Vai começar a discutir que eles não são nada comparados a ele.


- É a pura verdade. – Cassius levantou-se.


- Apenas os centauros interpretaram a profecia de maneira correta. Como sabe se a sua interpretação é a mesma? – o moreno se pôs ao lado da janela que dava vista para o jardim dos fundos da casa.


- Perguntasse ao seu querido professor. – Cassius se aproximou do filho.


- Não me teste. – ralhou Owen, olhando o pai nos olhos, depois retornando sua atenção para os jardins – Dumbledore era uma ótima pessoa.


- Mudando de assunto. – Cassius colocou-se ao lado do filho, também admirando o jardim – Chamou-te a senhorita Sanderson para o jantar?


- Sim. – Owen sentiu que aquele era um dos raros momentos onde seu pai demonstrava a curiosidade comum de todo homem que possuía filhos.


- Creio que ela gostará das violetas. – Cassius apontou para um canto do jardim


O jardim não era muito grande. Era tomado por várias espécies de tulipas. A flor que Cassius se referiu era uma tulipa com pétalas violetas com algumas manchas amarelas no centro.


- Também acho. – Owen sorriu – Eu mesmo colherei.


- Nem pensar. – riu Cassius – Peça à Cristy. Não quero que você estrague o jardim. – ele se virou, ainda sorrindo, e caminhou até a mesa.


- Mas... – Owen tentou insistir.


- Você sabe muito bem que Cristy é a única que sabe como colher as flores com o método de sua mãe. – Cassius se sentou, o sorriso esquecido e o semblante duro.


- Está bem, não insistirei. – desculpou-se Owen, aproximando-se da porta – Mais alguma coisa?


- Não. Pode ir. – respondeu Cassius.


=-=-=


Seu “despertador” abriu a porta como sempre fazia. Ela caminhou até a cama do outro primeiro e o sacudiu. Depois veio até sua cama e o chamou:


- Acorda Rony, não vou chamar de novo.


- Pois eu já estou acordado. – ele se sentou, dando um susto em Hermione.


- Idiota. – resmungou ela, furiosa, caminhando até Harry - Anda Harry, já são sete e meia.


- Já estou acordado. – Harry se sentou e pôs os óculos.


- Vistam-se rápido. O Harry tem que se alimentar antes das oito. – Hermione parou à porta – Andem! – e fechou a porta.


- Ainda bem que nós a temos. – brincou Rony.


- É. – Harry se levantou.


Os dois se trocaram rapidamente, pondo roupas simples. Desceram as escadas e encontraram as garotas e Owen à mesa.


- Bom dia. – desejou Owen.


- Dia. – responderam os dois, sentando-se.


- Ansioso? – sussurrou Gina nos ouvidos de Harry.


Ele apenas sorriu e se serviu de leite e torradas.


=-=-=


O relógio bateu. Oito horas em ponto. Owen se levantou e olhou Harry, que já havia terminado de comer.


- Vamos.


- Vejo vocês depois. – falou Harry, levantando-se e seguindo Owen para fora da sala de jantar.


Eles cruzaram o hall e entraram na sala de estar. Ela era quase do tamanho da sala comunal da Grifinória, possuía as paredes em madeira vermelha e os móveis variavam entre vermelho e amarelo-escuro. Harry sentiu como se estivesse em Hogwarts novamente, mais precisamente na sala comunal da Grifinória.


No fundo da sala havia outra porta, que conduzia ao jardim. Eles saram da casa e atravessaram o jardim. Havia árvores frutíferas no fundo, formando um pomar, como uma cerca viva. Eles entraram por entre elas e caminharam alguns metros. Owen parou ao lado de uma macieira e pegou a varinha. Apontou-a para a raiz da árvore e murmurou algumas palavras que Harry não compreendeu.


A árvore pareceu ganhar vida e se moveu, deixando um alçapão à mostra. Owen o abriu e fez sinal para que Harry entrasse. Ele obedeceu e foi seguido por Owen, que, antes de fechar o alçapão, murmurou as mesmas palavras para a árvore, que voltou ao seu lugar.


Harry olhou em volta, era uma pequena câmara, com as paredes e o chão revestidos com pedras negras. Uma brisa vinha do estreito corredor, que era a única saída. Owen seguiu pelo corredor, sério e calado. Harry seguiu-o, igualmente quieto. Conforme andavam, o corredor se dividia em inúmeros corredores com a mesma aparência. Contudo, eles continuaram em frente.


Finalmente, após minutos de caminhada, eles entraram em uma câmara pequena. Grandes cristais estavam espalhados pelo chão e pelas paredes, incrustados nas rochas. Eles eram de infinitas cores e tamanhos e iluminavam a câmara, refletindo a luz de um pequeno e único candelabro que pendia no centro do teto.


Harry olhou seduzido pela beleza daqueles cristais e sentiu uma magia diferente lhe tomar. Seu transe foi quebrado quando Owen o tocou no ombro. Eles se fitaram e Owen deu um sorriso triste e olhou para um canto da câmara.


Harry não havia notado. Ali, no canto da câmara, havia uma mesa, duas cadeiras e uma pequena estante com alguns livros. Cassius estava sentado em uma das cadeiras, encarando-os de braços cruzados. Owen soltou Harry e caminhou até o pai. Sussurrou algo em seu ouvido. Cassius não respondeu e Owen saiu pelo corredor.


Harry ficou olhando o moreno até que ele desaparecesse na escuridão. Depois, voltou o olhar para Cassius, que ainda o encarara.


- Tem perguntas? – questionou o mago, a voz serena.


- Sim, senhor. – respondeu Harry, calmo – Que lugar é esse?


- Essa é a Sala de Cristais. – Cassius se levantou e pegou um cristal azul-marinho – Nessa sala tu aprenderás a controlar tuas emoções e tua mente. Compreende?


- Não tanto quanto queria. – respondeu Harry, sincero.


- Serei direto então. – Cassius caminhou até ele e parou à sua frente – Aqui você aprenderá como bloquear a sua mente e adentrar na mente dos mais fracos.


- Entendi. – afirmou Harry, focalizando o cristal com curiosidade.


- O que vê ao olhá-lo? – perguntou Cassius, erguendo o cristal e colocando-o à frente dos olhos do garoto.


Harry colocou toda a sua atenção no cristal. Estava vendo silhuetas de corpos e objetos. À medida que sua concentração aumentava, as silhuetas começavam a ficar mais definidas, até ficarem perfeitamente visíveis.


Ele via Rony, Gina e Hermione sentados no quarto, com os livros que ele havia trazido dos cofres nas mãos. Os únicos que prestavam atenção nos livros eram os Weasley. Pela primeira vez, Hermione olhava por cima do livro.


Antes que Harry pudesse ver mais algo, Cassius abaixou o cristal e se afastou, colocando-o no lugar.


- O que viu?


- Meus amigos. – respondeu Harry, não entendendo a situação.


- O que faziam? – Cassius se virou e o fitou.


- Estavam sentados no quarto, lendo.


- O que você viu, está ligado ao que você queria ver. – explicou Cassius – Você queria ver o que seus amigos estavam fazendo.


- Mas como...


- Esse é o Cristal dos Desejos. – Cassius apontou para o cristal que havia pegado – Ele revela o desejo do momento. O seu era ver seus amigos.


- Creio que sim. – confirmou Harry, desviando o olhar do mago.


- O que você faz para evitar que eu ou outra pessoa entre em sua mente? – Cassius se sentou na cadeira que estava antes e encarou o moreno.


- Não sei. Acho que não faço nada, porque não sei como evitar. – Harry olhou o bruxo novamente.


- Hoje você aprenderá como evitar, primeiro na teoria e depois na pratica. – Cassius apontou para a cadeira a sua frente.


Harry se sentou e viu dois livros saírem da estante e pousarem a sua frente. Um dos livros se abriu. Finalmente ele pôde entender o que iria fazer. Ficaria lendo aquele livro durante horas e, somente depois, iria praticar.


=-=-=


O sol já havia se escondido e um vento gelado fazia as árvores balançarem. Os três jovens estavam sentados olhando para Harry, preocupados. Ele estava pálido e, desde que entrara no quarto, estava deitado na cama sem falar. Gina mexia em seus cabelos, Rony e Hermione estavam sentados na outra cama, fitando-o.


Então, um som tomou o quarto. Alguém batia na porta. Hermione se levantou e abriu-a. Não havia ninguém ali. Ela olhou os outros com surpresa. Novamente o som de batidas na porta soou. Ao contrário do que eles pensavam, o som ecoava pela casa inteira.


Uma porta do outro lado do corredor se abriu e Owen saiu correndo, deixando a porta do quarto se fechar sozinha. Hermione o viu sumir pela escada e fechou a porta.


- Owen foi atender.


- Nem vi alguém se aproximando. – Rony estava ao lado da janela.


- A pessoa deve ter aparatado. – supôs Gina com um sussurro.


- Quem será que é? – Harry se sentou, mostrando seu rosto pela primeira vez depois de quase meia hora.


Ele estava pálido e com olheiras sob os olhos. O cansaço era evidente. Ele parecia um zumbi.


- Acho que a gente vai ter que esperar o jantar para descobrir. – Hermione sentou-se ao lado de Rony novamente.


=-=-=


Ele ajeitou os cabelos e esticou a mão. Quando abriu a porta, pôde vê-la. Seus cabelos negros, lisos, estavam soltos, seus olhos acinzentados brilhavam felizes. Ela vestia uma camiseta preta e uma calça jeans escura.


Ambos sorriram e ela entrou, abraçando-o com força. Ele fechou a porta e retribuiu ao abraço. Sentia saudades dela e era recíproco. Quando se soltaram, não se afastaram muito, ficaram olhando-se nos olhos um do outro.


Finalmente, depois de alguns segundos, aproximaram-se novamente e se beijaram. Beijaram-se apaixonadamente. Depois de algum tempo, se separaram ofegantes. Sorrindo, deram-se as mãos e caminharam até a sala de estar. Sentaram-se no sofá de dois lugares, muito próximos um do outro.


- Diga-me, porque me chamou? – a voz suave dela era pura curiosidade.


- Não gostou de ser chamada? – perguntou ele, magoado.


- Você sabe que não é assim. – ela riu, desferindo tapas brincalhões no tórax dele – O seu bilhete parecia urgente.


- E é. – o sorriso no rosto de Owen diminuiu consideravelmente.


- Conte-me, então. Você sabe como sou curiosa. – os olhos dela brilhavam de expectativa.


- Harry Potter está aqui.


- Jura? – perguntou ela, exasperada.


- Sim. – confirmou ele, assentindo com a cabeça.


- Finalmente poderei conhecê-lo. Conhecer o garoto que derrotou Tom Riddle tantas vezes. – a empolgação dela era tamanha que ela achou que fosse explodir.


- Contenha-se. – suplicou ele, olhando a porta com atenção – Cassius está de péssimo humor. Acho que o Harry não foi muito bem no primeiro dia de treino.


- Com o que o seu pai começou? – perguntou ela, curiosa e preocupada.


- Com a Sala de Cristais. – Owen abaixou a cabeça.


- Não pode ser. – ela cobriu a boca com as mãos, chocada – Ele é só uma criança.


- Na realidade, ele não é. – ele ergueu a cabeça e a fitou. – Ele é muito forte. Os amigos também.


- Amigos?


- Sim. Ele trouxe três amigos. – informou ele, continuando mais gentilmente – Sendo um deles o amor da vida dele.


- Que lindo. – suspirou ela.


- Mas o Cassius não quis treiná-los. – falou Owen, amargurado.


- Não se preocupe. – ela tocou o rosto dele, carinhosa – Você poderá ensiná-los.


- Acho que sim. O problema é que ele não me deixa ficar um minuto a sós com eles. – murmurou ele.


- Fique calmo. Eu te ajudarei. – concluiu ela, abraçando-o.


=-=-=


- O jantar está servido. – informou Cristy, desaparecendo em seguinda.


Eles se levantaram e saíram, entrando na sala de jantar minutos depois. Cassius e Owen já ocupavam a mesa. Os olhares dos jovens foram atraídos para a mulher que se sentava ao lado de Owen. Ela sorria calorosamente.


- Prazer em conhecê-los. – disse ela, levantando-se e cumprimentando-os – Eu me chamo Sarah Sanderson.


- Prazer. Harry Potter. – Harry sorriu.


- Hermione Grander. – falou a garota.


- Rony Weasley. – disse o ruivo.


- Gina Weasley. – a ruiva olhou-a sorridente.


- Owen me falou muito de vocês. – informou Sarah, sentando-se novamente.


Eles se sentaram. Harry evitou o contato visual com Cassius, pois não queria encará-lo até o próximo treino. Ele olhou Owen e ouviu uma voz risonha em sua mente.


“Melhore essa cara. Você está parecendo um inferi!”.


“Devo isso ao seu pai”. – pensou Harry, possuindo absoluta certeza de que Owen havia lido sua mente.


Benny entrou pela porta, serviu seu mestre, que agradeceu com um sussurro, e serviu os outros à mesa.


Eles comeram em paz e silêncio a deliciosa macarronada feita por Cristy especialmente pela presença de Sarah. Assim que terminaram de comer, eles foram para a sala.


Cassius sentou-se na sua poltrona ao lado da lareira, Owen e Sarah em um sofá de dois lugares do lado oposto e os quatro jovens no sofá de três lugares de frente para a lareira.


- Como vocês se conheceram? – perguntou Sarah a Owen, referindo-se a Harry.


- Num belo dia. – respondeu Owen depois de rir – Ou melhor, noite.


- Acho que nunca esquecerei aquela noite. – Harry sorriu.


- Diga mais sobre você Sarah? – Hermione pediu.


- Mas é claro. – Sarah endireitou-se – Eu moro em Manchester com a minha mãe.


- Você se parece com ela? – perguntou Gina.


- Bem pouco. Na verdade sou mais parecida com meu pai. – respondeu a mulher, os olhos perdendo um pouco o brilho animado.


- Como se chamam os seus pais? – questionou Rony.


- Minha mãe se chama Alice Sanderson. – os olhos acinzentados de Sarah perderam o resto do brilho.


- E seu pai? – Harry inclinou-se, para olhá-la por completo.


- Não sei o nome dele. – mentiu ela – Minha mãe nunca me contou. Conheço-o apenas por uma foto.


- Desculpe-me, então, por perguntar sobre ele. – pediu Harry, encostando-se no sofá.


- Não foi nada. – Sarah sorriu, os olhos novamente brilhantes.


- Como está a vossa mãe? – pela primeira vez, a voz de Cassius soou.


- Bem. Ela teve uma pequena gripe semana passada, mas já esta melhor. – Sarah o olhou.


- Dê minhas lembranças a ela. – Cassius deu um leve sorriso.


- Darei. – Sarah encostou-se no sofá.


Owen ergueu o braço e passou por trás da cabeça dela.


- Vocês dois são namorados? – perguntou Gina, percebendo a intimidade de ambos.


- Si... – começou Sarah.


- Não. – afirmou Owen, sério – Somos noivos. – ele ergueu a própria mão e mostrou a aliança.


- Meus parabéns atrasado. – disseram Hermione e Gina.


- Obrigada. – agradeceu Sarah, colocando a cabeça sobre o ombro do noivo.


- Vocês formam um belo casal. – falou Gina.


“A Gina e você também”. - a voz de Owen soou na mente de Harry, novamente, que sorriu.


Eles ficaram ali até as dez, quando os quatros jovens retiraram-se e foram dormir. Cassius foi logo depois. Owen convidou Sarah para retornar no domingo, para o almoço. Ela aceitou e foi embora.


=-=-=


- Pelo amor de Merlim, Harry! – Hermione fechou a porta.


- Que foi? – sussurrou ele, fraco demais para discutir.


- Já faz uma semana que você está treinando. – ela se sentou ao lado dele, sobre o colchão.


- E dai?


- Você está um caco.


Já havia se passado uma semana, era manhã de domingo e, realmente, Harry não estava nada bem. Ele ficara todos os dias na Sala de Cristais e, durante as noites, quase não dormia. Visões de Voldemort torturando alguém sempre lhe surpreendiam.


Ele virou-se sobre a cama e colocou os óculos. Hermione estava muito preocupada, era nítido em sua face.


- Não se preocupe. – pediu ele.


- Não há como não me preocupar. – desabafou Hermione – A Gina está na mesma situação. Owen não conseguiu arranjar oportunidade para nos ensinar, acho que o senhor McWell sabe dos nossos planos e o coloca para fazer algo o tempo todo.


- Também pensei nisso. – Harry se sentou.


Um relâmpago passou pela mente do moreno e um largo sorriso se formou em seu rosto. Hermione ergueu as sobrancelhas, estranhando a mudança de humor do amigo.


- Eu posso lhes ensinar.– murmurou Harry.


- Mas... – Hermione ia retrucar.


- Não há alternativa. – cortou-a Harry, seco - À noite, quando ele estiver dormindo, você e a Gina vêm para cá e eu ensinarei a vocês o que foi ensinado a mim durante essa semana.


- Você não acha melhor pedir a opinião do Owen?


- Não. – Harry fitou-a – Cassius tem total controle sobre Owen. Não seria nem um pouco confiável falar para ele. – ele pensou por um rápido segundo e acrescentou – Não que eu não confie no Owen... eu não confio é no Cassius.


- Bem, você é quem sabe. – Hermione pôs-se de pé e caminhou até a porta – Vou avisar a Gina. Quando começamos?


- Hoje à noite. – respondeu Harry, forte, olhando pela janela.

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