Inesperado.
Capítulo 7 - Inesperado.
Em aproximadamente meia hora, os quatro já estavam fora da travessa do Tranco, discutindo freneticamente na tentativa de conseguir um bom disfarce.
- Não podemos entrar assim, Rony! Casacos pretos e mofados não são suficientes! – Gritava uma Hermione muito enérgica.
- Conjura alguma coisa você, então, se tem mesmo tanta noção das coisas.
Mordida, Hermione passou a conjurar todo tipo de vestes que conseguia. Nenhuma, porém, parecia útil.
Enquanto os dois discutiam, Harry olhava para o chão, imerso em pensamentos. De repente Gina, que até então o imitava, deu um saltinho e se largou ao lado das malas, concentrada. Harry nem precisou perguntar: compreendeu tudo quando as mãos de Gina saíram de dentro do malão, cheias de caixinhas coloridas. Por fim, sorriu:
- Gemialidades Weasley.
Depois de Gina virar Hermione pelo rosto em uma investida de se fazer ouvir e de Rony ter recuperado a cor natural das orelhas, os quatro se dirigiram apressadamente ao Caldeirão Furado, planejando tomar algumas cervejas amanteigadas enquanto arrumavam os disfarces. Encontrando um bar às moscas, os casais acabaram se sentando próximos a porta, pois era o único lugar iluminado pelo sol, no aposento. Bebericaram, em silêncio, o líquido gostoso das pequenas garrafinhas de vidro.
Harry pensava no quanto eram felizes momentos como aquele, em outros tempos. O gosto daquela bebida, porém, era muito menos prazeroso, agora. Quando começava uma triste viagem nos arredores de Hogsmeade com sua Firebolt, Harry teve de descer das nuvens, pois percebeu que Gina já falava:
- Bem, não temos tanto tempo. Aquele cartaz que vimos na entrada indica que a festa é hoje a noite.
Harry arqueou uma sobrancelha. Não havia visto nenhum cartaz ao entrar no bar, já que estava absorto em conflitos internos terrivelmente violentos. Preferiu não perguntar, e ficou apenas ouvindo. Hermione arrancava novas caretas de Rony enquanto pensava “como uma máquina calculadora”, quando resolveu falar:
- Acho que sei o que podemos fazer.
- Alguém me apresenta uma novidade, por favor? – Retorquiu Rony.
Harry, que já estava ficando impaciente, disparou:
- Fala logo, Mione.
Como já era praxe, a garota deu um breve suspiro impaciente e falou sem respirar, gesticulando com as mãos e movendo energicamente os olhos:
- Os produtos de Fred e Jorge são úteis para aumentar narizes, sobrancelhas... Trocar de dentes por algumas horas... Mas ainda precisamos de roupas adequadas. No mundo dos trouxas existem estilos variados, e um deles carrega vestes realmente úteis pra gente. São roupas escuras, de aspecto “largado”... Algumas até parecidas com aquelas que o pessoal da travessa do Tranco usa.
Harry deu um sorrisinho de canto de boca, compreendendo. Era ótimo saber que havia alguém além dele que sabia a diferença entre punks e comensais da morte, por ali.
Com uma sacudidela de varinha, Hermione fez surgir uma variedade de roupas, em sua maioria pretas. Todos começaram imediatamente a separar algumas, deixando de lado as garrafas vazias de cerveja amanteigada. Rony, que observava as vestes em profundo silêncio, acabou se manifestando:
- Por Merlim... Pessoas normais usam isso?
Hermione sorriu e, quase ao mesmo tempo, apareceu vestindo uma das roupas que estavam em cima da mesa. Os outros acabaram iguais, depois de um aceno da varinha de Gina.
Depois de aceitar que teria realmente de passar a noite vestido assim, Harry sacudiu a sua varinha, tirando as vestes:
- A festa é só a noite, francamente.
Os outros três o imitaram, e Gina levantou-se:
- Precisamos de um lugar pra ficar.
- Bem – começou Harry -, imagino que o Caldeirão Furado ainda disponibilize aqueles quartos em que ficamos no terceiro ano... O que acham?
- Pode ser. Ei, senhor! – Concordou Gina, já chamando o dono do estabelecimento, velho conhecido dos quatro.
Tom apareceu, parecendo desanimado e sem forças.
- Sim?
- Será que o senhor ainda tem quartos pra alugar?
O homem pareceu surpreso. Com um novo brilho nos olhos, acabou concordando com a cabeça. Harry falou:
- Queremos dois, por favor.
E se dirigiram os quatro, ao segundo andar.
Chegando ao patamar, Gina beijou brevemente os lábios de Harry e Hermione fez o mesmo com Rony, se dirigindo depois para o quarto escuro à esquerda. Haviam combinado de descansar um pouco, para em seguida se aprontar para a tal festa. Harry e Rony entraram no quarto da direita e se puseram a conversar:
- Harry, eu realmente não acredito que terei de usar dentes podres para ir a uma festa na travessa do Tranco!
- Você prefere ser reconhecido a ter de sorrir com dentes... Diferentes?
- Não sei, não!
- Ah, sim. Pode deixar que eu te consigo um duelo particular com um comensal, se você preferir.
Rony amarrou a cara. Num sorriso divertido, Harry se jogou na cama com os braços apoiando a cabeça, mirando o teto. Olhou para o lado e percebeu que Rony provavelmente não queria conversar, já que estava deitado de frente pra parede. Seria obrigado a fazer aquilo que estivera evitando desde o velório de Dumbledore: pensar na sua vida.
E Harry pensou. Pensou tanto que, por um momento, sentiu que sua cabeça iria explodir. Seus olhos fecharam com força e ele quase pôde ouvir o barulho das pálpebras batendo, como uma pesada porta de carvalho. E, quando voltou a abrir os olhos, uma lágrima de dor lhe percorreu a face. Se sentia sozinho.
Harry virou o rosto para o lado onde estava a pequena janela. Lembrou-se, por um instante, da imagem de um majestoso hipogrifo carregando um homem ao longe. Piscou duas vezes e só viu o sol, quase se pondo ao longe. Como é que a vida que havia construído durante seis anos, poderia simplesmente se esvair de um momento para outro? Porque as pessoas que amava o deixavam depois de certo tempo? Será que ele, que fora salvo pelo amor de sua mãe, estava condenado a não poder amar?
Harry secou a lágrima, tão solitária quanto ele próprio. Sabia que algumas pessoas não tinham o direito de chorar. Levantou-se, então, andando até a janela. Por fim, chegara decididamente a noite, a quem o dia dera lugar.
Observando o Beco Diagonal por detrás do vidro emporcalhado do quarto, Harry ouviu o barulho da porta, atrás de si. Quando se virou, Gina vinha em sua direção... Mas Harry só pôde perceber isso por causa do perfume floral da garota, que estava irreconhecível.
- Gina...?
A ruivinha – agora de cabelos negros - sorriu, as sardas ainda visíveis em seu rosto:
- Sim, sim. Estou diferente. Meu nariz não é assim tão feio e eu nunca tive cabelos pretos, não é? Gemialidades Weasley, meu caro.
Harry sorriu:
- Fora esse nariz um pouco arrebitado demais, eu diria que você continua linda... Mas prefiro seus cabelos ruivos, se quer mesmo saber.
- Ah, somos dois! Me odeio desse jeito, mas Hermione insistiu que fica mais difícil de saber quem eu sou.
De repente, Rony apareceu por trás de Gina, com uma expressão confusa:
- Quem é essa garot... GINA?
O casal caiu na gargalhada.
- É, maninho, sou eu. Algum problema?
- Fred e Jorge se superaram nesses produtos!
- Com certeza.
Rony deu um saltinho ao sentir as mãos geladas de uma Hermione ruiva sobre seus olhos. Quando encarou a namorada, comentou de supetão:
- Como eu vou beijar uma máquina calculadora que agora se parece com minha própria irmã?
Hermione semi-cerrou os olhos, mordendo a boca.
- Espere até ver como o senhor vai ficar, Sr. Weasley.
- Mas... Ei, eu gostei dos seus olhos azuis, não precisa se vingar!
Depois de Gina transformar Harry em um garoto loiro completamente diferente e reclamar que nenhum feitiço parecia fazer efeito para trocar a cor dos olhos do garoto, Hermione passou a dar um jeito em Rony, que agora se tornara um moreno de olhos inconfundivelmente verdes e sem sarda alguma. Com as sobrancelhas mais espessas de Rony – ele se livrara dos dentes podres! – e o nariz gigante que Harry recebeu, os quatro estavam realmente irreconhecíveis. É claro que se alguém conseguisse erguer a franja de Harry, tudo estaria perdido... Mas Hermione cuidara de fazer um feitiço adesivo-permanente de uma forma realmente eficaz.
Antes de se infiltrar na travessa do Tranco, Harry, Gina, Rony e Hermione combinaram de falar o menos possível dentro do lugar. Não poderiam correr o risco de serem ouvidos, muito menos em um lugar onde possivelmente a magia negra era avançadíssima. Por fim, desceram os degraus desagradáveis do lugar e se dirigiram a uma porta, onde um homem carrancudo segurava uma prancheta ao lado de uma pena de repetição rápida (Não mencionem Rita Skeeter, por favor – berrou Hermione).
Um pouco tarde, se deram conta de uma coisa: Se aquilo era uma festa de verdade, haveria uma lista de convidados. Agora, porém, o homem de cara amarrada já lhes dirigia a palavra:
- Digam seus nomes e a pena aqui os encontrará na lista. E é realmente recomendável que vocês estejam nela.
Os quatro se entreolharam. Ou melhor, os três, pois Hermione parecia estar prestes a ter fumaça nos cabelos. Quando Harry percebeu o que havia acontecido, Hermione já havia guardado a varinha que tirara discretamente do bolso e proferia quatro nomes, aparentemente em francês. Rony a olhava com curiosidade, mas Harry e Gina já haviam compreendido. A amiga enfeitiçara a pena de repetição, de modo que qualquer nome poderia ser encontrado naquele instante.
Quando adentraram o salão escuro, Hermione sussurrou seu feito, confirmando as suspeitas de Gina e Harry. Sem saber exatamente o que fazer, ficaram parados a meio metro da entrada, tentando identificar alguém. Ouviram diversas vozes, avistaram diversos rostos desconhecidos e pensaram, por um instante, que tudo aquilo seria em vão, já que a festa parecia pura e simplesmente... Uma festa de magia negra na travessa do Tranco. Nada de suspeito. Nada de comensais a vista. Até que...
De repente, tudo escureceu. Um ar pesado deu lugar à brisa leve que cobria o lugar. As vozes silenciaram em perfeita sincronia, como se alguém houvesse diminuído o volume do mundo. Harry sentia que os pelos de seus braços insistiam em ficar em pé, e um ar agora gélido arrepiava sua nuca. Ao mesmo tempo em que tocou sua varinha e a tirou do bolso, uma voz sinistramente conhecida se fez ouvir:
- Milorde...
Os dentes de Harry cerraram automaticamente ao som daquela palavra. O chão pareceu sumir debaixo de seus pés, e sua boca secou. Aos poucos seus olhos foram se adaptando a escuridão e ele pôde ver as sombras que agora se faziam presentes, recém vindas de trás deles.
A verdade lhe desceu com dificuldade a garganta... Rabicho estava ali. E, por mais que se recusasse a acreditar no que seus olhos viam, aquela silhueta monstruosa a sua frente dava a certeza necessária: Voldemort também estava.
N/A: MIIIIL DESCULPAS PELA DEMORA E PELA PRESSA AGORIIINHA! Tenho mesmo que ir, gente! A resposta dos comentários eu posto no próximo capítulo, individualmente! Obrigada a todos por ler, e comentem!
Beijão,
Isa.
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