Sábias Palavras.
Capítulo 4 - Sábias palavras.
Tudo parecia em paz n'A Toca, até mais do que seria normal. Harry aproveitou todo aquele tempo considerando que estava em férias, e logo percebeu que, se fosse seguir à risca a decisão que tomara no dia do enterro de Dumbledore, não haveria mais férias, pois ele não voltaria para Hogwarts - nem mesmo sabia se a escola estaria aberta.
Acordou em uma manhã de julho com a impressão de que esquecera alguma coisa importante e desceu para o café da manhã, sonolento, ainda martelando o que seria a tal coisa. De pijamas, desceu vagarosamente as escadas que davam para a cozinha, parando de repente na metade do caminho.
É claro que havia esquecido algo especial: Era dia 31 de julho, seu aniversário de dezessete anos! Embora para Harry, essa data fosse apenas um lembrete de que estava agora mais velho; Nunca fizera nada de especial nesse dia.
Lembrou-se do fato quando, chegando ao pé da escada, deu de cara com um grupo de rostos conhecidos e sorridentes, que logo começaram a gritar e cantar alegremente em meio a muitos e muitos doces e enfeites coloridos.
Gina, Hermione, Rony, Sr. E Sra. Weasley, Fred, Jorge, Gui, Fleur, Tonks e Lupin, estavam todos ali. Harry sentiu uma pontada em seu coração, que não compreendeu logo. Percebeu que, pela primeira vez em toda a sua vida, estava tendo uma legítima festa de aniversário.
Letreiros enfeitiçados e balões flutuantes haviam sido conjurados, todos contendo dançantes palavras como "Happy Birthday Harry" e fotos do garoto, sorridente, acenando para todos na sala.
Sem saber o que dizer, Harry sorriu e andou até a multidão que o cercava. Logo nos primeiros passos trôpegos que deu em direção à sala, Gina se atirou em seus braços, dando o melhor presente que Harry poderia receber naquele dia: Um longo e doce beijo, seguido de um sussurro doce e sincero:
- Parabéns, Harry. Acho que não é preciso dizer que eu te amo.
- Eu não acredito que vocês fizeram tudo isso!
Tonks e Lupin, que há muito tempo não o viam, vieram em sua direção com expressão de satisfação e saudade. Tonks foi quem começou:
- E aí Harry, beleza? A gente sentiu saudades!
- Verdade, Harry. Ficamos felizes que você esteja bem!
A essa altura da comemoração, Harry já tinha sido abraçado, beijado, amassado, esmagado e, se não for exagero dizer, quase morto pela força com que o apertavam seus amigos.
Harry percebeu que havia um bolo imenso na mesa central, escrito em glacê numa letra que não tardou a reconhecer: Era a mesma letra que, há seis anos atrás, Harry lera em um pequeno bolo que fora seu primeiro presente decente de aniversário, no dia em que sua vida mudou por completo. Era a letra de Hagrid, mas onde estaria o meio gigante? Com seu tamanho, Harry já o teria visto se estivesse por ali.
- Hagrid está aqui?
Sra. Weasley, que já estava abraçando o garoto pela décima vez, meio chorosa, foi quem respondeu:
- Não, querido. Hagrid mandou esse lindo bolo de muito bom gosto por uma coruja, com essa cartinha que preferíamos não ter aberto, mas Gina insistiu que...
- Insisti que Harry não se importaria que a namorada dele lesse um bilhete de Hagrid, e ele teria me mostrado de qualquer maneira. E, afinal, também sinto saudades de Hagrid, não é?
Sem saber ao certo o motivo, Harry se sentiu feliz ao ver que alguém de quem gostava se interessava por notícias de seu amigo meio-gigante. Poderia ter considerado a atitude de Gina certa invasão de privacidade, mas não se sentia nem um pouco invadido por ela. Pelo contrário: Se sentia bem por ter com quem dividir algo assim.
Harry, naquele momento, não conseguia recordar de nenhuma situação mais feliz do que as que aquela tarde lhe proporcionou.
Fora um dia simples e literalmente mágico: Jogaram conversa fora, sentando no gramado reluzente do jardim, se deitando à tardinha para ver o pôr-do-sol. Os adultos entraram para tomar chá, Fred e Jorge foram guardar seu estoque de logros e brincadeiras no quarto - já que Hogwarts estaria fechada esse ano, acabaram usando os artigos simplesmente por diversão - e só restaram Harry, Gina, Rony e Hermione no jardim.
Harry estava deitado junto dos outros, em uma enorme toalha colorida que conjuraram mais cedo, com um dos braços atrás da cabeça e a mão do outro segurando a de Gina, deitada em seu ombro. Rony e Hermione se encontravam parecidos, ao lado direito do primeiro casal.
O sol se fora e as estrelas cintilavam, brilhantes, no céu enluarado acima de suas cabeças. Harry pensava, pela primeira vez, no que faria a partir do dia primeiro de setembro. Nos seis últimos anos, esta era a data em que tudo começava de novo: Um novo ano em Hogwarts, novas aventuras, novos momentos felizes e tristes. Era o ciclo com o qual se acostumara e, desde que entrara pela primeira vez na escola de magia e bruxaria, pensava em como seria seu último ano como aprendiz daquilo tudo. E agora, por alguma ironia do destino ou por simples crueldade, o mesmo lugar que fizera Harry feliz pela primeira vez, estaria fechando as portas para ele e para todas as pessoas que conhecera durante esse tempo. A Grifinória, a Sala Precisa, seu time de Quadribol, o campeonato das casas, as aventuras pelos corredores, as visitas à cabana de Hagrid, a assustadora floresta proibida e toda a vida que construíra naquele lugar estariam, no ano reservado para sua formatura, de portões lacrados. Dumbledore não iria querer que fosse assim com todos os outros... Mas a sua missão agora é outra, Harry.
Fazia dias que lembrava a si mesmo as diversas opções a respeito dessa missão. Poderia desistir da caça às Horcruxes, tornando Voldemort um ser imortal; ou dar a sua vida para cumprir esse dever que Dumbledore não pôde completar. Não era fácil pensar em Dumbledore como alguém que já não fazia parte de seu dia-a-dia, e Harry pensava que essa seria uma perda que jamais suportaria; bem como a de seus pais e de Sirius.
Harry refletia sobre a situação em que se encontrava agora quando Gina, que ainda não havia deixado de contemplar o céu, até então - ou assim pareceu a Harry -, falou:
- Qual delas vai ser a sua decisão, Harry?
Bastante surpreso, Harry virou um pouco a cabeça para encontrar os olhos de Gina, se perguntando como a garota poderia saber o que estava pensando. Para não cometer um erro, resolveu perguntar:
- Do que você está falando?
Rony e Hermione prestavam atenção na conversa, tão surpresos quanto ele mesmo, Harry pôde perceber.
- Sobre rastrear as outras Horcruxes, é claro! Nós vamos realmente sair por aí procurando objetos com a alma de Voldemort?
- Nós quem? Eu acho que vou, mas antes preciso visitar a cidade onde nasci.
- Nós quem, nós quem... Os quatro, é claro! Ou você pensou que enfrentaria essa última aventura sem a gente?
Harry se surpreendeu não apenas por Gina ter praticamente lido seus pensamentos, como também pela definição que sua namorada dera ao que faria: a última aventura. Mesmo não sabendo o motivo, Harry sempre teve a certeza de que depois de encontrar as Horcruxes, não teria mais aventuras perigosas em sua vida. Superando vagarosamente a surpresa, ponderou os fatos: Gina queria ir com ele, e não era a única; Rony e Hermione não protestaram quando a garota falou em nós.
- Vocês não podem ir comigo. Vai ser perigoso e é um risco que só cabe a mim.
- Ora, Harry. Como tem sido egoísta ultimamente! É lógico que não é um perigo que só cabe à você; sua história se misturou com a nossa de forma que não há mais nada separando as nossas quatro vidas - revoltou-se Hermione, pedindo apoio de Rony com um olhar apelativo. O garoto entendeu:
- É sério, cara. Se não for por isso, olha pelo outro lado: Eu sou obrigado a ficar de olho na minha irmã - não que eu não confie em você, é claro - e essa aí não vai te deixar sozinho nem que você morra.
Gina lançou um olhar de soslaio para contemplar a reação de Harry: Mesmo tentando disfarçar, era nítido que ficara feliz com o comentário; mas preocupado, também.
- Não quero as pessoas de que mais gosto no mundo, correndo perigo junto comigo.
- E eu não quero o meu namorado, a pessoa que eu mais amo no mundo, correndo perigo sem mim.
Hermione e Rony se entreolharam num disfarçado sorriso, decididos a não comentar nada a respeito do que acabara de acontecer. Gina, que nunca foi de declarar o que sentia tão abertamente assim, agora caía aos pés de Harry de uma forma que chegava a assustar. Harry pareceu perceber isso, por que assentiu com a cabeça, como quem concorda, e não protestou mais.
Já ficara tarde e todos precisavam dormir. Se não tinham de acordar cedo para ir ao primeiro dia de aula, não se lembraram disso: Não passava das onze horas quando foram se deitar.
Uma luz verde cegou Harry por um momento, e risadas maléficas soaram como uma música estridentemente assustadora.
Um Duda ainda bebê lhe acertava um tapa bem no meio do nariz.
Harry se olhava diante de um espelho e sentia o peso da Pedra Filosofal em seu bolso.
Estava em uma câmara, tentando acordar uma Gina seis anos mais jovem.
Sobrevoava, ao lado de Hermione, uma das torres de Hogwarts, em cima do hipogrifo Bicuço.
Enfrentava Voldemort em um cemitério obscuro, ao lado do corpo inerte de Cedrico Diggory.
Observava imponente, o corpo de seu padrinho caindo atrás de um véu.
Assistia petrificado Severo Snape matando Alvo Dumbledore, seu último protetor.
- Severo... por favor...
- Avada Kedavra!
"Dumbledore explodiu no ar: por uma fração de segundo, ele pareceu pairar suspenso sob a caveira brilhante e, em seguida, foi caindo lentamente de costas, como uma grande boneca de trapos, por cima das ameias, e desapareceu de vista."
O rosto de Dumbledore, estampado em um quadro em sua própria sala, sorria bondosamente para Harry. Era tudo branco ao redor e somente a imagem do quadro com o Professor era visível aos olhos de quem quer que fosse. Suas palavras soaram distantes, suaves, lívidas.
"Cabe a você, Harry. Mais uma vez, são as suas escolhas que vão fazer toda a diferença. Siga o seu coração, como sempre fez. Elas estão onde sempre estiveram; o lugar das coisas valiosas não muda jamais. Lembre-se, tudo tem um duplo sentido. Não saia de perto deles, Harry. Fique junto de seus amigos."
Harry acordou sentindo sua cabeça pesar. Com o susto daquele sonho estranho, se viu sentado na cama, de olhos bem abertos.
Na penumbra do quarto em que se encontrava, não pôde distinguir nada que estivesse a mais de um palmo à sua frente. Poderia ter sido apenas um sonho? Parecia tão real, a voz era tão clara... Repousou novamente a cabeça no travesseiro, pensando no que acabara de ouvir. Se era mesmo apenas um sonho, teria algum sentido o que Dumbledore lhe dissera? Quem está onde sempre esteve e o que quisera dizer com duplo sentido?
Fechando os olhos, embora sem pegar no sono, Harry passou o resto da noite acordado. Na manhã seguinte, teria de tomar mais uma decisão séria. Não sabia se era o efeito de se ter dezessete anos, ou se ele realmente tinha preocupações demais para um garoto de sua idade, mas Harry se sentiu sobrecarregado com o mundo a sua volta. Suas responsabilidades cresciam a cada dia que se passava. O peso de suas escolhas, agora mais do que nunca, era algo decisivo.
Comentem, por favooor!
Beijos,
Isa.
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