Reuniões de Família
Capítulo VIII
Reuniões de Família
Gina assinou mais um papel, colocando-o sobre uma pilha enorme na escrivaninha. Documentos a respeito de sua próxima exposição, a realizar-se somente no próximo ano, logo depois de seu aniversário, em março, mas que já estava sendo negociada com grandes patrocinadores.
Também havia documentos a respeito de sua separação legal de Draco, e da retirada do sobrenome Malfoy do seu próprio nome. Em alguns meses, no mais tardar, ela voltaria a ser apenas Virgínia Molly Weasley. Em alguns meses não existiria mais a Virgínia Molly Weasley Malfoy...
Ela parou a pena antes de tocar o papel que tiraria definitivamente o sobrenome de Draco do nome dela... sentiu suas mão tremerem e, sem que pudesse segurar a pena, como se suas mãos tivessem perdido as forças necessárias para segurá-la, deixou-a cair sobre a escrivaninha, sobre o documento. A tinta escorreu da pena, manchando o papel, tornando-o ininteligível.
"-Você está mesmo bem, meu amor?- ele perguntou, aconchegando-a em seus braços, dando-lhe um beijo carinhoso no alto da cabeça.
Ela escorregou levemente as pontas dos dedos pelo braço forte dele, ao redor de sua cintura. O cheirinho dele invadia-lhe as narinas.
Era um aroma de colônia masculina, misturada com o seu próprio perfume infantil, daqueles de bebê mesmo, que provavelmente era o único perfume que ela não tinha alergia.
-Eu só quero ficar aqui com você...- ela tentou se aconchegar ainda mais nos braços dele, e sem agüentar, sentou-se no colo de Draco e encolheu-se, agarrando-se ao pescoço do namorado.
Draco envolveu-a com seus braços, tentando ao máximo protegê-la. Era a primeira vez, em meses, que ela deixava que algum garoto a tocasse como Draco a tocava agora, um abraço apenas.
Ele estava preocupado com ela, muito preocupado para falar a verdade. Já fazia quatro meses que ela fora resgatada daquele cativeiro de Voldemort. Fazia quase quatro meses que aquele bruxo fora finalmente derrotado. No entanto, Gina ainda estava muito assustada, e parecia traumatizada.
Demorou algum tempo até que ela voltasse a ser, não a mesma Gina de sempre, mas alguém que lembrasse muito a caçula dos Weasley.
-Me abraça, Draco... por favor...- ela implorou, entre as lágrimas que já molhavam o ombro do rapaz- Me abraça forte...
Draco sentiu a namorada tremer em seus braços. Durante muito tempo ele sentiu falta daquela garota em seus braços. Foram longos meses sem seus beijos, sem seus abraços, sem um único toque mais íntimo, ou qualquer toque que envolvesse sentimento... mas ele soube esperar, ele esperou por ela, respeitou os momentos pelos quais ela passara.
-Me desculpe por todo esse tempo, meu amor... me desculpe... eu... eu simplesmente não pude...- ele afagou os cabelos dela e beijou-lhe o alto da cabeça.
-Shhh... minha linda, você precisava desse tempo...e eu o respeitei por você...
Ele não fez menção de soltá-la do abraço. Na verdade, foi ela quem se afastou e olhou-o. A imagem dele estava distorcida, dificultada pelas lágrimas que caíam de seus olhos. Mas ela pôde distinguir um belo sorriso nos lábios dele. Sorriso este que ele só seria capaz de dar para ela. Era único e especial.
-Eu te amo, Virgínia...- ele disse. Desde que ele falara para ela tal frase, quatro meses antes, tornara-se hábito falar sempre, mesmo sem poder beijá-la ou tocá-la como ele queria- E eu esperaria a eternidade só para ter você novamente em meus braços, desse jeito, como você está agora.
Gina fechou os olhos e levou a mão ao rosto de Draco, sentindo a pele macia e quente dele, tentando decorar os belos traços de sua face pálida... que ela tanto amava...
-Eu também te amo, Draco...- ela sussurrou, abrindo os olhos e fitando o abismo cinzento que eram os do namorado- eu te amo muito...- e novamente ela caiu em lágrimas, não conseguindo se conter, abraçando-o fortemente em seguida.
Ela queria tanto ter falado aquilo para ele há algum tempo, antes mesmo da última guerra. Mas tinha medo. Tinha medo de não ser correspondida, mesmo com todas as evidências que comprovavam que Draco a amava mais do que a ele próprio, o que ele tinha certeza que era verdade.
-Casa comigo?- ele sussurrou ao ouvido dela. Gina ainda estava agarrada ao seu pescoço, e já fazia alguns minutos que parara de chorar. Ela afastou-se e olhou-o, vendo sinceridade e amor estampados nos olhos dele.
-Somos tão novos...- ela disse.
-Não precisa ser agora. Noivemos então.- ele insistiu- Você termina a escola, enquanto eu começo a trabalhar e arranjo dinheiro para arrumarmos a nossa casa.- ela não se segurou e riu. Ele a acompanhou, feliz por vê-la sorrir daquele jeito doce e meigo, como ele tanto gostava.
-Draco, você, trabalhando? E justo para ganhar dinheiro?
Ela aproximou-se e deu um selinho nele, que sequer fechou os olhos, tamanha surpresa de tal ato depois de quatro meses. Fora um beijo tímido e retraído, como de um casal de namorados no início do namoro. A verdade era que eles já tinham dez meses.
-Meu amor, você é dono de todo um império. Tem riquezas e bens espalhados pelo mundo, uma fortuna incalculável. O máximo que você poderia fazer era trabalhar para não ficar entediado.- ela falou com graça, fazendo-o sorrir, satisfeito por vê-la voltar a ser como antes.
-São meros detalhes, Virgínia, meros detalhes... além do mais, não vou ficar com todo esse dinheiro só para mim.- ele explicou, atentando-se às expressões do rosto contraído de Gina- Em breve minha mãe vai se casar, você sabe... com o lobo...- Gina fez uma cara feia para o namorado- certo, certo, com o Lupin... bem, foi um choque saber que eles eram namorados quando ainda estudavam em Hogwarts... eu sabia que meu pai usava o Imperius nela, mas daí a saber que se não fosse por isso o Lupin poderia ser, hoje, o meu pai... bem... é esquisito...
-Draco...
Gina chamou-o, carinhosamente. Ele parou de falar e fitou os olhos castanhos dela. Uma leve e fria brisa passou por eles, balançando os cabelos dela para trás e levando os dele para a frente dos olhos.
Draco levou a mão ao rosto, retirando os cabelos dos olhos, de uma maneira que fez Gina rir. Logo depois ele fitou-a, curioso. Ela parou de rir e lançou um olhar doce para ele. E, antes que ele pudesse falar alguma coisa, ela selou seus lábios nos dele.
Olharam-se por um segundo apenas, com os lábios colados, antes de deixarem suas pálpebras se fecharem. Gina abriu a boca lentamente, passando a língua sobre os lábios cerrados dele.
Ela sabia que ele estava mais retraído por causa dela, até porque ela já começava a sentir sinais do corpo de Draco sob si. Ela sorriu ligeiramente junto aos lábios dele, mordiscando-os por vezes. Segundos depois ele não resistiu e abriu a boca também, aprofundando um beijo que ambos ansiaram por quatro meses.
Draco soltou os braços, deixando de envolvê-la, ao que ela reclamou. Sem quebrar o contato dos lábios, ela pegou as mãos dele e levou uma delas à sua coxa, fazendo-o tocá-la por baixo da saia, enquanto a outra ela guiou até a cintura dela, desejando que ele soubesse o que fazer.
A princípio Draco manteve-se imóvel, e até parou de beijar a namorada, mesmo sem separar os lábios. Ele sabia que fora difícil para ela as épocas passadas, principalmente aquele último encontro com Voldemort durante o qual, ele tinha certeza, ele a molestara de algum modo. Bem, para fazê-la ficar retraída por quatro meses, sem deixar que garoto algum (mesmo os irmãos e até o próprio pai) a tocasse e, por vezes, retraía-se ao toque até de Luna ou Hermione ou a mãe, algo de caráter sexual tinha que ter acontecido naquele encontro.
Mas então, logo em seguida, ele percebeu que ela já não estava mais retraída e que ansiava por ele tanto quanto ele por ela. O toque dos dedos dela em sua nuca, em movimentos leves e carinhosos o faziam se arrepiar, e encorajar-se a tocá-la como ela, ao que ele percebera, queria.
Ele subiu a mão mais um pouco na coxa dela, sentindo-a tremer levemente. Enquanto a outra tentava ultrapassar a barreira da suéter e da camisa, por baixo do grosso casaco de couro que certo dia ele lhe dera.
Gina remexeu-se no colo de Draco, passando uma perna para cada lado do corpo dele. Agarrou-se ao pescoço dele e cruzou as pernas em sua cintura. A mão de Draco ainda estava em sua coxa, por baixo da saia, tocando-a sutilmente, e até timidamente, por medo de assustá-la.
A outra mão desistiu de tentar ultrapassar as milhares de barreiras dos tecidos, então foi até os cabelos de Gina, afagando-os delicadamente.
A garota não segurou um gemido quando Draco apertou sua coxa. Ele próprio não segurava mais toda a sua excitação e vontade de simplesmente subir mais a mão por baixo da saia dela.
Ele tentou. Mas Gina barrou carinhosamente a mão dele, logo depois sorrindo junto aos seus lábios. Ele sorriu em seguida ao senti-la entrelaçar seus dedos nos dele e levar sua mão à cintura dela.
Draco passou os braços ao redor da cintura dela, levando-a para mais perto dele, juntando mais ainda os corpos. Ela enlaçou o pescoço dele, levando seus lábios ao encontro dos dele, num beijo mais que apaixonado, era desejado e ansiado.
Um turbilhão de sentimentos e sensações perpassou os corpos dos dois, fazendo-os estremecerem. E Draco segurou-se para não perder o controle. Ele queria libertar suas mãos e deixar que seus instintos mais selvagens as guiassem pelo corpo da namorada. E ela também queria o mesmo que ele, e assim como ele, segurou-se para não fazer nenhuma possível besteira...
Ouviu-se o badalar de sinos ecoar pela cidade. Seis badaladas. Altas e estrondosas, quase ensurdecedoras. Gina afastou-se rapidamente de Draco, e olhou-o surpresa.
-Perdemos a hora.- ela informou, olhando para os lados. Ela já ia se levantar quando Draco a impediu, puxando-a para mais um beijo, ao que ela não reclamou. Já fazia muito tempo que ela não ficava daquele jeito com ele, sentindo seus beijos e abraços, inebriando-se com seu cheiro...
-E daí?- ele disse, quando afastaram os lábios- não é a primeira vez que isso acontece...- ela sorriu.
Levantou-se e arrumou as vestes amassadas e os cabelos bagunçados. Prendeu as mechas ruivas num belo e perfeito rabo de cavalo, deixando apenas alguns fios caírem leves e soltos em seu rosto.
-Nós perdíamos a hora em salas reservadas em Hogwarts, meu lindo...- ela falou graciosamente, vendo-o levantar-se e sentindo a mão dele entrelaçar-se à sua- Mas eu não costumo perder o juízo numa das colinas em Hogsmeade.
-É bom ter você de volta, Virgínia...- ela parou de frente para ele, perdendo-se naqueles olhos cinzas.
-É bom estar de volta, meu lindo...- ela aproximou-se para um beijo rápido- Eu tenho que ir. Você sabe, tenho que botar os alunos mais novos nas carruagens, fazer chamada, verificar se estão todos bem...
-Claro, monitora chefe...- ele bateu continência, ao que Gina riu.
-Você vai voltar?- ela perguntou, em um tom quase que suplicante. Ele sorriu, antes de botar a mão por dentro das vestes e tirar de lá um singelo colar prateado, com um medalhão oval, fino e também prateado. Colocou o objeto entre os dedos da namorada.
-Eu volto para buscar isso, Virgínia Malfoy.- ele deu um beijo rápido na namorada e desaparatou.
Gina olhou o objeto em suas mãos. Abriu o medalhão e viu duas pequenas fotos olharem para ela. Uma delas era um lindo bebê, lourinho com os olhos muito cinzas. A outra era já um homem, com traços fortes e belos, era também louro, mas os olhos estavam um pouco mais claros do que os do bebê. Ambos eram Draco Malfoy, em duas épocas de sua vida. Ela colocou o colar em seu pescoço, sentindo o metal gelado tocar a sua pele por debaixo das vestes, fazendo-a estremecer.
-Virgínia Molly Weasley Malfoy...- ela repetiu- Não soa tão mal assim... aliás, é um belo nome... Sra. Malfoy... Sr. e Sra. Malfoy...- com um sorriso contagiante em seu rosto, ela desceu as colinas de Hogsmeade."
Gina abanou a cabeça, espantando alguns pensamentos do passado. Épocas felizes, decerto, mas passadas, que já se iam longe.
-Sra. Malfoy...- ela repetiu, só então atentando-se ao fato de que a tinta da pena havia escorrido toda para o papel- ...que por enquanto não deixará de existir...
Ela riu, amassando o papel manchado e jogando-o no lixo. Logo depois ela girou a cadeira, de modo que pudesse colocar os pés sobre a escrivaninha. Ela jogou a cabeça para trás, sentindo a cadeira inclinar, deixando seu corpo relaxado. Seus braços repousaram sobre o seu ventre, fazendo-a lembrar-se dos dois bebês que havia perdido, duas vezes seguidas...era doloroso demais... porém, ela lembrou-se de Peter, tendo a certeza de que em breve ele voltaria para casa, para morar com ela.
Já fazia algumas semanas que ela perdera o bebê. Ela saíra do hospital no dia seguinte, e ouviu diversas recomendações de Luna a respeito de descansar, descansar, descansar e, como se não fosse o bastante, descansar mais ainda.
Ela ficara sabendo da briga que Peter teve na escola, e do nariz quebrado do amiguinho Albert Freak. Gina riu. Amiguinho não era, certamente, uma boa definição para o que Albert era para Peter.
Brigara com o filho, de certa maneira. Não chegara a repreendê-lo ou ameaçá-lo, e nem botou-o de castigo. Até porque ela própria costumava brigar de vez em quando na escola. E até mesmo chegou a quebrar o nariz de um amiguinho que, na ocasião, era ninguém menos que Draco, logo no sexto ano dele.
Fora naquela ocasião também que ele a beijara pela primeira vez. Um beijo à força, e por conta disso ele acabou apanhando mais.
"-Você me bate e eu te beijo, ruivinha.- ele falou, com um sorriso cínico nos lábios. Seu nariz sangrava muito, mas ele não tentou estancar o sangue- E por acaso, você beija muito bem.
-Nunca mais encoste em mim, Malfoy!- ela falou, apontando um dedo acusadoramente para o garoto, enquanto a outra mão tentava limpar a boca de possíveis ‘dejetos’ deixados por Draco- Você me paga, seu imbecil!
-Com sexo e beijos, certo.- ele falou, dessa vez tentando fazer o sangue parar de escorrer. Draco viu Gina sair irritada da sala de astronomia. Ele sorriu consigo mesmo, satisfeito pelo beijo, e até mesmo pelo murro que levara. Valera à pena, afinal."
Gina não conseguiu reprimir um sorriso em seus lábios. Ela jamais revelara a Draco o quão aquele beijo fora bom. Bem, apesar do inconveniente de ela, na época, já estar namorando com Harry, e também do gosto de sangue dele misturado ao beijo, fora realmente bom e cheio de atitude.
Uma batida na porta do escritório chamou sua atenção, despertando-a de seus devaneios nostálgicos. Ela murmurou um breve ‘Entre!’, antes de arrumar-se perante a mesa, colocando as pernas sob a escrivaninha, como devia ser, e não sobre ela, como estavam anteriormente.
-Draco...- ela sussurrou, abrindo e fechando a boca várias vezes.
O homem pareceu mais belo do que sempre fora. Apresentava um penteado novo, colocando o cabelo de lado, bem alinhado e elegante. As habituais vestes pesadas e escuras faziam parte de seu figurino, mas Gina não soube expressar realmente o que ela sentira quando vira o terno preto fazer par com a blusa social, também preta, e a gravata vermelha, e aquela calça social negra e um tanto apertada nos quadris, deixando-o charmoso e, sobretudo, sexy.
Aquela visão lembrou-lhe vezes passadas, em que ele entrava sem bater no escritório, e a pegava apenas de blusa, com as pernas sobre a escrivaninha, à mostra e convidativas. Gina estremeceu com esse pensamento.
Draco, por sua vez, assim que ouviu a voz de Gina dizer para entrar, ainda pôde vê-la retirar as pernas de cima da escrivaninha, sentindo uma sensação estranha no seu estômago, algo como se aquilo fosse proibido, a sensação e a situação. Ele manteve-se firme, com expressões sérias no rosto.
Ele entrou e fitou os olhos castanhos de Gina. Logo depois passou por todo o rosto, reparando nos cabelos muito vermelhos, arrumados num rabo de cavalo com alguns fios caindo-lhe sobre a bela face. Ela usava uma blusa de gola alta, preta e elegante, e uma saia formal, também preta. Estava linda, e Draco não podia negar.
-O que você está fazendo aqui?- ela perguntou, polidamente, com certa formalidade. Draco estendeu alguns papéis para ela, acompanhados do exemplar mais novo d’O Profeta Diário.
-Vim entregar os papéis assinados- ele respondeu, também muito formalmente.
-Da nossa separação?- ela perguntou, analisando os papéis.
-Não, não, estes eu não assinei ainda.- à medida que Gina passava os olhos pelos papéis, seu sorriso aumentava- Na verdade são os papéis do Peter.
-Draco...- ela tentou falar. Ficou algum tempo em silêncio depois de pronunciar o nome dele e depois continuou-...você...você...está...
-Estou te devolvendo a guarda legal do Peter.- ele disse seriamente, notando o quão lindo o sorriso de Gina ficava a cada instante- Sem audiência, sem burocracia.- o sorriso de Gina chegou a ser contagiante, de modo que até mesmo Draco não conseguiu ficar sem sorrir.
Ele viu-a levantar-se da poltrona e andar até ele, parando na sua frente e fitando seus olhos cinzas. Os olhos castanhos dela transmitiam um calor imenso, e também um carinho e amor que há muito Draco não via ali. Por um lado ele podia simplesmente agarrá-la ali mesmo, como seu coração mandava. Mas, por outro lado, seu corpo não reagia, sua mente não respondia aos comandos, e ele ficava ali, parado, apenas olhando-a.
Foi então que ela teve a iniciativa de abraçá-lo. Um gesto carinhoso e retraído, além de repentino e impensado. Ela sentiu o cheiro doce dele invadir-lhe as narinas, e sentiu um turbilhão de emoções quando ele envolveu-a com os braços. Seu corpo estremeceu junto ao dele, tamanha era a proximidade.
Muito delicadamente ela afastou-se, temendo perder todas aquelas sensações assim que olhasse para ele e visse aquelas orbes cinzas fitando-a do modo frio e duro como ele vinha fazendo já há algum tempo. Mas, ao contrário, ela viu-o sorrir.
-Obrigada.- ela disse, afastando-se de Draco- Você não sabe o quanto isso significa para mim, Draco.
-Eu sei, Virgínia, eu sei que isso é importante para você, e eu não sei o que me levou a tirar o Peter de seus braços, acredite.- ele pareceu o mais sincero possível- É como se não tivesse sido eu, e eu não sei o que está acontecendo comigo, Virgínia... não sei mesmo...
-O que você está querendo dizer, Draco?
-Eu não sei... mas eu sei que tem algo errado, muito errado...- Draco pegou o jornal que trouxera e entregou-o a Gina- Eu vou me ausentar de Londres durante uns dois meses, mas prometo que estarei aqui para a festa de fim de ano do Peter. Leia o jornal.- dizendo isso e, sem esperar muito tempo, desaparatou.
Gina pegou o jornal, leu o índice de notícia, atentando-se a uma em especial, que dizia algo sobre o assassinato de John Milton, e juiz, e a morte suspeita de Pansy Parkinson.
"A perícia demorou, mas chegou com a resposta. A notícia foi liberada para a imprensa na manhã de ontem, relatando alguns detalhes do assassinato do juiz John Milton. De acordo com especialistas e o juiz teve uma morte fria e lenta.
‘Havia marcas de estrangulamento na região do pescoço’- afirma um dos responsáveis pela perícia- ‘E também dá-se a entender que houve resistência por parte da vítima, já que suas mãos estava em posição de meia defesa e meio ataque. Houve também envenenamento.’
Também foi declarado que o assassino não foi esperto o bastante, pois deixou pistas para que o achassem. Foi encontrada entre os dedos da vítima uma fina corrente de prata, quebrada, com um pingente grosso e sem forma específica com o nome ‘Pansy Parkinson’.
Um mandato de prisão foi enviado à casa de Draco Malfoy, já que é lá que a suspeita morava e, no entanto, tudo o que os Aurores do Ministério encontraram foi um corpo, aparentemente morto com uma faca cravada ao peito.
Draco Malfoy e Cho Chang têm seus álibis seguros e, por isso, não são suspeitos. Desconfia-se que Parkinson tenha se suicidado após terem descoberto o seu crime e a terem condenado ao beijo do dementador.
Agora só falta uma pergunta principal a ser respondida: o que levou Pansy Parkinson a matar o juiz Milton? Também desconfia-se de que a bruxa tenha utilizado a poção Polissuco durante a audiência de Draco Malfoy e Virgínia Weasley, a respeito da guarda legal do filho dos dois, Peter Weasley Malfoy, e por isso, a criança tenha ficado sob custódia do pai."
Gina ainda passou os olhos pelo restante da notícia, mas não havia mais nada nela que ela já não soubesse. Era praticamente uma cópia da primeira notícia a respeito do assunto, cerca de um mês antes.
A mulher deu um largo sorriso, sentindo-se feliz por finalmente ter o filho de volta em seus braços, ou melhor, por finalmente saber que ele voltaria para os seus braços.
Foi então que a lareira do escritório se acendeu, e entre as chamas verdes apareceu a cabeça de Luna Lovegood.
-E aí, Gina, soube da notícia da Parkinson?- Gina estendeu o jornal e jogou para as chamas da lareira, que queimaram o papel em questão de segundos- É, pelo jeito...
-Draco veio aqui me entregar os papéis de guarda do Peter.- ela informou.
-É, eu sei.- Luna falou.
-Como assim sabe?- a mulher loura entre as chamas exibiu uma expressão engraçada no rosto, meio confusa meio divertida.
-Não que eu saiba, esquece que eu disse que eu sei, porque eu não sei exatamente, não efetiva e literalmente falando. Mas não que eu não saiba de algo...- ela falou com graça e divertimento. Gina olhou-a desconfiada.
-O que você sabe, Di-Lua?
-Eu não sei de nada, Wheezy! Por que você acha que eu sei algo?- ela perguntou- Bem, talvez seus pais saibam de alguma coisa.
-Do que você está falando, Lovegood?
-Descubra, Weasley.- o rosto de Luna desapareceu entre as chamas. A última imagem que Gina viu foi um sorriso irritante nos lábios da amiga.
Gina aparatou na frente d’A Toca. Já fazia alguns meses que não passava por ali, mas a casa não havia mudado muito. A não ser pelos jardins, que estavam com um aspecto de final de outono, quase início de inverno. Aliás, o rigoroso frio do inverno inglês já começava a dar seus primeiros sinais.
Estava tudo silencioso. Parecia deserto. Ela aproximou-se da porta de entrada, sem ouvir qualquer som. No entanto, segundos depois, chegou aos ouvidos dela o som de vozes. Ela parou com a mão na maçaneta da porta.
-Ela chegou...- eram sussurros.
-Shhh! Jorge... cala a boca...- então ela girou a maçaneta da porta e entrou.
-Muito bem, o que vocês estão tramando?- ela perguntou em alto e bom som.
No entanto, não havia ninguém na sala d’A Toca senão Peter, em pé sobre um cadeira, atrás de uma mesa toda decorada com motivos floridos e alguns doces sobre a mesma.
Gina parou e ficou a olhar para o filho. Ele sorria, com uma mesma expressão de Draco, um tanto céptico e retraído. Era algo como uma dúvida constante a respeito de tudo o que olhava. Peter era, deveras, muitíssimo parecido com o pai.
Peter desceu da cadeira e correu para a mãe, atirando-se em seus braços. Gina envolveu-o num ansiado e apertado abraço, como se temesse perdê-lo a qualquer instante.
-Papai me deixou aqui mais cedo e pediu pra tia Luna te avisar da reunião de família que a vovó Molly e a vovó Narcisa preparam pra gente.- ele explicou. Gina não conseguiu falar nada. As lágrimas de felicidade já invadiam e tomavam conta de seu rosto.
Aos poucos, toda a família foi aparecendo e entrando no foco de visão de Gina. Sua mãe e seu pai, Fred, Jorge, Carlinhos, Gui, Rony e Hermione, Harry, Luna, Kathy, Remo, Narcisa, Bonnie... estavam todos ali, sorrindo-lhe.
Já havia tanto tempo que não sentia-se feliz daquele modo, que não se lembrava daquela sensação. Foram tantos meses de angústia... tantos meses de tristeza, que um minuto de felicidade parecia um sonho distante...
-Hei, Gin...- Gina se virou e fitou os olhos da garota que a chamara- Meu irmão virou mesmo um idiota, não foi?- a mulher sorriu para a adolescente loura à sua frente. Os olhos cinzas dela eram como os da mãe, Narcisa, e do irmão, Draco.
-É, Bonnie, parece que Draco esqueceu-se de quem é realmente.
-E você, Pete? Como vai meu sobrinho favorito?- Bonnie virou-se para Peter.
-Eu sou seu único sobrinho, tia Bonnie!
-É, mas mesmo assim é o meu favorito.- a garota, de 15 anos, falou com graça.
Gina recebeu abraços da família, de Remo e Narcisa... aquele momento parecia único e perfeito. Foi então que, já tarde da noite, quando Peter, Kathy e Bonnie já dormiam, Gina reparou em uma cena que a fez ficar mais feliz do que já estava: Harry e Luna, de mãos dadas, com os lábios num beijo iminente...
Ela saiu de fininho da sala, carregando Rony e Hermione para longe dali, deixando que os dois amigos se resolvessem.
Gina dormiu n’A Toca, em seu antigo quarto, junto com Peter. Dormiram abraçados como faziam na maioria das vezes quando o filho passava apenas duas noites seguidas com ela desde que ela e Draco se separaram.
-Vamos logo com isso, Peter!- Gina gritou, do andar de baixo.
Peter desceu as escadas rapidamente, segurando uma bolsa de acampamento, maior do que ele.
-Trouxe o resto das coisas?- Gina ajeitou o casaco do filho e o boné, com um belo brasão de Sonserina- Eu não gosto desse boné, Peter...- o garoto riu.
-Mãe, a senhora não gosta desse boné porque sabe que eu vou pra Sonserina quando eu for pra Hogwarts. Você sabe isso melhor do que eu, não é? Foi você mesma quem me disse...- Gina riu.
-É, mas eu não gosto desse brasão.- falou com graça- Que tal irmos agora?
-Tem certeza que nós vamos gostar da casa?
-Claro que tenho, Peter. É de frente para Alderley Edge, tem um quintal enorme onde dá pra criar quantos cachorros você quiser. Você disse que quer ter uns vinte cachorros, não disse?
-Mas, mãe, nós nem olhamos a casa. A senhora só comprou porque no anúncio tinha ‘enorme espaço para a biblioteca’.
-Quem disse que eu não olhei a casa?
-Então você olhou?
-Vamos logo com isso, Peter!
Gina apanhou o filho pela mão e levou-o até o carro. Partiram, então, para Alderley Edge.
Havia uma casa na frente do parque de Alderley Edge com uma placa enorme indicando ‘Vendido’. Gina apanhou as chaves e abriu o primeiro portão, de ferro preto muito bonito.
Eles adentraram nos jardins, enormes com um gramado àquela altura do ano, cheios de folhas secas, que caíam das árvores de outono. Havia também uma enorme piscina e, bem ao fundo, uma série de canis fechados com telas e portões de ferro.
A casa principal mostrava-se muito bem pintada em branco, com as janelas de vidro e, por dentro, ricas cortinas de cor vinho. Tinha três pavimentos, sendo o último deles o dos quartos.
A biblioteca ficava no andar térreo, e era realmente grande. Já estava decorada com estantes de mogno bem polidas, que iam até o teto, abarrotadas de livros catalogados em ordem alfabética. Havia uma linda escrivaninha, da mesma cor das estantes, e uma confortável poltrona acolchoada.
O quarto principal, o de Gina, era decorado com uma linda cama em dossel marfim sobre um felpudo tapete de no mínimo oito centímetros de espessura. Estava coberta com uma fofa colcha florida. Havia dois criados mudos, um armário e uma penteadeira, todos na cor marfim.
O quarto que seria de Peter fora decorado todo em azul e branco. Não parecia realmente infantil, já que não havia muitos brinquedos. No entanto, suas inseparáveis telas e instrumentos de pintura permaneciam num canto, organizados como Gina sabia que ele gostava.
Em cima da cama do garoto havia uma grande caixa, amarrada com um laço branco.
-O que é?- Peter perguntou, ainda com os olhinhos cinzas brilhando, tamanha era a felicidade e a surpresa de entrar naquela casa, a nova casa dos ‘Weasley Malfoy’.
-Por que você não abre?- Gina apontou a caixa, ao que Peter foi cautelosamente até ela.
O garotinho desfez o laço e retirou a tampa. Em questão de segundos ele estava deitado na cama, rolando de rir, com um filhote de pastor belga em seu colo.
-E então? Como vai chamá-lo?- Gina sentou-se ao lado do filho na cama, e o filhote pulou alegre em seu colo
-Eu não sei... a senhora tem algum nome legal?- ela pareceu pensar um pouco.
-Que tal Snuffles?- lembrando-se de Sirius e sua história, anos atrás.
-É, legal...- ele sorriu- Agora só faltam dezenove...- comentou, ao que recebeu um olhar desconfiado da mãe.
-Nem pense nisso, mocinho!- Gina inclinou-se sobre o corpo do filho e começou a fazer cócegas nele. Snuffles começou a latir alto, e os sons de latidos e risos se misturaram durante um bom tempo naquele quarto.
-Então, mãe...- Peter começou, algum tempo depois- a senhora olhou a casa antes mesmo?- e Gina fez-se de desentendida.
-MÃE! Anda logo! Vamos nos atrasar, sabia?
Gina parou no alto da escada e fitou os olhos cinzas do filho, ao pé desta. Peter fez o mesmo, observando a beleza que a mãe demonstrava àquela noite.
-A senhora está linda, mamãe...
Ela girou sobre os calcanhares, dando uma volta na frente do filho. Seu vestido preto balançou ao ritmo de seu movimento e marcou ainda mais as belas formas de seu corpo. Seus cabelos, soltos e caindo em cachos sobre o seu ombros, transmitiam leveza e harmonia com a sua face e suas vestes.
Logo depois Gina parou para observar o filho. O garotinho parecia, agora mais do que nunca, uma miniatura de Draco Malfoy. Os cabelos platinados dele foram penteados de lado, de uma forma elegante e bem polida, suas vestes pretas eram bem trajadas e muito formais. Ele usava um terno, formando conjunto com uma calça social e uma camisa de gola alta por baixo. E seu olhinhos, cinzas e brilhantes, transmitiam euforia e felicidade, e ao mesmo tempo, receio.
-Você está belo, meu anjo.- ela disse, dando um selinho no filho- Belo como o seu pai.- completou.
-Ele vai aparecer?- agora os olhinhos de Peter pareciam demonstrar medo. Gina olhou-o com carinho, sem saber o que responder- Ele não vai aparecer, não é mesmo?
-Eu não sei, Peter, não sei mesmo.- ela disse com sinceridade, querendo por tudo que Draco aparecesse na festa do filho. Ele havia prometido, não havia?
Peter deu de ombros, fingindo não dar importância caso o pai resolvesse não aparecer. Ele olhou para a mãe e sorriu-lhe.
-Vamos, antes que nos atrasemos mais.- então ele estendeu o braço para a mãe, como um pequeno cavalheiro.
O salão de festas da St. Bartleby’s estava ricamente decorado com motivos natalinos. Foram feitos alguns efeitos trouxas de neve, de modo que, durante alguns minutos, depois de determinados intervalos de tempo, dava-se a impressão de que nevava no salão, e alguns flocos de ‘imitações de neve’ caíam sobre as pessoas.
Havia cinco gigantescas árvores ao redor do salão, todas com enormes bolas coloridas, além de figuras natalinas, símbolos tipicamente trouxas. Além disso, havia também várias mesas espalhadas, cada uma com o nome de um aluno, para que os pais se acomodassem.
Gina e Peter sentaram-se à mesa indicando ‘Malfoy’, e foram imediatamente servidos por vários garçons. O garotinho pegou alguns salgadinhos e um copo de água, já que ele não gostava nem um pouco de refrigerante trouxa. Gina apanhou uma taça de vinho, bebericando por vezes.
-Eu posso ir procurar a Kathy?- Gina apenas sorriu graciosamente para o filho.
A mulher ainda observou o movimento do salão por algum tempo, vendo pais e filhos sorrirem e se divertirem, conversarem amenidades e se descontraírem. Alguns casais levantavam-se e arriscavam uma dança romântica no meio do salão. Eles pareciam felizes.
-Sra. Malfoy.- um homem chegou à frente da mesa, estendendo a mão para Gina.
-Sr. Freak, como vai?- ela perguntou educadamente- Me acompanha no vinho?- um garçom parou ao lado deles e Gina apanhou mais uma taça de vinho, entregando-a ao homem.
-Vinho italiano?- ele bebericou, fazendo charme. Foi então que alguém apanhou a taça das mãos de Gina, experimentando o vinho e falando:
-Na verdade francês- Gina e o Sr. Freak viraram-se e deram de cara com Draco- Da melhor qualidade, ao que eu vejo. Safra de 1910... se eu não estiver enganado...
-Sr. Malfoy...- Freak abriu um sorriso cínico- entende mesmo de vinhos, não é?- Draco sorriu friamente.
-Aprendi com Virgínia, ela é melhor sommelierque eu.- ele disse, entregando a taça novamente à ex. mulher. Estendeu a mão para o Sr. Freak- Soube que se separou da sua mulher, Robert.- ele disse muito displicentemente.
-É, há alguns meses. Não dava mais certo. Mas vejo que você e a Sra. Malfoy estão indo muito bem.- Draco não falou nada, e muito menos Virgínia- Então, vou encontrar o Albert, para que ele não encontre o filho de vocês primeiro.- disse com certa ironia antes de se retirar.
Draco virou-se para Gina, afastando uma cadeira para que ela se sentasse. Sentou-se, em seguida, de frente para ela.
-Desculpe-me o atraso.- ele disse muito formalmente- Mas as redes de Flu estão bloqueadas, assim como os meios de transporte bruxos. Não se pode aparatar a longas distâncias, então eu tive que pegar um vôo Paris-Londres, que atrasou...
-Bem, você veio, não é?- ela tamborilou os dedos na mesa, bebericando mais um gole de vinho- e é 1912.- ela disse com graça, vendo Draco virar todo o conteúdo restante de sua taça de vinho e chamando um garçom para apanhar outra.
-Por dois anos. Eu estou aprendendo ainda, nunca chegarei aos pés dos seus conhecimentos a respeito de vinhos, Virgínia. A propósito- Draco riu, provavelmente pensando que o que falaria a seguir não tinha nada a ver com vinhos- você está linda.
Gina sentiu sua face ruborizar e seu corpo tremer. Por um instante ela sentiu todo o amor que sentia por Draco arrebatá-la, invadindo-a e pegando-a de surpresa. Era um amor adormecido, e ela não queria que acordasse.
Durante dois meses ele sequer deu notícias. Nenhuma carta, nenhuma comunicação. Toda essa distância fê-la esquecer (ou adormecer) um pouco do que sentia por aquele louro.
E só então ela pôde parar para observá-lo melhor. Ele usava uma calça preta, como era de costume, uma camisa social escura e uma gravata cinza, sob um sobretudo imponente.
Novamente Draco virou a taça de vinho e apanhou outra. Gina franziu o cenho, perguntando-se desde quando que Draco bebia daquela maneira, tão rapidamente. O homem sorriu para a mulher à sua frente, quase que como um bobo alegre.
-Posso convidar você e o Peter para jantarem comigo?- ele perguntou, pegando Gina de surpresa. Ela abriu e fechou a boca várias vezes, refletindo sobre o comportamento controverso que Draco vinha apresentando já há alguns meses. E ela não soube porque, mas não recusou o convite.
Algumas músicas tocaram, variando entre dançantes e alegres, e românticas e leves. Gina e Draco viram Peter e Kathy dançando entre alguns alunos mais novos, e a mulher observou Luna e Harry em passos românticos entre os adultos.
-Você quer dan...- Draco começou, algum tempo depois. Porém, antes que pudesse terminar a frase, Peter chegou correndo e abraçou-o por trás.
-Eu achei que o senhor não vinha...- Draco envolveu o filho num terno abraço.
-Eu prometi, não prometi?- ele disse- Só me atrasei um pouco, mas para compensar, que tal irmos os três jantar?- Peter abriu um largo sorriso.
-Posso sugerir um lugar?- Gina falou, ao que Draco e Peter assentiram- Vamos ao ‘Vérit’.
Draco puxou a cadeira de um modo cavalheiro, para que Gina se sentasse. Peter sentou-se ao lado da mãe e Draco sentou-se de frente para a ex. mulher. Um silêncio incômodo caiu sobre eles durante alguns minutos.
-Posso ajudá-los?- um homem muito bem trajado e com sotaque francês chegou à mesa deles e estendeu-lhes a carta de comes e bebes.
Gina apanhou uma das cartas e apontou um certo prato, típico francês com escargot e mais alguns toques culinários, também franceses. Peter não protestou quanto ao pedido, já que apreciava tal especiaria francesa.
-Posso sugerir um bom vinho?- o maître falou, muito educadamente.
-Traga-nos uma garrafa do melhor Baron D’Ariginac que tiveres na adega.- o maître sorriu.
-A senhora tem boa noção de vinhos, se me permite o elogio. Era esse mesmo o vinho que eu ia sugerir.- Gina riu para o homem antes dele se retirar.
Durante algum tempo Draco e Gina ficaram conversando. Não souberam bem o que encontrar para entretê-los, já que durante tanto tempo estiveram separados e brigados.
Por vezes Gina questionava-se por que ela estava ali, sentada à mesa de um restaurante francês, acompanhado de Draco, em um jantar que seria ‘romântico demais’ se não fosse a presença de Peter. E, no caso, estava tendo uma espécie de ‘reunião de família’.
Mas então ela olhava para o belo homem à sua frente. Seus cabelos louros estavam mais longos do que ela lembrava-se, de modo que uma bela franja caía-lhe sobre os olhos cinzas e tão expressivos àquele momento. E as roupas praticamente negras, com exceção da gravata, davam-lhe um ar formal e sexy. Ela mordeu o lábio inferior, reprimindo alguns pensamentos de sua mente...
-Não fará mal misturar os vinhos?- Draco perguntou, assim que o jantar chegou, quebrando o silêncio que se instalara entre eles dois minutos antes.
-Não, não se preocupe com isso. O vinho da St. Bartleby’s era realmente muito fraco, seu efeito passa rápido, já deve ter passado.- o maître provou o vinho antes de servir a mesa.- Merci.- Gina agradeceu, muito polidamente.
-O Sr. Freak chamou-a de Sra. Malfoy- Draco comentou- Ele não sabe que você não mais a é?- Gina parou o garfo a meio caminho da boca.
-Na verdade, eu ainda sou a Sra. Malfoy, Draco. E, se quer saber, não pretendo deixar de ser. Com certeza não será um nome que me separará de você.- ela disse muito sutilmente.
O jantar prosseguiu silencioso, às vezes com alguns comentários engraçadas de Peter, a respeito da escola e dos amigos, até mesmo para descontrair os pais. No fundo, o garotinho Weasley Malfoy estava mesmo feliz, ao ver os pais juntos, mesmo que por alguns instantes apenas.
-Com licença,- era o maître, parando educadamente ao lado da mesa deles, logo depois de recolhidos os pratos de comida, sobremesa, e as taças de vinho- está nevando lá fora, e provavelmente, em breve, cairá uma nevasca. O segurança informou ao restaurante que os senhores chegaram à pé até o ‘Vérit’.- Gina abriu a bolsa para apanhar um cartão de crédito trouxa, mas Draco foi mais rápido e pagou a conta com várias libras que carregava no bolso.
-Sim, nós estamos a pé.- Peter falou, de um jeito cavalheiro, quando notara que nem seu pai e nem sua mãe tinham respondido.
-O restaurante oferece aos senhores um carro para que os leve em segurança até em casa.
-Bem, obrigada, senhor- Draco disse educadamente- mas creio que não precisaremos do carro. Não moramos muito longe daqui.
-O senhor tem certeza?- Draco olhou para Gina, que sorria de um jeito misterioso para ele.
-Sim, claro. Mesmo assim obrigado pela atenção.
Estranhamente Draco ofereceu o braço para Gina e, assim, passaram a andar como um casal pelas ruas cobertas de neve de Londres. Peter ia no colo do pai, já quase adormecendo com a cabeça apoiada em seu ombro, mas mantinha um sorriso débil, por causa do sono, no rosto, demonstrando a felicidade por ver os pais juntos.
-Não precisamos nos arranhar feito cão e gato só porque estamos separados, não é?- Gina falou.
Draco abriu a porta velha do caldeirão furado, que ficava apenas a dois quarteirões do restaurante, e eles entraram. Não havia ninguém lá, a não ser o velho Tom, dono do bar, aparentando um estado de pré decomposição do corpo devido à velhice.
-Claro que não.- ele disse, a voz um pouco vacilante, talvez por causa do vinho forte que bebera- Me reprimo por causa da inimizade que desenvolvemos. Mas já disse, até hoje não entendi.- Gina fez a série de sempre com a varinha, batendo contra os tijolos certos, e a passagem para o Beco Diagonal se abriu- Bom que os bruxos têm feitiços para limpar as ruas da neve excessiva- ela comentou vagamente, notando as ruas do beco diagonal limpas de neve, sendo que a neve que caía, evaporava-se antes de tocar o chão.
-Bom que nós temos feitiços de impermeabilização, senão Peter pegaria uma pneumonia das fortes apenas nesses trajeto do restaurante para cá.- Draco falou, certificando-se de que a neve não tocava nem o corpo de Peter, em seu colo, e nem o de Gina.
-Você vai voltar para Paris?- ela perguntou, um tanto receosa.
-Tenho alguns negócios a terminar por lá. Creio que eu não vá demorar. Mas receio não chegar antes da primavera.
Andaram por algumas lojas, meramente olhando de relance para as vitrines escuras. Lojas de roupas, livros, animais... foi então que Gina parou à frente de uma loja de decoração.
O letreiro dizia ‘Jewel’. Numa letra arranjada e cheia de voltas, muito bonita e elegante. Na vitrine havia apenas um objeto, que chamou muito a atenção de Gina. Era uma flor de cristal, brilhante, delicada, do tamanho da palma dela. Bem modelada, com uma sombra estranhamente colorida ao redor dela, como se fosse uma áurea.
Ela riu. ‘Áurea só existem em humanos, Gin...’ – ela pensou ‘Será mesmo?’. Draco olhou para a flor também, mas nele aquele objeto não exercia tanto fascínio e admiração como apenas os olhos de Gina demonstravam.
-É bonita, não é?- ela comentou, passando os dedos no vidro da vitrine- Parece tão perfeita e singela...
-Mãe...- Peter choramingou, fazendo com que Gina voltasse sua atenção para ele. O garoto dormia tranqüilamente no colo do pai.
-Vamos pra casa.- ela falou- Peter está cansado, tenho que botá-lo na cama, ou ele vai ficar com torcicolo pela manhã.
Os três seguiram até uma loja iluminada, chamada ‘Portas da Coruja’. Entraram e viram três, das quatro paredes internas, cobertas por portas, do chão ao teto.
-Para onde?- falou um homem simpático, vindo até eles.
-Alderley Edge, por favor.- Draco falou.
-Não é melhor você ir direto para a sua casa, Draco?
-Claro que não, Virgínia. Vou deixá-los na porta de casa, aí então eu conheço a entrada de sua casa nova, pelo menos.- Gina franziu o cenho, novamente questionando-se a respeito do comportamento controverso do ex. marido.
O homem da loja apontou a varinha para uma porta vermelha em uma das paredes e esta veio flutuando até parar à frente deles. A porta se abriu, revelando não a figura de um dos lados da loja, mas sim um belo e escuro jardim. O jardim de Alderley Edge.
Eles atravessaram a porta e Gina guiou-os até a entrada da casa onde morava com o filho. Virou-se para Draco, tomando, cuidadosamente, Peter do colo do pai.
-Então, Draco, obrigada por esta noite.- ela sorriu enquanto Peter remexia-se em seu colo.
Draco inclinou-se para mais perto de Gina e levou o rosto para próximo do rosto do filho, coberto pelos finos cabelos louros. Ele afastou os fios do rosto da criança e beijou-o carinhosamente. Seu peito, estranhamente, doeu, e ele não soube explicar o que aquilo significava.
-Eu tenho que ir.- Draco falou, enquanto Gina rodava a chave da porta de entrada. Ela não conseguiu contrariá-lo- Então... eu já vou...- ele continuou sem jeito, nem soube bem porquê- E... bem... Feliz Natal...- ele, então, estendeu uma caixinha de chumbo, nela gravada o nome ‘Virgínia’- acho que vai gostar, mas não abra agora, certo?- ela confirmou com a cabeça, ainda observando a beleza da caixa, modelado como se fosse uma armadura.- O de Peter já deve estar no quarto dele.
Ela já ia dizer para ele que também tinha comprado um presente para ele, e que não soubera ao certo porque o fizera, mas o fato é que havia um belo presente de natal esperando por ele. Porém, assim que ela olhou para o local onde Draco deveria estar, ele já havia desaparatado.
Gina ainda olhou para os lados, procurando pelo louro, mas não havia nem sinal dele. Então, notando a hora tardia, ela abriu a porta de entrada e fechou-a atrás de si assim que entrou em casa.
Ao menos a noite fora agradável...
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