Visita
Capítulo V
Visita
Peter segurou o trinco da porta e girou. Entrou vagarosamente no quarto, que tinha apenas a luz fraca de uma vela, esta que flutuava de um lado a outro pelo aposento.
Virgínia estava deitada na cama, aparentemente dormindo. Peter se aproximou, subindo numa cadeira próxima à cama e curvando-se sobre o corpo da mãe. Seus cabelos ruivos cobriam seu rosto e sua respiração mantinha-se alternada entre o calmo e o acelerado.
Por vários minutos Peter ficou olhando a mãe dormir, admirando-a como se fizesse séculos que não a via. Ele atreveu-se a tirar algumas mechas de cabelo do rosto dela, que remexeu-se na cama, virando-se de frente para ele. Peter curvou-se um pouco mais e deu um beijo carinhoso no rosto da mãe.
-Peter...?- ela murmurou, abrindo os olhos e encontrando os de Peter fixos nela.
-Oi!- ele disse.
-Estava sonhando com você...
-A senhora está bem?
-Mamãe vai ficar bem, meu amor, não se preocupe.
-Vovó Cisa me trouxe aqui. A Vovó Molly está lá fora, com o vovô Aluado, o vovô Arthur e os tios todos.
-Seu pai está aí também?
-Não, ele ficou na casa dele com aquelas mulheres.- ele sorriu carinhosamente antes de perguntar- O que a senhora tem? Está doente?
-O vovô Aluado te disse alguma coisa?
-Não, ele ficou lá fora com todo mundo e disse que era para eu entrar. A vovó Cisa foi me pegar lá na casa do papai, eu acho que eles brigaram.
Gina ergueu os braços, para alcançarem o corpo do filho e trazê-lo para perto de si. Afagou os cabelos louros dele, sentindo um cheiro estranho emanar destes.
-O que você passou no seu cabelo, filho?- ele deu um longo suspiro, vendo que a mãe incomodara-se com aquele cheiro doce e forte que impregnara nele e, agora, impregnara nela também.
-Aquelas mulheres da casa do papai esborrifaram o perfume delas em mim. Acho que foi sem querer...mamãe...- ele chamou, com a vozinha num sussurro- vocês vão voltar algum dia?
Segundos depois, antes que Gina respondesse à pergunta do filho, a porta do quarto se abriu e entraram Narcisa, Lupin, Molly e Arthur. As expressões nos rostos deles não eram das mais agradáveis, e isso assustou profundamente Gina.
-Pete, meu anjo,- Narcisa começou- vamos lá fora com a vovó Cisa e o vovó Artie? Vovô Lupin e vovó Molly querem conversar a sós com a mamãe...
Peter deu um último olhar para a mãe, sorrindo-lhe rapidamente, e depois saiu, acompanhado dos avós Arthur e Narcisa.
-O que está acontecendo?- ela perguntou, ajeitando-se na cama- Por que vocês estão com essas caras?- Molly parecia estar querendo segurar as lágrimas, enquanto Lupin mantinha-se forte por fora, mas por dentro ele não parecia passar de uma criança assustada.
-É o seu bebê, minha filha...- Molly falou cautelosamente. Instintivamente Gina levou a mão à barriga.
-O que tem ele, mãe?- Molly não se segurou e começou a chorar- Remo?- a voz de Gina tornava-se mais desesperada a cada instante- O que tem o meu bebê?
-Por enquanto ele está bem, Gina.- Lupin aproximou-se, olhando para Gina como se olhasse para a sua própria filha.
-Por enquanto como?- ela perguntou, sentindo o seu rosto quente e as lágrimas começarem a brotar.- O que vocês querem dizer com isso?- Molly Weasley foi ao encontro da filha, tomando-lhe a mão dela com as suas- Está acontecendo de novo, não é?- ela sussurrou, sentindo a voz falhar. Seu coração se apertou dentro do peito, e a sensação era de que uma mão o espremia, sem piedade- Por que, Remo? Por que comigo?
-Eu não sei, Gina...- Remo falou, num tom paternal.
-Eu não quero passar por tudo aquilo novamente, Remo... não quero...- Gina levou as mãos ao rosto, deixando que as lágrimas escorressem- foi horrível e doloroso demais...
-Nós sabemos disso, Gin...e nós sabemos o quão difícil foi para você... mas você precisa entender que...
-EU NÃO PRECISO ENTENDER NADA, REMO! PORQUE EU NÃO QUERO ENTENDER...- ela gritou, sobressaltada- EU NÃO QUERIA que fosse assim...
-Os curandeiros estão pesquisando modos de não tornar a situação menos dolorosa, minha filha...- Molly falou, com a voz tendendo ao choro.
-Não houve modo atenuante da outra vez, não haverá agora...- Gina disse, melancolicamente.
-Gina...- Remo tentou começar, mas foi interrompido por Gina.
-Me deixem sozinha...- Gina sentiu seu corpo tremer, numa sensação desagradável.
-Mas, querida...- Molly tentou.
-Mamãe,- Gina falou um tanto severa- por favor, me deixem sozinha!
Molly virou-se para Remo, buscando alguma ajuda para acalmar a filha. O homem olhou resignado de Gina para Molly e dirigiu-se à porta.
-Vamos, Molly.- e então, ambos saíram do quarto.
Gina ainda permaneceu estática por um momento, mantendo a sua mente livre de qualquer pensamento e sua faze sem qualquer expressão. Ela sentia-se vazia, como se lhe houvessem tirado algo muito importante...
Ainda tremendo, ela abraçou-se às pernas e encolheu-se na cama, começando a chorar. Estava assustada, para não dizer desesperada ou inconformada.
Muito lentamente ela deitou-se na cama, sentindo seus olhos pesados demais para se manterem abertos. Sua mente voltou-se a pensamentos desconexos. Seu corpo adormeceu.
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A primeira sensação que Gina teve quando acordou foi a mais desagradável possível. Ela sentia como se lhe faltasse ar nos pulmões, ou o pouco que entrava não era suficiente. Aquilo era terrível demais para estar acontecendo.
Olhou o teto, branco e vazio, tendo em mente que continuava no hospital, e que a conversa que tivera com Remo e a mão realmente acontecera.
-Virgínia...- alguém a chamou. Uma voz forte, que a fazia estremecer por inteiro, ao mesmo tempo que indiferente, que causava-lhe uma sensação de desconforto.
Ela olhou para onde vinha a voz e viu ninguém menos que Draco Malfoy. Porém, algo que a fizera se questionar, foi o fato de notar que o homem não mais ostentava uma pose de superior, apesar da voz assim ter-se demonstrado.
Draco olhava-a como se atravessasse o corpo físico e penetrasse no espiritual, em sua alma. Ele costumava olhá-la assim quando ainda eram casados e, por um instante, aquele olhar tão penetrante e atencioso, a fez esquecer-se daquilo que Remo lhe falara.
Gina não se lembrava da última vez que vira Draco tão belo. É certo que ele estava muito bonito durante a audiência no tribunal, mas toda aquela postura esnobe dele a assustou e, por isso, ela sequer reparara muito bem nele.
Mas agora era diferente. Era como se ele estivesse diferente, como se tivesse voltado a ser o Draco de dois meses atrás, o seu Draco...
E ela não soube bem porque, mas segurou-se para não chorar na frente dele, e correr até seus braços e desabafar suas mágoas e medos.
Draco, por sua vez, tentava lutar contra algo invisível, que parecia prendê-lo ao chão, impedindo-o de chegar mais perto de Gina. Ele entrara no quarto não fazia muito tempo, e vira Virgínia dormir na cama do hospital.
Já não lembrava-se da sensação de vê-la dormir. Era como se borboletas voassem em seu estômago, milhares delas.
-O que você...está fazendo aqui?- ela perguntou, ainda surpresa.
-Eu vim te visitar... eu acho...- ele disse, incerto, sem saber exatamente o que falava- ninguém me viu entrar.- acrescentou- queria saber se você estava bem. Você está bem?
-Depois de tanto tempo você quer saber isso?- ela disse, de um modo rude. Draco, então, conseguiu dar alguns passos para se aproximar de Gina- Depois de tudo o que você fez você quer saber se eu estou bem? Não, Draco, eu não estou bem...
-Eu...
-Cala a boca, Draco! Se eu estou assim, é por sua culpa- ela sentiu as lágrimas quentes voltarem ao seu rosto- você me enganou, Draco...e você tirou o meu filho de mim... você tem noção de como isso faz mal a uma pessoa? Ou melhor, você tem noção de como isso faz mal a uma pessoa que te ama?- ela suspirou longamente, vendo que Draco não tinha resposta alguma- Claro que você não sabe, não é mesmo? Um Malfoy não ama, jamais amou... talvez você tenha me enganado esse tempo todo, durante esses dez anos... e talvez só agora quisesse me dizer- ela tomou fôlego, na tentativa fracassada de manter-se calma, e continuou, mais nervosa do que antes- ‘Virgínia, eu nunca te amei, por isso vou pegar duas vagabundas e brincar com elas na cozinha da nossa casa, para que você veja. E outra: vou pedir a guarda do nosso filho também, viu, amor da minha vida?’ Ah, Draco, poupe-me, certo? Você já não vê o quanto eu estou sofrendo, ainda vem aqui tirar suas próprias conclusões? "timo, já viu. Eu estou péssima, sofrendo como talvez eu nunca tenha sofrido e, o pior, com o meu bebê correndo risco de morte... e, como se não bastasse, você ainda vem aqui, rir da minha cara. Já riu? Então, por favor, retire-se.- Gina desviou o olhar de Draco, mas não sem antes ver um brilho de culpa no olhar cinzento dele. Não havia mais lágrimas no rosto da mulher, ao contrário, este estava rubro como os cabelos, tamanha sua raiva. Algum tempo se passou, num silêncio incômodo.
-Você está grávida, não é?- ele perguntou, sua voz saindo mais fria do que ele queria ou poderia controlar, e ele teve um impulso de gritar consigo mesmo, não tendo noção de como ele poderia ser tão cruel.
Virgínia olhou-o, só depois tendo consciência do que dissera. Não era para ter sido daquele jeito. Não precisava ter sido.
-O filho não é seu, não se preocupe.- ela disse, na tentativa de fazê-lo sentir-se traído, assim como ele fizera o mesmo com ela. Draco virou-se de costas, indo para a porta. Ainda com a mão na maçaneta, antes de sair, disse, friamente:
-Eu não vou levar o Peter. Fique com ele durante as duas próximas semanas. Eu irei buscá-lo na sua casa.- o tom que ele usara quase fizera Gina voltar a chorar. Era indiferente demais, e a sensação de ouvi-lo era torturante.
Draco olhou mais uma vez para Virgínia, fitando seus olhos. Ambos carregavam um misto de ódio e rancor. Gina reparou no rosto sem expressão do homem à sua frente. Era horrível. O que ela não sabia era que ela própria ostentava a mesma expressão...
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