A Casa de Vidro



Capítulo IV

A Casa de Vidro

Draco remexeu em alguns papéis na sua mesa. Peter olhou-o atentamente, parecendo querer descobrir quem era aquele homem à sua frente, como se não o reconhecesse como seu pai.

-Por que me olha assim, Peter?- Draco perguntou, sem olhar para o filho. Peter não respondeu. O garotinho afundou-se na poltrona do escritório da casa do pai, botando uma das pernas sobre um dos braços da cadeira.- Não está satisfeito por vir morar na casa do seu pai? Aqui é bem maior do que aquela antiga casa.

-Quero ver a minha mãe.- Peter falou, decidido. Draco resmungou algo muito feio antes de falar:

-Na hora certa você a verá, Peter.

-E quando será a hora certa?- ele insistiu, e Draco já estava pronto para resmungar algo muito grosso quando alguém respondeu por ele:

-Agora é a hora certa, Pete.- Draco e Peter viraram suas cabeças para a lareira acesa. A cabeça de uma mulher loura e aparentemente de meia idade flutuava entre as chamas. Não demorou para que ela saísse da lareira e aparecesse no escritório- Meu querido, pode dar licença a mim e ao seu pai por um instante?

-Claro, vovó...- Peter recebeu um carinhoso beijo de Narcisa e saiu do escritório, dando de cara com Cho Chang à porta.

Narcisa olhou ao redor, vendo todas as janelas de vidro, no mínimo três em cada parede, além do próprio teto ser de vidro, de modo que refletisse o céu escuro do lado de fora.

Ela virou-se para o filho, com uma cara muito severa. Draco permanecia remexendo entre os papéis, como se sua mãe não estivesse ali. E a mulher nem ao menos importou-se com a indiferença dele.

-Há muito que você não me atinge com a sua ignorância, Draco.- essa foram as palavras certas, porque Draco imediatamente deixou os papéis de lado e olhou para a mãe.

-Você não vai levar meu filho, mamãe.

-Ah, esteja certo que eu vou fazê-lo, Draco.- Narcisa encarou os olhos cinzas do filho, de um modo que apenas ela sabia fazê-lo, intimidando-o a tal ponto que o obrigasse a desviar o olhar.- Virgínia está no hospital, Draco, sabe lá Merlin com o quê. E você, mais do que eu, assim espero, sabe o quanto Peter fará bem a ela.- Draco olhou rapidamente nos olhos da mãe, vendo o ressentimento estampado neles.

Virgínia Weasley, a única mulher que conseguira domá-lo, deixando-o mansinho como um cordeirinho assustado. Mas não, com Narcisa era diferente. Narcisa Lupin, era este o nome da única pessoa que conseguia intimidar Draco Malfoy. Nem mesmo o falecido Lúcio Malfoy conseguira deixar Draco com medo. Jamais. Enquanto a mãe, bastava que ela usasse as palavras adequadas para deixá-lo à sua mercê.

-Você me disse que não entraria com o pedido de guarda, Draco.

-Mudei de idéia. Queria que o meu filho viesse morar comigo.

-Mesmo sabendo da ligação que ele tem com a sua mulher?

-Ex. mulher, mamãe, ex. mulher.- ele corrigiu, logo depois olhando seriamente para a mãe.

-Você nunca entendeu isso não é, meu filho? Você nunca entendeu que Peter depende da Virgínia, e que ela depende do filho mais do que qualquer outra coisa. Você nunca entendeu o laço que une aqueles dois. Ou você não acredita que ele exista, não é mesmo?- Draco acenou impaciente para a mãe- Eu achava que depois de todos esses anos você tivesse aprendido, Draco. Eu achei que tudo o que você passou durante dez anos tivesse feito de você um homem melhor do que aquele que estudava em Hogwarts.

-Eu aprendi.- ele disse, num tom grave.

-Mesmo? Então diga-me, o que você aprendeu durante todos esses anos? Diga-me todas as lições que você aprendeu durante dez anos, mas que você meramente ignorou em... dez minutos? Vinte no máximo? Tempo este que estragou a sua vida, afastou a mulher que você dizia que amava mais do que tudo, e o pior, te fizeram cometer o erro de tirar o filho das mãos dessa mulher. Diga-me, Draco, o que aconteceu com você?

-NÃO ACONTECEU NADA!- Draco gritou, totalmente alterado, de modo que ele jogou os papéis de sua mesa diretamente ao chão, fazendo alguns caírem no fogo da lareira acesa. Narcisa sequer se mexeu ou demonstrou ter-se assustado.

-Sabe, Draco- ela disse displicentemente, apanhando um copo e colocando dois dedos de whisky Blue Label, logo depois entornando-o de uma vez, parecendo não sentir o quão forte era- durante longos vinte anos de minha vida eu convivi com o seu pai, o aparentemente temido Lúcio Malfoy. Eu nunca achei que diria isso, e me dói muito, acredite, dizê-lo, mas você está extremamente parecido com ele. O jeito frio e arrogante, os gritos, a indiferença. Agora, meu filho, só não me venha com a idéia de querer bater na sua mulher, quero dizer, ex. mulher, porque esta é uma das piores coisas que um homem faz a uma mulher, agredir fisicamente.- Draco olhou novamente para a mãe, vendo os olhos azuis dela atentos a algum ponto do fogo na lareira, parecendo pesarosos demais diante da lembrança do passado- Eu digo isso porque durante vinte anos eu apanhei do seu pai. E apenas um motivo me fazia continuar naquela casa, sofrendo todas as agressões do Lúcio.

-Qual?- Draco perguntou, já com a voz tocada.

-Você.- ela respondeu simplesmente- Seu pai nunca tocou um dedo em você, Draco, porque eu nunca deixei. Você pensa que ele nunca quis? Ah, eu via os olhos dele brilharem quando ele falava sobre castigar você, ou bater em você. Mas então eu me punha à disposição dele, que ele me batesse, mas eu não deixaria que ele tocasse em você.

-Por que você está me dizendo isso?

-Porque eu quero que você entenda uma coisa, Draco. Você é meu filho, e eu te amo mais do que tudo no mundo, assim como eu amo a sua irmã. Você e a Bonnie são os meus tesouros. Mas saiba de uma coisa, e guarde isso na memória: Peter é a vida da Virgínia, quer você entenda ou não.- ela frisou bem a palavra vida, antes de dirigir-se ao filho, dar um beijo na testa dele, e sair pela porta do escritório.

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Peter olhou para a mulher à frente da porta do escritório do pai. Cho Chang olhou-o com desprezo e impaciência.

-Oi, garotinho.- ela disse num tom malicioso- Com saudades da mamãe?- Peter não respondeu, apenas desviou o caminho, indo em direção ao seu quarto, onde quer que fosse ele.

Cho deu a volta nos calcanhares, fazendo com que suas botas batessem no piso de madeira, causando um barulho oco, que ecoou por toda a casa de vidro. Ela andou rapidamente até Peter e o apanhou pelo braço, fazendo-o parar.

-Me solta!- ele disse com a voz um pouco elevada, e ouviu-a, assustado, ecoar pelos quatro cantos da casa. Cho deu um sorriso que enojou Peter.

-Não vai dar um beijinho na sua nova mamãe, antes de ir para o seu quartinho dormir?

-Nas mamães você quer dizer, não é, Cho?- Cho e Peter viraram-se para Pansy Parkinson, que acabara de chegar.

Peter olhou de Cho para Pansy, tendo a vontade crescente de chorar. Ambas vestiam-se de uma forma extremamente vulgar, e ambas cheirava a uma colônia doce e sufocante. O garoto viu Pansy chegar para ele e esborrifar um líquido forte que vinha dentro de um frasco pequeno, vermelho, e com formato arredondado.

-Me solta!- ele gritou mais alto, e os vidros ao redor da sala, que cobriam as quatro paredes, estremeceram e ecoaram a voz de Peter, fazendo-o transmitir um som mais assustador do que parecia.

Ele conseguiu se soltar das mãos de Cho e, quando ia correr para longe das duas, sem querer ele esbarrou em Pansy e a fez derrubar o tal frasquinho vermelho. As duas olharam-se e quase começaram a gritar com Peter, se não fosse a voz de Narcisa soar, firme e imponente:

-Vamos, Pete!- ele correu até a avó e abraçou-a. os dois dirigiram-se à lareira da sala e Narcisa tratou de acendê-la- Digam ao...- ela olhou para Cho e Pansy, analisando-as- Digam ao cliente de vocês que Peter está indo comigo, e que se ele tentar trazê-lo à força ele vai ter que se entender comigo.

-Para onde vamos, vovó?- Narcisa abaixou-se perante o neto e sorriu.

-Ver a sua mãe.- e juntos entraram na lareira e partiram.

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