Onde você estava com a cabeça,
Onde você estava com a cabeça, Ellen!?
A paisagem lá fora estava muito bela e dava uma sensação de tranqüilidade a Ellen que observava no peitoril da janela de seu quarto com olhos distraídos aquela manhã que avançava. Ela tinha se livrado de suas luvas, jogando-as em um canto do quarto, pois como ela pensara, estava contaminada com o perfume enjoativo de Malfoy e ela não queria que aquilo ficasse em sua cama onde dormia, ficar lembrando de Malfoy em sonhos já era demais. Claro que o dia anterior fora realmente feliz.
A porta se escancarou, mas Ellen simplesmente continuou onde estava, o vento batendo em seu rosto de traços infantis, onde um sorriso formara-se e um brilho perverso transpassara rapidamente seu olhar. As passadas nítidas atravessando o quarto até ela, rapidamente e furiosas, então sentiu as mãos que pegavam seu braço e a giravam com rudeza para fazê-la encarar os olhos cinzentos de Malfoy.
— Isso não é cavalheiro da sua parte... – ela simplesmente disse, sua voz indiferente, seu olhar desviando-se do dele.
— Como você pôde fazer aquilo? – ele parecia nem ter escutado suas palavras – Onde você arranjou esse vestido? Que idéia lunática você teve de, de repente, ser minha noiva!? Onde você estava com a cabeça, Ellen, quando falou aquilo!? Sair aos jardins SEM PERMISSÃO ALGUMA! – Draco estava queimando de ódio, e de seus lábios então explodiu a pergunta que na verdade era o que realmente o deixara furioso e que mais queria resposta – E QUE MENINO ERA AQUELE???
Aquelas palavras simplesmente produziram risos de seus lábios, seus braços sentindo a pressão dos dedos de Malfoy, mas ela não tentava se desvencilhar, seus olhos encararam os dele, divertidos.
— Eu percebo um tom de ciúmes em sua voz, sr Malfoy? – ela não respondera a pergunta e debochava dele, seu riso era debochado. A pressão em seu braço aumentara consideravelmente.
— Apenas... me responda... as perguntas... – ele dissera entre dentes, os olhos estreitando-se.
— E por que EU deveria responder? Não sou de tanta importância... não é mesmo, vossa majestade Malfoy? Não passo de uma prisioneira, maltrapilha, desobediente e teimosa... AH! Mas me esqueci, uma coisa tão importante não pode passar assim... – seus olhos antes indiferentes agora tinham se estreitado, raivosos – uma NASCIDA TROUXA!
Ela finalmente tinha começado a se debater, mas ele parecia ter se preparado, pois ela não conseguira se libertar das mãos dele. Ele sabia que era difícil controlá-la, como o Lorde das Trevas conseguira domar tal Leoa que em segundos virava uma Gata para novamente transformar-se em uma Leoa ainda mais feroz?
— Pode ser maltrapilha, desobediente e teimosa, até mesmo uma – ele tinha respirado fundo ao falar aquilo, e também com dificuldade de mantê-la presa em suas mãos, fazia com que dificultasse sua fala – nascida trouxa, mas é a prisioneira do Lorde. Preciso cuidar de você, não posso deixá-la fugir. Você é muito importante para o Lorde, então é para mim.
— Que interessante, quer dizer que só por que a “prisioneira” ganhou um complemento de “do Lorde” minha importância aumentou? Mas quando o Lorde está aqui eu realmente me acho apenas a “prisioneira”, não percebo o complemento... – havia tanta ironia em sua voz, sarcasmo, sua expressão facial falsa de incredulidade.
— Talvez por que você já esteja do lado Dele! – ele era muito suscetível as suas crises de sarcasmo, ele ficava com ainda mais raiva do que normalmente ficava quando ela o desobedecia propositalmente como na noite anterior.
— Ah! Então o complemento realmente some?
— CHEGA! – ele parecia ter perdido a paciência com aquela conversa que não levava a nada, ela o estava enrolando. – Você vai responder as minhas perguntas, AGORA. – aquilo tinha sido dito em um tom realmente autoritário ao que ela respondeu com uma cara surpresa.
— Responder? Perguntas? Pois vai precisar repeti-las, pois eu não ouvi pergunta alguma ser pronunciada por você agora... apenas a minha. – ela sabia que estava cutucando a onça com vara curta, mas ela adorava fazer aquilo.
— Ellen!!! – ele falara olhando-a raivoso por ela estar fazendo-o de idiota.
Enquanto ele estrilava de fúria, por ela estar debochando da cara dele, aproveitou-se que tinha ficado um tanto distraído em prendê-la e desvencilhou-se rapidamente e saiu correndo porta a fora, sendo seguida, poucos segundos após, por Malfoy que, ao mesmo tempo que estava furioso, ficara assustado com a repentina corrida dela.
Os dois corriam pelos corredores derrubando vasos, ornamentos e Ellen ainda fazia questão de começar a abrir as portas quando conseguia e deixar a casa uma baderna.
— Ellen, volte aqui, o que deu na sua cabeça? – falava Malfoy alto, enquanto a perseguia, tentando salvar os adornos da casa, bibelôs e estátuas que Ellen derrubava em seu caminho, até que desistiu, pois estava perdendo a distância que ganhava toda vez que ela derrubava algo e deixou que quebrasse tudo. Os quadros começaram a berrar calúnias contra os dois bagunceiros e finalmente a casa chegou a um ápice de loucura que parecia que a casa berrava sozinha. A casa virara um Pandemônio completo e total.
Draco que até aquele momento estava simplesmente focado em se concentrar em pegar Ellen, finalmente foi desviada sua atenção pela balbúrdia a volta, pois aquela barulheira atrapalhava até os seus pensamentos. Não conseguia ouvir seus próprios pensamentos, mas ele percebeu que a situação se transformara na coisa mais hilária da sua vida. Aquela casa, chata e modorrenta, havia entrado em parafuso e Draco ao imaginar a cena de uma casa toda maluca, com luzes acendendo e apagando, um berreiro infernal e ouvindo vários objetos quebrando lhe provocou enfim, o primeiro riso verdadeiro de seus lábios.
Os ouvidos afiados de Ellen tinham conseguido captar aquele riso alto e quase de imediato, virou-se para ter certeza de que aquele riso fora produzido pelos mesmos lábios que a poucos minutos a estava interrogando, os mesmos lábios que tentaram beijá-la covardemente e proferiram palavras que a tinham ferido mais do que uma tortura feita pelo Lorde das Trevas.
Não fora uma boa idéia fazer aquilo. No momento em que virara para encará-lo e ter certeza sobre a fonte do riso, Malfoy não havia conseguido fazer o mesmo a tempo e acabaram os dois caindo um sobre o outro sobre o piso e Malfoy, confuso, tinha parado de rir. Ellen o olhava como se ele fosse algo grandioso e ele estava inteiramente perdido ali.
— Você riu. – ela falou de um modo tão infantil, nada característico, mas era totalmente genuíno.
Seus olhos ainda estavam vidrados nos olhos dele e Malfoy notou pela primeira vez que Ellen mudara drasticamente de personalidade. Parecia uma criança medrosa e indefesa, estavam tão juntos que um sentia o coração do outro batendo e tudo a volta havia simplesmente sumido.
— Eu... – ele sentia seu peito batendo mais forte que o normal, enquanto continuava sobre ela.
Não conseguiu terminar a sua frase, ela se perdera, pois demorara muito para falar e naquele momento a casa realmente havia ficado inteiramente silenciosa, sem precisar da imaginação deles. Uma sombra havia aparecido, encobrindo os dois e quando Draco erguera a cabeça, deparara-se com o Lorde observando a cena.
— O que estão fazendo? – a voz fria e aguda chegara cortante aos ouvidos de ambos.
Draco saíra de cima dela rapidamente, sem machucá-la e Ellen repentinamente parecia ter voltado ao seu eu normal, o olhar indiferente, enquanto limpava as vestes e os cabelos, enquanto falava de modo natural, mas antes olhando para Malfoy de um modo estranho.
— Foi um acidente, estava correndo e tropecei e ele caiu sobre mim. – ela então indicou um pedaço de estátua que jazia ali a uns centímetros.
Draco sabia que era mentira e que, se ela sabia oclumência avançada para conseguir dissimular aquele acidente, a sua oclumência não era tão boa àquele ponto, só conseguiu fazer com que sua mente fechasse e seu rosto queimara de vergonha e ficara extremamente rosado, pois era muito pálido.
O olhar do Lorde mostrou que não acreditava, mas simplesmente deu as costas e chamou por Ellen, para que ele a seguisse novamente. Ouviu, antes de os dois sumirem, uma parte da conversa entre os dois, o que era muito raro e ficou chocado com o que ouviu.
— Você vai passar o dia arrumando esta casa. – O Lorde nem mesmo olhara para Ellen naquele momento.
— O QUE? Tenho cara de empregada? Não vou arrumar casa alguma! – Ellen estava indignada com o que ele dissera, o Lorde havia até mesmo parado e começado a encará-la.
— Você tem prazer em sentir dor, Ellen? – ele perguntara, com os olhos brilhantes e atentos.
— Tenho prazer em te contrariar, prazer na sua raiva, prazer no seu ódio e prazer na sua ira. A dor são simplesmente as conseqüências. E eu não vou arrumar casa alguma só pq VOCÊ quer, eu vou arrumar qualquer coisa quando EU quiser.
— Ou quando EU a fizer fazer e você VAI arrumar esta casa e se não terminar isso HOJE...
— Fará o que? Torturar até desmaiar? Trancar no quarto? AH! Não... você vai me trancar em um quarto com Malfoy! Vou acatar a cada uma das suas ordens, você não pode fazer isso comigo! – Ellen então rira e novamente Draco se arrepiara com o riso que ela dera, frio e cortante, sua alma provavelmente tinha provavelmente ficado do tamanho de uma noz e seu coração quase parara.
Como... Ellen falava daquelas coisas de um modo tão... natural?
Achou melhor sair correndo dali antes que o Lorde notasse sua presença. Outras coisas se passavam na cabeça de Draco naquele momento, uma coisa que ele não queria admitir fazia muito tempo, mas que agora estava provavelmente muito evidente para ele não querer enxergar. Provavelmente ele queria tampar o Sol com a peneira.
Fora Ellen que começara a fazer sua vida ter algum sentido, ter alguma graça. Ele havia feito coisas suicidas por ela, como na época em que ficara inventando milhões de acidentes para ela cair nos seus braços e dizer, mesmo que contrariada, um obrigado. Com certeza era suicídio, pois o Lorde estava bem ali do lado dela e poderia muito bem tê-lo matado, já que provavelmente ele sabia o que estava acontecendo e estar atrapalhando a rotina dele. Havia arranjado coragem de pedir ao Lorde para deixá-la ir ao Baile junto com ele... inventava mil jeitos de ter com ela uma simples conversa. Quase nenhuma tinha dado certo.
Suas mãos foram até o peito, quando chegaram ao seu quarto, sentindo seu coração bater como nunca havia batido antes. Era ridículo, sim, era ridículo! Um Malfoy, Puro-Sangue, apaixonando-se por uma reles Sangue-Ruim, inadmissível!
Sentou-se na cama, confuso entre raiva e paixão, colocando as mãos sobre o rosto e deitando sobre a cama. Apaixonado por uma Sangue-Ruim... Sangue-Ruim... como podia!? COMO!?
Em sua cabeça, vários descendentes da família começaram a falar, de modo acusador “Vergonha da Família!”, “Deserdado, nunca ouvi falar de tal infâmia!”, “Onde já se viu! Jamais admitirei isso!”. Virou-se na cama, enquanto ainda as vozes dos descendentes continuavam atormentando a sua paz e a sua moral, ele passava os dedos pelos cabelos, desmanchando o penteado impecável, totalmente perdido. “Não, não, não! Eu não queria! Era apenas uma medalha...” ele argumentava com ele mesmo em pensamentos.
Depois de minutos, quase se tornando uma hora e meia, em conflito mental e tormento infinito, decidiu levantar-se de queixo erguido, pq sabia que não adiantaria nada ficar deitado na cama eternamente se remoendo. Alguns trouxas diziam que “O tempo cura tudo até...” até o que mesmo? Ah, era coisa de trouxas, que importava, se o tempo cura tudo, então curava aquela paixonite idiota. O jeito era continuar, talvez menos em cima, talvez se continuasse a querer ela como medalha a coisa ficasse pior!
Enquanto caminhava pelos corredores, os pensamentos de Draco começavam a tentar se desviar de Ellen, mas acabou continuando nela, como em todos os outros dias desde que ela apareceu. Mas, o assunto era intrigante. Draco não acreditava como o Lorde conseguira aparecer quando justamente tinha conseguido chegar tão perto! Não foi tão ruim, mas sentir Ellen abrir o seu lado humano finalmente para ele e totalmente consciente durante alguns instantes, o que significava que ela não era aquela placa de aço de frieza que demonstrava, era um milagre!
“Eu ri e ela se abriu... mas já ri tantas vezes, o que de especial tem neste riso que dei agora?” ele pensou confuso, enquanto caminhava. Mas o que ele estava pensando? Era impossível, ele não conseguia, queria conquistá-la de qualquer maneira. Colocou a mão sobre a testa. É, parecia que não havia jeito mesmo...
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