Liberdade Condicional
Aquela não poderia ser pior noticia aos seus ouvidos. Ficar durante um tempo indeterminado sob a custódia de Draco Malfoy? Inacreditável! Não merecia tão doloroso castigo! O Lorde das Trevas não poderia ser tão cruel a esse ponto. Preferia uma semana recebendo a maldição Cruciutus do que uma noticia daquelas! Por que ele a queria castigar em pleno dia de Natal?
— Milorde! – ela exclamou indignada, assim que ouvira aquela notícia horripilante – Por favor, sabe que não fugirei, não precisa me deixar aos cuidados dele! – pela primeira vez na vida ela iria chegar ao cúmulo da súplica para tentar fazê-lo mudar de idéia, qualquer coisa era menos aterrorizante do que ficar sob as ordens de Malfoy, qualquer coisa!
— Não quero ouvir seus protestos e lamúrias, Ellen, será como falei e ponto final. – ele simplesmente tinha dado as costas e começado a caminhar para fora do aposento da lareira, onde, até poucos minutos atrás, Ellen estava brincando com a lareira com sua mente para fazê-las se mexer e virar formas. Fora a única coisa divertida que o Lorde lhe ensinara até aquele momento.
— Então, deixe-me com Lúcio! Ou talvez Narcisa ou na cozinha com os elfos! – Ela não ia desistir tão fácil assim, iria irritá-lo até quando realmente percebesse que ele estava irredutível em sua decisão.
— Será com o filho dos Malfoy e mais ninguém. – ele respondeu friamente, sem nem mesmo olhá-la e ele sabia que aquilo a irritava profundamente, quando ele a desprezava ou ignorava era quase como sua morte.
Os olhos dela brilharam furiosos e ela fechou os punhos, sentindo as unhas nas palmas de sua mão serem enterradas e se não se controlasse, talvez suas unhas pudessem fazer com que sua mão sangrasse. Durante o resto do percurso ela começou a irritá-lo ainda mais e finalmente vencera na sua chatice e ele finalmente a olhara, mais furioso que ela.
Claro que ela pegara pesado, começara a fazer vozinhas finas, enquanto continuava com o mesmo assunto, imitando a voz dele e exatamente tudo que ele havia falado, recomeçado com o mesmo monólogo, mas não foi tudo isso que realmente o irritou. Impulsionada pela raiva, pisara nas vestes dele e propositalmente o empurrara para frente.
Ela estava feliz pela fúria dele, ele furioso pela insolência dela. Levantando-se rapidamente do chão, apontou sua varinha para ela e ela, por pura birra, ainda falava, provocando-o.
— Quanto maior a altura, maior a queda! – ela ainda tivera mais coragem, depois de falar aquilo, de mostrar a língua para ele. Por mais infantil que fosse, ela sabia que aquilo o irritava e era isso que queria fazer.
Com um aceno de varinha, a sensação de ter a língua colocada dentro da boca rapidamente e seus lábios colarem-se, impedindo-lhe de falar, novamente foram sentidas depois de tantos anos, mas aquilo simplesmente não tinha feito a fúria do Lorde diminuir.
— Você vai seguir minhas ordens, quer você queira, quer não. Se eu decidisse que deveria ficar com Lúcio, eu ordenaria isso, se decidisse que deveria ficar com Narcisa, eu ordenaria isso, se decidisse ficar com os elfos, eu ordenaria isso. Mas eu ordenei que era para ficar com Draco Malfoy e você vai aceitar isso, se não pelo modo mais fácil do simples aceitar, pelo mais difícil que vai ser cumprir sem sua vontade. E dê-se por feliz de eu simplesmente ter-lhe tirado a voz e não um castigo.
Virando as costas, ele continuou seu caminho, nem mesmo prestando atenção quando ela lançou um olhar de “Eu prefiro o castigo”. Mas, apesar de as palavras dele serem particularmente ofensivas, ela tinha a satisfação de que o Ego dele estava bem mais ferido que o seu, pois naquela simples queda não tinha só fisicamente caído, mas também o orgulho.
Mas, ao chegar em seu quarto, ficara um pouco deprimida. Seu dia de Natal, que já não era feliz fazia 4 anos, o Lorde conseguira fazer com que o 5º Natal que passaria perto dele fosse mais do que infeliz, mas simplesmente repugnante! Pois nem mesmo passaria perto dele, mas do lado de Malfoy! Provavelmente não havia azar no mundo que superasse isso...
Mas, ao deitar-se na cama, outro pensamento ainda mais aflito passou-lhe pela mente. Não sabia quando o Lorde voltaria, poderia ser alguns dias, algumas semanas, alguns meses... Virando-se para a parede, encarando simplesmente o escuro, ela não queria dormir e segurava algumas lágrimas de raiva, só pelo simples fato de lembrar-se dele falando “Mas eu ordenei que era para ficar com Draco Malfoy e você vai aceitar isso, se não pelo modo mais fácil do simples aceitar, pelo mais difícil que vai ser cumprir sem sua vontade”, e também, de certo modo, medo pelo dia seguinte. Mas o sono acabou derrotando o medo e a dor.
Se todos os dias ela acordava com pouca disposição, aquele ela simplesmente tinha aniquilado sua disposição. Nem mesmo os raios do sol que penetravam o quarto puderam ludibriá-la de que aquele dia se tornaria bom, ao contrário, ela reclamara por terem acordado-a. Sentando-se na cama confortavelmente, a primeira coisa que notara, como também em todas as manhãs, fora a ausência do Lorde das Trevas. As ordens dele bem claras em sua mente “Não quero que saia da cama enquanto eu não a chamar”. Por que ela era impedida de fazer qualquer coisa? Havia apenas uma simples resposta: Você é uma prisioneira. Por quê? Não lhe importa o motivo. Nada podia saber, nada podia perguntar, era proibida de tudo, menos de obedecer.
Ela já sentia os raios lentamente aquecendo-a, tocando sua pele suavemente, quando, para o seu desgosto, ouvira a voz do Lorde a chamando.
— Ellen!
Levantando-se vagarosamente, começou a caminhar em direção à porta, mas daquela vez, quase como uma demonstração de poder, estava ereta e de cabeça erguida, enquanto seus olhos analisavam Malfoy ao lado do Lorde, que a esperava. Apesar da péssima perspectiva, o medo que Malfoy demonstrava todas as vezes que a olhava era algo que a satisfazia, mas naquele dia não satisfez tanto assim. Nem o quanto ele estava inseguro.
Ela estava fria como o gelo, seu café da manhã fora quase normal a não ser pela mínima e tremendamente incomoda presença de Malfoy ao seu lado. Além de ter Malfoy ao seu lado ela comia muito devagar, se teria de aturar a presença dele o dia todo, ao menos comesse bem para isso. O Lorde já tinha saído, pois estava com muita pressa de ir a algum lugar totalmente desconhecido para ela e, como sempre, que não lhe era respeito saber, e ela continuava a comer com um vagar que simplesmente deixara a casa imobilizada 1:30 hora mais tarde do que ficavam normalmente.
Aquilo satisfez seu ego ferido. Pelo menos ela era importante a ponto de imobilizar a casa toda a sua causa, por mais reles que fosse essa causa como tomar um café da manhã. Malfoy, tremendamente furioso começara a andar pela casa sem rumo, pois não sabia o que fazer. Não adiantava querer fazer a mesma rotina que o Lorde fazia. Impossível.
Com grande interesse Ellen começava a observar o seu redor. As paredes adornadas de quadros antigos, cheios de presunção. Elegantes tapeçarias se exibiam formando corredores longos, torturantes. Ela não se sentia bem naquelas paredes, elas lhe transmitiam tristezas, angustias... agonias e mágoas profundas. Em sua indiferença e frieza que se habituara desde que completara 12 anos ela jamais se abrira para coisas alheias como aquelas insignificantes paredes.
Enquanto ela ficava se distraindo com seus pensamentos ela sentira algo se enroscar em seu pulso como uma cobra e prender-se firmemente, algo áspero. Abaixou os olhos imediatamente para ver o que estava aprisionando seu pulso. Uma corda! Mas o problema que não era uma simples corda para ela. Uma corda que a ligava irreversivelmente a Malfoy. Como ele tinha esse direito? Ela pensou furiosa.
— O que acha que está fazendo? Tire isso de mim! – ela reclamou, indignada com o atrevimento dele e, também, estava quase se auto-repudiando por sua mão estar quase o tocando.
— Quero você debaixo dos meus olhos, principalmente agora... - ele falou estranhamente enigmático, olhando-a com um olhar severo. Apesar de estar furiosa ela não pode deixar de notar aquele olhar.
Quando ergueu a cabeça então ela percebeu onde ele a levara. Para o Hall onde... estava a porta para sair da casa! Era disso que ele tinha medo. Ela fugisse enquanto passassem por ali. Alguns segundos mais tarde ela descobrira que estava redondamente equivocada em sua hipótese quase afirmação. Ele estava indo direto para a porta de saída, a porta que, antes, significava a sua liberdade. Mas, apesar de não estar mais planejando fugas, sentir o Sol e uma semiliberdade (porque Malfoy em nada era uma ameaça, como o Lorde) era algo realmente animador, fazendo com que seus olhos ficassem mais cintilantes com a simples idéia de poder sentir o Sol em sua pele por um tempo maior do que aqueles ínfimos segundos que tinha entre ela acordar e o Lorde a chamar. Aquela perspectiva estava deixando-a tão ludibriada que acabara por esquecer-se inteiramente da corda que a prendia a Malfoy.
Malfoy pegou sua varinha e pronunciou “Alohomora”, o feitiço dera efeito imediato, várias trancas começaram a abrir-se por dentro, demorara alguns segundos até a porta finalmente mostrar uma fresta, por onde adentrou um raio minguo de sol, mas esse pequeno raio fora o suficiente para encher o coração de Ellen da mais pura esperança que definhava vagarosa e dolorosamente em seu peito.
Malfoy finalmente abriu a porta e uma onda de luz encheu a sala, banhando-a com seus doces raios do Inverno. Um jardim totalmente coberto pela neve branca, as árvores, os chafarizes que brilhavam intensamente reluzentes, congelados. Seu coração batia, uma dor aguda como se ele não batesse fazia anos e agora que recomeçara estava fora de forma. Ela caminhou deslumbrada com tal visão, tão esplendorosa e contrastante com o interior da casa. Ela se esquecera totalmente de Malfoy e em um ímpeto ela tentara correr pelos jardins. Seu pulso foi puxado com força ao que ela mordeu o lábio inferior para não gritar, engolindo seu grito na garganta.
Malfoy ainda a vigiava e prendia e aquela ínfima lembrança de que ainda era prisioneira conseguira dilacerar seu coração, mortificando-o ainda mais, dilacerando, estraçalhando-o impiedosamente. Aquele abalo emocional repentino e inesperado abrira sua ferida que ainda sangrava por dentro, mas escondida sobre a carapaça de gelo. Mas o belo jardim, o paraíso perfeito, símbolo da sua liberdade ilusória que era iluminado pelos raios quentes derretera essa carapaça que mantinha um controle rigoroso dessa ferida. Agora aberta ela precisava recompor seu Iceberg protetor. E como era difícil!
— Venha... – ele disse puxando-a para outro lado do jardim onde havia um banco sob as arvores, se poderia confundir aquele jardim com um parque.
Sem nada a pronunciar ela o seguiu de cabeça baixa contendo as lágrimas, mas uma fugidia conseguira escapar-lhe por entre as pálpebras fechadas que ela abriu imediatamente e limpou sem que Malfoy a notasse.
Sentaram-se, Malfoy observando o jardim enquanto ela olhava para o chão acarpetado pela neve macia e fria, ela sentia o cheiro gélido do ar, mas nada a animava, nada mais. Sua felicidade que estava tão perto, agora parecia distante e inalcançável, a simples idéia de Malfoy ao seu lado e presa a ele já fazia com que sua felicidade de aproveitar o momento nos jardins já fosse aniquilada. Seus devaneios sobre o seu paraíso perfeito de Liberdade Ilusória foram interrompidos por Malfoy e sua voz arrastada, irritante.
— Bonitos, não? – perguntou como quem não quer nada para ela que apenas ergueu os olhos um pouco para cima e observou o seu Jardim do Éden tão longínquo e perfeito.
Balançando a cabeça afirmativamente seus devaneios se aprofundaram ainda mais do que antes, ela quase rejeitava sua própria mão por estar presa a de Malfoy. Ela conseguindo muito devagar construir o gelo de seu coração para ocultar sua ferida.
— Sempre foi assim desde que o Lorde das Trevas a capturou? – ele perguntou lançando um olhar indireto, malvado, sua voz provocando-a, alfinetando quase perto de sua ferida que ainda não fora encoberta pelo gelo.
Seus olhos estreitaram-se de modo defensivo sem entender exatamente o que ele tinha dito, alguma coisa lhe dizia que aquilo era para atormentá-la.
— De que lhe importa como fui ou como estou? – perguntou levantando a cabeça, muito orgulhosa, não respondera a pergunta dele.
— Não me responda desse jeito insolente! – disse ele exasperado com a resposta não dada e com o jeito que fora tratado. – Deve responder a minha pergunta, lhe perguntei se é tão obediente e fiel ao Lorde desde que a capturou, fale-me! – ele ordenou em tom imperativo seu orgulho um pouco ferido.
— Você não é o Lorde para mandar eu falar o que sinto e o que deixo de sentir, o que sou e o que não sou! Além disso, se não quer que responda, pra que pergunta? Não conheço outro método de te responder além daquele que lhe respondi, se não está satisfeito, problema seu!
— Posso não ser o Lorde, mas agora tenho autoridade sobre você, está sob minha guarda! – ele estava tremendamente raivoso com a insolência que ela demonstrava. – Não era assim da primeira vez que lhe tive a guarda!
— Talvez pq você não fizesse perguntas desse tipo! – ela falou com os olhos estreitos – mas se quer realmente saber. Não! Não era fiel e muito menos obediente!
— Você não tinha medo? – ele perguntou admirado com a resposta que ela dera, seu semblante realmente demonstrando essa mesma admiração.
— Não. Não sabia nem quem era! – ela falou bufando, detestando aquele assunto.
— Não sabia!? Então... você é nascida... trouxa? – ele dissera isso em desprezo e desdenho evidente.
— Sim. Qual é o problema disso? – ela perguntou furiosa para ele quando notou aquele sarcasmo, desprezo por sua família tão honesta e humilde, mas feliz. Ela tinha se acostumado com o vocabulário que os bruxos usavam, apesar de ainda existir palavras que ela não entendia, as mais utilizadas ela sabia perfeitamente o que queria dizer.
— Não sei o que o Lorde achou de tão especial em uma Sangue-Ruim... – ele disse com uma cara como se a desdenhasse, era um sorriso como se subestimasse seu poder por ser o que era. – Nascidos trouxas são a reles da Sociedade Bruxa. – ele disse empinando o nariz em orgulho por ser Puro-Sangue.
— Ó! Mas que palavras profundas, realmente tocaram meu coração... – ela disse no mesmo tom desdenhoso com que ele falara, uma cara de falsa magoa – Mas saiba que eu poderia nocauteá-lo agora e ter fugido, se o Lorde não tivesse levado minha varinha junto dele. Não me dá em ocasião alguma, apenas quando irá me treinar e logo a tira. Você tem sorte... – disse desdenhando-o, olhos felinos e perigosos, sua voz venenosa.
— Eu duvido que pode fazer isso! Sou mais velho que você e Puro-Sangue, cursei Hogwarts durante 6 anos. Sei quase tudo sobre Magia Negra e – mas ele fora interrompido por ela, totalmente cortado.
— E mesmo assim prefere a mim do que você. – ela completara por ele, agora empinando o nariz em orgulho. Ela não sentia orgulho por isso, na verdade, era apenas para fazer um desaforo a ele. Preferia nem ser notada naquele mundo e assim viveria na casa de seus pais tranqüilamente.
O efeito que desejava funcionara. Malfoy ficara uma fera por não conseguir irritá-la e ainda mais por estar levando a melhor sobre ele, depreciando seu Puro-Sangue.
— Ele... ele... me incumbiu de vigiar e cuidar de você pela segunda vez! - sua voz estava tremula de fúria.
— Sendo que na primeira você me deixou escapar... – ela falou com ar superior, olhando-o de lado fazendo pouco caso dele.
— Não teria acontecido se não fosse o miserável do seu amado Potter! – ele estava quase saindo fora de si.
— Não tem importância, o seu dever era me vigiar! – ela observou-o com um ar de “você é um incompetente” – Mas, eu não sabia que tinha tanta rivalidade com meu querido amado. Que romântico! Serei salva justamente pelo inimigo do meu inimigo! E não existe aquele ditado que diz, inimigo do meu inimigo é meu amigo? – Ela, apesar de ter se esquecido, quando ele falara Potter, havia feito com que lembrasse das suas provocações anteriores.
Draco ferveu de ódio ao ouvir o que ela disse, estava saindo do seu controle, achava que ela estava vulnerável às suas provocações e vira que estava redondamente enganado. Seus ouvidos agora estavam berrando praticamente as últimas frases dela, nunca sentira tanto ódio do Potter em sua vida.
— Ele nunca vai fazer nada por você... – ele começara, seus olhos faiscando - Metido a herói e nem sabe fazer uma Oclumência direito, o Lorde poderia acabar com ele quando quisesse.
— Isso não vem ao caso, porque provavelmente ele deve estar vigiando a casa para saber o momento oportuno de me salvar e sem Lorde... – ela sorriu maldosa pelo ar preocupado que transpassou o olhar de Draco – Mas soube que foi castigado! – ela mudou de assunto repentinamente, depois daquela pausa, queria afinetá-lo e não ficar defendendo mentiras - Talvez aprendeu a lição que EU sou mais importante do que Potter ou qualquer outro! – ela começara falando de modo falso de admiração até chegar em um tom repreensor e indignado.
— Mas você foi pega... novamente! – ele falara realmente agora ela estava indo meio longe demais, ele já não parecia ter muita consciência do que falava, ele nem ao menos tinha reparado no frio na espinha que lhe passara nas costas quando ela mencionara que fora castigado, sua fúria avassaladora. Então ele mudara o tom para algo como um triunfo desesperado – Eu te capturei de volta... e foi castigada também... – seus olhos estavam alucinados querendo não ceder a fúria.
Quando ele falara sobre ela ter sido castigada seu coração se apertou com força, mas como não se dava por vencida tão facilmente ela então pronunciara as palavras definitivas.
— Eu lembro seu brilhante cavalheirismo de tentar me ajudar! Mas eu não preciso de ajuda de INCOMPETENTES como você!
Fora a gota d’água para ele, ele imediatamente a jogou para o chão, ela ficando sentada já que estava atada pela mão a ele. Os olhos de um azul escuro brilhavam intensamente desafiando-o a castigá-la, então um momento angustiante se fizera presente, um segundo que parecia uma eternidade entre ela que o observava desafiadora e Malfoy com a varinha erguida preparado para azará-la. Mas aconteceu algo naquele meio tempo, uma mudança se acarretara em Malfoy e então ele fizera algo totalmente inesperado para ela.
Ao invés de lhe lançar o doloroso feitiço ele ajoelhara-se e abraçara-a agilmente pela cintura, a mão presa dolorosamente se contorcia até as costas onde ele a pegara enquanto o braço da mão livre estava imobilizado pelo abraço. Ele então aproximou seu rosto dela e com extrema rapidez de seu cérebro ela percebeu que ele ia beijá-la. Virou a cabeça com brusquidão quase ele chegando e ele acabara por dar um beijo em sua face que agora estava vermelha de raiva e indignação pela insolência dele de agarrá-la daquele jeito. Em um puro ímpeto de ira ela começou a se debater afim de se libertar do abraço sufocador.
— ME LARGA, SEU NOJENTO!!! – ela gritou ainda se debatendo em vão. Ele a segurava com firmeza, mas sofregamente também, pois ela o chutava e o braço que meio imobilizara se debatia com força e vontade – ME LARGA!!! – ela repetiu com mais força de vontade ainda para se libertar do abraço que enchia de náuseas. Mas enquanto isso em sua cabeça se processava algo que ela não queria aceitar: a autoridade dele sobre ela. O Lorde tinha passado-a durante algum tempo para Malfoy e junto sua obediência. Mas JAMAIS que ela faria uma coisa dessas.
— Você é minha, agora, tem que me obedecer! – ele falara um pouco sem fôlego, um sorriso perverso, mas cansado se estampava em sua face que tinha já gotas de suor por tentar conter a liberdade dela que também cansava junto com ele.
— Nunca! Prefiro uma vida inteira de Cruciatus a te dar minha obediência! ME LARGA!!! – era a ultima coisa que queria ouvir, ela entrava em pânico lentamente, sua carapaça de gelo derretia novamente.
— Vai me obedecer! Você não tem escolha! Foi uma ordem do Lorde! – ele dizia ainda prendendo-a firmemente em seus braços, ela resistia com todas as forças que lhe restavam.
— E quem disse que eu acato qualquer ordem dele? – ela falou com ar espantado, logo em seguida rindo – Você é muito ingênuo.
— Eu não subestimaria tanto assim. – ele falou com os olhos estreitos e repentinamente ele havia começado a aproximar aquela boca nojenta.
— PARE! – ela gritou, pois sabia que não iria suportar uma vergonha daquelas, ela sendo tão forte, encontrando-se em um estado tão frágil.
— Então, acate minhas ordens. – ele falou com os olhos estreitos, ainda abraçando-a fortemente, machucando seu braço.
— Como lhe disse, prefiro uma vida inteira sendo castigada a te obedecer! ME LARGUE!!! Nunca serei sua, jamais, nunca te pertencerei! Está lutando por algo em vão! – ela falara com asco de si por ter sido tocada por aquelas mãos frias, geladas, seu corpo colado ao dele. A mão meio livre tentando fazê-lo dar espaço entre os corpos.
— É o que vamos ver, farei tudo para tê-la ao meu lado, mais do que um simples guarda para que a vigie! – ele estava resfolegando, mas ele parecia satisfeito, o rosto dela aterrorizado.
— Pois como lhe disse, lutará em vão! Eu farei de tudo para te afastar de mim! – ela falara, estava em terror já, mas ela ainda não perdia, conseguia revidar, ela estava já cedendo cansada demais para lutar fisicamente contra ele.
— Está em uma ótima posição para isso... – ele a desdenhou, um risinho perverso produzido por aqueles lábios que tocaram sua face em um momento frágil, lábios covardes – Uma prisioneira que não preciso nem mesmo de um feitiço para torturá-la... mas só o simples fato de ser uma prisioneira... que direito tem, sendo isso? – então ele riu mais alto.
Era um riso que perfurou seu coração e então as lágrimas que a tanto custo foram aprisionadas por seus olhos rolavam livremente por sua face lívida, branca. Seu coração agora estava simplesmente atravessado por uma faca, uma lança. Fora o pior golpe que recebera. O mundo ficou totalmente distorcido pelos olhos que não paravam de lacrimejar, sentiu então finalmente que os braços dele a soltavam, deitando-a com delicadeza no chão de neve, gelado e macio. Seus cabelos da cor do azeviche se espalhavam por esse chão rebeldemente, sentia as lágrimas cruzando seu rosto para chegar a neve que se derretia e então algo começou a limpá-las. AS MÃOS IMUNDAS DELE!!!
— Me... deixe... em paz! – ela falou soluçando e ainda aos prantos, ela tentou tirar-lhe a mão do rosto, mas sua mão livre fora imobilizada novamente sobre seu próprio corpo e este era imobilizado pelo corpo dele. Novamente sentiu aquela carícia fria sobre seu rosto marcado pela dor.
— É minha, agora, e faço o que quero de você. Vamos, dê-me sua obediência e serei indulgente, resista e a farei sofrer a dor que a corrói agora.
Não podia acreditar. Não! Estava sendo ameaçada e em uma situação difícil. Ela não queria que ele a tocasse e, muito menos, tentasse beijá-la a força e estando indefesa para conseguir reagir! Além, também, que a lembrasse que era prisioneira. Era insuportável a idéia de ter de obedecer a Malfoy e igualmente por ser beijada e tocada pelo mesmo, ela fechou os olhos respirando com mais rapidez do que seu normal, sentindo suas roupas já molhadas pela neve que se derretia sobre si. O que escolheria?
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