Uma Conversa ao Pôr-do-Sol

Uma Conversa ao Pôr-do-Sol



Draco estava passeando pelos corredores da Mansão, novamente procurando algo para fazer quando notou uma porta aberta do lado direito, no fim de um dos corredores. O mais estranho era que as portas nunca ficavam abertas, na Mansão. Por que justamente aquela estava fora do comum?

Aproximou-se, na intenção de ir fechar a porta, mas quando foi ver o que tinha lá dentro, descobriu que aquele era o novo quarto que o Lorde arrajara para Ellen. Era realmente estranho que a porta do quarto de Ellen estivesse destrancada...

Mas não era hora para pensar naquilo, já que aquela era uma oportunidade única de conseguir falar com ela a sós. Adentrou o aposento bem de leve, encarando-a sentada na cama, com rosto virado para a janela, parecendo pensativa. No que ela devia estar pensando? Se estava planejando outra fuga, por que não aproveitara a porta aberta? Seria meio idiota se ela não tivesse reparado.

— Pensando em mim? – ele disse em uma voz maliciosa, enquanto seguia para mais perto dela.

Ellen nem mesmo se movera ou se assustara com a presença dele. Respondeu sua pergunta de um modo frio e com uma conotação lógica.

— Não, estou esperando.

— Esperando? – Draco foi até a janela e olhou através dela. Não viu nada além do Sol que já estava meio baixo, indicando que devia ser umas 17h ou aproximadamente.

— Esperando para você se tocar de que está interrompendo meu momento de solidão. – ela falou, ainda encarando fixamente o mesmo ponto da janela, que era o Sol, apesar de Draco estar tapando a visão dela.

— Você não tem esses momentos à noite? – perguntou Draco, se virando para encará-la.

— Prefiro aproveitar melhor meu tempo à noite. Prefiro sonhar, em vez de ficar me lamuriando. – ela continuava com aquela voz apática e estranha.

— Sonhando? Você ainda consegue fazer isso? – Draco perguntou curiosamente, e recebeu um olhar raivoso de Ellen. Logo em seguida ela abrandou o olhar e sorriu maliciosamente, o que preocupou Draco.

— É, eu ainda consigo sonhar, principalmente depois de ter conhecido um garoto lindo enquanto estive fora. – ela respondeu, voltando àquela aparência apática. Na verdade estava fingindo. Não conseguia mais sonhar a muito tempo. Passava as noites preparando-se psicologicamente para mais um dia e pensando em variadas respostas cínicas que poderia dar ao Lorde.
— Ah... – Draco falara de um modo desinteressado, como se não se importasse, mas grudou seus olhos á ela. – Que garoto era? – ele perguntou logo em seguida, tentando saber quem fora o infeliz que tomara o lugar que ele deveria estar ocupando, para poder matá-lo depois.

— Ele se chamava Harry... um bonito nome, não acha? – ela queria cair na gargalhada, mas achou melhor alfinetá-lo primeiro, já que isso parecia estar dando muito certo.

— Não faz muito meu estilo... – ele falou com um sorriso amarelo, sua voz tão falsa quanto seu sorriso.

— Uma pena, porque ele era muito lindo. Uma simpatia de pessoa. E sabe o que era mais interessante? Ele tinha uma cicatriz em forma de raio na testa. – ela comentou, sabendo que Draco não iria agüentar aquela máscara por muito tempo, já que agora tinha certeza de quem ela falava.

Os olhos de Draco brilharam rancorosos daquela vez. O maldito Potter tinha ocupado seu lugar no coração de Ellen, sem fazer nada, além de levá-la na lábia! Todos os esforços e coragem que ele tivera para driblar o Lorde e ter alguns instantes de conversa com Ellen, nem que fossem pra dizer um simples “Oi” não serviram para nada!

— Harry Potter... parece que está cercada de famosos. – ele dissera em uma voz estranha. Estava contendo-se para não demonstrar a raiva enorme que sentia por dentro. Se pudesse, mataria aquele maldito idiota.

— Famosos? Por quê? – ela falou de um modo angelical e inocente. – O que meu Príncipe Encantado fez para se tornar famoso?

— Ele... derrotou o Lorde... com um ano de idade. – Estava mais difícil do que nunca conter a raiva. “Príncipe Encantado”... se antes ele tinha raiva de Potter, agora tinha um ódio mortal! O que ele fizera para conquistar Ellen assim tão fácil? – Por isso... tem aquela cicatriz.

— Mas ele é tão modesto! – Ellen sabia que Draco queria esganar alguém. Realmente entreouvir conversas era muito útil. – Quando perguntei a ele, disse que não era nada demais. Acho que foi por isso que a Mione e o outro amigo dele... ah, como chamava mesmo? Lembrei, Rony! Ele era muito engraçado. – ela comentou, pensando quanto tempo Draco levaria para explodir. Provavelmente já estava se corroendo de ódio.

— Ronald Weasley. – ele falou baixinho, colocando as mãos para trás e fechando os punhos, pegando uma das mangas para torcê-las entre os dedos. “Mione”... ela já estava falando como aquele trio idiota. – Aquele pobretão.

— Bom, eles me disseram que iam me levar para um lugar seguro. – Então era isso! Draco estava fugindo deles! Por isso levou-a de lá escondido! – Mas Harry me disse... – ela utilizara o “Harry” para provocar Draco mais ainda, pronunciando claramente cada sílaba – ...que iria me proteger. Ele é tão corajoso! Mesmo quando contei que o Lorde provavelmente viria atrás de mim, matando cada pessoa que se metesse em seu caminho, ele continuou afirmando que me protegeria, mesmo que precisasse morrer por isso...

— É... o que parece. – ele dissera, como se mastigando as palavras. Demorara tanto para conseguir trocar algumas palavras com Ellen, e tudo que ela sabia falar era no Potter. Afinal, em, no máximo, quatro horas, ele tinha feito o que Draco não conseguira fazer em vários anos. Seus olhos faiscaram, e aquilo não passou desapercebido por Ellen.

— Você devia conhecê-lo, sabe? Acho que ele é tão paciente que ele conseguiria aturar até mesmo você... – ela comentou bem calmamente saindo daquela coisa apática, para algo mais cheio de vida e sonhador. Suspirou profundamente depois de falar e ficou com o olhar perdido na paisagem do lado de fora da janela.

Draco explodiu dessa vez. Não agüentaria mais ficar ouvindo ela falar do Santo Potter. Potter era corajoso, Potter era paciente, Potter era lindo, Potter era... o “Príncipe Encantado”! Aquilo fora a gota d’água!

— Então, por que você não foge daqui e vai se casar com ele? – Pronto. Sua voz agora tinha estampada toda a raiva possível.

— É o que pretendo, queridinho. – ela falou, com um sorriso maroto nos lábios. – Só estou esperando o momento certo. – ela então voltou a olhar para a janela. Se Draco pensasse um pouquinho, seu divertimento seria maior.

Draco realmente pensou, e se apavorou com isso. Ele olhou de novo para a janela, procurando algum sinal ou rota de fuga, e Ellen teve de estrangular uma risada escandalosa no fundo da sua garganta. Não poderia estragar a brincadeira! Se divertir com o desespero de Draco era prazeroso, apesar de ser algo bem sádico. Ela sorria maldosamente, enquanto ele estava de costas, degustando-se do pavor dele.

Nos próximos dois anos, Draco não parou de vigiar as janelas e todos os cantos. Ele ficava cada vez mais desesperado, sempre que via o Lorde passar com Ellen. A menina sempre voltava-se para Draco e sorria para ele, como se estivesse avisando que o momento parecia se aproximar.

Draco não conseguia entender como o Lorde poderia estar tão calmo. Ellen havia se comunicado com a Ordem da Fênix e eles poderiam ser atacados a qualquer momento! E se descobrissem que não eram só os Malfoy que moravam na Mansão?
Aqueles dois anos foram provavelmente, os anos mais aflitivos da vida de Draco, e os mais divertidos para Ellen. A menina já tinha até esquecido o motivo do desespero dele, já que não se lembrava do que falar para ele, que o deixara naquele estado de vigilância constante. O único problema é que ele parecia uma ostra em volta dela nos bailes. Ficara muito mais difícil de se livrar dele, portanto tinha que ficar aturando aquele bando de garotas idiotas que se engalfinhavam em volta dele. Ellen não conseguia entender o que elas viam nele. Talvez porque elas não conviviam com Draco, não sabiam o quão idiota e infantil ele era. Provavelmente era o dinheiro e a pose dele. Ela não podia negar que ele também era bonito, mas isso nunca a atraíra em momento algum. Talvez por ela acreditar que nunca conseguiria gostar de alguém que contribuíra nas atrocidades reservadas á ela.

Seus quinze anos se aproximavam rapidamente. Pra ela, aquilo não fazia diferença alguma, já que viver mais ou menos tempo não importava mais. Quando ela fez aniversário, o Lorde decidiu ensinar-lhe coisas mais avançadas, como Oclumência e Legitimência. Talvez aquela fosse a idéia bizarra de um presente de aniversário. Ela não poderia reclamar, afinal, já usava aquelas duas coisas inconscientemente, mas agora, poderia ao menos controlar, e sua barreira mental se tornaria ainda mais forte. Mas aquilo parecia só o começo do Inferno...

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.