O Presente do Lorde



— Quem... é... ela? – existia um tom ferido em sua voz, ao indicar a garota ao lado dele. Ela não tinha irmãs gêmeas, pelo menos nenhuma, até onde se lembrava.

— Draco Malfoy.

Quando o Lorde pronunciou aquilo, tanto Draco, na forma de Ellen, quanto Ellen, a verdadeira, fizeram caretas igualmente enojadas, claro que cada um por motivos próprios e pessoais.

Ellen tinha acabado de se lembrar sobre a Poção Polissuco que o Lorde lhe ensinara há pouco tempo. Ele estivera realmente empenhado em ensinar-lhe poções e ela pensava sarcasticamente nas razões daquilo, como se estas não fossem nada óbvias. Mas parecia que o Lorde se importava mais em ensinar poções de reanimação, uma mais forte que a outra, para que Ellen aprendesse á “ficar viva”. Ela nunca esperaria que o Lorde usasse a poção Polissuco para transformar alguém nela. Principalmente DRACO! Poxa! Havia tantos elfos que poderiam empenhar essa função!

Draco por seu lado estava enojado por estar com uma aparência de mulher, pior ainda com a aparência de Ellen, já que ele se sentia horrivelmente frágil e cansado. Tudo para tirar Ellen da depressão... como era possível que o Lorde se importasse tanto com ela? Praticamente as regras da casa mudaram por causa dela, só por ela ter colocado o dedo ali. Sua masculinidade estava no pé, naquele momento.

O Lorde tinha ido ao quarto de Draco a noite anterior e falou o que queria que ele fizesse no dia seguinte, entregando a poção e mais vários frascos idênticos. O plano era muito simples. Precisava de alguém para ir ao Beco Diagonal com Ellen, mas como Lucio e Draco eram procurados e Narcisa era muito suspeita, já que ela não adotara nenhuma criança, o Lorde precisava de uma alternativa. Ellen tinha mudado muito e ninguém a reconheceria com dois anos a mais, principalmente no estado em que estava. Ninguém ficaria notando em duas irmãs gêmeas andando pelo Beco Diagonal, o que dava ainda mais uma desculpa para ninguém reconhecê-la.

— Por que... ele está com a MINHA aparência? – sua voz demonstrava claramente que ela estava raivosa e indignada. Como o Lorde tivera o atrevimento de dar a sua sagrada imagem para um traste?

— Não acha mesmo que vou deixá-la sair desta casa sem alguém para ficar de olho em você. – ele disse, virando-se de costas para sair – Vamos, o café está sendo servido.

Ela ainda não acreditava que Draco estava usando sua imagem para apenas ficar de olho nela. Os dois se fuzilavam enquanto seguiam para a mesa do café da manhã, um de cada lado do Lorde, com nojo. Eles mal sabiam que o pior ainda estava por vir.

Draco, ao se dirigir para o lugar onde sempre se sentava, foi impedido pelo Lorde, que se sentou no lugar dele, só sobrando um lugar á mesa. O que ficava ao lado de Ellen. Ao perceber o que estava acontecendo, a menina ficou ainda mais irritada, o que intensificou os olhares fuzilantes entre os dois.

Sentaram-se, ficando o máximo possível longe um do outro, e começaram a comer. Pareciam realmente irmãs gêmeas, mas cada um pensava coisas totalmente diferentes do outro.

“Não devia ter grudado meu chiclete embaixo da Mesa da Santa Ceia quando fui fazer minha primeira comunhão... mas não tinha outro lugar para colocar o chiclete, antes de pegar a hóstia” pensava Ellen, tentando achar motivos para um castigo daqueles. Ficar um dia com Malfoy sem mais ninguém era o cúmulo do absurdo. “Tudo bem que eu não fui uma santa no colégio, mas aqueles meninos pediam para levar uma surra...”.

Enquanto isso, na cabeça de Draco ele pensava em outras coisas. “Será que foi tão grave ter roubado a varinha de meu pai para perturbar os elfos? Era só por diversão...” Ele observava a comida com desinteresse, sem notar que parecia praticamente imitar Ellen. “Além disso, aqueles primeiro-anistas da Lufa-Lufa bobocas precisavam aprender quem era o dono do pedaço naquela escola ridícula”.

Depois de alguns minutos que os dois pensavam tudo de ruim que fizeram, ficaram tentando achar a “luz no fim do túnel”, daquela situação.

Ellen pensava que poderia finalmente sair daquela casa e não ter quatro paredes opressivas para lembrar-lhe que era uma prisioneira. Draco pensava que finalmente teria um pouco mais de tempo junto de Ellen. Os dois suspiraram ao mesmo tempo: Aquilo não faria a situação melhorar. Por fim, continuaram a comer, idênticos até o fim do café.

Ao final, o Lorde os levou para um outro aposento, com os dois ainda não querendo nem mesmo se encarar, emburrados. Ele virou-se para os dois, parecendo ignorar totalmente o desgosto de cada um.

— Deixarei que fiquem durante cinco dias hospedados no Caldeirão Furado. – ele entregou a Draco (Ellen tinha se perguntado como ele sabia diferenciá-los) uma sacola que ela ouviu nitidamente que havia moedas. Então indicou a lareira – Vá junto com ela, Draco para que não se perca... – ele estreitou os olhos ameaçadoramente, caso acontecesse dela se perder, havia a possibilidade de fuga. Mas na verdade, se perder não era uma opção viável, na opinião dela.

Draco pegou um tipo de vaso que havia próximo a lareira e tirou um pozinho de coloração estranha que ele atirou na lareira, fazendo as chamas ficarem esmeralda. Ela observou sem demonstrar um pingo de surpresa ou mesmo interesse, enquanto ele fazia aquilo. O Lorde a empurrou na direção de Draco, que no momento estava pegando uma pequena bagagem de mão, e ela teve um súbito acesso assassino, mas controlou-se e caminhou na direção de dele. Os dois entraram na lareira e ela sentiu um monte de fuligem varrer seu corpo e os braços de Draco (ou os dela, já que ele usava sua aparência) abraçarem-na. Quando ela ia protestar contra aquilo, ele pronunciou algo, que ela não ouviu direito por causa daquele rebuliço de chamas, e o chão sumiu, como em uma montanha russa do terror, onde você não enxerga nada e tudo fica girando. Mas ali era muito mais rápido e bem mais atordoante.

O chão apareceu tão de repente quanto sumira e, se não estivesse abraçada com Draco, teria caído no chão, estatelada. Estava imunda, mas ao ver que não era apenas ela, ficou mais feliz e um pouco mais bem-humorada, observando o local onde caíram.

Parecia ser um bar lotado de gente estranha, umas com roupas comuns, outras com roupas de bruxo e outras com roupas muito mal combinadas. Pelo menos ela não era a única excêntrica da cidade, afinal! Ela e Draco se aproximaram do balcão, enquanto Ellen ainda analisava o bar. Nunca sentira tanto prazer em ver pessoas na sua vida, muito menos em um bar. Odiava bares, principalmente se ele fosse parecido com um muquifo. Como aquele.

Draco alugara um quarto para eles. O que tinha na sacola dava apenas para alugar um quarto durante cinco dias, e ainda sobrava um pouco. Tom, o dono do bar, os levou até os quartos e indicou o que estava disponível. Ao entrarem, Ellen teve um acesso súbito de desespero ao notar que a cama era de casal e não duas camas de solteiro como imaginava, então de supetão ela virou-se para o dono da hospedaria.

— Você não teria um quarto com DUAS camas de solteiro?

— Infelizmente no momento nenhum está disponível, mas creio que não há problemas em colocá-las aqui, estou certo?

Ellen olhou de soslaio para Draco, vendo sua “irmã gêmea” e não poderia falar que não. Não havia problema em colocar duas mulheres em um quarto, se o caso fosse realmente esse, mas ela não poderia denunciar que sua “irmã” não era bem irmã. Com relutância ela falou:

— É... certo.

O dono deu a chave a Draco e saiu do quarto e então os dois olharam para a cama, sem saber o que fazer. Era óbvio que não iriam dormir juntos sem protestos, ao menos da parte de Ellen.

— Não vou dormir com você. – ela falou tácita, cruzando os braços, olhando para a cama.

— Você tem alguma opção para não fazer isso? – ele perguntou enquanto guardava a bagagem em um canto do quarto.

— O chão não serve para apenas pisar.

— Quer mesmo dormir no chão?

— Você não entendeu bem o que eu disse. – ela falou em uma voz um tanto perversa, olhando-o maldosamente.

— Não dormirei no chão. – ele resmungou mal-humorado.

— Que belo cavalheiro! – ela falou de modo irônico.

— CavalheiRA você quer dizer. – ele falou se levantando indicando a si mesmo. – além disso, já que não sou um cavalheiRO, não tenho obrigação nenhuma de dormir no chão, pelo contrário, tenho todo direito de dormir na cama.

— Oh! Meu Deus, o Draquinho ficando inteligente! Uh! Temos que festejar! – ela falou em uma voz divertida e gozadora. – Somos duas “mulheres” que não querem dividir uma cama juntas e nem dormir no chão, o que você pretende fazer a respeito então?

Draco a observava, um pouco raivoso pelo tom que ela usara, mas, INFELIZMENTE, ela estava certa. Precisavam se decidir o que fazer já que não dormiriam nem no chão nem juntos. Mas ainda estava cedo pra pensar naquilo.

— Pensarei no que fazer mais tarde. Vamos para o Beco Diagonal, talvez eu consiga retirar algum dinheiro do banco, se o Ministério não o confiscou. Apesar de que isso é muito improvável, já que o Gringotes não segue as regras do Ministério... – ele falou se dirigindo para a porta com algumas poções em seus bolsos. Ele falara mais para si do que para ela.

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