Algumas Traquinagens

Algumas Traquinagens



Ellen estava sentada na mesa do café da manhã, olhando toda a mesa de modo desinteressado, sem notar o que estava fazendo com as mãos, ou o que estava comendo. Na verdade, seus olhos não focavam coisa nenhuma especificamente, pois ela mesma não estava exatamente ali.

Seus pensamentos estavam bem longes, quilômetros e quilômetros de distração a separando da realidade. Suas mãos se moviam nervosamente, um tanto trêmulas e seus olhos também se moviam com certo nervosismo, observando a mesa.

“Qualquer baile...” A voz de Malfoy ainda ecoava em sua mente, mesmo depois de quase três semanas, ou eram apenas duas? Ou talvez fossem quatro... já havia perdido a noção do tempo novamente. Mas sabia que pelo menos algum tempo passara, pois, infelizmente, ela constatara que Malfoy não mentira para ela quando disse sobre os bailes. Teve de ir ao baile de Ano Novo. Ou seria uma festa comum? Não vira nenhuma pessoa dançando...

Na verdade, ela não conseguiu realmente observar como o baile (ou festa?) transcorria, pois ela já pensava aflitivamente que aquele não era o último, mas sim um dos primeiros que teria de aturar Malfoy. Ela estava tão nervosa que acabara esquecendo de verificar rotas de fuga. Não ouvia nada do que os convidados falavam e, se por acaso falassem com ela (muito raro mesmo), ela simplesmente concordava sem nem prestar atenção. Poderia até mesmo estar concordando que o Peter Pan estava voando sobre sua cabeça.

Depois de ter percebido que não iria se livrar de Malfoy tão cedo, ela andava em um estresse gradualmente maior á cada dia que passava. Se ela tivesse um giz, já teria lotado a parede de risquinhos, para anotar um calendário bem típico daqueles prisioneiros.

Bom, isso se o calendário não fosse confiscado pelo Lorde (junto do giz), como seus equipamentos “arromba-porta” há um ano e meio atrás. Isso complicou as suas fugas na antiga casa. Bom, não complicara tanto assim, já que nem as paredes nem a casa, eram firmes. Uma vez, quando estava encostada na porta, a própria acabou desabando (junto com Ellen) fazendo um barulho ensurdecedor. O chão rachou e ela temeu cair para o andar térreo. Por isso ela desistiu, já que o segundo andar daquela casa não era uma rota de fuga segura.

Mas ali, naquela mansão, seus equipamentos faziam MUITA falta, já que aquela mansão parecia ser feita de portas. Portas firmes. Aquela casa estava tornando sua vida um pesadelo e o Lorde conseguiu achar um lugar perfeito onde colocá-la e fazê-la enlouquecer. Na antiga casa seus problemas eram: O Lorde e a casa armadilha. Ali seus problemas eram: O Lorde, a casa e o “Draquinho”. Agora o que faltava era essa casa também virar uma armadilha.

Ela já estava pensando em dar um nome para aquele estresse. “TPPB é um nome perfeito. Tensão Preventiva Pré-Baile, não tem outra coisa que pode me dar pior tensão do que isso agora. Não saber quando terei de encostar-se ao Malfoy... não poderia haver coisa pior do que...”.

— aaaai! – ela resmungou baixinho quando sentiu o pequeno corte que produzira em seu dedo, causado pela faca e sua distração.

Alguma coisa curou seu dedo rapidamente e ela nem vira da onde, mas a dor parou e ela ficou agradecida. Já não bastava todo estresse e agora ainda teria que ficar encarando a dor de um corte. Ellen já estava ficando muito fora da realidade. Ela sentiu alguém se aproximar dela, que ainda olhava seu dedo recém curado.

— Obriga... – ela olhou para a pessoa responsável por ter parado a dor e o sangramento de seu dedo, mas não conseguiu completar a frase, quando descobriu que a pessoa não era quem mais amava na sua vida. – você...? – ela até ficou alguns centímetros mais longe, espantada de ter visto Draco ali do seu lado, observando se seu dedo estava melhor.

— Está melhor? Não sou muito bom com feitiços de cura... – ele falou, pegando em sua mão para constatar se o feitiço dera certo.


Já fazia alguns minutos que Draco olhava para a faca perigosa que Ellen manuseava entre os dedos. “Uma hora ela vai acabar se cortando” ele pensava, enquanto via a faca passar perigosa quase rente aos dedos dela. Não deu mais que meio segundo que pensara aquilo e Ellen tinha cortado o dedo. Mais do que depressa, ele se levantou e fez um feitiço de cura sobre o dedo ferido.

Ele deu a volta na mesa (pelo lado mais curto) e foi mais perto dela, constatar se seu feitiço tinha dado certo.

— Obriga... você...? – Draco pôde perceber que ela se afastou alguns centímetros dele.

— Está melhor? Não sou muito bom com feitiços de cura... – ele tinha mentido. Não era um expert na área, mas tinha uma certa destreza, o fato é que ele precisava de uma desculpa para se aproximar dela e pegar em sua mão, como estava fazendo agora. De longe tinha percebido que seu feitiço tinha dado certo.

— Está... – disse ela, olhando para o outro lado. Ela tentava puxar a mão, mas ele segurava firme, como se realmente quisesse ter certeza de que ela estava bem. Pelo menos conseguira arrancar um “Obrigado” dela, mesmo que incompleto.

– O... bri... gada! – ela falou, finalmente retirando a mão. “E agora, um obrigado completo! Estou fazendo progressos!” Pensava Draco, sorridente, enquanto voltava para seu lugar.

“Ela diz obrigado quando é ajudada, mesmo que por mim. Mas se eu for esperar seis meses, ou mais, até que aconteça um novo acidente vai ser o cúmulo. Talvez alguns acidentes... provocados...” ele continuava observando-a durante o resto do café, ela parecia muito distraída àquelas semanas, o que poderia facilitar seus planos. Ele então observou o Lorde bem ao lado dela. Bom, se ele queria ter alguma coisa para fazer, teria de se encorajar. Além disso, ele só queria ficar algum tempo a mais com Ellen... ela estava sendo um passa-tempo divertido (e doloroso, a pisada no pé ainda estava doendo e seus dedos ainda estavam com os curativos).

Ao terminar a refeição, o Lorde e Ellen saíram para algum aposento da casa, ele precisava descobrir qual era. Também precisava descobrir a rotina que ele fazia com Ellen, assim planejaria um acontecimento durante o percurso e ele, milagrosamente, estaria ali para ampará-la.

Ele, primeiramente, precisava de um relógio. Relógio de Sol não era uma opção interessante, eram instáveis e dependiam muito da estação em que estavam. Inverno, Verão, Outono ou Primavera. Relógios de planetas eram extremamente exatos, mas difíceis de ler, também não era uma opção... ampulhetas talvez dessem certo, mas mesmo assim, não era uma opção pois se ele se esquecesse, a ampulheta marcaria o tempo muito errado. E agora? Que relógio poderia usar? Relógio de ponteiros usados por trouxas? Trouxas... realmente agora estava apelando... mas não deixava de ser um relógio.

“Vergonhoso, um Malfoy, puro-sangue, se sujeitando a isso! É o cúmulo! Mas eu necessito de um relógio que eu possa ler, não vou pedir ajuda a ninguém. Eu vou conquistar essa medalha sozinho. Custe o que custar.”

Ele se levantou da mesa e foi para o seu quarto. Pegou alguns pergaminhos e uma pena enfeitiçada para sempre ter tinta. Mas ainda faltava o maldito relógio. Não havia alternativa. Relógio trouxa era o mais fácil de entender.

Passaram-se alguns dias até que Draco arranjasse o relógio, mas ele se viu em um pequeno problema. Como ele iria arranjar uma desculpa convincente para ficar perambulando pelos corredores o dia todo para descobrir a rotina de Ellen? Ele teria de arranjar mil desculpas, mas se ele pudesse fazer algo... que fosse incontestável. Uma luz iluminou seus pensamentos ao ter uma idéia enquanto passava pelos corredores.

Ele foi correndo para os aposentos de seu pai e apesar de ele pedir (ordenar quase berrando, na verdade) que não o importunasse, ele assim o fez. Entrou devagar e foi caminhando para perto.

— Draco, quantas vezes eu vou ter que repetir para não entrar em meus aposentos?

— Eu só queria falar uma coisa importante.

— O que? – ele parecia realmente mal-humorado com a presença dele ali.

— Os corredores parecem vazios, acho que deveriam ter algum adorno qualquer... para não ficar a casa tão... vazia.

— Você veio até aqui, me importunar, dizer que era algo importante, para isso, Draco? FORA JÁ!

— Pai! Mas é importante! Os Elfos terão mais lugares onde se esconder e melhor vigiar a casa. Não precisarão utilizar muita magia.

Lúcio Malfoy parou e analisou o filho atentamente como se o notasse a primeira vez e o admirasse. Ele parecia pensar no que Draco dissera.

— Parece que começou a ficar mais inteligente, Draco. Isso me impressiona. Tudo bem. Mande um Elfo começar a colocar algumas tapeçarias e quadros. Agora, saia daqui.

— Só mais uma coisa.

— Draco, fale rápido antes que eu o chute daqui.

— Eu mesmo gostaria de fazer isso.

— O QUE? – ele se levantou imediatamente. Olhos desconfiados o espreitavam atentamente, mas Draco não se intimidou.

— Isso mesmo, eu gostaria de fazer isso, essa casa está sendo um tédio, não há o que fazer. Quero fazer algo de interessante. Não quero mais analisar cada friso que tem o teto de meu quarto. – ele cruzou os braços, com a cara mais genuína de determinação que ele conseguira fazer.

— Draco... – ele pareceu pensar muito. – Como desejar. – mas havia uma expressão meio estranha em seu rosto. Não era desconfiança, mas era como se farejasse perigo. Perigo do que? Ele sentou-se novamente em sua escrivaninha, voltando á escrever. – Agora, fora. Não quero mais vê-lo aqui.

Draco saiu depressa, mas agora que tinha liberdade plena para perambular os corredores ele se sentia mais livre. Foi até o Hall de Entrada e olhou as paredes lotadas de quadros, retirando alguns. Deixaria-os no seu quarto para de manhã ele se preparar.

Draco se arrependera profundamente de ter deixado os quadros em seu quarto. Eles ficaram reclamando a noite toda e ele não conseguiu dormir nem por um segundo. Por fim, levantou-se da cama com profundas olheiras, por causa da noite NÃO dormida, mas ainda assim teve raciocínio suficiente para pegar o relógio que adquirira (sob protestos escandalizados dos quadros) e a pena e os pergaminhos. Guardou tudo e pegou os quadros de mal-jeito o que os fez reclamar ainda mais.

— Calem a boca, suas matracas velhas! Já não basta não me deixarem dormir, agora têm que reclamar por estarem sendo carregadas? Porque então não ficaram quietas á noite?

Finalmente os quadros fizeram silêncio. Ele caminhou até o café da manhã e olhou Ellen, que parecia muito mal, e isso se arrastava há dias. Ela também tinha olheiras fundas no rosto e não se alimentava direito há bastante tempo. Ele estava se preocupando com esse comportamento.

Ellen começou a sair e ele se levantou junto, pegando os quadros. Voldemort achava estranho ele estar prestando um serviço a casa, mas Ellen parecia mal ter consciência do que estava ao seu redor. E novamente, ele percebeu que suas armadilhas não tardariam a dar certo com aquela distração toda dela.

O dia passou e teve alguns avanços. Além de ter perdido umas boas calorias, conseguiu descobrir muitos caminhos que o Lord fazia com ela. No dia seguinte começaria mais cedo, e para isso, pegou mais quadros e levou-os para seu quarto. Antes de dormir, avisou-os que, se queriam ser carregados gentilmente no dia seguinte, deveriam deixá-lo dormir. O aviso funcionou, já que ele tivera uma ótima noite de sono.

Acordou tranqüilo e foi tomar seu café. Olhou Ellen, que não mudara muito, já que ainda tinha as mesmas olheiras. Saiu correndo do café da manhã, para ir pregar os quadros. Iria demorar para fazer aquilo tudo sozinho, mas iria garantir suas armadilhas por um ótimo tempo.

E assim se passou um mês até que ele tinha todo o mapa por onde Ellen passava, por quanto tempo ficava em cada aposento e vagas noções do que ela fazia. Agora era só colocar seu plano em prática.

Plano A: Escorregão. Ele iria trocar a tapeçaria das 15 fadas de uma parede para outra, para ter uma desculpa de estar naquele corredor, enquanto fazia um feitiço para que Ellen pisasse exatamente onde o colocou. E assim, perto dela, ele conseguiria “salvá-la”.

Acordou cedo, pegando os quadros e toda sua bagagem matinal e foi tomar seu café. Estava um pouco sorridente demais, mas só de ver Ellen naquele estado toda aquela alegria diminuiu um pouco. Novamente saiu antes que todos e esperou pelo momento certo. Pegou a tapeçaria, desgrudou-a, colocou o feitiço no chão sorrateiramente e foi fingir que estava pregando a tapeçaria. Ouviu os passos familiares do Lord e de Ellen se aproximando, daqui a pouco ela escorregaria...

Não deu outra. Quando ela gritou, ele se virou rapidamente e amparou sua queda. Ela estava leve demais, magra como um palito e o fitava como se ele fosse uma assombração. Ela balançou a cabeça tentando raciocinar, ao menos era o que parecia, e levantou correndo, olhando-o finalmente (por que ele estava sentindo certa saudade daquele olhar?). Seu olhar demonstrava uma certa dureza e orgulho e talvez um pouco de raiva.

— Obrigado. – fora um obrigado seco e sem emoção e ela continuou a andar, sem olhar para trás. Mas chegada a hora do almoço, ela pareceu voltar aquele torpor de sempre.

Plano B: Caindo da Escada. Ele colocaria algum feitiço para que ela se desequilibrasse e caísse da escada diretamente em seus braços, mas precisava que fosse daqui a alguns dias ou ficaria na cara que era ele quem estava aprontando.

No fatídico dia, ele estava brigando com um quadro. Ele não parava de falar e reclamar que Draco não o tratava direito e que era um pobre e coitado quadro antigo e mal-respeitado por seus parentes ainda vivos.

— Também, com todo esse melodrama, ninguém vai te respeitar.

— Você ainda concorda que isso acontece? – o quadro estava indignado.

— Claro! Se você reclamasse, insultasse e DEDURASSE menos, talvez eu te respeitaria!!

— Essa juventude de hoje! Como estão mal-educados! Não respeitam os mais velhos e sábios!

Quando Draco ia responder, ele ouviu um grito. Tinha se esquecido totalmente da sua armadilha. Olhou para cima, jogou o quadro para o ar e conseguiu amparar Ellen em tempo. Ele suspirou pesadamente. Sentiria-se culpado se acontecesse algo com ela. Ela estava frágil àqueles dias e ele se aproveitava da sua fragilidade para se aproximar. O quadro berrava xingamentos sem parar, mas ele não os escutava, tentando ajudar Ellen a se reequilibrar novamente. Por uma força de vontade enorme e inexplicável, ele acabou perguntando.

— Tudo bem? Se machucou? – só depois de ter falado, que ele percebeu que idiota ele estava sendo. O Lorde estava bem ali e se ele descobrisse, seria o fim das suas traquinagens.

— Estou ótima! – existia um ar meio exasperado e meio admirado na voz dela, que se afastou apressadamente dele. Sumiu, mas por alguma razão ele sentiu-se aliviado pela sua resposta.

Ficara com dor de cabeça o resto do dia, graças ao quadro melodramático que não parava de berrar a plenos pulmões de que ele o jogara escada abaixo. Todo dia ele dormia muito cedo, exausto, mas feliz. Conseguia ver Ellen quase todos os dias por mais tempo do que anteriormente, mas apenas no café da manhã, almoço e janta.

Os planos continuaram, mas ele os fazia o mais seguros possíveis para que não machucassem Ellen, mesmo que houvesse falhas; felizmente nenhum deles falhou. Quando suas idéias acabaram, ele apenas ficava perambulando pelos corredores, espalhando os quadros, mas sempre arranjando um jeito de passar pelo menos uma vez no corredor em que Ellen estava. Era quase uma necessidade fazer aquilo.

Em seu quarto ele não conseguia dormir muito bem, graças á assombração que a aparência de Ellen causava em sua mente. E só de pensar que aquela imagem piorava a cada dia, sua tristeza, apreensão e nervosismo aumentava. Infelizmente, ele não podia fazer muita coisa.

Um dia ele estava pendurando os quadros novamente, tentando arranjar algum plano. Estava pegando o caminho para o corredor da biblioteca que ficava na ala esquerda da mansão, quando percebeu que Ellen estava virando a esquina. Ela estava correndo sozinha e quando o viu, simplesmente desmaiou em seus braços, deixando-o atordoado.

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desculpem a demora de ter postado ._. mas infelizmente minha net foi pros beleléu ._. por isso, além desse, vou postar mais 3 capítulos ^^

ah, também teve o problema da minha beta Uu ela ficou me enrolando e demorou bastante. Desculpem memso! ._.

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