O Golpe "Baixo"



Um momento como aquele não parecia realmente ser verdade para Ellen. Simplesmente ela devia estar dormindo em algum lugar e aquilo estava acontecendo na sua cabeça. Mas como ela poderia estar dormindo em um baile? É realmente não tinha muita lógica. Aquilo só podia ser real. Mas se pensasse ser sonho ia tornar o momento bem mais fascinante.

Ela observou mais de perto o jardim, quase colando o nariz no “vidro”, tentando divisar alguma coisa lá embaixo. O “vidro” parecia um plástico elástico e invisível que não a deixava ultrapassar. Bom ao menos era mais maleável do que as outras janelas em que tentara passar. Parecia uma muralha fantasma que eles tinham construído em cada janela. Invisíveis e resistentes, pois se ela batesse forte, ficaria com um galo. Provavelmente eram os feitiços antifuga, mas não sabia que eles eram assim tão “sólidos”. Talvez tivessem usado um feitiço diferente do que o Lorde habitualmente usava, ou não eram assim tão sutis ao fazer o feitiço.

Aquilo a intrigara um pouco. Enquanto ela estava junto de Malfoy (realmente repugnante), ficara pensando em algum modo de escapulir dele. A oportunidade não tardou a chegar, pois do nada um monte de garotas apareceram e começaram a rodeá-lo. Ellen sentiu que elas a estavam “excluindo” dali sutilmente, então ela não fez questão de contrariá-las. Quando percebeu que elas tinham conseguido libertar seu braço, não tardou a se afastar o máximo possível de Malfoy. Mas ao se ver longe dele e olhar para os lados ela perdeu a sua enorme esperança de pedir ajuda a um dos convidados. Era aterrorizante perceber que todos pareciam idênticos à família Malfoy. Nenhum era diferente na arrogância tão conhecida. Ela entreouvia conversas de todos os tipos, algumas ainda eram de algum interesse, mas a maior parte era tediosa de se ouvir. Sentir toda aquela coisa fútil, egoísta e mesquinha era demais pra ela...

Naquele dia tudo estava estranhamente virado de cabeça para baixo. Tudo que ela pensara que aconteceria não estava acontecendo. Ela percebeu o grupinho de garotas ali perto e se preocupou que Malfoy tivesse notado sua falta. Realmente, ele já tinha notado e estava procurava com um certo desespero por ela, apesar de estar tentando disfarçar, pois as garotas não paravam de dar em cima dele. Ellen achou muita graça da situação.

Ela decidiu se afastar antes que ele a notasse ali. Ela olhou para as janelas e viu que elas estavam abertas. Com uma pontadinha de esperança, foi com muita sede ao pote e acabou batendo com tudo na “muralha invisível”. Por um milagre ela não chamara atenção de ninguém, por causa daquela situação ridícula.

Tudo passou rapidamente por sua cabeça, enquanto ela estava olhando a “janela”. Uma espécie de resuminho com o que achara mais importante lembrar daquela festa. Tudo estava saindo fora do esperado. Claro que o baile não estava ÓTIMO na opinião dela, mas tudo que tentara prever saíra às avessas.

Ela continuava olhando fixamente para o “plástico” que impedia que ela passasse. Prisão. Lorde. E novamente a pergunta: o que ele quer comigo? Depois de algum tempo ela ficara intrigada com essa pergunta. Na verdade, ela realmente começou a se perguntar depois de uma conversa que ouvira entre dois comensais.

“Ela olhava para o teto escuro quando ouviu que dois comensais tinham parado bem à porta. Notou ser a voz de Rabicho e ela teve uma curiosidade súbita. A outra voz, ela não soube dizer de quem era, pois nunca a ouvira. Eles falavam sobre algo desconhecido, até tocarem no assunto Ellen. Rabicho parecia nervoso ao falar nisso, enquanto o outro tinha curiosidade em saber.

— Essa tal Ellen provavelmente deve ter algo de valia para o Lorde, algo realmente importante...

— Ele não diz muita coisa do que pretende com ela. – Rabicho provavelmente devia estar com as mãos bem apertadas uma na outra.

— Ele quer cuidar dela pessoalmente, não quer ajuda. Deve ser valiosíssimo...

— É, você tem razão. – ele parecia querer cortar o assunto, mas o comensal não deixava o assunto morrer, parecendo bem interessado.

— E você não tem nem uma mínima idéia do que seja? –ele deu uma pausa, provavelmente esperando pela resposta de Rabicho, que não veio - E deve ser nessa menina que está a coisa valiosa, pois se ele pudesse adquirir sem necessitar dela, com certeza a descartaria com a maior rapidez.

— Ele diz que não quer ter interferências dos comensais. – Rabicho estava acabando com a graça. Ela queria saber por que era tão importante! Será que ele sabia?

— É notável, Rabicho. Essa menina tem sorte de ainda não ter morrido. – assunto morto, o outro já ia embora deixando Rabicho. E deixando também aquela dúvida em Ellen.”

Ela não tinha a mínima idéia do que o Lorde queria com ela. Estava no escuro como sempre estivera. Mas nesse assunto, até os comensais estavam com dúvidas. Já não era a primeira vez que ficava se perguntando a mesma coisa obsessivamente, chegando a conclusão nenhuma.

Talvez o Lorde tivesse dito para ela naquele monólogo inicial, que ela não tinha escutado (e pela primeira vez se arrependera de não ter dado atenção), o que pretendia com ela. Mas ela só escutara o resumo. E ele nunca mais tocara naquele assunto. Talvez ele tivesse pensado bem e achara melhor não deixar que ela soubesse. Ele tinha uma certa razão em não contar, pois Ellen faria de tudo para que ele não atingisse o objetivo desejado.

Pensara nisso mais por raiva do que exatamente “destruir os planos malignos dele”, como todo mocinho de todo bom filme. Mesmo depois de todo aquele tempo ela não se conformara de ser prisioneira e se irritava profundamente quando recebia ordens. Nos dias de “bom” humor ela apenas se queixava. Nos dias de “mau” humor ela cruzava os braços e só fazia depois de muita “persuasão” da parte dele (persuasões nada sutis, ela poderia garantir).

Ela já tinha novamente se recostado no “plástico”, com uma expressão fechada, quando sentiu que o plástico começava a ceder sobre seu peso. Um pouco assustada, ela deixou de se recostar. Aproximou-se de novo e começou a empurrar, com a palma da mão aberta. Ela sentia que o plástico cedia cada vez mais, até que sentiu uma abertura ser feita. Quando ela sentiu sua mão atravessando o plástico ouviu a voz odiosa de alguém bem as suas costas.

— Planejando a próxima fuga?

Rapidamente tirou a mão do vão que acabara de abrir e virou-se. Ela sabia que devia estar com uma placa em sua testa dizendo em letras garrafais “CULPADA!”, por causa do jeito desesperado com que olhara para a pessoa. Seu coração estava acelerado e ela escondia as mãos nas costas.

Mas isso durou pouco quando notou que era Malfoy. “Droga”. Bem atrás dela a sua esperança de fuga e bem á frente a pessoa que poderia selar essa “brecha” na segurança.

— O que te importa o que eu faço? – Ellen ainda estava meio nervosa com a presença de Malfoy ali. Ele não ia desgrudar dela agora, principalmente com ela estando suspeitamente sozinha na sacada e com a expressão mais acusadora de culpa.

— Por que você tão deixa de ser tão mal-educada?

— E por que não deixa de se intrometer na minha vida? – Ellen ainda tinha as mãos nas costas e ele se aproximava, observando aquele comportamento estranho dela. Ela estava começando a se preocupar, mesmo com suas respostas que não deixavam de ser insolentes.

— Eu já disse que não me intrometo na sua vida. – ele falou, um pouquinho aborrecido, mas ainda olhando fixamente para as mãos dela que estavam escondidas.

— Pois está se intrometendo agora. – por alguma razão, ela achou que teria alguma graça brincar com a curiosidade dele. Quando ele olhou meio de lado para tentar ver atrás dela, ela virou para o lado oposto, escondendo a “coisa”.

— O que tem atrás das costas? Mostre. – ele falou ao perceber que ela não queria mostrar.

— E se eu não quiser mostrar? – ela tinha um sorrisinho maroto no rosto ao perceber que ele estava fervendo de curiosidade.

— Mostre JÁ, Ellen – ele falou pegando no braço dela para obrigá-la a mostrar o que tinha na mão.

Ela tinha segurado em seu outro braço para dar mais resistência, mas logo cedera. Quando ele viu que não havia nada nas mãos dela, ela começou a rir da expressão confusa no rosto dele. Por que achava tanta graça nele? Era estranho dizer.

— O que... – ele não sabia o que pensar, enquanto largava o braço dela, logo começando a olhar para os lados tentando achar alguma coisa. Ela tinha tampado a boca para tentar parar o riso, mas estava sendo difícil. – O que você escondeu?

— Eu que não vou dizer o que estou escondendo. Se estou escondendo é por alguma razão. – que mentira! Bom, escondendo ela estava, mas não exatamente o que ele pensava que ela estava escondendo. Que confusão!! – Vai procurando por aí enquanto arranjo um lugar bem longe de você para planejar e EXECUTAR meu próximo plano de fuga. – ela sorriu indo na direção ao baile que ainda continuava. Esperava que quando voltasse ele não estivesse mais ali e pudesse sair.

Mas algo a surpreendeu antes de dar mesmo 3 passos. Ele a segurou pelo antebraço. Ela observou o atrevimento dele com indignação e surpresa, mas antes mesmo que pudesse falar uma palavra um tanto ofensiva pra ele, foi ele quem falara primeiro.

— Por que me trata desse modo?

— Talvez porque você me trata do mesmo modo? - ela tentava retirar o braço sutilmente, mas ele segurava cada vez mais firme.

— Por que não tem um mínimo de respeito comigo?

— Talvez por que você fica me perseguindo? – ela estava se aborrecendo com a insistência dele de obrigá-la a ficar ali. Então iria aborrecê-lo, para que ele aprendesse a não prendê-la mais.

— Pare de responder minhas perguntas com outras!

— Você manda em mim, por acaso? – ela poderia ter respondido diretamente, mas ela queria alfinetá-lo, para ver quem vencia aquela briga. Dessa vez ela que queria vencer.

— Está morando em minha casa, tenho direitos maiores aqui dentro do que você.

— Ah! É? Até mesmo no Lorde? Se eu soubesse teria te desobedecido e ofendido mais para você colocar o Lorde e eu pra fora da casa, Oh Ilustríssimo Senhor Malfoy. Obrigado pela informação.

Malfoy parou para pensar, um pouco estarrecido com a resposta dela. Ele não tinha poderes maiores ali do que o Lorde, portanto não poderia colocá-los para fora da casa quando quisesse. Ela tinha razão.

— Eu... não tenho maiores direitos que o Lorde.

— Estraga prazeres. – foi a simples resposta dela, como se ela realmente tivesse acreditado nele anteriormente. Ela tinha uma expressão de “mas é burro mesmo” em seu rosto.

Aquilo pareceu dar mais ânimo para Malfoy, como se ele quisesse dizer que não era burro como ela imaginava. Rapidamente, ele encontrou mais argumentos para discutir.

— Mas o Lorde me responsabilizou por você em qualquer baile que minha família promover. Você TEM que fazer o que mando.

Agora era ela a estarrecida com a resposta dele.

— Em... qualquer baile? – ela tinha certeza que devia estar lívida naquele momento. Aquilo fora uma pedrada em sua cabeça. “Qualquer baile...” seus pensamentos travaram naquele trechinho de frase.

— Sim, o Lorde falou a mim que você estaria sobre minha responsabilidade.

“Infernoooooooooooooooooo!” Ela pensara imediatamente ao se lembrar da quantidade de datas comemorativas ao ano. “Páscoa, Natal, Ano Novo, Dia da Independência e ainda poderia ter datas comemorativas para os bruxos que ela não sabia”. Ela tentou não se desesperar e continuar a discussão.

— Responsabilizou? Não acha que responsabilizou é diferente de “estar sob seu poder?” Bom, pelo que eu saiba, pelo dicionário, responsabilidade é apenas tomar certas precauções para que eu não faça certas coisas, como, por exemplo, fugir. Estar sob o seu poder significa que eu tenho que te obedecer, portanto há uma grande diferença. – ela falava como uma professora explicando para uma criança de 5 anos o que era 2+2. – Além disso, o Lorde tem um péssimo gosto para escolher as pessoas “responsáveis” por mim, por que você não tem UM PINGUINHO de responsabilidade. Como um responsável deixaria que eu ficasse perambulando por todo o baile, descobrindo rotas de fugas? Eu poderia ter pedido ajuda a um dos convidados sem que você notasse! E se a segurança da casa falhasse? Eu ia fugir. Bom, resumindo tudo... VOCÊ É IRRESPONSÁVEL! – ela falara bem alto, os olhos estreitos. A mão dele apertou com um pouco mais de força seu antebraço.

— Como... como que... você se atreve? – ele pareça realmente alterado – Como se atreve a dizer uma coisa dessas?! – O rosto todo pomposo tinha ficado distorcido pela raiva que ele sentia.

— Talvez por que eu tenha voz para falar. – nem ele poderia revidar uma resposta dessas, a raiva dele crescia.

Mas não demorara muito para aquela expressão mudar, um olhar como se ele tivesse uma brilhante idéia e logo algo malicioso. Seu coração acelerou quando notou que ele tinha retirado a varinha de seu bolso. Ela ficara alerta, mas a expressão de seu rosto demonstrava ainda a mesma insolência de sempre. Estava sozinha ali com ele! O que ele poderia fazer? Sentia um certo medo ao lembrar-se do sonho que tivera naquela tarde. Seu coração pulando até a garganta e voltando.

— Então... o que você faria se já não... tivesse voz? – era um tom malicioso e fora então que ela entendera o que ele ia fazer. Tentara desvencilhar-se dele antes que o feitiço a atingisse, mas fora tarde demais.

Ela não sentiu nada, mas ela sabia inconscientemente que tinha alguma coisa errada. Ele provavelmente conseguira tirar sua voz. Ela ainda estava um pouco assustada com aquele ato súbito dele.

— Você fica bem mais bonita assim: quieta e assustada. – ele sorria enquanto a olhava, com uma expressão triunfante.

Ela já iria responder que aquela era uma ótima dica de como se tornar bem feia e assim ele largar dela, mas nada saiu. O feitiço a impedia de dizer aquele desaforo. Não conseguia mais revidar as palavras dele, apenas ouvi-las. Em silêncio.

Mas aquilo não era realmente um empecilho muito difícil de se ultrapassar. Apenas... algo para atrasá-la. Ela sorriu para ele também e aquilo o assustou um pouco e ainda mais quando ela começou a se aproximar dele. Um olhar perverso antes de dar o golpe e sair correndo.

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