TPB (Tensão Pré-Baile)
Ellen acordou com uma dor de cabeça infernal. Seu estomago revirava e ela sentia-se horrível. Estava suando, tanto por causa do calor, quanto pelo suor frio, que parecia repelir coisas ruins do corpo dela. Ela mal sentia o que estava acontecendo com ela, mas tremia como vara verde. Sentia uma fraqueza sem igual. Ela não tinha coragem de sair de onde estava, então tentou relaxar. Sua dor de cabeça estava ficando cada vez mais insuportável e ela sentiu uma vontade de vomitar horrível, apesar de não saber se tinha forças para tal.
Sua visão embaçada fez com que ela não conseguisse distinguir o que era aquela coisa verde, que flutuava sobre sua cabeça. Ela piscou várias vezes, para tentar enxergar melhor, mas só fez com que a dor piorasse, juntamente de sua ânsia de vomito. Ela fechou os olhos e abriu-os de novo. Agora o que via era algo branco e preto um pouco mais ao longe de sua cama, juntamente de algo meio amarelado.
Sentiu algo sair de sua testa, pra logo depois ser reposto por outra coisa. Essa era um pouco mais fria e isso ajudou á aliviar o calor. Ela sentiu que davam algo para ela beber. Sem conseguir repelir ou protestar, ela apenas aceitou o líquido, que tinha um gosto horrível, o que acentuou o gosto de vômito que já estava chegando em sua boca.
Cada dia parecia ser um dia pior. Cada dia era um dia a menos para o Natal. Um dia a menos para a festa. Um dia a menos para a mortificação de Ellen, se é que ela já não estava se mortificando até mesmo antes do dia. Ela nunca tinha ido à uma festa daquele tipo, a não ser a vez que ela passou o Ano Novo na praia. Algo dizia pra ela que aquela festa seria muito mais pomposa do que qualquer outra que ela já tinha ido.
Haviam as baladas também... apesar delas não serem necessariamente festas. A única festa que ela lembrava de ter ido, fora uma de aniversário, que estava chata. Ellen sempre imaginava as festas, como tendo muitos convidados, comida, Bufês refinados (apesar de ela não ter um pingo de etiqueta), música e pista de dança. As músicas de festa, não deveriam ser daquelas parecidas com Rock... deveria ser uma música... clássica. Sensual talvez. Sempre tivera curiosidade de dançar Tango, achava um tipo de dança linda. “Imagina? Ainda com aqueles colírios...” pensou ela, com alguma malícia.
Aquilo realmente começou a amenizar sua dor de cabeça e ela já sonhava com grande satisfação que estava no lugar da mulher que dançava Tango na televisão, junto do homem que era seu acompanhante. Aquele valia a pena dançar. Ah se valia. Mas por alguma razão, aquele sonho tornou-se pesadelo. O homem tinha se transfigurado para Malfoy: O sorriso, o olhar, os cabelos. As feições se transfiguravam rápido para aquilo que ela vira durante sua estadia. Preocupação, raiva, cansaço, ironia, maldade... pena. Pena? Não! Devia estar confundindo com alguma coisa, talvez tristeza. Mesmo assim não combinava com ele. Mas ela sentia medo demais daquilo. Ele a conduzia por sua pista imaginária, com os mesmos passos dos dançarinos originais e com a mesma habilidade. Não conseguia se afastar, pois cada vez mais, ele a segurava com firmeza e determinação. Um novo olhar passou pelos olhos dele. Posse. Em um giro, como na dança original, ela deveria ficar colada a ele e foi isso que aconteceu, mas algo saiu do original... ele aproximou o rosto e...
Ellen acordou com os olhos arregalados. Estava sozinha no quarto, e sentada sobre a cama. Seu coração batia forte e desesperadamente. “Sonho! Foi só um sonho!”. Ela respirou profundamente várias vezes. Não devia se deixar levar desse jeito. Parecia que seu coração estava pulsando em sua garganta. Saiu da cama tremendo, olhando para a janela, onde o Sol ainda estava alto: Não devia passar das 3h ainda. Será que a festa passou sem ela? Aquilo a animou e por um momento ela sorriu minimamente aliviada.
Esse alívio não durou nem mesmo 5 minutos, pois a Elfa irrompeu no quarto, levando um susto ao encontrá-la de pé, próxima à cama, olhando pela janela. Ellen olhou a Elfa tristemente, surpreendida que não tivesse sido o Lorde o primeiro a entrar. Quando olhou novamente a Elfa, percebeu que na outra cama, que ela nem ao menos olhara, tamanho o susto , havia um vestido negro, sem nada de especial junto de um calçado preto simples.
Ela percebeu que seu pesadelo mal havia começado. Apavorada, enrijeceu todo o corpo com aquela cena, tateando cegamente para encontrar a cama e sentar-se nela. Seu coração pulsava ferozmente, enquanto ela encarava o vestido. A Elfa observou-a intrigada com aquela atitude.
— Está tudo bem, srta? Maaya fez algo errado?
— Maaya, de quem é o vestido?
— É para a srta, claro! Sr. Malfoy ordenou que os costureiros fizessem um vestido para a srta. E sapatos também.
Ellen caiu pra trás na cama, inconsolável. Não tinha dormido por tempo suficiente, ainda faltavam horas para o baile. Ela precisava fazer alguma coisa, nem que fosse pra se suicidar, sufocando-se com o travesseiro. Mas ir sem ter batalhado pelo contrário, jamais. Sem luta, nada feito.
— A srta está bem? Não sente nada?
— Não Maaya. Estou perfeita, infelizmente. Obrigado pela preocupação. – ela tinha respondido em um tom tão desanimado que Maaya ficou com um tanto de pena.
— Há poucos minutos estava realmente ardendo em febre, Srta. Ficou com sintomas estranhos, estava bem fraca. Maaya estava preocupada e á pouco, quando saiu, a Srta ainda estava na cama bem pálida.
— Gostaria de ter continuado.
O assunto morreu naquele momento.
A Elfa, depois de um tempo olhando e pensando naquela resposta, saiu do quarto rapidamente, preocupando um pouco Ellen, apesar dela não saber o motivo. Ela pensava que era só fazer de conta que era uma festa qualquer. Não precisava fazer tempestade em copo d’água! Malfoy não passava de um garoto mimado e cheio de caprichos, que tivera a cara-de-pau de pedir pro Lorde deixá-la ir à festa. E o pior de tudo, foi a sorte infeliz do Lorde ter deixado. Bom talvez não fosse tanto a sorte...
Enquanto ela pensava, a porta foi aberta, com aquele som característico de trinco sendo rodado. Naquele momento, era a coisa mais irritante do mundo. Ela olhou fixamente para o teto, reunindo seus pensamentos, sem nem se preocupar com quem entrava. Os passos se aproximavam mais e ela estranhou o som que eles faziam. Era impressão dela, ou estava ficando expert em notar a diferença das passadas das pessoas da casa? Não podia ser por causa dos quartos escuros, já que faziam meses desde a última vez que ela ficou em um. O único pensamento que veio á ela, no momento é que seria uma boa cega e que logo poderia ir pedir esmola na rua. Ela sorriu bestamente, por causa de seu pensamento idiota.
Os passos pararam e ela pode, finalmente, ver quem era. Ela fechou a cara ao perceber que sua intuição não falhara e que os passos não eram do Lorde. Era Malfoy. Mas afinal, o que “Draquinho” estava fazendo ali? Ela encarou-o, com a melhor expressão de desdém que conseguiu fazer naquela hora. Ela ficou calada, o que o fez parecer um pouco constrangido.
— Maaya disse que tinha melhorado. – ela pôde perceber o constrangimento e uma pequena fagulha de vitória explodiu dentro dela.
— Infelizmente. – foi a resposta seca dela. Ela ainda encarava-o. Assunto morto.
Mais minutos desconcertantes de silêncio para ele, que parecia extremamente incomodado. Bom, ninguém o tinha mandado para lá. Ou será que tinha?
— Você parece mais doente ultimamente. – mais uma tentativa para algum assunto. Bom talvez se desse alguma corda...
— Eu sou doente. – ergueu uma das sobrancelhas, ele tinha um olhar indagador.
— Você é doente...? – ela notava uma nota medrosa na voz dele. Outra fagulha, dessa vez um pouco maior, explodiu novamente. Dessa vez, ela sorriu maldosamente.
— Não posso acreditar que não tenha notado. – com certeza sua voz saíra mais maliciosa do que pretendia. – Acho que até sua namoradinha deve ter percebido.
— Não tenho namorada. – ele falou e isso pareceu irritá-lo. Muito estranho... se ele não tinha namorada, então porque se irritou assim?
— Então quem era aquela garota tão imprudente que invadiu meu quarto e que te chamava tão delicadamente de “Draquinho”? Amiguinhos? – ela tinha uma voz tão falsa de “Ah que graça” que irritou-o ainda mais. As mãos dela tinham ido até o rosto apenas para dar ainda mais aquele ar falso.
— Por que pergunta? Não é da tua conta a minha vida. – ele, com toda certeza, havia se irritado.
— E por que se intromete na minha? – ela falou também, cruzando os braços com cara indiferente.
— Não me intrometo na sua vida. – ele falou com a voz um pouco mais baixa, tentando se controlar.
— Hum... então convencer o Lorde a me obrigar a uma festa que eu não quero ir não é se intrometer na minha vida? – ela perguntou levantando um pouco as sobrancelhas.
— Eu apenas perguntei, não tentei me intrometer.
— Então por que será que de repente você entrou nos meus problemas diários? – ela tinha se sentado na cama e levantado para não ter que encará-lo de baixo. Aquilo parecia fazê-la ficar minúscula. Ela precisava “engrandecer” perto dele, apesar de ainda ser mais baixa que ele mesmo de pé.
— Problemas diários? – perguntou confuso o Malfoy.
— O meu principal problema é ter que ficar aqui. – ela indicou com uma das mãos o chão. – Segundo problema é ter que aturar o Lorde. Terceiro problema – ela o encarou bem fundo nos olhos – Você existir. – Sim. Ela estava com muita raiva dele e queria alfinetá-lo de alguma maneira, para recompensar o entojo de ter que ficar do lado dele.
Ela simplesmente passou por ele, a uma distancia razoável e foi para a penteadeira. Ele parecia indignado.
— Eu existir? Eu sou um problema só por que existo? – ele falou com um tom até um pouco chocado.
— É.
Malfoy pareceu pensar um pouco. Pelo espelho ela via que ele estava pensando em algo que o estava aturdindo um pouco. Ele balançou a cabeça um tanto aborrecido e por fim, um sorriso brotou em seus lábios, como se ele tivesse finalmente percebido algo óbvio. O problema era descobrir o que ele percebera nesse “óbvio”.
— Até a noite. – ele sorria de um modo tão... presunçoso.
— Não esperaria tanto. – ela falou, quando ele estava quase na porta. Ele a olhou rapidamente, mas saiu. Dissera aquilo só para assustá-lo mesmo, pois o vidro não ia desaparecer naquele momento. A Sorte nunca estava do seu lado, depois que foi capturada. Ellen não confiava mais em “sorte”, do jeito que confiava antes.
Ela continuou a se observar no espelho depois da retirada dele. O vestido estava ali, lembrete de que a festa ainda nem começara. Ela ficou olhando o vestido, refletido no espelho, por um tempo. Uma curiosidade se abateu e ela foi analisá-lo.
Ela se aproximou e tocou o vestido. O tecido era macio e bem confortável para usar. O problema é que ele parecia ser um tipo de tubinho. Não era rodado e dava poucas chances para correr corretamente. Longo. Não era o vestido de seus sonhos, na cor que ela mais amava, mas não deixava de ter um pouco de beleza.
Sua paranóia estava amenizando e ela começava a tentar achar alguma coisa de bom naquilo. Ela foi até a janela e se arrependeu. Os Elfos estavam ali e pareciam fazer alguma coisa. Depois de um tempo, ela percebeu que eles estavam fazendo feitiços protetores na casa INTEIRA. Seu estômago revirou pensando que nem mesmo fora do quarto poderia tomar algum ar. “Maldita casa!” pensou ela, saindo rapidamente da janela e sentando-se na cama.
Ela observava o sol ir baixando devagar e escurecendo tudo, quando a Elfa novamente entrou. Ela encolheu-se na cama observando a Elfa que entrava, com medo dela. Na verdade não exatamente dela, mas do que ela viera fazer.
— Srta, o Sr Malf... – ela fora cortada bruscamente por Ellen, que começava a observar nervosamente o chão, pensando coisas aflitivas.
— Mandou que me preparasse para a Festa...
— Baile. – corrigiu a Elfa observando o comportamento estranho de Ellen.
Aquilo não tinha em nada melhorado os pensamentos de Ellen. Na verdade acabara tornando-os mais aflitivos que antes. Uma batalha era travada na cabeça de Ellen e ela continuava ali na cama, observando o chão, sem se mexer. A Elfa se aproximou devagar dela e a tocou de leve.
Ellen pareceu acordar de um longo sonho e olhou-a. Seus olhos pareceram estranhamente derrotados, mas estavam escondidos por uma máscara confusa. Apesar de tudo, ela sabia que a Elfa não tinha escolha. Ela levantou-se, totalmente desanimada, para que Maaya a trocasse.
A elfa parecia habilidosa e não demorou muito para a trocar, já que não havia muito para fazer com ela. Não tinha jóias, não tinha adornos para chamar atenção e nem nada para prender o cabelo. Ela percebeu que ele estava limpo. “Me deram banho mesmo enquanto adoeci, eles são realmente generosos” pensou ela, enquanto observava-se no espelho com uma cara estranha, como se não reconhecesse a imagem refletida. Da outra vez que sentara na penteadeira, não reparara como estava terrivelmente magra e pálida. Se ela já estava pálida o bastante para se assustar, quando estava enferma poderia se passar facilmente por um fantasma. Por pouco não estava esquelética. Por muito pouco.
Maaya começou a colocar maquiagem no rosto de Ellen, para disfarçar aquela magreza e a palidez. Realmente melhorara bastante perto do que estava. Quando já estava ficando pronta, a porta se abriu e seu olhar endureceu repentinamente. Ela já sabia exatamente quem a estava esperando.
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