Paranóia
Ellen acordara com a cabeça latejando, mas não abrira os olhos, pois sabia que doeria mover qualquer músculo do corpo. Só em pensar, ela já sentia dor. Ela mal lembrava do que tinha acontecido, mas logo as lembranças foram aflorando, vívidas, até que tudo se apagou.
Voltara, sabia que voltara, justo quando tinha chegado mais longe. Por quê? Por que Deus estava sendo tão cruel com ela? Desanimada, abriu os olhos se deparando com o mesmo teto de que tentara fugir, ela nem sabia há quanto tempo estivera desacordada.
Ficara ali olhando para o nada, uma tristeza profunda recaindo sobre ela, dominando seus pensamentos, dominando até mesmo seu orgulho. O quarto estava vazio, vazio de presença, vazio de sentimentos, vazio de vida... vazio de esperança.
Sentiu-se chorar novamente e estava começando a se sentir uma bezerra desmamada. Nunca chorara tanto assim! Tentava se animar, ser um pouquinho otimista, tentar lembrar de alguma coisa interessante. Alguma coisa que ao menos a fizesse sorrir. Nada.
Um poço fundo de tristeza, desesperança e frustração. Não havia mais nada dentro dela naquele momento. Mas alguma coisa começou a martelar no seu cérebro, doendo como se fosse um martelo de verdade, pois a dor não cessara ainda. Aquele ultimo ato...
O que estava pensando? Era louca? Achar que aquele traste tinha algo de bom? Era só o que faltava para ela! Ele devia saber que o Lorde já devia estar lá e soltou só para facilitar as coisas. Foi isso, nada demais! Mas aquele olhar... era apenas mais uma enganação para fazê-la parar de conseguir fugir, ele não prestava, não valia o ar que respirava, e ela tentando achar alguma coisa de útil nele, sim, claro que ele é útil! Pro Lorde é, extremamente útil para ficar enganando a bobalhona.
Enquanto ela começava a ter indícios de raiva, algo a tirou de seus pensamentos. A porta se abriu e o Lorde entrou, ele não parecia satisfeito, nem feliz. Pelo contrário, parecia ter acordado com o pé esquerdo aquele dia também, mas com certeza sua raiva era bem mais destrutiva do que a dela. Ele caminhava a passos firmes até ela. Seu dia tinha começado realmente “perfeito”...
Ele a analisou, com os olhos assassinos. “Se pelo menos ele tornasse isso realidade” pensou Ellen, encarando-o firmemente nos olhos também, ela sabia qual seria o próximo ato depois disso.
— Como fugiu Ellen?
Ela não ia contar o segredo de sua fuga. Além de ser realmente burro da sua parte se ela fizesse isso, ela nem sabia como tinha conseguido.
Mas ela não ia dizer isso na cara dele. Nem depois de morta admitiria que ela não sabia como escapara de modo tão “espetacular”. Na verdade, não fizera mais do que seguir filmes de TV adorava assistir filmes do estilo, mas parecia que aquilo era bem novo para os bruxos, e aquilo instigou-a á mais idéias.
— Você acha mesmo que eu vou te contar como eu driblei toda essa segurança? Vai sonhando...
Blefar era uma ótima maneira de sair desses tipos de perguntas capciosas, na verdade não seria se realmente ela soubesse como fugira.
— Ellen... – os olhos dele se estreitaram perigosamente, a voz em tom de aviso, indicando perigo. Perigo que ela já se acostumara a receber e nem por isso ela mudava.
— Não. – agora ela estava perdida e tinha certeza que ficaria um BOM tempo desacordada. Fechou até mesmo os olhos para tentar amenizar a dor que provavelmente ele lançaria sobre ela, mas esta não veio.
— À noite... à noite eu vou cuidar de você. – ele falou e na verdade ela não gostou daquela insinuação, ele dissera em uma voz perigosa. Saindo em seguida.
Ela ficou lá durante alguns segundos até um Elfo aparecer e falar que não havia mais nada, nada o quê?
— Por que NADA? – ela falou se sentando na cama.
— Estava para ter pneumonia e hipotermia, srta, além de muitas queimaduras nas mãos e nos pés.
As recomendações da mãe não era tão inúteis afinal, Sua mãe sempre mandava que ela saísse agasalhada no frio. Agora ela percebeu que sair no “sereno” causava MESMO pneumonia... apesar daquele “sereno” ter sido mais uma nevasca. Oras! Ela iria ficar pensando nessas bobagens quando surgira a oportunidade perfeita para escapar? Que se lascasse sua saúde, mas sairia dali.
Mas não aconteceu isso. Ela quase morrera do coração e de saúde e não conseguira fugir. Era o azar lhe pregando uma peça para que tivesse mais tempo para torturá-la lá dentro. Quando o Elfo saiu, ela deitou-se na cama de novo derrotada.
— Quero morrer. – falou simplesmente pro vento, pois não existia ninguém lá dentro.
Ela já estava quase dormindo quando o Lorde entrou de novo. “Má sorte desgraçada” pensou carrancuda, virando-se para ele e encarando-o . Não fora novidade, quase morrera e ele continuou na mesma rotina de sempre, como se nada houvesse acontecido. Talvez uma coisa mudara: O menino estava olhando-a com ainda mais freqüência do que antes e dessa vez, parecia preocupado. “Preocupado que o parzinho dele possa fugir”. Desgraça, era só nisso que ela conseguia pensar naquele dia, e o pior não estava nem começando.
Ele parecia querer antecipar o seu castigo, tornando o dia mais exaustivo do que antes. E pra piorar, ela já estava cansada, o que estava tornando aquele dia cada vez pior. A noite enfim chegara e ela ainda não tinha se preparado para o que a estava esperando.
“Ah! Mamãe! Ah! Mamãe!” Ela pensou quando adentrou a sala onde costumava ficar durante a noite para descansar e desanuviar os pensamentos (aquilo não ajudava muito, mas já era um grande alivio saber que podia fazer pelo menos isso). Existia uma enorme Arvore de Natal lotada de presentes. Ela sabia que aqueles presentes não eram para ela. Eram para o “Draquinho”. E foi essa uma das razões que fizeram-na ter vontade de fugir da casa. Enquanto ela estava perdida em seus devaneios, o tal “Draquinho” entrou no aposento.
Ela olhou a lareira, ou o que os presentes não tamparam dela. Não iria ter a lareira para se distrair. Ela sentiu um arrepio passando rápido por sua espinha. Apesar de seus pensamentos desesperados, ela estava impassível e não demonstrava nem um milésimo do que sentia. Sentou-se na parte do tapete que não estava coberta de presentes, que era o mesmo que nada, já que ela estava sentada meio no tapete e meio no chão duro e frio de mármore.
Rezava para que dormisse sentada, mas aquele chão de mármore tirava as esperanças dela. Para sua infelicidade, teve que continuar acordada.
O Sr, e a Sra. Malfoy entraram, junto de um Elfo. O Elfo ficava indo de um lado pro outro pegando os presentes que Malfoy desejava ver primeiro, pois todos eram dele mesmo. Não tinha o mínimo cuidado em abrir o presente e dos embrulhos apareciam as coisas mais estranhas que ela já vira. Mas ela não estava interessada naquilo.
Sua mente não estava ali e sim no dia seguinte. O dia de Natal ou a véspera, não sabia exatamente que dia era. O Lorde não gostava de lhe dizer datas precisas, parecia querer que não notasse o tempo passar, mas ela notava, o tempo se arrastava como um velhinho de 150 anos com um cajado. Quebrado.
Seus pensamentos iam e voltavam para a cena de Malfoy abrindo os presentes com rapidez e em uma das vezes ela notou que ele a olhou de canto pelos olhos. Já estava ficando sem sua sanidade. Aquela tal festa a estava deixando tão desesperada e desnorteada que nem ao menos sabia se ela estava ali ou no dia seguinte. Ficava pensando em coisas ainda mais banais.
“Como eu vou à uma festa se não tenho uma roupa? E se eu fugir durante a manhã, talvez todos estejam dormindo. Menos o Lorde. Talvez ele mude de idéia quando não tiver uma roupa. Ou talvez se tentasse fazer o vidro desaparecer de novo, talvez a besta do Malfoy não esteja novamente no caminho. Dessa vez levo o casaco. Talvez ele consiga arranjar uma roupa para mim, costureiras...” Cada vez mais não sabia o que pensar, seu corpo começava a ficar dolorido de ter que ficar sentada meio no chão e meio no tapete.
As horas se arrastavam e Ellen ficava cada vez mais desesperada. Uma parte dela não queria que o tempo passasse, mas a outra parte estava implorando para que o tempo andasse mais rápido. Seu conflito era terrivel, pois se passassem rápido, ela teria de encarar seu encontro com o Malfoy mais rapidamente ; mas se não passassem, ela teria de suportar aquela tortura de ver Malfoy abrindo milhares de presentes, aquela pilha enorme que não parecia acabar e aquela dor horrível em seu corpo que só piorava. Ela nunca reclamara por dor, mas agora ela estava reclamando e muito.
Tudo! Aquela besta do Malfoy estava metido em tudo! Ele conseguira, realmente, estragar sua vida que já estava ruim! Como? Como uma pessoa consegue fazer essa proeza? Preferia até o que a esperava aquela noite no quarto, em vez de ficar ali. Não... isso seria desumano demais pra ela.
Ela não conseguia dormir. Observava o nada, observava Malfoy, observava o relógio. Mas o tempo parecia não passar. Parecia que quanto mais ela olhava o relógio, mais devagar ele ficava.
“Por que eu não morri de pneumonia e hipotermia?” Pensava ela, tristemente. Seu nervosismo já tinha chegado a tal ponto que estava começando a ficar faminta. Agora além de tudo tinha que aturar sua barriga roncando.
Finalmente, depois do que parecera uma eternidade, o relógio batera, indicando que era Meia-Noite. Nos minutos que antecedaram a meia noite, Ellen estava olhando obcecada para o relógio. O Lorde se levantou e todos se levantaram também para ir dormir. Menos Ellen. Por que alguém iria reparar nesse estranho comportamento? Ellen não era nada mais do que um objeto sem vida e sentimentos que apenas cumpria ordens. Mas ela não conseguia levantar-se. Suas pernas estavam dormentes, pois não movera um músculo além do pescoço e dos olhos durante 5 horas seguidas e seu corpo dormira, menos seu cérebro.
Ela já não sentia dor, não ouvia, não enxergava mais nada, não sentia... Paralisara olhando o relógio e então seu cérebro repentinamente deu pane. Desmaiara de cansaço.
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