O fim




Hermione acordou encolhida no quarto de hóspedes da casa dos Weasley. Gina ainda estava vestida e maquiada a seu lado. Pansy e Rony não perguntaram por que as duas não queriam ir para as suas casas, mas considerando a quantidade de whisk de fogo consumida, era melhor relevar qualquer diálogo. Os olhos da castanha encaravam o teto pensando que talvez fosse hora de algum diálogo. O resto da noite anterior tinha rendido embriaguez e algumas contra-danças. Ela e Gina riam feito duas loucas, mas nenhuma sabia o porquê do riso. A cabeça de Hermione doía e ela se perguntou por que Draco não tinha levado a mulher para casa. A resposta veio quando ela desceu as escadas, trajando um pijama grande de Pansy. Draco tinha passado a noite no sofá da sala dos Weasley.


Quando ele olhou pra ela, ela lembrou de uma dança bêbada com ele de guia. E ela não sabia como tinha ido parar nos braços dele, nem como conseguia se controlar. Engoliu em seco e seguiu até a cozinha a fim de ajudar Pansy com qualquer coisa que ela precisasse. Harry já devia estar no trabalho, ela pensava enquanto fritava o bacon dos ovos mexidos.


Então, foi comer, mudar a roupa e desaparatar na porta do ministério da magia. Foi anunciada pela secretária e entrou na sala do marido. Ele parecia ansioso e amarrotado como quem tinha acordado há muito e com pressa. Harry queria alguma resposta e a mulher parecia fria e dona de todas as questões. Ele abaixou a cabeça pra não olhar nos olhos dela e ela riu. E ela poderia dizer qualquer coisa, conquanto ele desse sinais de estar ouvindo. A Teoria Matemática da comunicação voltou à cabeça dela. Era trouxa e precária, mas fazia parte do curso de jornalismo. A informação poderia ser qualquer uma, carregada ou não de significado. E ela podia escolher um poema bonito ou um não, tudo teria o mesmo valor no que se refere à informação. E ela era a fonte, ele era o receptor e todo aquele ambiente e a voz dela eram o canal. Ela era o canal das respostas que tinha. Tudo parecia tão teoria e tão simples. Aquela questão a ser resolvida parecia tão matemática. Ela teve que sentir o gosto de tudo antes de dar as respostas que ele queria. E ele via o prazer nos olhos dela.


- Harry, você está bem?


- Não sei ao certo.


- Ontem eu não podia falar nada. Eu precisava esfriar a cabeça. Você sabia que eu não estava bem, não sabia? Desculpe.


- Não desculpo.


- Sem doce, por favor. A gente já passou da idade disso.


- Direto ao ponto, por favor.


- Eu preciso de espaço.


- Você tem espaço. E o seu espaço é do meu lado.


- Eu não sei.


- Como não sabe?


- Harry, eu acho que a gente precisa de um tempo separado. Eu preciso ter a minha casa e você precisa ter os seus casos. Você precisa de paixão, Harry.


- Essa história está tomando rumos que eu não esperava. Eu nunca pensei em me separar de você. Não é o que eu quero.


- É o que eu preciso. Você costumava ser minha família.


- E não sou?


- Harry, eu não sei.


- Você não sabe de nada?


- Sei que preciso de tempo e que se você me ama como diz que ama vai ser capaz de respeitar e agüentar isso. E se você quer saber, eu nem sei se amo você.


- Você é cruel.


- Não, mas seria muito egoísmo de minha parte carregar todas as minhas dúvidas e a minha infelicidade nas minhas costas.


- Você parece irracional, Hermione.


- Eu hoje sonhei com Pollyana e o jogo do contente. Eu não quero mais ficar me remoendo e te enganando. Eu não estou feliz.


- Certo...


- Harry, eu tive uma paixão forte em Hogwarts e ela tem voltado à tona. Quer dizer, eu nunca estive com ele, mas eu preciso saber se a paixão existe mesmo. Eu ando achando que eu só sinto essa coisa forte por que não posso ter. Ando achando que só sinto essa coisa forte por causa de você.


- Isso é ridículo.


- Não é. São as minhas questões e as minhas dúvidas e nenhum sentimento nunca é ridículo, Harry. Mas acho bom a gente parar de fingir. Acho bom a gente assumir que não tem um casamento perfeito. E que o nosso casamento por hora acabou.


- A escolha é minha também.


- E?


- Eu não quero.


- Olha, eu não vou voltar para a sua casa tão cedo. Eu preciso de espaço agora e se você resolver não me dar, me perde em definitivo. Eu preciso disso, caramba. Eu vou surtar. Eu não estou feliz. Eu tenho traído você e você sabe disso. Será que não pode ter um pingo de amor próprio? Aproveita esse tempo sozinho e come a sua secretária que já joga charme pra você desde sempre! Harry, a gente junto nem funciona mais. A gente já perdeu a química.


- Não. Semana passada você estava com aquele vestido e a gente tomou banho juntos...


- E antes disso, quando a gente teve um momento-casalzinho?


- Tudo bem, eu vou respeitar você.


- Aleluia!


- Hermione!


- Sem fingimento, Harry. A gente é amigo demais pra ter esses pudores.


- Te amo.


- Você é um idiota.


- Eu sei.


Os dois sorriram e se abraçaram, feito dois meninos de onze anos no primeiro ano de hogwarts. Ela e ele ainda tinham algum resquício de amizade de tempos distantes. Harry soltou-a e ela ficou sem entender direito porque interromper o abraço.


- Não começa, Hermione.


- O que?


- Você sabe.


- É só carinho, Harry.


- Eu não sei mais fazer carinho em você desse jeito. Sou violento demais pra isso e você se lembra. São treze anos.


- Me desculpe. Mas eu não quero que a gente...


- Eu não vou te entender nunca, sabia?


- Entender pra que?


- É. Pra que?


- Você sabe que eu vou sair daqui e vou atrás dele, não sabe?


- Sei, mas não precisava.


- Eu ainda acho que a sua secretária dava um caldo.- Hermione disse rindo, deu um beijo na bochecha de Harry e foi embora.


O problema dela, então, era não gostar do seu quarto de hotel e não querer morar na casa de ninguém. Queria algo família sem ser a sua família. O Beco Diagonal parecia chamativo e Draco. Foi pra lá que ela foi e por lá ficaria, que a editora tinha mandado uma coruja avisando que a pauta dela era exatamente o gringotes.


“Granger,


Quero que você entreviste um duende. E quero reclamações sobre o atendimento. Me arrume furos de segurança. Lembre aquela história da pedra filosofal, é velha, mas nada acontece nesse mundo pacífico! Como é que os jornais vão viver sem patologia! Jornalismo literário já caiu por terra. No mais, o básico, como funciona o banco, curiosidades... me trás uma sub com a história da pedra, não esquece. Quero essa matéria pronta até as duas da tarde. Depois tem outra pauta. E, por favor, vê se me faz um lead com cara de lead dessa vez!”


Hermione achou a pauta confusa e chata. Responder seis perguntas no lead não era problema. “Quem? O que? Como? Onde? Quando? Por que?”, mas qual era a informação principal mesmo? Jornalismo estava um saco naquela quinta feira. Ela tinha vontade de mandar a pirâmide invertida tomar no cu. Primeiro a informação principal, depois você coloca no texto as informações em ordem decrescente de relevância. Perfeito pra quem não tem tempo na pós modernidade! Sem tempo pra filosofar sobre as falhas na profissão, no entanto, ela foi cumprir seu papel porta-voz de um meio, no caso, o Profeta Diário.


 

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