A festa
O salão estava cheio. Naquela quarta Arthur tinha ficado por conta de Molly e vários amigos próximos e não próximos dos Weasley estavam naquele salão. Hermione chegou atrasada à festa. Lembrava que quarta era dia de jantar, mas tinha quase se esquecido do aniversário do amigo. Ela abraçou Rony, entregou o presente simples que tinha comprado, e logo viu Harry sentado numa poltrona de canto, olhando pra ela. É claro que ela tinha pensado em aquela briga ser birra ou algo do tipo, mas ela não queria ver o marido.Tratou de achar no salão alguém que lhe fizesse companhia; Luna e Cho eram ótimas nessas horas.
Gina cutucou Draco logo que viu Hermione cruzar o salão. Ele permanecia inerte, com a cabeça em outro lugar, mas a ruiva insistia.
- Ela e o Harry estão brigados.- Gina dizia ao marido, que ouvia sem dar atenção.- Parece que ela não dorme em casa desde sábado. Ele me falou, está acabado, coitado.
- Ótimo.
- Como ótimo, Draco?
- Não é problema meu, Gina.
- Draco, eles são nossos amigos.
- São seus amigos.
- Eles são um casal que...
- Que pode ter problemas como qualquer outro casal.
- Mas eles não podem...
- Eles podem sim.
- Draco, você parece tão insensível.
- Eu não tenho por que me intrometer na vida deles.
- Se a gente...
- A gente já tem problemas suficientes, Gina.
- Pra mim, nós estamos bem.
- Estamos, é você quem importa.
- O que a gente vai fazer?
- Nada.
- Como nada?
- Saboreie toda grosseria e simplicidade da frase: eu não me importo.
- Mas eu me importo.
- Esquece.
Gina se levantou e foi até Pansy. Draco não ia ajudar a unir o casal e daquela festa não podia passar. Harry tinha que parar a festa no meio e se aproveitar do piano. As flores estavam na cozinha. Tudo estava perfeitamente traçado na cabeça de Gina. Harry e Hermione tinham que ficar juntos. Harry não podia estar livre. A idéia era aterrorisante demais. Com ele livre, talvez ela liberasse a própria trava e derretesse. Por alguns segundos, enquanto andava, muda, Gina perdeu o foco. Harry tinha deixado de ser objeto. Ele tinha deixado de ser objeto e aquilo era assustador. Por alguns instantes desejou que ele não tocasse o piano e não dissesse nenhuma palavra bonita. Por alguns instantes se deu ao luxo de sentir ciúmes do amante. Ela sabia que ciúmes são vaidade, mas ela sabia que não podia ter dois inteiros. Quis que Draco fosse metade. Quis que Draco a tivesse traído do jeito mais sórdido que ela pudesse imaginar. Olhava Pansy, a poucos pés e pensava nela na cama com Draco. Seria a coisa mais suja e linda do mundo. A única coisa mais suja que isso, seria se Draco tivesse um caso com a mulher do seu amante. Gina pensou em Draco com Hermione e a idéia pareceu-lhe absurda, mas sem ciúmes.
Ciúmes. Ela podia sentir ciúmes? Draco fingia ciúmes para agradá-la. Mas ela nunca tinha realmente tido ciúmes de Draco Malfoy. Ciúme parecia banal demais pra uma relação tão complicada e proibida. Ciúmes seriam a coisa mais ridícula do mundo quando o casal era Guinevere Molly Weasley e Draco Lucius Malfoy. O peso do nome era muito maior, mas então ela reparou que ele já não existia. Todo aquele capricho de adolescente e aquele fogo tinham passado. E Gina teve medo. Ela tremeu de medo no meio do salão de festas. Ela tremeu de medo com o vento batendo nas saias dela enquanto a porta abria e mais algum conhecido sorria. Ela sentiu medo enquanto o mundo girava e ela era apenas uma gota. Ela era apenas uma faminta desimportante. Era só mais um ego grande demais e mais uma pessoa movida pela razão. Gina não sabia o que fazer. Ela gostava do fútil e do que tinha. E gostava de sentimentos profundos e guerra e tudo, mas não queria perder absolutamente nada. Por instantes sentiu a instabilidade da situação. Tudo acabaria. Ela não era eterna. Tinha um espelho do outro lado e nele ela viu reflexos de pó de arroz. No fim, tudo era pó e cinza.
Gina estava vazia. Estava cheia demais. Acordou com o grito de Harry, que chamava todos para irem até o piano.
Hermione não entendia por que ele estava sentado ali. É certo que ela não havia se perguntado isso um só momento, mas mesmo assim, sua curiosidade a impulsionava até o piano.
Draco foi o último a se levantar. Considerando que toda festa tinha ido atrás do Potter, não seria ele o único a se esquivar. Pareceria birra.
Todos estavam à volta e Harry sentia-se um astro, dum jeito diferente do comum. Não fazia por uma mulher, mas duas. Não sabia porque, mas se Gina tinha mandado e se Hermione gostaria, ele tinha mesmo que fazer aquilo ali.
Dedos no piano. Olhos no pianista. Silêncio de espera. Dedos rolando e fazendo um começo de música. Muitos pares de olhos brilhando.
Night and day
You are the one
Only you need the moon or the sun
Ninguém no salão entendia nada, mas ninguém se perguntava por que ele tocava aquilo. Gina doía. Gina sentia um ciúme ardido e ruim. Sentiu raiva dele e da obediência dele. Sentiu raiva do estrelismo e da cicatriz. A música continuava e aquela raiva cega aumentava. Cole Porter tocado por Harry Potter. Era demais se não era pra Gina.
Hermione permanecia séria. A música não lha afetava. Ela não queria ouvir aquilo e não ouvia. Ela não conseguia acreditar naquilo, ou apenas não se importava. A dois dias ela teria se derretido. Ele devia ter tocado na segunda, antes de ela ter cuidado de Draco bêbado.
Mas Harry era família, não era?
As faces conflitantes das duas mulheres de Harry Potter eram a coisa mais extraordinária e bonita do mundo. Mas ninguém que não elas sabia de absolutamente nada do que se passava. Ele não era família e não podia ser ciúme. As duas tinham perdido o chão. Todo sentimento naquele salão.
Draco sorria, sarcástico. Os aplausos vinham de todos, menos dela. Draco, no entanto não podia admitir satisfação. Ele ainda nem tinha admitido paixão. Ele não sabia. Ele nem imaginava. Ele não sentia. Era satisfação, quase prazer. Era prazer então.
Hermione saiu do salão. Gina saiu do salão. Harry foi atrás de qualquer uma e por não achar, era a vez de ele ser sem chão. Ele que nunca tinha tido chão.
Elas tinham se trancado juntas no quarto de Arthur. Nenhuma tinha avisado que subiria, mas estavam ali e ambas precisavam de qualquer ombro. Nenhuma precisava saber as razões.
- Está tudo bem?- Gina perguntou, achou que seria mais natural.
- Não faço a menor idéia.
E elas trocaram apenas aquelas palavras. Não precisavam, nem queriam mais. Pra ambas, bastava que estivessem abraçadas uma à outra segurando o choro pra não mostrar fraqueza, até estourarem juntas num suspiro poético à contrafluxo. Soluçavam. Choravam. A prática era bem mais difícil que a teoria e ninguém podia ser tão forte assim. Elas não eram. Elas eram fracas e pequenas e indefesas quando se tratava de coração. Ambas lidavam com furacão. Ambas eram a pedra no sapato uma da outra e aquele abraço era catarse. Era como se ambas pedissem perdão a cada lágrima. Como se dissessem: “eu gosto de você, mas não posso te respeitar sem me desrespeitar. Eu gosto de você, mas em mim mora um furacão e eu não posso mais com não. Eu vou atrás. Eu não posso deixar passar. Eu posso morrer amanhã e se eu passar e isso não for mais que sonho eu não vou agüentar. E por instantes eu não quero dividir, quero tudo pra mim. Eu já não sei o que é família e o que é sim”.E todas as verdades escondidas continuavam presas no céu da boca de ambas, feito pirulito amargo de sugar. O abraço se desfez.
Elas, no entanto, continuariam ali, deixando Harry e Draco soltos no salão.
NA: cenas do próximo capítulo!
"- Te amo.
- Você é um idiota.
- Eu sei.
Os dois sorriram e se abraçaram, feito dois meninos de onze anos no primeiro ano de hogwarts. Ela e ele ainda tinham algum resquício de amizade de tempos distantes. '
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