Dor



Hermione saiu d’O Profeta Diário e aparatou naquele mesmo beco de sempre. Entrou num bar qualquer, transfigurou os cabelos nos pretos e curtos de Diana Carter, meteu nos olhos um par de lentes descartáveis- por pura preguiça de transfigurar a cor dos olhos, e abriu dois botões da blusa social que vestia. Não se preocupou muito com a roupa séria que vestia e não fazia o estilo Carter. Ela não estava preocupada com perfeição. Queria apenas fugir. Entrou no mesmo Pub de sempre. Nas segundas ele ficava quase vazio, a exceção, além dela, era um Draco Malfoy completamente bêbado. Ele se levantou, quando ela chegou. Resolveu se sentar na mesa dela. Ela fingia que ele não estava ali, não queria falar com ninguém. Não queria casa de mãe, nem sua própria casa e sabia que Harry ainda montava guarda na casa de Luna Lovegood.
- Eu já vi você. – Draco dizia. - Tem umas duas semanas, acho... Tem menos... Era uma quinta feira e eu estava saindo do trabalho, ou chegando... Eu sei que eu queria ir atrás de você e você sumiu.
- Você está absolutamente bêbado. Eu não conheço você e você não me conhece.
- Mas, eu já te vi.
- Malfoy... Você está bêbado.
- É. Tô sim. E o mundo está todo de ponta cabeça.
- Você tem uma onda estranha.
- Você não sabe isso. Você não me conhece.
- É.
- Só não sei como você sabe o meu nome.
- Eu não sei.
- Você disse, Malfoy você está bêbado. E eu sou o Malfoy. Draco Malfoy.
- Por favor, eu quero ficar sozinha agora.
- Eu também. A gente fica sozinho junto.
- Merlim! Malfoy, eu não quero você aqui!
- Eu conheço a sua voz, morena.
- Não. Você é um bêbado confuso.
- Eu não posso beber em casa que a Gina briga. E não posso beber na rua que a Gina briga. E a Gina briga com a minha mãe também. Morena, a Gina anda estranha de uns tempos pra cá.
- Quem é Gina? – Hermione tentava fingir, depois da história da voz ela realmente começou a ter medo de ser descoberta.
- Eu sou casado com a Gina. Ontem ela me chateou. Hoje eu saí cedo e tentei me afogar em trabalho pra não pensar em como as duas mulheres teoricamente mais importantes da minha vida não se gostam nem um pouco. Eu fico imaginando o que aconteceria se eu e a Gina tivéssemos um filho. Eu ia surtar.
- Malfoy, você está falando demais. Acho que você não quer falar isso tudo pra mim.
- Eu quero sim.
- Por favor, se contenha, você nem sabe meu nome.
- Morena?
- Diana Carter.
- Certo morena, você tem um nome bonito. Agora, deixa eu falar da minha mãe e da minha mulher por que tudo tá entalado. Amigo, traz mais uma, por favor. Valeu! Morena, eu sempre agüentei o relacionamento ruim das duas, sabe? Mas ontem foi demais. A Gina não fazia nenhum esforço. E eu tive raiva dela. Eu quis machucar a minha mulher, ela disse que não agüentava olhar na cara da minha mãe. Então eu bebi. Bebi tudo que eu agüentava e o que eu não agüentava. Não a vi depois. Dormi no sofá e estou aqui. Mas a gente não brigou, sabe. Eu usei os jantares. Morena, a minha mulher criou uma tradição estúpida de ter que jantar toda quarta-feira.
- Hum?
- Vamos sempre eu, ela e mais dois casais. O irmão insuportável dela e mulher dele, que costumava ser minha amiga. E vai o cicatriz. Ah, caramba, você deve ser trouxa. Um amigo do irmão da minha mulher.
- Seu cunhado.
- Me recuso a admitir qualquer parentesco com aquela criatura. É, um amigo dele e a mulher, que também não é desagradável. Eu não me dou mal com eles não. Tento ao máximo conviver bem com todos. Eu me dou bem com a mãe da minha mulher. Bom... E eu tenho que ir nesses jantares. E quando a Gina disse que não agüentava olhar na cara da minha mãe eu disse que não agüentava os jantares. O fato é que eu agüento os jantares e eu menti. Diana, eu acho que eu gosto dos jantares. Mas sempre alguma coisa neles me deixa com a pulga atrás da orelha.
- Chega, Malfoy. Eu sei que você não quer falar nada disso pra mim. Por favor.
- Por que não?
- Sóbrio você não falaria e eu não quero me sentir culpada depois.
- Se sentir culpada por ouvir confissões de um bêbado?
- Eu não quero ser desonesta com você. Se você soubesse quem eu sou não estaria falando nada. Por favor...
- Eu sei quem você é. Eu estou estragando tudo, mas você é uma morena que me fez esquecer o casamento. O engraçado é que foi numa quinta. E no jantar daquela quanta a Granger resolveu falar de infidelidade.
- Quem? O que?
- Granger é a mulher do amigo do irmão da minha mulher. É ela quem sempre me deixa com a pulga atrás da orelha. E ela disse na frente do marido que não achava errado trair. E eu fiquei com aquilo na cabeça. E no dia seguinte eu fiquei com você na cabeça. Mas eu não devia, por que eu sou casado, morena. E a Gina não me parece o tipo de mulher que trai. Eu não tenho ciúmes dela. Eu acho isso estranho, eu costumava ter ciúmes. Eu tenho ciúmes da... Morena, eu não devia estar falando da minha mulher, considerando que eu na verdade estou dando em cima de você.- E enquanto Draco falava todas essas coisas, ele continuava bebendo.
- Malfoy, chega de beber, por hoje.
- Não não. Eu não quero. Não quero mesmo. Eu quero não sentir nenhum músculo. Eu quero ficar todo dormente. E eu só estou falando demais. Tô chato, né?
- Onde é sua casa? Quer que eu te leve pra lá?
- E minha mulher?
- Eu explico tudo pra ela, ela vai entender.
- Eu não quero ir.
- Por favor.
- Certo, então me leva. – Draco falou numa linguagem inintendível como Hermione faria para chegar à sua casa e ela se levantou e tentou colocá-lo de pé.
- Fala baixo, tudo bem? Não faz escândalo, mas nós vamos aparatar juntos. Você paga o garçom e vem andando apoiado em mim até um beco aqui perto.
E ele obedeceu o que ela disse, sem pestanejar e sem processar a informação de que aquela morena era uma bruxa, como ele. E ela fazia uma força tremenda para agüentá-lo nos ombros enquanto não podia usar magia. Aparataram logo que chegaram no beco.
***
Harry foi para casa assim que percebeu que Hermione não voltaria à casa de Luna sabendo que ele estava lá. Tinha sido muito idiota em pensar que ela iria falar com ele pela manhã. É claro que ela aparatou. E é claro que aparataria em silêncio na hora de voltar, provavelmente com autorização de Luna e Cho. Chegou em casa e foi recepcionado por um bilhete de Gina. Ela dizia estar de cabeça quente e que precisava falar com ele.
Ele estava, é claro, preocupado com Hermione. Mas já estava enraivecido pelo fato de ela não falar com ele. E ele tinha Gina. Gina não dava tanta dor de cabeça. O amor e o casamento que esperassem. A companhia da ruiva viria a calhar.
Os dois se encontraram na sala dele, no ministério. E ela disse que naquele dia não queria chegar cedo em casa por nada. Foram para um hotel.
Harry achou melhor não mencionar sua briga com Hermione. E Gina também não mencionou seu desentendimento com Draco. Todas as divagações sobre amor e todas as dúvidas dos dois ficariam em segundo plano. Era hora de sexo, e nenhum pensamento sério atrapalharia.
***
- Sua mulher costuma chegar que horas?
- Eu não sei. – Draco disse, enquanto ia ao armário e pegava outra garrafa de vinho.
Hemione jogou-se num sofá. Não ia fazer Draco parar de beber naquela hora, e só ficava ali por desencargo de consciência. O medo dela era que Gina a reconhecesse. Pensou em tirar o disfarce, mas aí Draco saberia que ela se disfarçava e ia querer saber os motivos... Ele estava bêbado, mas era melhor não arriscar. Em nenhum dos seus sonhos mais antigos ela tinha imaginado que cuidaria de um Draco Malfoy alcoolizado. E a nostalgia foi interrompida por um som de baque de corpo no chão.
Hermione chegou à cozinha e Draco insistia em repetir que estava bem. Ela não soube de onde tirou forças pra levantá-lo. Levou-o ao banheiro e insistiu que ele enfiasse o dedo na goela e vomitasse. Ele não queria.
- Eu não gosto de vomitar, morena. Vômito é para os fracos. E eu sou forte.
- Por favor, Malfoy. Você não está bem.
- Eu não quero.
E ele parecia que ia cair no vaso, quando ela o segurou. Apoiou-o, então, na parede do banheiro e arrancou os sapatos dele. Era bom que ele tomasse um banho frio. Era bom que ele ficasse bem, ou que dormisse. Mas ela não poderia deixá-lo sozinho. Ligou o chuveiro e enfiou-o lá.
Eles estavam abraçados e molhados e Draco não podia deixar de pensar que conhecia aquela morena. Que aquela voz e aquelas mãos e aquela preocupação eram de alguém conhecido. Mas ele estava bêbado demais pra confirmar qualquer coisa. A água corria e ele se sentia um pouco melhor, sustentava-se melhor no próprio corpo e ela continuava ali. E ela estava linda molhada. Ele quis beijá-la. Ele levantou o rosto dela e se aproximou. Ela se virou.
- Você está bêbado.
- Eu sei.
E ele ficava lindo molhado. Ela desligou o chuveiro e não o despiu. Levou-o para o quarto. Deitou-o na cama e secou-o com um feitiço. Era melhor que ele dormisse.
No entanto, ele não dormia. Ele mantinha-se acordado e segurava Hermione pelo pulso. Aquilo tudo começava a doer nela. E ela não queria sentar na cama dele, molhada como estava, mas também não podia se secar. Todo instinto maternal que ela tinha estava à flor da pele e por algum motivo ela precisava cuidar daquele idiota. Ele era um babaca que mexia com ela, afinal. Mesmo bêbado e sem saber quem ela era.
E com ele do lado, olhando pra cara dela, ela entrou em transe. A história toda dos dois de novo passou como um filme diante dos olhos dela. E a história com Harry passava também. E a briga que teve com Harry no sábado. Ela era casada ou não era? Ela podia ou não dizer sim? Ela diria sim quando ela não era ela? E por que, diabos, ela tinha encontrado com ele e ouvido aquilo tudo justo no dia em que ela não queria ser ela mesma?
Deixou-o só por um instante e foi tomar um copo de água. Precisava molhar a garganta e entender de algum jeito o que estava acontecendo. Quarta feira o jantar de aniversário de Rony. Ela não sabia se ia ou não. Ela não sabia se ate lá teria feito as pazes com Harry. Ela não sabia por que se mantinha com raiva. Ela nem sabia se tinha raiva. Ela devia voltar pra casa. Ela não iria. Ele tinha lembrado aquilo tudo e ela precisava de hipocrisia. Ele tinha escancarado e isso doía. Harry não devia machucá-la. Harry era a única pessoa do mundo que não podia machucá-la. Pra ele ela não tinha defesas. E Draco estava lá em cima sozinho. E Hermione voltava ao seu posto de enfermeira. E Draco finalmente vomitou. Hermione teve que limpar, mas com o tanto de coisas que tinha na cabeça ela não se preocupava em limpar um vômito. Ela pensava em Harry. E pensava no casamento e na idéia de família. Afinal, ela devia estar sentindo mais falta de casa do que estava. E ela não devia sequer ter-se sentado com Draco Malfoy.
Ela estava preparada pra toda dor vinda de Draco Malfoy. Ela agüentava. Ela agüentava há muito tempo. Mas Harry não. Harry era o porto seguro e o porto seguro devia ser seguro. E ela se sentia idiota ao perceber que não pensava em Harry como um ser humano. Harry era super herói demais, Draco não, Draco era tão humano que atraia forte. E ele tinha dormido, afinal. Ela tinha então, que dar um jeito de se comunicar com Luna e Cho. As duas deviam estar preocupadas.
Não havia corujas ali. Já estava na hora que ela tinha dito que chegaria. Malfoy dormia. Deixá-lo sozinho não era a melhor coisa a fazer. Hermione não devia, no entanto, abusar da hospitalidade das duas amigas. Transfigurou os cabelos de Diana nos seus, arrancou as lentes, lavou o rosto pra tirar a maquiagem borrada do banho de Draco e desaparatou.


NA: Então, ta aí um capítulo que dói em mim. Eu tenho azia lendo isso. Tomara que vocês tenham gostado. Me avisem, se está bom.
=)
Eu estou sensível.

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