Vinte e quatro horas
Capítulo 10 – Vinte e quatro horas.
Harry acordou sem se mexer. Abriu os olhos e ficou olhando a mulher que dormia. Ela parecia sonhar alguma coisa estranha. Ela não respirava tranqüila. Ela não dormia bem. Ele não tinha dormido bem. Sentou-se na cama. Era dia de ficar em casa.
Os olhos passeavam pelo quarto silencioso. Quando se olha para algum lugar, procura-se algo interessante. Harry não sabia o que interessava no quarto. Perdia-se visualmente. Inventava histórias mentais para cada pontinho na parede. Alguns insetos viviam por apenas vinte e quatro horas. Talvez aquelas vinte e quatro horas fossem chatas. A diversão dos insetos, qual era?
A diversão dos insetos talvez consistisse em apenas olhar a cara feia daqueles seres humanos estranhos. Talvez fosse divertido filosofar sobre o porquê das crianças gostarem de prender insetos num copo. Vinte e quatro horas pra se chegar ao Nirvana. Os insetos, sim, eram felizes. Era pouco tempo. Pouca música ruim, pouca fumaça. Era pouca preocupação e procriação nesse mesmo dia.
Uma vida toda cabia num dia. Um dia era mais importante do que Harry conseguia apalpar. Naquele dia ele não tinha nada pra fazer. Absolutamente. Se não tivesse divagado sobre os insetos e coisa e tal talvez voltasse para a cama e dormisse mais. Ele tinha que inventar alguma coisa.
Hermione Parecia uma pedra. Não acordaria tão cedo. Um banho. Torradas. Dentes escovados. Floricultura e rosa vermelha na cama. Sentou-se na varanda, na companhia de um café. Se não fosse tão caseiro talvez fosse dar uma volta.
Mandou uma coruja para Rony, convidando-o. Edwiges demorou a voltar. O café esfriou e a monotonia continuava. Hermione chegou à varanda despenteada e de pijamas. Abraçou o marido e ficou esperando que ele falasse alguma coisa. Nem sinal da resposta de Rony.
Os insetos continuavam por toda parte. Talvez houvesse reencarnação. Harry não saia do transe e tudo continuava monótono.
- Hermione, se você tivesse vinte e quatro horas de vida, faria o que?
Ela arregalou os olhos. De imediato veio Draco à cabeça dela. Veio vontade de atacar e revelar todos os disfarces. Veio martini, vira-tempo, sexo, livros, abraços, lagoas, viagens. Harry ainda olhava para o nada e Hermione não conseguia falar nada para ele.
- Não sei.
- Não ia ter tempo de pensar no que fazer, você sabe. O que te veio à cabeça?
- Coisa demais, não sei. Eu acho que ia me atrapalhar toda.
- Você tem magia. E vinte e quatro horas.
- É muita coisa.
- Tem que caber num dia. Há insetos que só tem um dia de vida.
- Certamente eu não dormiria.
- Por que não?
- São só vinte e quatro horas. Eu saberia?
- Sim. Estaria ciente e não teria como reverter esse tempo.
- Caramba. O que você faria?
- Iria para um lugar quente, perto do mar, com você e te contaria tudo que já escondi. E levaria o Rony, e a Gina... e a Luna e a Chang. E juntaria todo mundo pra que todo mundo se escancarasse. Como se fosse o juízo final. E pediria pra ouvir todas as verdades que me foram omitidas. Tudo que eu não sabia. Eu ia querer saber de tudo. Eu ia sentir toda dor de uma vez só. E enfrentaria tudo. E morreria limpo. Que eu gritaria tudo pra todo mundo. Até pra você. E eu fumaria. E voaria. E choraria em bicas. Te carregaria pra voar comigo o mais rápido que eu pudesse. Mesmo que você gritasse eu não pararia. E te seguraria firme junto comigo. Pra sentir que você corre o risco por mim. Pra sentir você junto de mim. E a gente iria pra um lugar bem longe de todo o resto do mundo. E se deitaria junto, nu, pra assistir um por-de-sol sem falar nada. Isso depois de toda sinceridade e os cigarros. E nenhum dos dois se incomodaria com cheiros. E talvez eu nadasse nu com você e mais alguém. Nadaria à noite. Escreveria um poema. Daria uma rosa pra cada mulher por quem eu já me apaixonei. E no final, quando já não restasse nada a ser esclarecido nem nenhum abraço ou sexo pendente, eu beberia todo álcool que eu pudesse engolir e morreria bêbado.
Hermione imaginava as cenas todas. As vinte e quatro horas dela seriam bem mais desesperadas e menos poéticas. Ela correria contra o tempo e iria ofegante até Draco Malfoy. E se esqueceria de todas as amarras pra estar com ele e por fim naquele platonismo maldito. E comeria. Comeria tudo que não comeu por se achar acima do peso – como toda mulher. Se entupiria de comida e sexo, até morrer.
- Harry, você me ama? – ela perguntou, automática, no meio do transe.
- Não sei. – Ele respondeu também em transe.
- Por que você diz que quer estar comigo até o fim?
- Você me ama?
- Não sei.
- Você me trai?
- Não.
- Nas suas vinte e quatro horas, me trairia?
- Nas minhas vinte e quatro horas eu pararia de me trair.
- Você se trai?
- Eu finjo.
- Por que?
- Não sei.
- Hermione, você é feliz?
- Quer café? O seu está congelando.
- Fica aqui do meu lado. Eu quero saber. Não preciso de nada palpável. Mas eu quero tudo que é etéreo. Tudo que vem de você.
- Você já me amou?
- Muito. Por que é tão difícil que você se arrisque?
- Eu me arrisco.
- Não. Você finge.
- Finjo.
Harry beijou a mulher instantaneamente. A conversa passava-se por banal, de incômoda que era. Beijo duro. Os dois estavam em transe. Nenhum queria beijo naquele momento.
Ele a puxou e os dois foram para a sala. Ela se punha calada e inerte. Feito uma boneca. O vento incomodava e Harry queria não ter pudor de nada.
- Qual o vínculo que prende você a mim? – ele perguntou.
- Não sei.
- E se eu dissesse que te traí?
- Eu te perguntaria o que é traição.
- E eu diria que eu comi outra mulher.
- E eu diria que isso é normal. Você não casou virgem nem deixou de sentir tesão. E eu não me sentiria traída. Eu não me sentira ameaçada. Eu não me sentiria menos mulher.
- E se eu dissesse que ela é melhor que você?
- Eu te perguntaria por que não passaria as tais últimas vinte e quatro horas com ela. E te diria pra ir atrás.
- Se eu continuasse a te querer, mesmo ela sendo melhor.
- Em segundo plano eu não ficaria. Aí seria traição.
- E se eu tivesse comido a sua mãe?
- Ela não daria pra você. O que te incomoda?
- Você sabe.
- Não, eu não sei.
- Você já deu pra outro cara?
- Sim, e você sabe que sim.
- Enquanto estava casada?
- Estou casada.
- Deu?
- São as tais vinte e quatro horas?
- É a minha paranóia.
- Dei. Dei.
- Como?
- Foi isso mesmo. Eu dei. Não importa como, quando, quem, mas eu dei sim.
- E não se sente mal com isso?
- Me sinto mal por coisa pior.
- O que?
- É meu. E eu não estou a fim de falar. Queria chegar ao limite? Chegou? O que quer agora? Saber as vinte e quatro horas? O nome dos caras pra quem eu dei? Quer que eu faça um catálogo? A lista começa quando eu tinha dezessete anos, o nome do primeiro cara é Harry Potter. Depois vem um tal de Blaise Zabini, inimigo do Harry Potter, por conta de uma tara louca que na época eu não entendia. Aliás, não entendo até hoje. O meu namorado, de quando eu tinha dezoito anos quis que eu desse prum inimigo dele. E eu dei. Me senti uma puta. A pior das criaturas, mas o meu namorado estava triste. O Zabini tinha algo que a ordem da Fênix precisava e o meu namorado na época era tão liberal... Eu não podia dizer não. A gente tava no meio de uma guerra. Eu tinha que ser a puta. Você fez de mim uma puta. Você nunca arriscava o pescoço de ninguém, mas o meu você resolveu arriscar...
- CHEGA!
- Não. Não era a verdade que você queria ouvir? A verdade é que eu não sou uma puta. A verdade é que você é meu amigo e eu nunca quis que você sofresse. Eu casei com você por que me sentia segura. E não queria que você sofresse. E você era minha verdade. Você era quase minha religião. Amor? Amor eu não sei se sentia ou não. Você era meu porto, mas não minha paixão.
- Você era minha paixão.
- Chega Harry. Eu vou tomar um banho. Não vem atrás de mim.
Ela subiu, Ediwiges voltou, e Harry foi visitar os Weasley.
NA- então...
Prometi que esse vinha mais rápido, e veio. O onze, como minhas aulas começam semana que vem, eu não sei quando posto. Mas também não deve demorar muito.
Muito obrigada pelas reviews e eu gostaria de esclarecer que a Gina não é uma pessoa ruim, tadinha. Ela só é meio fútil...
Não sei se vocês perceberam ou procuraram, mas eu postei minhas shorts que ficavam solitárias no meu computador...
Então, se quiserem ler,
Campo de força é uma história sobre a guerra e sobre amor. Femmeslash.
Flores é sobre dor e descobertas. Femmeslash também.
Veneza é sobre um baile de máscaras.
E Bastidores é uma longfic em que a Hermione e o Draco são atores... meio comédia romântica, nada a ver com Quadrilha.
Ah... e semana que vem eu devo postar mais uma short. Comédia (espero), chama-se: Como terminar um relacionamento frustrante e auto destrutivo.
Por último e não menos importante:
Cenas do próximo capítulo...
E é claro que Hermione não atendeu, Harry sabia que ela era teimosa feito uma porta e não atenderia, estando chateada como ela estava. E talvez ele estivesse ali, na porta da casa de Luna, com flores na mão, por um impulso. No entanto, ele não estava preocupado com o porquê de nada naquele momento. Ele só queria a mulher em casa.
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