Clarisse
Gina não tinha dormido. Ficava abraçada a Harry, enquanto ele cochilava. Ainda tinha que inventar uma desculpa. Não vinha nada à cabeça. Estava completamente entorpecida de paixão. Os lábios pareciam frágeis do beijo. Gostava do jeito delicado dele de tocar. Gostava de não ter marcas a prestar contas. Inundava-se de lembranças e vontades enquanto o sol nascia. Tinha que voltar pra casa. Acontece que parecia haver um imã que não a deixava se mexer. Gostava do corpo dele. Gostava de cada pêlo. Gostava de cada mancha mínima. Gostava do gosto da pele dele. Dedilhou-lhe o ventre como dedilharia um violão, se soubesse tocar. O ritmo dos dedos dela despertou-lhe do sono, que era frágil. Estavam novamente postos nus diante um do outro. O sol, ainda preguiçoso, batia amarelo na pele deles. A cor parecia mais bonita que a normal. O cheiro parecia mais fresco.
Cada ato que se seguiu parecia lógico. Ela roubou-lhe um beijo, ele apertou a carne dela, ela puxou-o para junto de si. Os corpos voltaram a se misturar. Pernas e pêlos e pele queimando de novo. As pernas dela envolvendo as pernas dele as pernas dele envolvendo as pernas dela. O roçar de pêlos já fazia o ventre e o peito queimarem. Estavam dispostos de novo. Os dois. Os corpos tão unidos que ele já não tinha como respirar direito. Ofegava. Ela ofegava. Sentia-se suando. Não cessava as carícias. Ele beijava de leve cada pedaço dela. Ela sussurrava qualquer coisa que vinha a cabeça. Punha a mão dele em sua bunda. Ele tinha que apertar ali. Ele tinha que se concentrar ali. Ele tinha que comê-la ali. As mãos dele a contornavam perfeitamente. A boca dela seguia cada rastro de suor. Procurava manchas. As mãos dela dedilhavam pontos de pele. Estava por baixo. Estava por cima. Perdeu a ordem. Perdeu o espaço. Entrou em transe. O ritmo aumentava conforme ela cravava os dedos na cintura dele. Queria levantar. Queria beijar. Queria devolver o prazer e não sabia como. Ele sentia prazer. Os ritmos combinavam. Tudo perfeito. Deviam ter-se encaixado há mais tempo. Os dois gozaram juntos. Deitaram-se, por fim, exaustos, um do lado do outro. Feito dois adolescentes. Ele sabia que ela tinha armado aquilo. Não se importava. Queria talvez mais que ela.
Ele se levantou e foi até o banheiro. Ela foi atrás. Parecia lógico que os dois tomariam um banho juntos antes de voltarem para casa demonstrando total exaustão. Ela entrou no box e ele arregalou os olhos.
-Que foi?- ela perguntou, ainda apoiada na porta.
-Nada. Me desculpa, mas eu queria tomar banho sozinho.
-Por que?
-Gina. Eu estou louco por você. Mas o banho é sagrado. Tenho mania. Desculpa. Não consigo.
Ela saiu pisando duro. Respirava forte pelo nariz. Ele a estava rejeitando depois de tudo? Quem ele pensava que era? Faltava só ter a cara de pau de dizer que era por fidelidade.
Por mais estranho que isso pareça. Harry não tomava banho com Gina por ter feito o mesmo com a esposa na noite anterior. Sentir-se-ia o mais baixo dos homens. Sentir-se-ia um real traidor. Não era um traidor. Não era infiel. Ele acreditava em fidelidade. O jantar de uma semana atrás voltava na cabeça. Aquele assunto incômodo. Ela não acreditava em fidelidade? Será que aquela vadia o traia? Será que traia com mais que um? O que ele diria? Já não podia falar nada. Ele era pior que ela. Ele estava com uma mulher casada. Ele nem sabia se a mulher o traia. Não havia indícios. Ele não tinha indícios. A água caia ininterruptamente e ele só pensava em esconder da mulher o que tinha feito naquela noite. À noite e pela manhã. Queria esconder o sol e voltar no tempo. Sabia que não queria nada disso. Estava confuso, mas saiu do banho e beijou Gina como se ela fosse a única ou a última mulher do planeta. Ela percebeu a fome. Ela respondeu com paixão. Tomou um banho rápido.
***
Hermione encontrava-se sentada na cama. Relia o maldito diário. Maldita paixão. Por que ele tinha que ter dito que era um babaca? Se ela não tivesse se trancado no quarto, teria pulado em cima dele. Desceu esquecendo-se que estava de camisola. Eram seis da manhã e Harry não tinha chegado. Draco ainda dormia. Por mais estranho que isso fosse, Draco dormia feito anjo. O risco da boca dele era perfeito. A textura dos lábios voltava-lhe à cabeça. Ainda lembrava do não beijo. Ainda queria o beijo. Buscou um pêssego e descontou nele toda vontade que tinha da boca dele. Andava de um lado para o outro, tensa. Cada vontade de beijo era uma mordida no pêssego. Não havia pêssego suficiente. Quando caiu em si os pés a tinham levado até a beira do sofá. Draco não abria os olhos. O perfume dele a invadia. Ela já fechava os olhos quando lembrou-se que não podia. Não se conteve. Por mais errado que fosse fazer isso com Harry, tinha que acariciar os cabelos de Draco. Tinham uma textura maravilhosa. Sentiu que ele se mexia e voltou para o quarto.
Draco acordou, ainda custando a abrir os olhos. Estava na casa dos Potter. Já tinha se esquecido. Sentou-se no sofá, ainda meio tonto de sono, e olhou à volta, procurando algum resquício de Gina. Nada dela. Hermione, no entanto, estava a poucos metros. Ele ainda tinha ouvido passos. A sala estava deserta. Não sabia se podia ou não, mas percorreu cômodo a cômodo do primeiro piso da casa. As fotos, na biblioteca, não mostravam qualquer alegria fora do normal. Eram fotos comuns, típica do casal que os Potter faziam.
Hermione viu que Draco estava atento aos livros, quando entrou, já de roupão de seda, na biblioteca. A imagem da mesa, da estante, da camisola e dele a guiaram mentalmente para uma cena lógica:
Draco se virava e a puxava para junto de si. Arrancava o roupão antes que ela pudesse dizer qualquer coisa. Dariam então o beijo que já estava pendente há tempos. Ela já podia sentir as mãos dele lhe apertando com força a cintura, quando foi despertada do transe pelo barulho da porta. Harry e Gina tinham, enfim, chegado.
***
- Sim, eu estou trabalhando na entrevista da Luna. Não dá pra apressar. Ela não é uma desocupada. Não vou forçar a barra. O importante é o que ela tem a falar. Eu conheço a Luna. Não vai sair na pressão. – Hermione dizia para a editora, que insistia em trunfar a cara para ela.
- É bom que a matéria saia.
- A da Gina?
- Que tem?
- Quando sai?
- Jornal de amanhã. As propagandas estão veiculando desde ontem? Por onde andou que não viu?
- Sabe que as quartas-feiras são sagradas.
- Ainda os jantares?
- Tradição de família.
- Ainda não acredito que haja quem acredite em família. – a editora murmurou, como sentença final. Em seguida saiu na direção do elevador, provavelmente cobrar algo do pessoal da gráfica.
Hermione acreditava em família. Como não havia de acreditar? Ela tinha família. Ela e Harry eram uma família. Não era do jeito que ela queria, mas eram uma família. Definitivamente nada era do jeito que ela tinha sonhado. Faltava, não romance, mas paixão. A paixão que ela tinha era impossível de se concretizar, e ela já tinha se acostumado com essa idéia. Faltava paixão. Faltava saudade de casa. Naquele dia ela não estava alegre. Tudo estava pesado. A entrevista de Luna não saia. Nenhuma idéia de pergunta. Nenhuma idéia de base.
Destrancou a gaveta de baixo daquela escrivaninha. Era emergência. Tirou o fundo falso com cuidado. As poções ainda estavam todas ali. Todas bem conservadas. Buscou o vidro verde. Escondeu-o no bolso e avisou na recepção que precisava sair com urgência.
Ganhou a rua sem esporros da editora. Aparatou num beco trouxa. Ainda tinha, na bolsa, um velho cartão de crédito. Torcia pra que ele funcionasse. Entrou numa loja de uniformes. Sentia-se tão adolescente que queria ser colegial. Comprou o uniforme de uma escola católica do centro de Londres. Não vestiu. Colocou-o dentro da bolsa, de qualquer jeito. Entrou numa loja de langerries e buscou uma daquelas avessas ao pudor.
Aparatou no colégio do centro de Londres. Faltava o fio de cabelo ou, quem sabe, uma unha. Analisou cada uma das alunas que via à porta da instituição. Em pouco tempo achou a que se enquadrava no que ela queria. Cabelos lisos e negros, pele rosada, olhos castanhos, tipo comum, pequena. Aproximou-se dela respeitosamente.
- Por favor, pode me conceder um minuto?- perguntou, séria.
- Pra que?
- Faço uma pesquisa, sou jornalista.
- Que jornal?
- Não é londrino, é do interior. Jornal local de uma cidade tão pequena que eu sei que você não conhece.
- Agora faz sentido que você não tenha gravador.
- O orçamento é curto, foi todo na passagem.
- Que quer saber?
- Primeiro o seu nome.
- Clarisse.
- É mesmo inglesa?
- Pais franceses.
- Há quanto tempo mora aqui?
- Nasci aqui.
- É mesmo católica?
- Sempre fui. – Clarisse então começava a desconfiar da tal jornalista.
- E estuda aqui há quanto tempo?
- Essa pesquisa é sobre o que?
- Juventude. Você pinta o cabelo?
- O que isso tem a ver?
- Tem alguma doença?
- Prefiro me privar de responder essas coisas.
- Fala bem. Está terminando o colegial?
- Estou sim, penúltimo ano.
- Já repetiu?
- Minha mãe me mata.
- Mata não.
- É só isso?
- Um instante. – Hermione fez que anotava alguma coisa enquanto Clarisse esperava. – Você tem, por favor, uma presilha para me emprestar?
- Sim. – Clarisse não entendeu, mas tirou da bolsa a borrachinha que estava usando mais cedo, na aula.
Hermione deixou que ela fosse e aparatou num banheiro de um shopping trouxa a quilômetros dali. Arrancou do bolso o vidro verde de poção polissuco e jogou alguns fios do cabelo de Clarisse, que estavam na presilha, dentro dele. Vestiu-se com o uniforme da escola e as langerries recém compradas. Sentia-se colegial ao tomar da poção. Transfigurou a sua bolsa numa mochila de colégio e guardou todos os cacarecos bruxos dentro dela.
O corpo de Clarisse parecia menor que o normal. Os seios de Clarisse eram firmes e pequenos, balançavam pouco. Hermione demorou um tempo a se acostumar a andar de acordo com o corpo e a idade que tinha então. Era hora de escolher a vítima. Tinha cerca de três horas para fazer tudo.
Lembrou de uma fantasia que tinha em Hogwarts. Nunca a tinha concretizado. O shopping talvez não fosse lugar. Aparatou dentro de um banheiro na escola católica. Algumas meninas ainda não tinham ido embora. A Clarisse real, no entanto, já tinha saído há tempos. Hermione andava pelos corredores vigiando olhares. Uma ruiva lançou exatamente o que ela procurava. Sabia, desde sempre, reconhecer o fogo da paixão em olhos de qualquer pessoa.
- Oi!- Hermione disse, dirigindo-se à ruiva.
- Clarisse. Achei que você não fosse mais falar comigo.- a Ruiva parecia ao mesmo tempo surpresa e contente.
- Venha. Preciso falar sério com você. Ninguém pode nos ouvir.- Hermione não conhecia Clarisse, procurava, então, ser mais vaga possível. Ela puxava a outra na direção do banheiro. A Ruiva, quando viu pra onde elas iam, estacou.
- Clarisse, aqui não é seguro. Vamos pra sala de aula.
- Não há ninguém lá?
- Você está cansada de saber que não.
Hermione, então, seguia a moça ruiva. As duas andavam numa velocidade enorme. Hermione não agüentaria se estivesse em seu corpo. Pelo jeito, Clarisse não era muito sedentária. A Ruiva tinha cabelos curtos, na altura do queixo, mais curto atrás, que na frente. O corte e a cor dos cabelos dela, inicialmente, passavam idéia de rebeldia. Não obstante, o modo como vestia o uniforme, os sapatos que usava com ele e os brincos davam uma doçura peculiar à aparência da ruiva, que era muito maior que Clarisse.
As duas chegaram a sala de aula ofegantes. A ruiva ria. Hermione não sabia o que estava acontecendo. Mas continuaria a por o plano em prática. Aproximou-se da ruiva, acariciando-lhe os cabelos. A ruiva ainda ria e recebia a carícia com olhos fechados. Hermione sentia que havia uma coisa bonita no ar. Não sabia o que era. Era puro. A ruiva era doce, bonita e pura. Desejou a boca da ruiva. Uma vontade de comer aquele sorriso. Vontade de ampliá-lo. Beijou a ruiva sem pestanejar.
E beijo de mulher é mais doce e liso. O beijo daquela menina era mais liso e mais casto. Era estranho. Um estranho gostoso. A menina se juntou ao corpo de Clarisse como se estivesse se agarrando à mãe. Era como um bebê. A menina então beijava o pescoço de Clarisse. Hermione desabotoava-lhe a blusa. Gostava de ver aqueles tops que as meninas usavam no lugar do sutiã. Lembrava que ela um dia tinha dito que era mais confortável. Hermione gostava do formato dos seios da ruiva e apertava-os delicadamente, arranhando-os de leve. Por vezes mordiscava o bico. Por vezes chupava os seios da menina. Ela ofegava. Hermione não sabia nada de nenhuma das duas. Aquilo tudo parecia totalmente inconseqüente e a menina, então, despia Hermione. O corpo pequeno de Clarisse era tratado como Éden pela ruiva. O olhar era ao mesmo tempo tão lascivo e puro.
Voltar a ser adolescente fazia bem. Hermione beijou mais uma vez a ruiva. Os olhos da ruiva riam. Ela retomou a conversa.
- Eu não queria ter-te dito não.
- Agora você disse sim. - Hermione começava a entender por que a ruiva e Clarisse não se falavam.
- Eu soube que você tinha ficado chateada. Eu não sabia. Eu perdi a coragem de falar com você. Eu sabia que você achava que eu era preconceituosa. A coisa cresceu. Eu não sou. Se você não tivesse me procurado talvez eu nunca tivesse tido coragem.
- Amanhã você vai ter?
- Vou sim.
- Não conta pra ninguém de hoje. Você sabe como eu sou. Se você demorar sou capaz até de fingir esquecimento. É tudo um jogo.
- Sei... Te conheço. Amanhã eu vou, sim, te procurar. E hoje nada aconteceu. A iniciativa partiu de mim. Vai partir de mim amanhã. Eu te adoro, Clarisse.
- Eu também.
Hermione sentia-se aliviada por não ter que usar feitiços da memória. Por sorte tinha ido ao lugar certo e encontrado as pessoas certas. Conversou ainda um resto de tempo com a Ruiva. Saiu dali faltando alguns minutos para voltar ao normal. Tinha que descobrir onde era a casa de Clarisse. Não foi difícil. Por sorte Clarisse dormia à tarde. Ainda estava dormindo e Hermione transportou a sua lembrança para um sonho da trouxa. Clarisse não podia ser oclumente. Foi fácil.
A bruxa, então, chegou em casa estafada, mas feliz.
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Desculpem a demora.
Aí está, enfim.
No mais: meu blogue é www.alinedias.blogspot.com
se alguém quiser ler e comentar, será feliz!
beijooooooo
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