Coadjuvantes da Guerra

Coadjuvantes da Guerra



Capítulo 5
Coadjuvantes da Guerra

Gina lavou mais uma vez o rosto. Estava com medo da coruja que tinha recebido pela manhã. O que, diabos, Hermione queria? Tinha medo que ela tivesse descoberto tudo sobre a noite que passou com Harry: o plantão, a paixão, a culpa - que Gina julgava dela. Mataria Harry se ele tivesse contado. Só os dois sabiam. Tinha ficado subentendido que era um segredo. Ou não?
Amassou o sabonete com raiva do bruxo que não tinha dado as caras no ministério aquele dia. Por que ele tinha que se atrasar? Era a vez dela de ficar nervosa. Era culpa dele. Culpa de Hermione. Culpa de Draco que não dava conta do furacão. Culpa do fogo. Culpa da crueldade. Não, Gina não era cruel. Era só uma mulher decidida. Não tinha feito nada demais. Não era Hermione quem não acreditava em infidelidades? Achava que não existia o vínculo, ciúme era algo idiota? Ela não poderia cobrar nada de Gina. Ela tinha traído Hary também. Gina sentiu o estômago afundar. Ela não tinha certeza de que Hermione traíra. A roupa não era um indício, assim, tão confiável.
Mais água no rosto.
“Indícios...”
Onde ela estava com a cabeça? Colocar um casamento sólido em risco por conta de um bundão que não podia nem se bancar traindo, nem olhar na cara dela depois de chorar pelo perdão da esposa. Ele não tinha dignidade?
“Indícios... sempre indícios...”
Draco a perdoaria. Não! Ele não perdoaria. Ela não sabia. Hermione talvez já tivesse contado. Hermione talvez nem soubesse. Ela não sabia de nada. Gina não conseguia se concentrar no próprio trabalho e a vista da janela parecia chata. Harry não chegava de jeito algum. Talvez Hermione o tivesse submetido a crucius. Talvez ela não fosse tão libertária assim. Gina só tinha os indícios. Sentiu a garganta se fechando. Estava em pânico. Alguém podia ter visto da janela. Nem lembrava se existia uma janela. Um daqueles quadros podia ter visto alguma coisa e contado a outros quadros.
“Maldito mundo bruxo!’
Se fossem trouxas não haveria problemas com quadros.
Já estava quase na hora de Hermione chegar. Gina passava o tempo treinando feitiço-escudo. Estava com medo, mas não poderia dizer ter-se arrependido. Tinha gostado. Mesmo se Harry tivesse sido babaca de estragar o segredo. Tinha sido excepcional estar com ele. O perigo talvez aumentasse a libido. Mesmo eles não tendo transado, Gina continuava querendo apesar de Hermione. E isso tornava tudo aterrorizante. Ela devia pensar como adulta. Era adulta. Não estava em Hogwarts.
Pensou em com seria divertido ver Hermione-perfeita-Granger se assumindo como uma mulher traída. Sim. Continuava cruel. O medo não lhe tinha tirado o sangue. Sorriu. Olhou no relógio. Quase três horas da tarde. Harry sem dar as caras. Hermione quase ali. Já que era pra ser descoberta sairia por cima. Diria o que Harry lhe disse na cama. Certamente afetaria a outra. Se ela ainda não tivesse contado nada a Draco, não haveria problemas maiores. Chegaria em casa chorando e dizendo da terrível discussão que teve com a Granger, de como se sentia injustiçada e pisada por culpa de uma desconfiança besta, que tinha vindo justo quando Gina só queria trabalhar em paz.
Ainda andava de um lado para o outro.
2:55
Nada de Hermione.
2:57
Talvez a bruxa não quisesse chegar cedo.
3:00
Nada de Hermione. Ela tinha perdido aquela pontualidade que lhe era peculiar. Talvez tivesse desacreditado Harry. Um banana como aquele iria trair logo Hermione Granger?
3:05
Sim. Ela estava graciosamente atrasada. Gina sorria comemorando uma vitória.
3:06
Hermione aparatou dentro da sala de Gina. A ruiva tinha que rever a segurança do local. Talvez até fazer mais feitiços. O incompetente do Harry talvez tivesse perdido o prazo da renovação do feitiço. Não era importante.
Gina sorriu enquanto Hermione ajeitava os próprios cabelos. A bruxa não gostava muito de aparatar. Isso era fato sabido por todos. Devia estar com muita pressa.
- Desculpe-me pelo atraso, querida. - Hermione começou. “querida?”, Gina pensou. Aquilo não fazia muito sentido. A moça de cabelos castanhos devia estar sendo sarcástica.
- É claro. Sem problemas. - Gina fingia uma naturalidade.
- Já deve saber por que vim falar com você. Eu sei que é meio chato, mas tinha que ser você.
- A secretária não me informou ao certo.
- Ah... Não se pode confiar assim nessas bruxas que nem passaram pelo NOMs.
- Bem, o profeta pediu que eu a entrevistasse. - Gina sentiu-se aliviada. Era só uma entrevista. Hermione era jornalista. Mas e Harry? E os Crúcius?
- Sobre?
- Sua vida particular e sua profissão. Algo impessoal.
- Se é você quem vai me entrevistar, creio que não preciso ter medo.
- Claro que não! Não estamos mais assim tão próximas, mas continuamos amigas, não é?
- E não teria por que não ser. - Gina disse, procurando nas feições de Hermione algo que provasse que ela estava fingindo e sabia de tudo. Esse algo não veio. Gina poderia dormir com Harry Potter, teria apenas que tomar um pouco de cuidado para não ser descoberta.
- Podemos, então, começar agora? - Hermione perguntou, tirando da bolsa um pergaminho, uma pena e uma caixinha retangular preta, que Gina não sabia o que era.
- É claro... Hoje estou sem muitos afazeres. É só torcer pra não acontecer nenhum ataque de bruxo das trevas. - Gina sorriu.
- Tenho aqui uma pena que escreve instantaneamente o que está sendo falado, e um gravador. Pretendo usar ambos, se você não se incomodar.
- Claro que não. Mas como funciona o gravador?
- Grava a sua voz e a minha.
- À vontade.
Hermione, então, posicionou-se na cadeira, pediu que Gina se pusesse na posição mais confortável possível, e acionou o gravador e a pena.
- Primeiramente, queria pedir-lhe que não se acanhasse em responder o que pensar. Sabe que eu terei o bom senso de não colocar o que possa te incomodar. Antes da publicação da entrevista vou passá-la para você, para que você a aprove.
- Eu não tenho o que esconder. Quer vida mais comentada que a minha? - Gina deu uma pequena gargalhada e Hermione conseguiu o gancho para perguntar o que queria.
- Isso por você ter se envolvido com Draco Malfoy?
- Creio que sim. Esses bruxos não têm mesmo mais do que falar.
- Na época em que vocês começaram a namorar, você sabia que o Pai de Draco, Lúcio Malfoy, estava envolvido com o Lord das trevas?
- Sabia sim. Quem no mundo bruxo não sabia? Aquela entrevista que Harry Potter deu ao Pasquim e posteriormente a’O Profeta Diário já tinha sido publicada.
- Foi fácil, pra você, encarar isso?
- É claro que não. - Gina jogou os cabelos para trás e ficou muda por alguns instantes, como se tentasse lembrar de tudo. - Já faz muito tempo. Mas eu não podia encarar um comensal como pai do cara por quem eu estava me apaixonando. O Draco era fantástico, era lindo, fofo, apaixonante. Mas Lúcio Malfoy tinha posto o diário de Riddle nas minhas coisas, no meu primeiro ano em Hogwarts. A minha mente ficou totalmente conflitante. Era difícil aceitar Draco. Ele não era diferente da família dele, mas ele me encantava. Eu não sei... Eu tentei me privar da paixão o quanto pude.
- E quando não pode mais? - Hermione perguntava, não só o que fazia parte da pauta, mas o que a interessava, como mulher rejeitada.
- Não sei ao certo. Sei que quando não pude, fugimos juntos. Nos escondemos de todo mundo bruxo por alguns meses. A poção polissuco nunca me foi tão útil. - Gina se lembrava com os olhos sonhadores. Aqueles meses tinham sido de plena lua de mel. Meses de fuga. Era como se ambos estivessem embriagados. Foi a época em que ela esteve mais apaixonada por ele. Antes do alcoolismo, antes das preocupações, antes da primeira celulite.
- Isso quer dizer que sua família foi contra o namoro de vocês? - Hermione fazia perguntas das quais a resposta ela já tinha de cor, mas não deixava transparecer nada. Ali era a repórter, não a Hermione.
- Minha família nem podia sonhar em saber que eu tinha me envolvido com um Malfoy. Afinal, éramos traidores do sangue e os Malfoy eram muito apegados à tradição bruxa. Os ideais das famílias definitivamente não combinavam. Quando minha família soube, já era tarde. Já não havia muito o que fazer. Eu já era totalmente de Draco.
- Draco era um comensal da morte?
- Era.
- Quando você virou auror, efetivamente ele ainda seguia ao Lord das Trevas?
- Seguia. Ele não tinha muita escolha.
- Você sempre soube? - Hermione começava a entender por que a escolhida tinha sido Guinevere Weasley, não ela.
- Sempre.
- Quis entregá-lo alguma vez?
- Não o faria. Ele me dava informações úteis. Mais que isso, eu estava apaixonada por ele.
- Isso foi depois da fuga?
- Depois. Numa época em que nós morávamos juntos, mas só Luna Lovegood sabia, ela era fiel do nosso segredo. Tínhamos que ser muito cuidadosos. Foi uma barra.
- Quando soube que ele tinha se redimido?
- Eu preferia não contar essa história. Draco Não ia gostar de se ver exposto assim em jornal algum. Mas ele não tardou a se redimir. Ele nunca quis, de verdade, ser um comensal.
- Prefere mudar de assunto, então? - Hermione percebeu, pela expressão de Gina, que ela não falaria mais nada à respeito de Draco.
- Seria melhor, para mim.
- Me responda, então, como você encara sua participação na vitória da Ordem Da Fênix na guerra?
- Ínfima. Eu fiz o que pude, mas o que eu podia era muito pouco. Eu nunca fui capaz de matar. Nem o comensal mais sujo, eu mataria. O máximo que eu fazia era azarar alguém... Servi como espiã. Dizia, em forma de desconfiança, as coisas que Draco me contava. Tínhamos, é claro, espiões mais eficazes, o próprio Draco, quando passou para o nosso lado na guerra. Mas tive participação, como todos tivemos.
- E Harry Potter? - Hermione perguntou, fiscalizando o que a pena automática escrevia. Gina sentiu-se gelar. Hermione era melhor do que ela podia imaginar. Tinha esperado o final da entrevista para acusá-la. Depois de ela ter dito tudo sobre Draco. Depois de ela ter autorizado a publicação da entrevista. Hermione não seria capaz de humilhá-la assim, seria?
- O que tem o Harry?
- Como você encara a participação dele na vitória da Ordem? - Gina sentiu-se aliviada.
- Fundamental. Harry deixou de ser o menino que sobreviveu para ser o homem que acabou com as forças das trevas. Venceu o Lord no primeiro ano de escola, no segundo ano, quando ele apareceu no diário, venceu no quarto e ainda conseguiu que, no quinto ano dele, o Lord não visse a profecia. Parecia ser um menino prodígio, mas provou ser mais que isso. Ele lutou sozinho na última batalha. Ele foi o herói, de verdade.
- Claro que foi. Mas não foi herói sozinho. - Hermione retrucou.
- Todos fomos um pouco heróis, todos os aurores, todos que lutaram, todos que não se renderam.
- Aí sim... - Hermione disse, rindo.
- Pois é...
- Gina, qual é, agora, o papel de um auror?
- Agora temos pouco o que fazer... os bruxos das trevas, ou aprenderam a cometer crimes perfeitos, ou estão inativos.
- Que época preferiu?
- Época?
- Prefere ser auror durante a guerra ou durante a paz?
- Durante a guerra. Pelo menos nela não morremos de tédio. - Ambas riram, com o que Gina falou.
- A entrevista é basicamente isso. Agora vem a parte jogo rápido. Eu falo uma palavra, e você diz exatamente o que te veio à cabeça ao ouvi-la.
- Ok.
- Vida.
- Bem traiçoeira... Tenho medo do que ela faz.
- Mágica.
- Útil.
- Sonho?
- Ter tudo que eu quero ao mesmo tempo.
- Guerra?
- Vida.
- Vermelho?
- Paixão, fúria, sangue, unhas. Vem muita coisa à cabeça... cabelos! - A ruiva sorriu, respondendo.
- Amizade.
- Confiança incondicional.
- Amor.
- Tempero da vida. Um misto de amizade e paixão.
- Paixão?
- Sexo.
- Traição.
- Não sei se existe o vínculo que te faça fiel a alguém. Como posso saber se traição existe ou não?

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