Plantão



Plantão

Este é o quarto Augusto. Avisou que vinha.
Lavei os sovacos e os pezinhos. Preparei o chá.
Caso ele me cheirasse... Ai que enjôo me dá o
açúcar do desejo.

Nestas circunstâncias o beija-flor vem sempre aos milhares,
Ana Cristina César


Gina chegou em casa antes de Draco. Ainda pensava no almoço. Harry tinha dito o que ela queria, mas temia ouvir. A questão dos olhos, o jeito que ele olhava, a conversa mais leve e mais erótica. Ela já tinha se perdido. Reparou, no sofá, que estava enterrada naquilo até a cabeça. Ainda não sabia se era paixão. Mas estava certa de que queria tudo ao mesmo tempo e naquela hora. Com Harry sem deixar Draco, com Draco sem deixar Harry. Queria os dois. Queria que nenhum soubesse. Pensava vagamente em Hermione. Talvez, com tudo, perdesse uma amiga. Percebeu que não se importava e sentiu culpa ao ver Draco entrando em casa com uma caixa de bombons. Gina tinha se esquecido, provavelmente, de alguma data comemorativa.
Jantaram e a culpa se esvaiu quando ele contou que os bombons eram para a mãe, que faria aniversário em dez dias. Draco tinha lembrado, mas tinha certeza que ele e Gina esqueceriam ao longo da semana. Tomaram vinho tinto e deitaram-se sem carícias, no dia seguinte ela teria que acordar cedo para ir à ordem da fênix. O plantão já começava às oito da manhã. Ele teria que acordar cedo para acordá-la e andar sem rumo ao longo do dia.
Gina pegou a mala, colocou perfume, desodorante, calcinhas, vestidos, baby doll de seda, camisola de malha gigante para-inglês-ver, casacos e livros de auto-ajuda. Draco acordou e mala da esposa já estava fechada. Ela saia do banho parecendo ter sido lavada com perfume. Ela pôs um vestido preto sério, beijou Draco, e saiu sem café para o trabalho.
Harry ainda não tinha chegado à sede da ordem da fênix. Gina ordenou aos elfos que limpassem tudo, e foi à sala de arquivos. Teve vontade de chorar. Estava tudo uma bagunça e seria ela quem teria que arrumar. Lá havia pistas antigas sobre o paradeiro de antigos comensais. Já estava quase acabando de arrumar tudo quando Harry chegou. O perfume dela tinha ido junto com o pó dos arquivos, o dele enchia o ambiente. Uma coisa cítrica que dava fome a ela. Gina encheu os pulmões daquele cheiro e segurou o ar. Não olhou para trás, mas sabia que ele estava ali.
Ela estava sentada no chão e ele olhava para as costas dela, cobertas, e para a nuca nua, os cabelos estavam presos num nó suado. Ele teve vontade de se aproximar e o fez. Mexeu em alguns arquivos, não falou bom dia, esbarrava nela de propósito, como criança, e olhava de esgueira para os ombros escondidos nas mangas do vestido que ele queria arrancar. Acabaram o serviço ao mesmo tempo. Desceram e foram almoçar, ainda mudos. Ele olhava para ela e abaixava a cabeça, ela olhava para ele de cabeça baixa.
Talvez ele a quisesse mais do que sabia. Ela naquele dia não queria provocar. A situação já dava conta. Ambos sozinhos por dois dias numa casa em que só eles podiam entrar. O segredo estava com Harry dês de a morte de Dumbledore. Fuçaram todos os arquivos e todos os cantos da casa. Novamente aquela sensação incomodante de não se ter o que fazer. Sentaram-se no sofá da sala da mansão Black e continuaram mudos.
***
Hermione acordou quando Harry já tinha ido trabalhar. Ela, no entanto, estava de folga. Resolveu não visitar parente algum. Iria a um pub trouxa. Alisou os cabelos, coloriu-os de vermelho e alongou-os. Fez um feitiço para clarear a pele e pôs lentes pretas de contato. Ela ainda achava que ficava melhor disfarçada de Diana Carter, mas daquele jeito também não estava mal. Pôs um vestido verde tomara-que-caia que ia até os joelhos dela e um par de sapatos cor de palha. Estava bonita e discreta. Deixou a face sem nenhuma maquiagem, estava irreconhecível.
Chegou ao pub por volta das três da tarde e, por alguma coincidência inexplicável, deu de cara com Draco Malfoy. Seu primeiro impulso foi ir ao banheiro e mudar a voz. Depois voltou ao bar e viu que Draco olhava para ela. Sentou-se sem pedir na mesa dele.
- Boa tarde.- Ela disse.
- Boa tarde.- Ele respondeu.- A senhora sentou-se aqui com permissão de quem?
- Do jeito que olhava para mim achei que não precisava de permissão.
- É sempre bom pedir licença.
- É sempre bom ter um mínimo de educação. Vou indo, já que não quer minha companhia.
- Me desculpe. Tome um drink e conversamos, é por minha conta.
- Ninguém paga nada para mim.
- Orgulhosa por que?
- Os caras acham que vão me levar pra cama se me pagarem um drink. Não gosto disso.
- Te ofereci o drink para ser agradável.
- Então a gente não vai pra cama?
- Me desculpe, sou casado. Vai beber o que?
- Por que está sozinho aqui?
- Minha esposa está dando plantão.
- Ela trabalha com o que?
- Quer vinho?
- Não vou beber.
- Detetive.
- Interessante. Poucas as mulheres nesse universo.
- Não sei, Gina não me conta.
- Gina é o nome dela?
- É Guinevere. Gina é apelido.
- Logo supus.
- Vai parecer ridículo, mas eu acho que te conheço de algum lugar.-Draco disse olhando para a face de Hermione.
- Não sei.- Ela tentava disfarçar que estava preocupada.- Qual o teu nome?
- Draco Malfoy.
- Malfoy é um sobrenome inglês? Não é muito comum. Confesso que nunca conheci um Malfoy antes.
- É inglês sim. Uma família até bem tradicional. - O sangue subia à cabeça de Draco, como alguém podia não saber que os Malfoy existiam? - E o teu nome, qual é?
- Samantha Danes.
- Danes é americano?
- Não sei. Nunca procurei saber. Não ligo nem nunca liguei pra nomes. Quem disse que esse é meu nome de verdade?
- Às cegas... - ele murmurou.
- O que?
- Estou às cegas. Nunca te vi, pareço te conhecer. Você se senta aqui e eu tenho que te engolir sem nem saber quem você é.
- Você sabe quem alguém é?
- Talvez eu não saiba nem quem eu sou.
- Então não faz assim tanta diferença.
- É, não faz.- Ele disse pouco antes de o silêncio se estabelecer como predominante naquela conversa. Virou então um diálogo visual. Apenas se olhavam cúmplices. Ela sabendo dele. Ele querendo saber dela. Era certo que alguma coisa ela escondia. Aqueles olhos não pareciam verdadeiros. Quando caiu em si viu que ela o estava seduzindo. Quando caiu em si viu que, pela primeira vez dês de o casamento, realmente queria concretizar tudo.
Não o faria, não podia, não a conhecia. Um milhão de coisas passando pela cabeça. Gina estava no trabalho e quem era ele para traí-la? Ele não podia. Ele não... não nada. Pediu uma garrafa de champanhe que dividiu com a moça muda à sua frente. Ela se mantinha estática e com um olhar fixo que incomodava mais do que se ela o estivesse tocando. Sentia-se descoberto, frágil, vulnerável e nu. Sentia-se culpado por querer sem poder. Hermione sentiu o conflito na testa franzida dele.
- Sua mulher, como está?
- Irregular.
- De mulher não se pode esperar outra coisa.
- Minha mulher costumava ser regular. Esfriou. Às vezes esquenta. Geralmente na mesma época do mês. Briga comigo pelos mesmos motivos e sempre, sempre, sempre tem razão.
- Como?
- Ela tem razão.
- Ainda não faz sentido.
- Não precisa. Ninguém a convence do contrário.
- Cabeça dura, então?
De novo o silêncio veio à tona. Draco não sabia se Gina era ou não cabeça dura. Ela só tinha razão ao dizer pra ele não beber. E dizer que ele chegava tarde. Que ele devia dar atenção. Ao não dar atenção. Ao não fazer o jantar. Ao trabalhar por vezes de menos, por vezes demais. Quem estava certa, se não ela?
- Não. - Ele respondeu. - Ela só tem as certezas que eu não tenho. Acho que foi por isso que eu me apaixonei. - Draco pensava alto na frente de uma estranha.
Hermione sentiu uma pontada ao ouvi-lo falar. Refluxos. Falta de ar e uma compulsiva vontade de beber do líquido que ela tinha recusado há minutos atrás. Bebeu. Olhava para ele despindo-o. Ela não sabia quando Draco Malfoy tinha se tornado uma vítima em potencial. Mas ele o era, então.
Ele aproveitava os segundos em que ela parecia estar distraída para avaliar o formato singelo de seus seios. Tão diferentes dos da esposa, mas não menos provocantes. Sentiu uma pontada colegial e o silêncio voltou a dominar aquela mesa do Pub.
Ela saiu antes que a garrafa de champanhe fosse liquidada e deixou na mesa a quantia, em libras, referente à metade da garrafa. Ela saiu sem falar e ele ficou sem entender. Era tudo tão rápido e tão intenso que ele queria. Queria mais que todas as outras que já tinha visto desde o casamento. Só tinha que descobrir de onde ele a conhecia.
Hermione saiu do pub sem perder a pose e na primeira esquina arrancou os sapatos. Encontrou-se com um amigo de infância que não a reconheceu. Olhou-o de cima à baixo. Ele fez o mesmo com ela. Ela tomou uma dose de whiski às custas dele e atendeu um telefonema fajuto. Chamavam-na no hospital.
Nessa noite ela não tinha feito nada. Seria uma pontada de fidelidade? Seria o vínculo? Seria culpa?
Era falta de tesão. Às vezes enjoava o açúcar do desejo. Ela não entendia por que se tinha dado o trabalho de lavar os sovacos e os pezinhos pra mais um Augusto que ela nem queria. Talvez só houvesse Hermione. Augustos, Pauls e Harrys eram mera diversão.
Não era pra ser assim?
Não era assim mais.
- Não pode ser culpa.- Ela disse, enquanto voltava os cabelos ao original com um feitiço e tirava as lentes de contato. No espelho a imagem de uma Hermione suja. A Samantha não tinha conseguido sobrepô-la desta vez. - Talvez hoje fosse dia para Diana. Talvez devesse ter escolhido a Julia. Sou eu que não dou conta de mim. -Uma lágrima de raiva saiu dos olhos ao seio e ao dedo e ao ralo do Box. Era hora de um banho purificante, afinal.
***

Gina lia um livro daqueles que tinha trazido à ordem. Harry apenas observava. Ele tinha achado que iam ter alguma coisa. Não iam? Ela lia e ele via e queria e sabia que não podia se aproximar. O amigo e a mulher na cabeça. O amigo não era amigo e a mulher nem carinhosa era. Sumiram os dois e ficou o decote e o casaco do outro dia na cabeça. Rodavam ambos com o vermelho do batom de muito tempo atrás e a boca entreaberta de quem está distraída. Parecia pedir um beijo. Veio à cabeça o suor. Veio uma serenata, uma risada, a escola e de novo o vermelho dos cabelos. Mais vermelho de um vestido que ela usou no natal. Vermelho da torta que ela tinha feito há meses. Vermelho. Vermelho. Vermelho. Paixão. Fúria. Sentimentos confusos na cabeça. Calafrios. As mãos de Harry puxando os próprios cabelos. Ela virava uma e outra página, e lia, e bocejava e nada. Lembrou-se dela chorando em seus ombros há tempos atrás. Lembrou-se das flores amarelas. Olhou pro rosto dela, mais vermelho. Olhou as coxas que, pela compenetração da leitora fútil que era Gina, estavam descobertas. Teve fome. Olhava para baixo e para ela repetidamente. Ela. Não havia mais ninguém ali. Só ela. Ele e ela. A boca continuava solta. Ela agora parecia sussurrar o texto do livro. O tempo passava. Ela não se cansava? Ela mudou a posição das pernas para outra, ainda mais provocante. Os lábios tão bonitos. Os olhos tão distantes. O vestido vermelho do natal. Um sorvete de morango em tempos da escola. Vermelho voltando e a fúria não se pode conter. Num impulso aproximou-se e arrancou o livro das mãos dela. Ela riu, surpresa. Não perguntou nada. Ninguém falou nada. Ele pegou no braço dela e foram à sala de arquivos, novamente. Ela consentidamente arrastada e ele pensando na sua própria loucura.
Isolou os braços dela na porta trancada e a beijou. Já não podia mais segurar-se. Ninguém saberia e a língua dela acompanhava bem o ritmo da sua. As mãos dela desprenderam-se e ela se pendurou no pescoço dele, que lhe puxava os cabelos enquanto mordia o queixo.
As línguas, num ritmo lento se perseguiam e roçavam. As línguas cansavam e os lábios se roçavam e se beijavam de leve. Ela abaixou a cabeça e puxou-o pelo braço até o quarto que naquela noite seria dela. Trancaram a porta com dois feitiços distintos. Nem elfo ali poderia entrar. Ele abraçou-a por trás e por trás continuaram nos beijos que iam da boca ao pescoço e às orelhas. Tinham um misto de fome e classe. Ela tirava a blusa dele devagar, sem atropelar nada. Ele procurava o zíper nas costas dela, um pouco sem sucesso.
Caíram na cama pequena que lembrava adolescência vulcânica. Ela arrancou os sapatos com os próprios pés e ele nem lembrava que estava calçado. Ela o beijava rindo enquanto desabotoava o cinto e abria o zíper da calça dele. Deixou-o em pêlos, meias e cueca antes que ele pudesse achar seu zíper. Ainda ria entre um e outro beijo. Aquilo tudo parecia tão maluco, tão certo e tão Hogwarts que ela não podia conter o sorriso. Estava trocando carícias com o amor de sua infância e ele cheirava melhor que qualquer outro. A boca dela estava no ombro esquerdo dele, que ela beijava de leve. A boca dele estava na orelha dela, que ele mordiscava e lambia de leve.
As mãos dele por fim encontraram e abriram o zíper do vestido dela. Ela se ajoelhou na cama estreita. Ele se ajoelhou de frente para ela e foi com a mão em uma das grossas alças do vestido. Empurrou-a, descobrindo um ombro da moça, que beijou-lhe a mão. Empurrou a outra alça e despiu-a. Viam se então apenas com as roupas de baixo.
Ele e ela sorriam um para o outro. Ele pôs seus dedos na bochecha dela e desceu roçando-os em seu queixo, pescoço, colo, seio e barriga. Ela se sentiu arrepiar com o toque leve dele e retribuiu, acariciando-lhe a boca com o polegar e puxando as suas mãos para tatear-lhe as faces e receber beijos sinceros e castos.
Sentia-se uma virgem novamente. Sentia ter doze anos a menos e sentia-se segura. Ele a fazia tão pura e tão criança que ela desejava deitar-se entre os braços dele e ficar ali para sempre. Deitou-se e pôs a cabeça dele em seus peitos.
Ele brincava de fazer círculos na barriga dela com o dedo e ela brincava de cachear os cabelos dele. Aquilo, pra ela, bastava. Pra ele talvez não. Mas ele roçava o dedo indicador de leve de cima à baixo, fazia mil desenhos de cobras, leões, lagartos e nomes. Ela se arrepiava. Um gesto tão puro e simples era tão lascivo que pra ela passou a não bastar. Se arrastou até a boca dele e o beijou como quem morre de fome. Ele devolveu à altura. Ele sentia como se a boca dela derretesse com a dele.
A mão dela então deslizou pelo peito dele e as pontas dos dedos dela contra a pele dele. Os pêlos insistiam em ficar de pé. Não se podiam conter. Ele arrepiava-se quase que loucamente. Os corpos, de tão unidos, esquentavam juntos. Os dois queimavam lascivamente. As mãos e a língua dele a percorriam sem mapa. As mãos dela por hora não sabiam o que fazer. Os pêlos dela se arrepiaram, os seios enrijeceram.
Ela o puxou pela nuca para mais um beijo. Ambos ardiam em libido. Harry deslizou a boca pelo pescoço dela, lambeu e beijou pescoço nuca e ombros. Depois roçava a boca dele no ombro dela. Subiu, mordendo de leve a orelha dela. Ela gemeu baixinho. Ele foi com as mãos às nádegas dela. Os corpos eram quase um só.
Ele tentava se conter pra não fazer o que queria. Mas ela o enlouquecia com o toque quase casto, mas extremamente excitante. Desabotoou-lhe o sutiã e beijou-lhe o seio. Ela respirava alto e gemia baixo. Ele disse baixinho ao pé do ouvido dela:
- Você é a mulher mais bonita com quem eu já estive.
Gina não pode deixar de sorrir um riso irônico. Estava ganhando, pelo menos nesse quesito, de Hermione Granger. Tinha que retribuir aquilo de alguma maneira. Beijou-lhe os peitos, a barriga, descia devagar até o ventre. Arrancou-lhe a cueca, segurou o membro, já duro, dele e colocou em sua boca. Chupava com gosto. Ele tombou a cabeça para traz. Ela sentia prazer em ver a cara dele e sentir seu gozo lhe invadindo a boca.
Dormiram nus e abraçados naquela cama pequena. Eram como dois adolescentes. Acordaram sem lembrar que não poderiam ter dormido. Por sorte o mundo mágico estava em ordem. O mesmo não se pode dizer daquelas duas cabeças.





N/A: Bom, eu devo créditos nesse capítulo. Nc não é muito meu forte... Uma vez um amigo me mostrou um poema que acabou me inspirando. Certamente que o poema é muito mais foda do que eu consegui colocar na nc, mas fiz o que eu podia. Mais que isso não dá, né?
Foi o capítulo mais difícil de escrever até agora e também o mais longo, espero, sinceramente, que vocês tenham gostado.
Um grande beijo,
Anne

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