Uma semana muito prazerosa
Harry se sentou em frente ao prato e ficou olhando para ele sem saber o que fazer. Estava confuso! Agora ele entendia porque não conseguiu deixar de confiar na mulher que entrara na cozinha de sua tia olhando-o com desdém, mas ainda não conseguia entender o que estava acontecendo!
-- Como...? Como sabe meu nome? Minha tia não o mencionou nenhuma vez enquanto estava na casa...
-- Não foi difícil descobrir seu nome depois dos gritos do seu tio dois dias atrás... – a garota disse com um sorriso jocoso. Contudo, seu tom de voz ficou receoso ao continuar – À propósito... Desculpe pelo modo como me dirigi à você e da insensibilidade ao mencionar seus pais. Achei que seria o único modo de seus tios confiarem em mim...
-- Tudo, bem... – Harry disse um pouco sem jeito. – Mas obrigada por dizer isso...
-- Posso perguntar como eles morreram? – a garota se sentou ao lado dele.
-- Assassinados! – Harry disse e se espantou ao perceber como isso soava normal depois de tudo que enfrentou nos últimos anos.
-- Sinto muito! – a garota parecia realmente penalizada – Você já deve estar cansado de ouvir isso, mas espero poder te ajudar de algum modo caso precise...
-- Não! – Harry disse apaticamente assustando a garota – Não costumo ouvir muito isso. É bom... Mesmo depois de dezesseis anos...
Depois de um momento que ambos acharam constrangedor, a garota estendeu a mão e disse:
-- Há só mais uma coisa a fazer... Meu nome é Pâmela!
Harry apertou a mão que lhe foi estendida e olhou Pâmela nos olhos. Mais uma vez viu aquele brilho que o fazia confiar totalmente nela, até parecia magia. Nunca encontrara um trouxa assim. Seu sorriso era sincero, seus olhos quase transparentes e suas atitudes verdadeiras. Ela lhe lembrava um pouco Hermione. Extremamente autêntica e segura de suas ações...
-- Bom, por onde quer que eu comece? – Harry disse enquanto finalmente comia um pedaço da fatia de bolo que Pâmela colocou em seu prato...
-- O quê?! Ah! Bom, bem que eu preciso de uma mãozinha, mas eu só disse aquilo para te tirar daquela casa. Meu plano é te deixar estudando, você tem que estudar, não é? Bom, você estuda, eu faço minhas coisas, tomamos café, almoçamos, jantamos e eu grito qualquer coisa de vez em quando pra seus tios não perceberem...
-- Sério?! Por quê?
-- Não sei! Fui com a sua cara, eu acho... – Pâmela respondeu displicentemente ao colocar outro pedaço de bolo no prato.
-- Não posso aceitar... Você vai me dar comida, um lugar para estudar e horas de fuga... Tenho que te pagar de alguma forma. Que tal eu te ajudar na mudança durante a manhã e estudar depois do almoço?
-- Não vou negar uma ajuda tão bem intencionada. Eu aceito! Mas temos que combinar tudo direitinho para seus tios não desconfiarem... – Pâmela se levantou e levou Harry até o outro lado da casa. – Aqui seus tios não podem enxergar o que é feito, então vou deixar a mudança desse cômodo por último, oK?
Pâmela abriu a porta e mostrou um quarto de esquina com uma varanda que levava aos jardins do fundo. Era de tamanho mediano e a garota já havia colocado uma mesa, uma cadeira e um abajur.
-- Espero que não se importe de eu ter adiantado algumas resoluções. De dia faz bastante calor e a claridade é boa, mas para dias de chuvas e para o anoitecer deixei um abajur para te auxiliar.
-- Por quê está se esforçando tanto? – Harry a olhou realmente desconfiado desta vez.
-- Por quê? Não posso ser boa para alguém que merece?
-- Não estou acostumado com isso...
-- Sinto muito em ouvir isso, mas não posso fazer nada a não ser esperar pacientemente que confie em mim. Com o tempo você verá que faço isso por bons motivos, mas por hora você só tem a ganhar...
Harry não disse mais nada. Não se sentia bem desconfiando dela, mas se ela soubesse pelo que ele passara, entenderia...
-- Bom, agora temos que ir com calma... – Pâmela mudou de assunto, novamente de forma displicente demais para o gosto de Harry - Terá que agir com cautela e trazer seus livros sem que seus tios vejam e um de cada vez. Toma, pega essa chave, ela tranca a gaveta da escrivaninha dessa sala. Não se preocupe, essa é a única chave e poderá deixar suas coisas aqui com toda a privacidade que quiser...
-- O...obrigado! – Harry disse espantado
-- Além disso, terá que parecer estar detestando vir aqui, isso garantirá sua permanência, e eu terei que berrar de vez em quando, como agora, por exemplo. – Pâmela limpou a garganta e gritou – POR QUÊ EU FUI PEDIR SUA AJUDA PARA ISSO. EU DEVIA SABER QUE NÃO FARIA DIREITO. SAI DAQUI! VAI PEGAR AQUELAS CAIXAS NA SALA!
Harry segurou o riso para ele não ecoar muito alto da casa ainda sem mobília. Nunca pensou que teria momentos tão prazerosos quando acordou aquela manhã.
A semana passou como o um furacão. Harry ia dormir cedo só para que a manhã seguinte chegasse rápido. Pâmela era divertida, inteligente e gentil. Fazia-o se abrir sem que ele percebesse, deixando-o à vontade e seguro. Era bom ter alguém com quem conversar. Por semanas não tinha notícias dos amigos pois havia liberado Hedwigs para caça e não estipulou data para a coruja voltar e telefonar para Mione da casa dos Dudley não era uma opção.
Todas as manhãs Harry ajudava Pâmela a montar estantes, pintar paredes ou mover os móveis. Depois a ajudava a preparar o almoço e por fim ia estudar no escritório. Normalmente, no final da tarde ele ouvia uma batida na porta do escritório e sabia que Pâmela esperava calmamente ele dizer que podia entrar. Quando ele abria a porta ela entrava com uma bandeja de chá e biscoitos. Muitas vezes ele sentia um calor materno em suas atitudes. Harry se pegou pensando se não seria bom ter tido uma irmã mais velha. Ele não conseguia impedir pensamentos de como seria que sua mãe agiria no lugar de Pâmela. Ela também lhe traria lanche de tarde? Seria companheira? Harry tinha certeza que sim...
A convivência com a vizinha o tornou menos cético e mesmo a desconfiança quanto aos motivos dela agora não passava de curiosidade remota. Harry acreditaria piamente em tudo que Pâmela lhe dissesse, pois havia muito tempo que não se sentia tão em casa...
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