Nº 5
Harry estava sentado no jardim do fundo da Casa 4 da Rua dos Alfeneiros, tentando, com certo sucesso devo acrescentar, permanecer invisível aos seus parentes. Lia um dos textos que o professor Snape havia passado para as férias e finalmente conseguia entender uma das passagens sobre o Visgo Montanhês. Tal façanha só estava sendo possível devido ao interesse quase que pleno de Tia Petúnia ao movimento da casa ao lado.
Harry podia ver a sombra da silhueta de sua tia aproximar-se da janela da cozinha a cada minuto. Hipocritamente, ele reclamava seus direito à privacidade, principalmente após a chegada de Harry, mas não achava que qualquer outro morador da rua estivesse interessado no mesmo.
-- Petúnia, o meu café!!! – Harry ouviu Tio Walter guinchar impaciente.
Já fazia dois dias que caixas de papelão e alguns móveis antigos haviam sido despejados em frente a casa nº 5 da Rua dos Alfeneiros e a distração de Tia Petúnia já estava deixando Tio Walter mais carrancudo que o normal.
Para Tia petúnia era a sensação do momento ter alguém sobre quem falar depois de anos que a casa estava desabitada. Mas para tio Walter era só mais uma chance de alguém descobrir o segredo que guardavam a dezesseis anos...
-- Onde está aquele moleque? – Harry ouviu o tio novamente
-- Está no jardim estudando... – Antes mesmo de terminar de falar, Tia Petúnia se deu conta do que dissera e Harry fechou os olhos esperando o pior.
-- ESTUDANDO!!!!!!!!! COM OS VIZINHOS EM PLENA MUDANÇA?!!! HARRY!!!
Harry fechou os livros e guardou o tinteiro o mais depressa que pôde, mas não foi rápido o bastante para entrar na casa antes que o tio surgisse no jardim expondo sua jugular saltada no pescoço lívida de raiva .
-- Saia já daí!!!
Harry não disse nada, apenas passou o mais rápido que pôde pelo tio e entrou, ficando ao lado da porta de entrada da cozinha.
O tio entrou e sentou-se novamente na mesa do café-da-manhã, agarrando uma torrada com geléia e esmigalhando-a entre os dentes. Harry fez menção de ir para o quarto, mas o tio o impediu.
-- Fique aí! Você vai lavar a louça depois do café! E feche essa maldita porta!!!
O rapaz foi até o trinco e o empurrou, mas antes de fechar a porta da cozinha, pode ver, enquanto a fresta diminuía, uma silhueta de mulher próxima a janela da cozinha da casa nº 5. Parece que tia Petúnia deixou de ser a curiosa, para se tornar a curiosidade.
***
Um dia se passou desde o incidente no jardim e Tia Petúnia voltou ao seu lugar junto à janela da cozinha. Até tinha reposicionado sua cadeira de costura para que fizesse seus trabalhos manuais lá mesmo. A velha mexeriqueira já estava ficando frustrada!
-- Quem é afinal? – Ela dizia para Harry, enquanto ele lavava a louça do almoço. – É muito rude da parte deles, se é que é eles, não virem se apresentar depois de três dias.
Harry sorriu. Ele sabia que era “ela” e não “eles”, mas gostava de acreditar que sabia mais que os tios para variar.
-- Não devem ser boas pessoas, aposto! – A tia continuou – para serem tão negligen... Ah, meu Deus! É uma moça! Ela está saindo... Está... Está vindo para cá! Walter!!!
Harry pôde ouvir o livro que o tio fingia ler estatelar-se no chão com o susto que levou.
Sua tia correu para a porta da sala e assim que a campainha soou ela já estava atendendo. Harry ouviu murmurinhos gentis e sua tia convidando alguém para entrar. Em poucos segundos ouviu sua tia voltar para a cozinha e voltou-se para ver o que estava acontecendo.
Sua tia estava com uma caixa de padaria na mão e logo atrás era seguida por uma moça de cerca de 20 anos. Cabelos longos e negros, jovial e simpática. Ela olhou de relance para Harry e ele pôde ver a beleza de seus olhos. Eram pretos, mas algo os fazia brilhar, quase ficarem transparentes.
-- Espero que goste de torta de morango, Sra. Dudley. – a voz soou macia, mas levemente brincalhona.
-- Claro que sim, querida! Venha se sentar!
-- Seu filho é muito prestativo! Conheço poucos que ajudariam a lavar a louça!
-- Ah, esse não é meu filho. – Tia petúnia disse em um tom quase enojado. – É o meu sobrinho. E só está fazendo isso porque mandamos. Ele é muito rebelde. Seus pais morreram e ele foi destinado à nós. Só dá desgosto e esse é um dos modos que temos de dar-lhe uma lição.
-- Ah, que horror! Deve ser um estorvo... O que os pais pensariam dele! Devem estar rolando na tumba!!!
Harry estava agüentando o máximo que podia, mas não suportaria que uma estranha mencionasse a morte de seus pais assim tão levianamente. Ele voltou-se para dizer poucas e boas, mas os olhos da moça o fizeram se calar. Eram os olhos mais expressivos que já vira. Lhe diziam para ficar quieto e confiar nela. Como?
-- Se quiser, sra. Dudley, posso ajudá-la com o castigo! – o mulher disse ainda olhando para Harry – Tenho muito trabalho pesado na reforma la de casa e estou fazendo tudo sozinha. Poderia usá-lo e assim ele não se meteria em encrenca.
--Ah, eu não sei! Seria um estorvo para você – Tia Petúnia estava genuinamente preocupada, mas não com a vizinha. – tenho que falar com Walter!
-- Não se preocupe, eu espero!
Tia Petúnia se retirou e antes que Harry dissesse algo, a moça pousou o dedo indicado no lábio e pediu silêncio. Logo sorriu e Harry não pôde deixar de confiar nela. Os dois ouviam a discussão do casal na sala ao lado e logo perceberam que Harry teria novas tarefas pela frente.
Quinze minutos mais tarde, Harry estava andando ao lado da vizinha na calçada, indo em direção a casa nº 5, com a promessa de que voltaria a tempo de lavar a louça do jantar.
O rapaz foi levado até a sala e deixado no meio de caixas e móveis encapados. A vizinha foi até a cozinha e nem sequer lhe dirigiu um olhar...
-- Anda, moleque! Vem aqui!!!!
Harry entrou na cozinha – a única parte realmente arrumada e limpa da casa – e se deparou com uma mesa posta par duas pessoas. No centro havia um suculento bolo de chocolate e em um dos pratos havia algo escrito com calda de chocolate. Espantado, Harry olhou para a mulher que agora lhe sorria contente e leu novamente o escrito do prato: “ Seja Bem Vindo, Harry!”
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