a mulher na arvore

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"agora começa relament a acontecer eu sei q vcs devem estar com varias duvidads sobre tudo isso "essa fic e meio chata nos primeiros cap mais eu garanto:vale apena le-la___________________________________________________
Capítulo 6: A Mulher Na Árvore


“So I try to be like you
Try to feel it like you do
But without you it's no use
I can't see what you see
When I look at the world”



“Então eu tento ser como você

Tento sentir com você sente

Mas sem você é inútil

Eu não posso ver o que você vê

Quando eu olho para o mundo”

(When I look at the world – U2)



Os primeiros raios de sol invadiram silenciosamente a sala do apartamento de Draco Malfoy através da cortina entreaberta. Ele piscou seus olhos repetidas vezes, tentando acostumar-se à nova claridade. Ainda tentou perder-se de novo no sono, mas acabou chegando à conclusão de que era impossível. Demorou alguns segundo, contudo, para entender o que tinha acontecido, entender por que ele estava deitado no chão da sala, em uma posição estranha, com suas mãos cheias de cortes marcados pelo sangue coagulado. Levantou a cabeça vagarosamente, olhando ao redor, vendo o ambiente parcialmente destruído. Notou os pedaços de vidro da garrafa espalhados pelo piso, perigosamente perto de seu corpo. Viu a mesa virada e os objetos que costumavam ficar sobre o aparador, espalhados, quebrados. Ele se lembrava. Por mais que quisesse esquecer, que quisesse fingir que a conversa da noite anterior nunca ocorrera, ele se lembrava.

Ergueu-se do chão um pouco tonto. Sua cabeça girava e parecia que iria explodir de tanta dor. Ele sabia que não tinha nada a ver com a bebida — não ingerira o suficiente para ter uma ressaca — e sim com o fato de que pela primeira vez em sua vida, Draco Malfoy havia chorado até dormir. Até mesmo seus sonhos foram estranhos e perturbadores. Ele aparecia sempre procurando por ela, sem nunca encontrá-la. Acordou com uma sensação ruim, como se não tivesse conseguido dormir nem um minuto. Estava arrasado.

Caminhou devagar, tentando manter o equilíbrio, até o banheiro apenas para descobrir ao se olhar no espelho que ele não só se sentia arrasado, como também parecia arrasado. Seu rosto estava vermelho e inchado. Seu cabelo espetava-se em todas as direções. Sua camisa estava suja de sangue e de vinho e suas mãos estavam num estado de dar pena. Ele era a imagem do desespero.

Fechando os olhos, Draco ligou o chuveiro e não perdeu tempo em tirar a roupa e se colocar debaixo d’água. Sentiu-a em rajadas quentes, massageando suas costas, mas a sensação não provocou nenhuma melhora no seu espírito. Não conseguiu na realidade pensar em nada que pudesse fazê-lo sentir-se melhor. Apenas terminou o banho, limpando seus cortes e ignorando a dor e o vazio. Ainda sentia-se desamparado e esse era um sentimento inteiramente novo.

Voltou para o quarto, deixando um pouco de água pingar pelo chão. Sequer percebeu. Abriu o armário e viu suas vestes separadas. Estava sem ânimo para vesti-las. Estava sem ânimo para fazer qualquer coisa. Era como se ele tivesse morrido e seu corpo simplesmente não tivesse recebido uma notificação oficial. Não tinha idéia de como conseguiria trabalhar naquele dia. Não queria sair de casa. Queria apenas deitar-se na cama, encolher-se numa pequena bola e ficar assim, sem pensar em mais nada, escondendo-se do mundo.

Com um suspiro final, decidiu que era exatamente isso o que ele ia fazer. Todo o ódio, a raiva, a vontade tinham sido temporariamente esquecidos. A única coisa que restara era a consciência escruciante de ela estava morta. Agora Draco conseguia entender o desespero dos pais de Lindsey. Desaparecida não era pior do que morta, porque ainda dava lugar à esperança, mas que tipo de esperança ele poderia alimentar diante da morte? “A esperança de matar o desgraçado que fez isso”, ele pensou imediatamente, mas, em meio ao seu luto, esse foi um pensamento vazio, porque no fundo, ele sabia que nada poderia trazê-la de volta. Para a morte, não há consolo.

Malfoy dirigiu-se, então, para a cama, deitou-se e fechou os olhos, fazendo o possível para esquecer que sequer havia um mundo ao seu redor. Estava tão exausto que adormeceu quase que instantaneamente. Acordou uma hora depois, com o barulho do seu despertador. Xingou mentalmente o raio do aparelho e, para completar o acesso que tivera na noite anterior, jogou-o contra a parede. Deixou-se cair de novo no travesseiro, tentando voltar a dormir, mas pensou que se não aparecesse no escritório sem dar alguma satisfação, alguém viria procurá-lo e a última coisa que Draco queria era uma pessoa dando uma olhada no estado do seu apartamento no momento. Lutando para controlar-se, então, Malfoy saiu da cama e foi até sua escrivaninha, pronto para rabiscar um bilhete a Anne com uma desculpa qualquer e mandá-lo via coruja. Quando aproximou-se da mesa, entretanto, notou algo que não estava ali na noite anterior. Na realidade, era algo que nunca estivera ali antes e que não deveria estar agora: um envelope grande, branco, com o seu nome escrito numa caligrafia desconhecida no lugar reservado ao destinatário. Alguém entrara na sua casa enquanto ele estava dormindo para deixá-lo ali. De alguma forma, esse pensamento fez a mente de Draco despertar um pouco do seu estado de torpor. Ele não poderia permitir isso, poderia? Ninguém tinha o direito de invadir seu apartamento daquela forma! A raiva começou a preencher de novo o seu peito e, pela primeira vez, isso foi uma boa coisa, porque, se havia algo capaz de mantê-lo vivo a partir daquele instante, era a raiva. E somente ela.

Decidido, Malfoy pegou o envelope e o levou de volta para a cama, abrindo-o avidamente. O conteúdo que ele revelou, contudo, foi uma surpresa. Draco não sabia ao certo o que esperava, na realidade. Talvez uma carta ameaçando-o. Talvez uma carta se vangloriando. Talvez... Mas definitivamente, ele não esperava ver o mapa de um parque chamado Parque de Gilwell. Ele não conhecia o lugar. Nunca ouvira falar e, por isso, deduziu que fosse alguma localidade trouxa. No mapa, havia um lugar, assinalado com uma cruz. Além dele, havia uma pequena nota, que dizia: “Quer ter certeza de que eu falo a verdade? Procure-a no parque, no local marcado. A árvore é um grande carvalho. Não há outro igual por perto”.

Tremendo, Draco deixou o papel cair no chão. Olhou de novo para o mapa, fitando a cruz: o fim do caminho, a faixa de chegada. Estava tudo por terminar. Era ali que ele a encontraria.

Seu primeiro impulso foi levantar-se, vestir-se e procurar o parque imediatamente. Quando já tinha vestido metade das roupas, contudo, percebeu que essa era uma idéia estúpida. Podia ser uma armadilha. Ele não tinha idéia de onde era o lugar. Como ele entraria lá? Como ele a tiraria de dentro da árvore? Sob todos os aspectos, sua situação não era boa. Ainda mais com os aurores vigiando seus passos. Como ele conseguiria os recursos necessários? Era impossível. Ele não podia fazê-lo sozinho.

Mais tarde, Draco pôs a culpa pela decisão que tomou no cansaço, na tristeza, no desespero. E ele se arrependeu, com certeza, mas, naquele momento, não conseguiu vislumbrar outra saída: terminando de se vestir, Malfoy pegou sua varinha e aparatou direto à porta da casa de Ronald Weasley. Um pouco hesitante, levantou a mão e bateu de leve. Sem receber uma resposta imediata, repetiu o gesto, dessa vez com mais confiança. Alguns instantes depois, ouviu o som da fechadura sendo destrancada e, em seguida, a figura de Granger segurando uma criança no colo apareceu pela abertura.

— Malfoy?! — ela meio exclamou, meio perguntou, a surpresa evidente na sua expressão. Draco teria se divertido com isso se a situação fosse outra, mas, no momento, ele não sentia vontade alguma de se divertir com o desconforto alheio.

— Bom dia, Granger — respondeu sem nenhuma sombra de malícia — Nós precisamos conversar.

— Hã... sim, claro. Entre — ela disse após uma pequena pausa, dando espaço para que ele pudesse passar. No interior, a voz de Rony pôde ser ouvida:

— Mione, quem é que...? — ele começou, mas parou logo que chegou na sala e viu o visitante inesperado — O-que-você-quer-aqui? — ele perguntou, por entre dentes trincados.

— Rony...

— Não, Mione. Não comece. Eu quero saber o que é que esse desgraçado está fazendo na minha casa!

— Weasley — Draco respondeu sério — acredite, eu não estou nem um pouco feliz com isso, mas no momento, vocês são as únicas duas pessoas que podem me ajudar. Só pelo simples fato de eu ter admitido isso, você pode imaginar que o assunto é sério!

— Ou é sério, ou é uma armadilha. Eu não consigo imaginar nada que seja sério o suficiente para você engolir o seu orgulho e bater na nossa porta!

— Weasley, entenda uma coisa sobre mim: eu sou um canalha. Até eu mesmo reconheço isso, mas o que você não sabe ou em que não consegue acreditar é que eu seria capaz de vender a minha própria alma para o diabo em pessoa se ele pudesse me dizer onde a sua irmã está — Draco respondeu sem gritar, com uma expressão que beirava o desespero no rosto. Talvez tenha sido essa imagem, a imagem de um Malfoy completamente diferente da que Rony tinha se acostumado a odiar, que o fez ficar quieto e não retrucar. Seria possível que ele estivesse falando a verdade? Weasley nunca se perguntara isso antes. Apenas assumira o pior.

— Você tem alguma pista? — Mione perguntou.

— Sim — Draco engoliu em seco — Eu tenho o que possivelmente é a localização do... — sua voz vacilou — do corpo dela — sussurrou. Granger fez uma cara de choque e o sangue subitamente pareceu fugir da face de Rony.

— Como você conseguiu isso? — Weasley perguntou.

— É uma longa história.

— Então, conte-na.

— Está bem — Malfoy respondeu, sentando-se sem esperar um convite. Ele sabia que teria que começar do início. Omitiria apenas que fora Colin quem lhe dera a dica. Não seria bom que o acordo dos dois se tornasse de domínio público.

— Só um minuto. Rony, você pode levar John para o quarto? A conversa pode acordá-lo...

— Mas, Mione, eu também quero ouvir!

— Ai, o Malfoy vai esperar até você voltar! Ande logo — ela mandou, passando a criança adormecida para os braços do marido, que lhe lançou um último olhar contrariado e saiu da sala. O menino tinha uns três anos e era o primeiro filho dos dois. Draco observou a cena com uma grande tristeza. Fechou os olhos e apoiou a cabeça com a mão, desejando possuir um vira-tempo para poder voltar atrás e fazer tudo diferente. Hermione o examinou cuidadosamente enquanto permaneciam em silêncio, mas não o interrompeu, e por isso, ele lhe foi grato.

Assim que o outro voltou para sala, eles se sentaram também cada um em um sofá diferente e fitaram Malfoy esperando.

— Como é? Você vai ou não vai nos contar a ‘longa história’? — Rony perguntou por fim, impaciente. Draco abriu, então, os olhos e, ignorando o tom desrespeitoso do outro, iniciou:

— Bom, tudo começou com o recorte de jornal. O recorte que eu entreguei a vocês... — e ele continuou falando tudo: falou sobre sua visita ao local, sobre o corpo que sumiu e as conclusões do legista. Falou sobre os arquivos desaparecidos, sobre Lindsey Morgan, Hannah Abbott e Emma Dobbs. Omitiu apenas sua esperança de conseguir os arquivos originais através de Matt. Não queria comprometer a posição de O’Brien. Por fim, falou sobre a voz ao telefone e sobre a derradeira conversa na noite anterior. Em várias ocasiões, pensou que Weasley não fosse agüentar ouvi-lo sem se manifestar. Viu o outro quase pular da cadeira mais de uma vez, mas, de alguma forma, ele conseguiu se controlar e ficou quieto. Quando ouviu sobre as conversas ao telefone, contudo, foi Granger que não conseguiu ficar calada:

— Mas como você não notificou ninguém sobre isso??? Que absurdo! Malfoy, o que você estava pensando???

— Eu não sabia que ele era o assassino! — ele respondeu defensivamente.

— Mas mesmo que não fosse! Nós podíamos ter gravado as conversas! Podíamos ter usado um identificador de chamadas, podíamos...

— Um o quê?

— Um identificador de chamadas! Serve para descobrir o número da pessoa que ligou! E, com o número, nós podemos descobrir o endereço!

— E como eu ia adivinhar isso? — ele perguntou, relutante em admitir seu erro.

— Você não precisava adivinhar! Bastava ter pedido ajuda!

— Ora, Granger, por favor... Eu só estou aqui porque a situação é desesperadora. Por que viria antes?

— Mas, Malfoy...

— Isso ainda não me diz como você sabe o lugar onde está o corpo da minha irmã — Weasley interrompeu numa voz extremamente controlada. Ele estava fazendo o possível para manter seus nervos sob controle.

— Quando eu acordei hoje de manhã, achei isso — Draco jogou na mesa de centro o envelope que trouxera consigo — sobre a minha escrivaninha — Rony imediatamente esticou o braço e pegou-o.

— Parque de Gilwell... Você sabe onde fica isso, Mione?

— Sei — ela respondeu, mudando de lugar para também poder ver o mapa e o bilhete — Nós temos que montar um time imediatamente.

— Eu sei.

— Também temos, Malfoy, que montar um campo anti-aparatação no seu apartamento e grampear seu telefone imediatamente.

— Er... isso vai ser meio difícil, Granger.

— Por quê?

— Meu telefone quebrou.

— Quebrou?!

— É, Weasley. Quebrou. Parou de funcionar. Escangalhou.

— Eu sei o que quebrar é, Malfoy! Só quero saber como! Afinal, estava funcionando bem ontem, não estava?

— Estava, mas desde então houve um pequeno acidente.

— Acidente?

— Sim. A parede se chocou contra o aparelho.

— O quê?!

— Não me interessa o que houve, Malfoy. Apenas compre outro telefone! Você vai precisar de um. Agora, vamos. Você também, Malfoy. Você vai conosco para o Ministério porque nós precisamos do seu depoimento por escrito. Só temos que deixar Johnny na casa da babá antes...

— Eu vou direto para o Ministério e espero lá, Granger — Draco a interrompeu, levantando-se. Realmente preferia ser poupado de mais algumas cena familiares — Até logo — ele completou, aparatando antes que qualquer um dos dois pudesse impedi-lo.





A burocracia estava levando Draco à loucura. Já haviam se passado três horas desde que ele chegara ao Ministério e todo esse tempo fora gasto primeiro com as preparações para o seu depoimento e depois com o depoimento em si. Apenas agora que ele havia assinado a declaração oficial, os aurores começariam a montar o time para ir até o Parque de Gilwell. Ainda havia muito o que fazer e Malfoy sabia que teria que esperar.

Dirigindo-se, então, para a sala de espera, onde Granger queria que ele ficasse até que tudo fosse decidido, ele mal pôde conter uma exclamação de surpresa.

— O que eles estão fazendo aqui? — perguntou ao ver através do vidro os rostos preocupados de quase todos os Weasleys e de Potter.

— Como assim o que eles estão fazendo aqui? Eles são a família dela também! — Hermione respondeu. Seu marido havia ficado para organizar o time. Quanto menos tempo ele e Draco passassem juntos, melhor.

— Mas vocês tinham que chamar logo todo mundo? — Malfoy não conseguia explicar porque se sentia tão incomodado com aquilo. Talvez a presença de todos ali tornasse tudo real demais.

— Rony e eu achamos que eles tinham o direito de saber!...

— Não estou questionando isso, Granger — ele estava começando a ficar com raiva — Apenas acho essa história um pouco precipitada! E se tudo não passar de um alarme falso?

— Você realmente acredita que isso é provável, Malfoy? — Mione perguntou com uma voz triste, mas firme. Draco não respondeu. Tampouco conseguiu entrar naquela sala cheia de cabeças vermelhas que odiavam-no e culpavam-no. Passou direto pela entrada e ficou de pé, no corredor um pouco mais adiante, fitando a janela sem realmente ver a paisagem. Queria sinceramente conseguir fechar os olhos e fingir que tudo não passava de um grande mal entendido, que ele não havia ouvido aquelas coisas terríveis ao telefone na noite anterior.

Apoiou a testa e uma das mãos no vidro frio e ficou assim, em silêncio e imóvel, até perder a noção do tempo. Quando finalmente foi interrompido, foi pela última voz que gostaria de ouvir naquele momento:

— Malfoy — Harry Potter o chamou, a indecisão evidente no seu tom.

— Vá embora — Draco respondeu fracamente sem se virar.

— Eu preciso falar com você — o outro soava um pouco mais decidido agora.

— Mas eu não preciso falar com você.

— Malfoy, acredite... Há algo que eu preciso te contar. Algo que eu deveria ter contado antes, mas... por um motivo ou por outro, acabei sempre protelando.

— O que quer que seja, eu não quero ouvir.

— É sobre a Gina — ao ouvir isso, Draco soltou uma gargalhada seca.

— O que não é sobre ela esses dias?

— Mas isso é diferente. É sobre a noite do desaparecimento dela.

— Você sabe de algo e não falou nada? — ele se afastou da janela e virou-se, finalmente prestando atenção — O que você tem na cabeça? Qualquer informação...

— O que eu sei não te ajudaria na investigação, Malfoy — Potter parecia relutante em falar — Mas pode te ajudar na sua vida. E eu sei que eu deveria ter falado antes, mas eu sabia que você não ia querer ouvir.

— E continuo não querendo.

— Bom, então tape os ouvidos porque eu vou falar. Por mais que eu te ache um imbecil, tenho que te contar pelo bem da minha consciência.

— Foda-se a sua consciência — e Malfoy virou-se de novo para janela, sem conseguir, contudo, bloquear a voz detestável do outro.

— Naquela noite, eu estava na Toca quando Gina chegou.

— Eu sei disso.

— O que você não sabe é que ela me contou o motivo da briga de vocês.

— O quê? — Draco o encarou surpreso.

— Ela me contou tudo.

— E você obviamente me achou um monstro.

— Claro que sim.

— Eu sei — Malfoy falou, a tristeza e o arrependimento claros na sua voz — Eu também me achei um monstro.

— Mas você mudou de idéia.

— Claro que eu mudei de idéia! O que você acha que...

— Não, Malfoy. Você não entendeu. Foi exatamente isso que a Gina disse que você faria: mudaria de idéia.

— O quê?

— Eu te achei um canalha, mas ela não concordou comigo. Ela disse que estava lá apenas esperando você mudar de idéia e ir buscá-la. Disse que era assim que você funcionava: sempre que ouvia algo de que não gostava ou pelo que não esperava, você gritava e esperneava como uma criança mimada e dizia a primeira coisa que vinha à cabeça, independente do quão cruel fosse. E depois, com calma, você pensava melhor e se arrependia. Ela não estava com raiva de você, Malfoy. Ela não estava sequer triste — Draco fitou o chão por alguns momentos digerindo o que Potter acabara de dizer. Aquilo não mudava nada. Tudo ainda era culpa sua — Eu perguntei a ela — Harry continuou — se essa não era uma maneira horrível de se viver e sabe o que ela me disse?

— Obviamente não.

— Ela disse que te amava. Foi a única resposta que ela me deu.

— Isso não muda nada — Draco o encarou com um olhar vazio — Tudo ainda é minha culpa — e se virou de novo para a janela.

— Se você quer pensar assim, Malfoy, o problema é seu. Eu fiz a minha parte. Não espere agora que eu fique aqui tentando te convencer — ele completou, já dirigindo-se de novo para a sala de espera, mas a voz do outro o interrompeu:

— Você nunca entendeu, não é mesmo?

— Nunca entendi o quê?

— Porque ela escolheu a mim e não a você.

— Eu demorei para entender, Malfoy, mas eu já entendi agora.

— Então me explique.

— Não é preciso muito para compreender. Quando ela sumiu, eu... eu ainda gostava dela. Você sabe disso.

— Sei — Malfoy cerrou os punhos, controlando sua raiva.

— Mas agora, dez anos depois, eu tenho uma família. Tenho uma mulher e uma filha — ele fez uma pequena pausa — Eu segui com a minha vida, mas você... Você ainda a ama, não é mesmo?

— Não há vida sem ela.

— Engraçado.

— O quê?

— Foram exatamente essas as palavras que a Gina usou naquela noite para falar sobre você — e com isso, Potter virou-se e entrou novamente na sala de espera, onde estavam os outros Weasleys.





Draco ainda ficou parado lá, diante da janela por algum tempo. Sua cabeça estava a mil. Logo que ele começou a achar, contudo, que estava prestes a explodir, Granger apareceu para chamá-lo.

— Está na hora, Malfoy — ela disse simplesmente e, com o coração pesado, ele a seguiu. Quando encontraram Weasley, entretanto, este os olhou com uma cara feia e disse sem reservas para Mione:

— Eu ainda acho que o lugar dele não é aqui conosco!

— O único jeito de você me impedir de ir é me matando, Weasley.

— Sabe que é uma oferta tentadora?

— Sinta-se livre para tentar.

— Rony, Malfoy, nós já discutimos isso — Hermione falou com a voz cansada de quem estava cansada daquela implicância toda. E depois, dirigindo-se ao marido — Ele entende que está aqui apenas como observador, não entende, Malfoy? Nada de tentar se meter nos nossos procedimentos, nada de se envolver. Você irá apenas para observar.

— Não há a necessidade explicar de novo, Granger. Eu entendi da primeira vez que você falou — Draco respondeu a contragosto. Ele diria qualquer coisa para ir naquele time. Uma vez que estivesse no campo, contudo, não podia prometer nada. Ainda não tinha idéia de como reagiria ao ver o cadáver dela.

— Acho bom mesmo — Weasley ainda retrucou, claramente desconfiado — É hora de irmos.

Eles tinham conseguido um mandato trouxa para interditar o parque. Primeiro, teriam que retirar toda e qualquer pessoa que estivesse por lá de forma que pudessem trabalhar livremente. Pensando no raio que foi preciso para destruir a primeira árvore, Draco não pôde deixar de se perguntar que tipo de magia seria necessária para partir o tronco dessa segunda. Não queria sequer pensar nisso. Deixou todos os detalhes práticos a cargo dos aurores.

Depois que uma parte dos agentes foi na frente para assegurar a retirada dos trouxas, um segundo grupo pôde aparatar diretamente no parque, sem medo de ser avistado. Draco estava nesse grupo. Sua primeira impressão sobre o lugar foi que era um local bonito, todo verde e tranqüilo. Quase um oásis. Antes que pudesse formar qualquer outra idéia, contudo, um dos aurores aproximou-se deles e disse:

— Nós já identificamos o lugar marcado no mapa.

— Onde é? — Hermione perguntou ansiosa.

— É dentro da floresta. Vocês vão ter que me seguir — ele completou apontando com a cabeça para a entrada de uma trilha que aparentemente ia se aprofundando através das árvores.

— Sim, lidere o caminho — Mione respondeu e ela, Rony, Draco e alguns outros seguiram-no. Outros ficariam para vigiar o parque.

Não precisaram, contudo, andar muito. Apenas uns cinco minutos de caminhada pelo meio da pequena floresta e eles pararam no que parecia ser uma aglomeração de aurores. Estavam todos ao redor de um grande e maciço carvalho, o único que havia por ali exatamente como o bilhete dizia. Draco sentiu seu estômago se embrulhar. Enquanto Granger e os outros se aproximaram, ele notou que seus pés não se mexiam. Agora que estava ali, ele se perguntava por que fizera tanta questão de vir. Sentia um grande nó na garganta. Seu coração parecia ter se encolhido. Era ali: o final da linha. O fim de tudo. O lugar onde ele receberia sua resposta final.

Subitamente, Malfoy desejou que pudesse estar em qualquer outra parte do mundo. Qualquer local que fosse longe o suficiente para que ele demorasse a receber a notícia. Ele não queria saber. Queria continuar vivendo na ignorância, procurando-a em cada ruiva que via na rua, porque assim pelo menos ele tinha uma razão para viver. Se ela estivesse morta, o que ele faria? O que restaria para ser feito? Se ele já se sentia vazio agora, como ele se sentiria ao constatar que não havia mais esperança?

Dando às costas para o carvalho, Draco tentou pensar no tempo em que ele não a amava, em que ele não a conhecia. Ela havia sido apenas mais uma Weasley naquela época. Uma irritante e inferior Weasley, que adorava Potter como todos os seus irmãos. Uma grifinória que se achava melhor do que todos. Uma amante de trouxas. Quando ele mudara de opinião? Era difícil dizer. Era quase impossível dizer qual foi o momento em que ela primeiro chamou sua atenção. A única coisa que ele sabia era que, daquele momento em diante, ele estava fadado a amá-la. Talvez ela tivesse se tornado interessante para ele quando Draco descobriu que Potter a queria. Talvez esse houvesse sido o motivo que o fez olhar para ela com cobiça pela primeira vez. Se foi, contudo, não passou de um chamariz, porque ela não precisava de nada além do seu próprio sorriso para prender a atenção de um garoto.

Gina Weasley andava carregando no olhar as promessas de todas as coisas que Draco nunca tivera e era isso que a tornava completamente irresistível. Ela era irritante e desastrada. Levava-o à loucura na maior parte do tempo, mas todas as vezes — todas as vezes sem exceção — que ele se deixava perder nos olhos dela, Gina tinha a incrível capacidade de fazê-lo acreditar que tudo daria certo. Draco gostaria de ver o mundo da forma como ela via. Ele tentava, mas não conseguia. Ela era o seu único elo com essa visão e, sem ela, ele era apenas aquele garoto mimado de Hogwarts. Era ela que o tornava especial.

Fechando os olhos, Malfoy apoiou suas costas em uma das árvores perto e ficou em silêncio, esperando. Não quis se envolver em nada. Não sabia sequer se conseguiria trocar mais do que duas palavras com alguém naquele momento sem desabar completamente. Tinha começado a se perguntar algo que sempre procurara evitar. A pergunta que estivera na ponta da sua língua desde aquela madrugada, há dez anos atrás. Ele sabia que poderia viver sem a Gina. A questão é: ele queria viver sem ela? Valia a pena? Ele sabia qual resposta ela daria se estivesse ali, qual pedido sairia dos seus lábios, mas quem sem importa? Ela também pedira para ele parar de fumar e ele não parou. Na realidade, houve apenas um pedido que Gina fez que Draco atendeu completamente, sem restrições. Naquela triste tarde de agosto, contudo, apoiado naquela árvore, esperando em silêncio pelo veredicto sobre a sua vida, ele sinceramente desejou que esse número fosse maior.

As horas foram se passando e ele evitava olhar na direção do carvalho. Suas pernas estavam cansadas, mas Malfoy recusava-se a sentar no chão de terra e, de qualquer forma, aquele cansaço não era se nada comparado à sua exaustão mental e emocional. Já estava escuro e ele havia até puxado sua varinha e murmurado ‘lumos’ há alguns minutos atrás quando ouviu finalmente o que pareceu ser uma exclamação de satisfação vinda dos aurores. Seu coração deu um pulo no peito. O nó na garganta subitamente se tornou mais forte e ele sentiu como se fosse vomitar.

Inconscientemente, seus pés começaram a se mover no sentido da comoção. Podia sentir as batidas do seu coração se acelerando a cada instante. Era agora: a hora da verdade. A cada passo, era mais difícil continuar em frente, mas também mais impossível voltar atrás. Ele sabia. Sabia em sua alma que não podia ignorar aquele acontecimento. Toda sua vida estaria em suspenso até o momento em que ele olhasse para o corpo daquela mulher na árvore.

Contra todas as evidências, Draco desejava silenciosamente que ela não fosse a Gina, enquanto dava os últimos passos necessários. Podia ver Weasley ajoelhado perto do corpo e Granger de pé, ao seu lado. Ambos estavam quietos, seus rostos impenetráveis. Ou assim, pelo menos, eles pareceram a Draco, que tentou de todas as formas não ler neles indícios negativos. Por fim, chegou perto o suficiente para ver a silhueta da mulher. Ela estava caída no chão e ao seu redor, a mesma areia cinzenta havia escorregado para fora do tronco. Ele se aproximou prendendo a respiração e então, a olhou.

Viu suas feições jovens ressequidas e contorcidas, sua pele coberta pela areia. Ele sentiu o cheiro quase insuportável do corpo e sobressaltou-se ao notar que os olhos dela estavam abertos, vidrados, sem vida. Havia areia neles também e era impossível reconhecer sua cor. Na realidade, seria quase impossível identificar a mulher assim, nua e ainda suja. Uma coisa apenas foi suficiente para fazer com que ele soltasse afinal sua respiração, aliviado: ela tinha cabelos loiros. A mulher tinha cabelos loiros! Nunca em toda a sua vida Draco Malfoy sentiu-se tão feliz por ter se casado com uma Weasley.

Incapaz de colocar em palavras todas as emoções que passaram pelo seu corpo naquele momento, ele se virou, afastando-se do corpo, e apoiou-se na primeira árvore que encontrou. Não confiava nas suas pernas naquele instante. Na realidade, não confiava nas suas pernas, nem na sua voz, nem no seu raciocínio. A única coisa que ele sabia com certeza era que não era ela. Não era Gina. Por mais fraca e improvável que fosse, ainda havia uma chance de que ela não estivesse em outra árvore como aquela pelo Reino Unido e era essa esperança que dava forças a ele.

Draco fechou os olhos, deixando-se respirar aliviado. O grande peso que havia sobre o seu coração desde o telefonema da noite anterior havia sido finalmente levantado.





— O que foi aquilo? — perguntou Ronald Weasley assim que eles voltaram para o Ministério e se encontraram novamente em uma sala sozinhos — Qual é a sua, Malfoy?

— O quê? — Draco perguntou, sem entender o que o outro queria dizer. Ainda estava em estado de graça por ter descoberto que o corpo não era da Gina.

— Você sabe muito bem do que eu estou falando!

— Na realidade, eu não sei não.

— Você nos fez acreditar que aquele era o corpo da minha irmã! Eu chamei a família inteira aqui porque eu acreditei em você, seu maldito!

— Eu também acreditei que aquele corpo era da Gina! E quanto a chamar a família, isso foi idéia de vocês!

— Isso não muda o fato de que foi tudo inútil! O corpo não era dela!

— E você preferia que fosse? — Draco perguntou, começando a ficar furioso.

— É claro que não! É claro que eu estou aliviado porque não era ela. A questão é que você nos levou até lá e você estava enganado, não é mesmo?

— O que você está querendo insinuar? Que eu sabia que não era ela? Que eu os levei lá por algum propósito escuso e macabro?

— Exatamente.

— Rony... — Granger começou em tom de aviso, mas não foi suficiente.

— Não, Hermione, eu estou cansado de você defendendo ele! Você sabe que ele é um canalha! — e virando-se para o outro: — Você não passa de um canalha, Malfoy! Um imbecil e canalha e só Deus sabe por que a minha irmã escolher se casar com você! Mas nada tira da minha cabeça que você tem algo a ver com essa história toda!

— Eu não tenho — Draco respondeu sinceramente.

— E por que eu acreditaria em você?

— Foda-se o que você acredita. Eu não estou nem aí. Mas, por mais incrível que pareça (até eu tenho dificuldades em acreditar), eu contei a verdade para vocês dois essa manhã!

— E eu continuo achando que você está mentindo. O que nos garante que você realmente renunciou às artes das trevas, hein?! Nada!

— Você acha que a sua irmã se casaria comigo se eu não tivesse renunciado?

— A minha irmã tem uma longa história de ser enganada por bruxos das trevas.

— Se você diz isso — Draco falou com desprezo na voz — então você não a conhecia de verdade — e ele deu as costas para o outro, pronto para ir embora, mas foi interrompido pela voz de Weasley.

— O que seria mais perfeito para você, hein, Malfoy? Depois que Você-Sabe-Quem foi destruído, seu pai estava morto e sua mãe, presa em Azkaban. Sua casa pegou fogo. Você perdeu tudo. O que seria mais perfeito do que se casar com a filha de uma família benquista no mundo mágico e esperar... esperar até que a hora fosse propícia de novo para mostrar a sua verdadeira face? O que seria mais perfeito?

— Weasley — Draco se virou de novo para ele — de todos os pedidos que a sua irmã me fez, houve apenas um que eu atendi exatamente porque ela deixou claro que se eu não atendesse, ela me largaria. A sua irmã me pediu para renunciar a todo e qualquer contato que eu tivesse com as artes das trevas. Todo e qualquer contato. Incluindo livros, pessoas e feitiços. E isso eu fiz. Eu realmente não pretendia renunciar à fortuna que o Ministério confiscou, mas quanto ao resto, eu abandonei tudo. Por ela.

— Você está mentindo.

— Acredite no que quiser, Weasley.

— Não é uma questão de acreditar, Malfoy. Eu posso provar que você está mentindo.

— Como?

— A sua mãe. Você se corresponde com ela.

— Ela me escreve, sim, regularmente. Escreve desde antes do meu casamento, mas eu nunca li nenhuma das cartas! Eu sempre as queimo!

— Outra mentira!

— Weasley, isso está realmente começando a me cansar...

— É mentira sim, e sabe como eu sei? A correspondência de Azkaban é controlada. Nós não podemos ler o que as cartas dizem, mas nós registramos os remetentes e os destinatários e você, Malfoy, você tem escrito para a sua mãezinha pelo menos uma vez por semana há dez anos. Exatamente o tempo que Gina está desaparecida — Draco ficou atordoado com a notícia. Aquilo não era possível, era? Ele nunca escrevera para Narcisa! Olhou para Granger procurando confirmação e ela apenas murmurou:

— É verdade, Malfoy. Nós temos os registros.

— Mas eu nunca... — ele começou e então se lembrou de algo que o fez parar: lembrou-se da insistência do homem ao telefone para que ele prestasse atenção ao que sua mãe dizia. Seria possível que...? — Meu Deus... — ele sussurrou por fim, a voz fraca — Meu Deus!... — e saiu da sala sem dar maiores explicações. Aquilo era importante demais para ser desconsiderado... Importante demais. Seria possível que Narcisa estivesse envolvida na história toda? Que ela soubesse o que aconteceu com Gina e as outras mulheres?

A cabeça de Draco estava a mil. Pelo que ele conhecia da mãe, não duvidava que ela soubesse de tudo. Que tivesse até ajudado a planejar os crimes. Por que lhe surpreendera tanto a notícia de que alguém estava se correspondendo com ela sob seu nome? Era o disfarce perfeito! E, se algo suspeito fosse descoberto, ele — o filho que a abandonara — seria responsabilizado. Ele era o pato perfeito.

Sem parar em casa para trocar de roupa ou fazer qualquer outra coisa, Draco foi direto para o Departamento de Transportes Mágicos. Ele precisava ir para Azkaban. Não lhe interessava se a hora de visita já tinha acabado. Não lhe interessava saber sequer se Narcisa podia receber visitas. Tudo o que ele sabia era que precisava falar com ela e falaria, nem se tivesse que gritar naquela prisão até alguém deixá-lo entrar. Estava disposto a tudo.

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