Encontros e Desencontros

Encontros e Desencontros



N/A- Desculpem a demora. É que tanta coisa aconteceu: vestibular, um mês viajando... Mas, por fim chegou o novo capítulo E não se preocupem, não deisisti da fic! Esse capítulo ficou maior que o normal porque... bem, vocês vão ver no fim. Aproveitem!

Gina passou o dia sentada em uma grande pedra na beira do lago, perto de sua casa. Ela dizia para si mesma estar ali para pensar, mas sabia também que queria se esconder, e ela se sentia segura ali. Queria se esconder não apenas de Harry, mas de Luna e Hermione também. Elas estavam certas, ela não podia continuar enganando Harry. As palavras de Hermione continuavam em sua cabeça 'Só não se magoe, e principalmente não magoe a ele' . Ela não queria magoar ninguém, mas tudo acontecera tão rápido! E se terminasse com Harry, e escolhesse o Malfoy? E daí? Ele provavelmente riria dela se tentasse qualquer coisa. Ou pior, a ignoraria. Tortura também seria uma opção? Possível.

'Por que, de todos os homens do mundo, tinha que ser Draco Malfoy?' pensou amargurada. Ele sempre fora um tratante inútil! Mas, ela também pensara isso dele antes, em suas visões. Só para mais tarde ele se declarar para ela, e salvar sua vida. Será que embaixo daquela carcaça asquerosa interior, porque exteriormente só tinha o que agradecer, Malfoy era uma boa pessoa? Sorriu, sentindo seu coração disparar. Estava agindo como uma boba. Ou como uma pessoa...

-Apaixonada.- murmurou com um leve sorriso, antes de esconder o rosto nas mãos. Não, não, não! Aquilo era muito confuso. Pensou em Harry, nem um traço de sorriso passou por seus lábios. Pensou nele no trabalho, e nem apenas uma pontinha de saudade e tristesa apareceu. Pensou em Draco, e imediatamente sentiu-se trêmula, aquecida por dentro, o rosto se transformando com um sorriso.- Arghhh!- gritou.

Ela se deitou na grama, observando os galhos da árvore que lhe faziam sombra. Será que valia a pena arriscar? Ou seria melhor ficar com Harry e esperar? Quem disse que eles se casariam? Ela sempre pensara nisso, mas fora antes. Agora, não conseguia nem pensar em beijar Harry, quanto mais casar. Pensou nos pais, juntos a tanto tempo! Haviam se casado quando eram um pouco mais velhos do que ela. E eram felizes até hoje, ela podia ver um brilho nos olhos de sua mãe toda vez que seu pai aparecia. Ela nunca vira o pai triste perto de sua mãe. Não havia a menor dúvida que eles haviam nascido um para o outro.

'Mas, eu pensava o mesmo sobre o Harry e eu.' ela pensou tristemente. Como já estava escurecendo, resolveu voltar para casa. Encontrou sua mãe na cozinha, e sentou-se em uma cadeira, indecisa se devia lhe contar alguma coisa. Sem se segurar perguntou:

-Mamãe, você e o papai se amam mesmo, não é?

-Seu pai e eu fomos feitos um para o outro, Gina. - a Sra. Weasley respondeu surpresa, se virando para a filha.- Por que pergunta?

-Nada. Eu só estava pensando.- Gina falou depressa, abaixando a cabeça sem se atrever a olhar sua mãe nos olhos.- Mas... e se você descobrisse que ele não é o amor de sua vida? Que existe outra pessoa com quem talvez...

-Talvez?- a Sra. Weasley insentivou a filha.

-Talvez você pertença! - Gina desabafou.- Alguém com quem deseja desde sempre, do fundo de seu coração, ficar junto. E se você achasse que era alguém, para depois descobrir que era outro? E se você o amasse mais do que jamais amou o primeiro?- Gina perguntou aflita.- O que faria? Jogaria tudo para o alto em busca desse amor impossível, ou ficaria com alguém que você ama, mas não ama o bastante?

-Querida, acho que não estamos mais falando de seu pai e de mim.- a Sra. Weasley respondeu carinhosa, sentando-se ao lado de Gina.- Aconteceu alguma coisa entre você e o Harry?

-Acho... acho que eu estou apenas confusa.- Gina respondeu rapidamente, tentando não chorar.- Só isso. Não aconteceu nada.

-Bem, se você quiser falar sobre isso, sabe que estou aqui.- a Sra. Weasley sorriu bondosamente para a filha, sabendo que embora ela negasse, havia algo errado. A Sra. Weasley se levantou, voltando para perto da panela, para não deixar a comida queimar. - Gina, querida.

Gina parou na porta da cozinha, estava voltando para seu quarto, quando ouviu a voz da mãe.

-Que foi, mãe?

-Bem, acho que tenho uma resposta para sua pergunta.- a gorducha senhora se virou, sorrindo para a filha.- Não importa quem você ame, desde que seja de todo o coração.

-Obrigada, mamãe.- Gina sorriu, correndo para abraça-la.

A ruiva ficou acordada até tarde aquela noite, mas Harry não apareceu. Pelas dez uma coruja chegou com um bilhete que dizia que ficara preso no trabalho, e não sabia que horas iria chegar. Gina não ficou muito animada, pretendia ser honesta com Harry e terminar tudo aquela noite mesmo. Mas, não podia fazer isso de madrugada, depois que o coitado voltasse de um dia exaustivo no trabalho. E acabou adormecendo na sala de visitas, encolhida na velha e confortável poltrona verde-musgo, perto da onde Luna lia entretida o Pasquim.

XXX

Era o meio da noite, e o castelo estava quieto e parado. Gina se levantou silenciosamente, era mesmo uma sorte não precisar dividir o quarto com seu marido. Segurando uma vela, acordou Luna que dormia em uma cama pequena na extremidade do quarto. A loira abriu os olhos, olhando-a como se estivesse acordada o tempo todo.

-Luna... - Gina gaguejou, o que estava fazendo era loucura! Mas, precisava fazer. E a única que podia ajuda-la era Luna.- Eu preciso da sua ajuda.

Luna se sentou na cama, atenta. Gina sorriu, nem parecia que estavam tendo uma conversa aos cochichos no meio da noite.

-Claro, milady.

-Você é minha melhor amiga, a única em quem posso confiar.- Gina falou desesperada, e Luna abaixou a cabeça - Apenas quero que guarde meu segredo. É muito importante, se não nem iria envolvê-la nisso.

-Eu guardarei senhora, para sempre. Nisso pode confiar em mim.

-Você sabe que Duque Malfoy foi ferido dois dias atrás, salvando minha vida? Pois bem, ele não está melhorando.- a voz de Gina soou preocupada e enrolada de choro.- Está com febre, os médicos acham que ele quebrou alguma coisa. Alguns acham que ele não vai viver.- e com isso Gina caiu no choro.

-Você gosta dele, não gosta?- Luna perguntou de uma forma calma, não era uma acusação ou uma revolta. Era apenas a confirmação de algo.

-Gosto.- Gina soluçou- Eu o achava um idiota! Mas, ele me disse coisas que ninguém nunca tinha me dito. Ele foi gentil comigo, e então salvou minha vida! E pode morrer por isso! Eu não podia ficar parada, Luna. Foi por isso que ontem chamei a Irmã Hermione aqui, ela chegou essa tarde para me auxiliar.

-Foi ela quem salvou seu irmão, antes dele voltar para a guerra, não é? - Luna perguntou.

-Sim, ela salvou o Rony quando todos acharam que ele não viveria um dia a mais. Harry estava arrazado, já se amaldiçoava por ter mandado o melhor amigo para morrer na guerra. Todos dizem que a cura de Rony foi um milagre! Por isso pedi a ela que me ajudasse com o Malfoy. E ela me ensinou, só que... - Gina exitou, com medo de assustar Luna.

-Sim?

-Ela usou magia para fazer isso. Magia de verdade. Ela me deu a lista de ingredientes, mas ainda não consegui tudo. É para isso que peço sua ajuda, Luna. Não precisa se envolver, se não quiser. Sei o quanto é perigoso. Mas, eu preciso tentar, se salvou meu irmão, talvez salve Draco...

-Magia?- e para a surpresa de Gina, Luna sorria com os olhos brilhando. - Ah, então foi isso! Eu sempre soube que existia algo por aí, mesmo que as pessoas não acreditassem em mim. Elas diziam que eu era maluca, mas eu sabia!

-Então, você vai me ajudar?- Gina perguntou feliz e esperançosa.

-Por nossa amizade e o pelo seu amor por ele. - Luna sorriu em resposta.

Elas saíram no meio da noite, Luna conduziu Gina cuidadosamente pelo castelo silencioso e deserto. Elas usavam as passagens dos criados, discretas, escondidas e escuras. Se fossem vistas, não queriam nem imaginar o que poderia acontecer. Elas foram até as gigantescas despensas do castelo, no pomar, até a pequena despensa de medicamentos do rei, e até no lago do castelo para conseguir a língua de salamandra que tanto precisavam. Luna se mostrou muito boa em encontrar determinados ingredientes, inclusive a salamandra.

Escondidas em uma sala vazia e pouco usada do castelo, elas cozinharam tudo em um caldeirão dentro da lareira, mexendo e seguindo todas as indicações que a Irmã Hermione escrevera para Gina, em um pedaço de pergaminho. Já era quase manhã quando haviam terminado.

-Está pronto.- Gina falou para Luna, vendo a coloração esverdeada da poção. Luna que estivera observando o horizonte, pela grande janela da sala, se virou como se despertasse.- Bem em tempo. Logo teremos que ir nos depedir de Harry e dos cavaleiros. Vem, vamos!

E mais silenciosamente ainda, elas chegaram até o alojamento das visitas, onde ficava o quarto de Draco, no fim do corredor. Quando entraram o lugar estava vazio, uma vela ardia embaixo de uma cruz, ao lado da cama dele. Draco estava adormecido, delirando em sua febre. Ao vê-lo naquele estado Gina sentiu um aperto no coração, parecera que nunca fora triste até aquele momento. Vê-lo ferido, morrendo, era a pior sensação que já sentira. Era como se a dor dele fosse dela também, só que em Gina doía em dobro. Além de doer por ele, doía por saber que ela fora a causa daquilo.

-Malfoy.- ela sussurrou delicadamente, para acorda-lo. - Malfoy... Draco...

Ele abriu os olhos levemente e sorriu.

-Finalmente um sonho bom!- ele murmurou delirante.

-Não é um sonho.- Gina sorriu, cutucando-o. - Vamos, acorde. Você precisa tomar o remédio se quiser ficar bom.

-Se não é um sonho, o que faz aqui?- ele murmurou ainda delirante.- Sua Alteza... Gina, disse que me odiava. Ela jamais veria me ver, mesmo sendo ela a minha cura. Eu me sentia morto antes de conhece-la, e agora morro sem ela.

-Você não vai morrer.- Gina afirmou, e se virou com firmesa para Luna, que estava um pouco mais afastada.- Me ajude a levanta-lo.

E juntas, com alguma resistencia de Draco, conseguiram senta-lo na cama. Ao contato, elas podiam sentir o calor da pele dele por causa da febre alta. Seu corpo todo suava, e ele delirava. Pela camisa de gola aberta, elas podiam ver os grandes hematomas que cobriam o peito dele. Ele devia estar com uma grande hemorragia, e não havia nada que os médicos pudessem fazer. Por isso, com toda a coragem que possuía, mesmo com medo de envenena-lo, Gina forçou Draco a beber toda a poção que havia preparado.

-Sou eu, Gina. Por favor, beba!- ela pedia por entre lágrimas.

-Ela disse que me odiava.- ele argumentava por entre os goles.- E ela tem razão! Eu fui um idiota. Mas, eu não sabia ser de outro jeito, eu nunca havia sentido aquilo antes! Quando eu vi aquele lustre cair... foi como se o meu coração tivesse parado. Minha sorte foi ter feito o que fiz, os poucos dias que a tive perto de mim foram os únicos que posso dizer que estive vivo. Não lameto mais morrer agora.

-Pare de falar besteiras!- ela gritou brava, virando o líquido na garganta dele e vendo-o engolir.- Você não vai morrer, prometo.

E com isso, ela o deixou deitar e adormecer de novo. Mas, quando ia se virar para entregar o cálice de poção vazio para Luna, sentiu a mão dele segurando seu pulso.

-Por favor, não me deixe.- ele pediu, mesmo de olhos fechados.- Não me deixe...

E mandado para longe todas as suas precauções, ela se sentou na cama ao lado dele, segurando sua mão. Com a outra acariciava delicadamente os cabelos loiros dele, podia sentir a febre dele baixando lentamente.

-Sabe, agora que ele não parece mais ruim e metido, até que eu gosto dele. - Luna falou sorrindo, e Gina sorriu de volta. A loira então, abaixou a cabeça séria. - Alteza, agora é a minha vez de lhe pedir um favor.

-O que foi, Luna?- Gina perguntou surpresa.

-A senhora seguiu seu coração vindo aqui esta noite, ignorando a tudo e a todos. Agora está na hora de eu seguir o meu. Eu prometi guardar seu segredo, Alteza. E vou guarda-lo, não importa o quê. Mas, como agora sei que também ama, sei que vai entender o que peço. Preciso partir, não posso dizer para onde e nem por quem, apenas que é pelo homem que amo.

-Você...- Gina gaguejou surpresa.

-Por favor, não pergunte.- Luna pediu, com lágrimas nos olhos.

-Tudo bem, Luna.- Gina sorriu.- Faça o que acha que é certo.

-Obrigada!- Luna sorriu feliz como Gina nunca a vira antes.

-E Luna!- Gina chamou, quando a loira já estava na porta.- Boa sorte e... cuide bem dele. Quem quer que seja.

-Eu vou. Adeus, Alteza. Se algo acontecer comigo quero que saiba, apesar de tudo é minha melhor amiga e jamais quis vê-la triste. Fico feliz por ter entendido como o amor pode ser traiçoeiro e confuso algumas vezes, mas que também, ele nunca erra em suas escolhas. Por mais desesperadas e impossíveis que possam parecer.

E com isso ela fechou a porta. Gina suspirou, teria que partir assim que o sol nascesse, para se despedir do marido e dos cavalheiros, desejando-lhes boa sorte. Deitou-se na cama ainda segurando a mão de Draco, sentindo-se feliz e mais tranqüila ao perceber que a poção realmente estava funcionando.

XXX

Quando Gina acordou em sua sala, já era de manhã. Ela se espreguiçou, estava um pouco dolorida, mas também estava feliz. Draco estava bem! Ela não sabia exatamente porque, mas a idéia de não tê-lo visto morrer, mesmo que tenha contecido a séculos atrás, ainda parecia deixa-la feliz. Do lado de fora ela podia ver um céu azul e claro de domingo. Ficou de pé, ainda precisava conversar com Harry. Não podia viver uma mentira, e mante-lo em outra. Se ela tinha alguém, um amor de verdade, ele também deveria ter um em algum lugar. Não seria justo mante-lo afastado de quem quer que fosse, como não seria justo consigo mesma viver sobre a sombra de um gigantesco 'Se...', que, sabia, jamais a deixaria em paz.

Não vendo mais Luna ali, se levantou para ir até a cozinha, mas só encontrou apenas seus pais na mesa. Eles conversavam entusiasmados e felizes, como dois adolescentes. Ela sorriu, lembrando-se das palavras de sua mãe no dia anterior.

-Bom dia!- disse sorrindo, dando um beijo no pai.

-O que houve, que ficou tão feliz assim?- a Sra. Weasley perguntou desconfiada.

-Uma boa noite de sono, só isso.- Gina deu de ombros, mordendo uma torrada amanteigada.

-Eu queria conseguir dormir tão bem quanto você.- Rony resmungou sonolento, aparecendo na porta.- Hermione teve outra daquelas 'aparições'...

-Visões.- Gina o corrigiu.

-O que seja.- ele deu de ombros, se sentando ao lado da irmã.- Eu só sei que ela acordou gritando essa manhã. Eu consegui acalma-la e faze-la dormir de novo. Ela disse que passou dias lá, tendo que ler preces em voz alta, ou algo assim.

-A Hermione era freira.- Gina falou, relembrando seu sonho.

-É, isso aí. Então, não podíamos ficar juntos... Ah, o maior drama.- Rony resmungou, então se virou para Gina.- Suas visões com o Harry são assim também?

Gina engoliu com força, arranhando toda a garganta, para não ter que tossir todo o leite que estava tomando. O que ela iria dizer para Rony?

-Eu preciso que alguém passe no Beco Diagonal, para mim. Comprar algumas coisas.- a Sra. Weasley falou depressa, notando a confusão da filha.

-Eu vou!- Gina gritou rapidamente, antes que seu pai pudesse abrir a boca.

-Então vamos juntos.- Rony falou- Preciso mesmo ir procurar uma coisa.

-Você não vai ir lá para brigar com o Fred e o Jorge, vai?- a Sra. Weasley ralhou desconfiada, começando a tirar a louça suja da mesa.

-Bem que eu queria.- Rony murmurou sombriamente.- Mas, a loja deles cresceu tanto que se eles ficarem lá ou são venerados ou assassinados. Acho que eu me identifico mais com o segundo grupo, mas...

-Rony!- a Sra. Weasley se virou furiosa.- Nunca mais fale algo assim!

-Desculpe, mamãe. Bem, eu vou lá com a Gina então. Fazer algo que preciso.- Rony falou se levantando.

-Mamãe.- Gina sussurrou se aproximando.- O Harry ainda não levantou?

-Não, querida. Ele chegou muito tarde ontem. Acho que nem acorda para o almoço, guardo algo para ele comer depois não se preocupe.

-Certo.

-Quer que eu avise que você quer conversar com ele?

-Eu... bem, não. Não precisa, eu me viro.- e com isso pegou com sua mãe a lista de coisas para comprar, e foi se trocar.

Quando já estava descendo a escada, porém, sentiu-se tonta e precisou se apoiar no corrimão.

-Você está bem, Gina?- Rony perguntou preocupado, descendo as escadas até ela. - Opa! - precisou segura-la no colo para ela não cair.

-Só um pouco tonta.

-Se eu ganhasse um galeão toda vez que escutasse isso, nos últimos tempos estaria rico.- Rony resmungou. Mas, Gina não conseguiu ouvir mais nada, o mundo escurecendo a sua volta.

XXX

Quando Gina abriu os olhos, o sol já nascia no horizonte. Ela sentiu seu braço formigando, havia caído no sono ainda de mãos dadas com Draco. Ele dormia pacificamente, e pelo contato com a pele dele podia sentir que a febre havia passado. Ela se levantou, retirando sua mão da mão dele, mexendo-a para reativar a circulação. Observou-o com um sorriso, ele era mesmo bonito. Parecia até uma criança adormecida, tão tranqüilo.

Saiu da cama o mais cuidadosamente possível, e já estava quase na porta quando ele acordou, como se soubesse que ela estava partindo.

-O que aconteceu?- ele murmurou confuso, se sentando.- Alteza? O que faz tentando fugir do meu quarto?

-Eu... - Gina se virou corada, lembrando-se das palavras delirantes dele, querendo ouvi-las de novo.- Bem, você salvou minha vida e quase morreu por causa disso. Só não morreu porque...

-Você salvou minha vida.- ele completou, esfregando os olhos.- Agora me lembro de algo assim. Algumas vezes parece que foi um sonho, outras... minha mão está formigando.

-É porque eu caí no sono a segurando.- Gina sorriu, se aproximando e sentando timidamente na cama, ao lado dele.

-E por que fez isso?- ele perguntou com o sorriso mais charmoso que ela o vira dar até então.

-Porque você me pediu.

-E porque salvou minha vida? Eu pedi também?

-Vamos dizer que você não precisou.- ela respondeu se virando para olha-lo. Eles estavan muito próximos, e ela fechou para beija-lo, o coração descompassado, a boca ansiando pela boca dele. Oh, como ela desejara isso nos últimos dias, seja no passado ou no presente. - Eu te amo...- ela murmurou e estava quase tocando-o, quando ele se afastou.

-Obrigado.- ele murmurou, subtamente seco.

-De nada. - ela respondeu confusa. Ele nem olhava mais para ela, encarava os lençóis como se não os tivesse vendo, perdido em pensamentos. - Eu também queria te agradecer por ter me salvado e...

-Não foi nada, Alteza.- ele a cortou, ainda sem encara-la.

-O que foi? Por que está bravo comigo?

-Você já fez o que precisava fazer.- ele interrompeu-a novamente, olhando-a friamente.- Agora pode ir.

-O quê?- ela perguntou confusa. O que estava acontecendo? Em um dia ele dizia que a amava, salvava sua vida, dois dias depois se declarava, delirante verdade, mas não deixava de ser uma declaração. E de repente ele dizia que ela 'podia' ir?

-Alteza, não tem mais nada a fazer aqui. Agradeço sua preocupação e cuidado, mas é hora de ir. Digo com todo respeito. Adeus.

Gina sentiu um nó na garganta, cada batida de seu coração parecia uma pancada que recebia no peito, deixando-o dolorido e a respiração difícil. Trêmula, e sem palavras, ela se levantou sob o olhar frio dele. E sem entender, sem saber o que falar, saiu lentamente do quarto. Queria falar com Luna, mas ela havia partido. Foi só em seu quarto, quando se deitou em sua cama, que começou a chorar. Ela o amara, achando que era correspondida, para depois descobrir de que não passava de uma garota ingênua. E aquilo doeu ainda mais nela.

XXX

-Gina, Gina!- Rony a chamava, dando tapinhas em seu rosto.

-O que foi?- Gina perguntou abrindo os olhos. Ela estava novamente nas escadas da Toca, caída no colo de Rony. Rapidamente secou as lágrimas que teimavam escorrer.

-Você desmaiou, alguma novidade nisso?- Rony perguntou aborrecido, pondo-a de pé. - Quantas vezes você já desmaiou?

-Eu não sei, umas cinco, por que?

-Igual a Hermione. Bem, vocês tem no máximo mais cinco desmaios, depois: livres!

-Mais cinco?- Gina repetiu agoniada. Será que se apaixonar por Draco Malfoy e levar um pé na bunda, uma vez só, não era o bastante?

-Vem, temos que ir para o Beco Diagonal, hoje é domingo e algumas lojas fecham mais cedo, lembra?- Rony a chamou de volta para a realidade.

Logo eles aparatavam no Beco Diagonal. O lugar estava meio vazio, a algumas lojas estavam fechadas. A maioria porém continuava recendo os vários trausentes, em busca de artigos mágicos. Rony se virou preocupado para Gina:

-Tem certeza de que vai ficar bem?

-Tenho.- ela respondeu tristemente. Aquele dia tinha começado tão bem! O que fizera Draco agir daquela maneira? Será que ela confundira as coisas?

-Bem, não se preocupe em voltar comigo para casa.- Rony continuou.- Eu posso demorar para achar o que estou procurando. Se precisar de ajuda, bem... o Harry está em casa, você sabe.

-Obrigada, Rony.- Gina murmurou revirando os olhos, e com um aceno o ruivo continuou seu caminho.

Tristemente, Gina foi na direção oposta, procurando tudo o que sua mãe pusera na lista. Entrou primeiro no Empório das Corujas, para comprar comida a Errol e Pinchitinho (o que devia ser trabalho do Rony, já que a coruja era dele!). Draco dissera que a amava, pedira para ela ficar ao lado dele, e de repente, quando ela se declarara, ele a expulsara? 'Será que estava brincando comigo?', pensou na fila da farmácia. 'Quem sabe ele apenas queria me conquistar, como um desafio, e quando conseguiu... como eu fui burra!'

-Burra! Burra! Burra!- sussurrava baixinho, a caminho da livraria para comprar um novo livro de receitas. O que ela estivera pensando? Draco Malfoy, mesmo no passado, apaixonado por ela? Aquelas lembranças deviam apenas servir para mostrar o que aconteceria se tentasse qualquer coisa com outro, que não Harry. Onde andara com a cabeça? Terminar com Harry para ficar com Malfoy?! Afinal, sua primeira lembrança não fora de seu casamento com Harry? Então, era para eles ficarem juntos. Certo?

Só acordou quando trombou em alguma coisa. Quando levantou os olhos percebeu que não fora em alguma coisa, fora em alguém. E para seu pesadelo, alguém muito conhecido, em quem tinha pensado o dia inteiro na verdade.

-Olha por onde anda, Weasley!- Draco Malfoy, em toda sua glória, exclamou parecendo aborrecido.

Gina abriu a boca, mas não conseguiu falar nada. Sentia suas pernas e suas mãos tremerem como nunca antes, seu coração batia descompassado, havia um sentimento de excitação e alegria misturados espalhado por todo seu corpo. Parecia que até a ponta de seus cabelos estavam sentindo o nervosismo e a felicidade de se encontrar com Draco Malfoy.

-Que foi?- ele sorriu, cruzando os braços.- Agora além de Weasley é muda também?

-Eu... eu sei falar.- ela engasgou, por dentro se xingava mentalmente por estar sendo tão idiota! O que ela esperava que ele fizesse, a puxasse e beijasse? Não nessa vida. E aparentememente nem em outra.

-Que bom, pelo menos isso, não é mesmo?- ele riu, depois sacudiu a cabeça.- Que foi? Nunca me viu antes?

'Vi até demais.' Gina pensou, sacudindo a cabeça, tentando ter algum controle sobre sua voz, mesmo que não tivesse pelo resto de seu corpo.

-Desculpe, eu estava distraída.- Gina falou, desviando os olhos dele, mas não por muito tempo. Sem resistir, deu uma espiadinha no rosto dele.

-Eu percebi.- ele resmungou, descruzando os braços.- Weasleys... quando você acha que eles já são estranhos o suficiente, eles te aparecem com alguma coisa nova.

-Eu não sou estranha, só estava distraída!- Gina replicou, sacudindo as sacolas no rosto dele, uma mão no quadril.- Ou você é tão cego que não notou?

-Aí está! Uma verdadeira Weasley. Vermelha e nervosinha! Pelo menos é mais esperta que o irmão, deve ser o orgulho da sua família!

-Sou, diferentemente de você, não é mesmo?

-O que sabe de minha família?

-Nada, por sorte! - ela exclamou, não conseguia se controlar. Era mais forte que ela. Gina parecia precisar discutir com ele.

-Então, continue sem saber.- ele murmurou, dando as costas e indo embora.

-Como... como se eu quisesse saber alguma coisa!- Gina gritou, sentindo-se desmanchar de tristesa, ao ver sua única chance de conversar com ele ir embora.

Malfoy não respondeu, nem se virou, apenas levantou a mão em um breve adeus de uma maneira muito charmosa. E com um peso enorme no coração, que fazia todas as suas compras em sua mãos parecerem leves, ela o viu partir. Suspirou tristemente. Ótimo, se desentendera com ele no passado, e agora brigara com ele no futuro! Uma relação tão perfeita! Talvez fosse o certo, talvez ela devesse mesmo ficar com Harry. Mas, se fosse assim, por que se sentia tão triste?

-Tudo bem, você provavelmente não vai mais vê-lo mesmo.- Gina falou para si mesma, dando de ombros desolada.

-A senhorita está falando daquele rapaz?- uma velinha perguntou da porta da Floreios e Borrões, Gina viu que ela vestia o uniforme de atendente.

-É. Draco Malfoy.- Gina concordou tristemente.

-Por quê? A srta. quer voltar a vê-lo?

-Sim, muito.- Gina admitiu.- Mas, não sei como.

-Pois bem, tenho boas notícias para a senhorita. O Sr. Malfoy vem aqui todas as tardes. Recentemente ele se tornou um dos sócios da Floreios e Borrões. Chega lá pelas quatro e saí às seis, veio esta manhã apenas para visitar. Se quiser, pode vir vê-lo mais tarde, ele apenas foi buscar alguns papéis em casa, e depois volta.

Os olhos de Gina brilharam de alegria, quando sentiu-se cheia de nova esperança. Malfoy ia lá todos os dias, ela podia ir lá todos os dias! Eles iriam se encontrar! Uma coisa que sempre a preocupara, desde que se apaixonara por ele, era como poderia vê-lo. Ele não trabalhava, não estudava, não frequentava os mesmos lugares que ela, e definitivamente não possuiam amigos em comum. Mas, agora! Uma chance inteiramente nova que estendia a mão para ela.

-Oh, muito obrigada!- ela exclamou, abraçando a senhora.- Obrigada mesmo!

-Disponha, criança. Queria que todos os nossos fregueses fossem assim tão fáceis de contentar. Mas, diga, precisa de alguma outra coisa?

-Sim, sim.- Gina se apressou a dizer, checando a lista de sua mãe novamente.- Preciso do livro : 'A Magia por trás da Culinária Inglesa'.

-Siga-me.- a senhora sorriu.

-Oh, muito obrigada! - Gina murmurou feliz, sem conseguir se controlar, seguindo-a para dentro da loja. Aquele era realmente um domingo perfeito!

N/A- O Draco não ia aparecer, mas como me pediram tanto! Espero que tenham gostado, eu sei que foi pouco, mas como ele não ia aparecer, já foi alguma coisa. E por que será que o Draco da lembrança se afastou da Gina? Hein? Hein? E o que será que a Luna está aprontando? Descubram no próximo capítulo, hehehe! Muito obrigada pelos comentários, gente! Não dá para comentar todos, desculpe. E vou tentar atualisar mais rápido da próxima vez. Beijos, Mary

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