A Sala dos Espelhos



Os três garotos percorreram todo o parque, e demoraram a achar Arthur Weasley, que estava parado em frente ao teatro de fantoches, mesmo que aquilo não parecesse nem um pouco curioso.
_Sr Weasley, Sr Weasley! _Harry disse, se aproximando e retomando seu fôlego, sendo seguido por Ron e Hermione.
_Shiii. Silencio Harry. Eles estão apresentando uma peça.
_Escute Sr Weasley, algumas coisas estranhas estão acontecendo aqui _Hermione disse, parecendo preocupada. _Nós vimos coisas... coisas mágicas acontecerem!
_Ora ora. Vocês não deviam se assustar com mágica garotos _O Sr. Weasley disse, com um ar gozador.
_Não. O senhor não está entendendo. Mágica. De verdade _Harry disse, arregalando os olhos por trás de seus óculos de aro torto.
O Sr Weasley então parou para pensar alguns segundinhos, e depois encarou os garotos, como se estivesse escolhendo entre acreditar ou não naquilo.
_Que tipo de mágica? _Ele finalmente disse.
_Os cavalos do Carrossel estavam se movendo, e as cartas que o mágico deu para Harry também se moveram!
_Hum... _O Sr Weasley parou por alguns segundos, pensando. _Escutem, não há como nenhum bruxo praticar magia perto de trouxas sem que o ministério tenha controle disso. Você sabe disso Harry _Harry engoliu a seco lembrando de sua última confusão com o Ministério da Magia por ter usado mágica fora de seu mundo e ter transformado a irmã de seu tio em um balão.
_O Senhor tem certeza? _Hermione disse, parecendo angustiada.
_A mais plena certeza. _Apesar da resposta, ele não parecia ter ficado tão tranqüilo com aquela informação quando pretendia parecer que estava _Agora se me dão licença, preciso dar uma volta nas tendas de brincadeiras logo adiante. Imaginem que por um dólar posso tentar acertar uma bola na boca de um palhaço e ganhar um prêmio! Talvez eles tenham um prêmio interessante, como...um isqueiro!
Dizendo isso, o Sr Weasley virou as costas, como se estivesse hipnotizado pela idéia de possuir um isqueiro apenas para si.
_Vocês viram mesmo algo? _Gina disse, olhando para Harry, depois para Hermione.
_Não sei. Se o seu pai diz que não há como usar magia sem que o Ministério saiba, receio que... acho que foi apenas coisa de nossa cabeça! _Hermione respondeu em uma voz fininha.
_Mas eu vi! _Harry disse revoltado, olhando para as duas amigas _Você também viu Hermione. Você sabe que aquilo era mágica sim!
_Estamos apenas... apenas confusos _Hermione disse, suspirando. _Vem Gina. Vamos dar uma volta por aí.
Hermione na verdade sabia que tinha mesmo visto algo, mas não queria pensar muito sobre aquilo, já que não havia outra maneira. Não ia permanecer perto de Harry, por que ela bem conhecia o amigo e sabia que ele não descansaria até descobrir o que estava acontecendo.
_Temos que achar algo que prove para seu pai que o que nós vimos é mágica, e que alguém então, está enganando o Ministério da Magia.
Rony fez uma careta de medo, olhando para os olhos verdes de Harry por trás de seus óculos.
_Escute. É impossível enganar o Ministério. Eles saberiam...
_Não. Eles não saberiam, por que estão sendo enganados e ninguém sabe.
_Sua cicatriz por acaso está doendo? _Rony desviou um pouco do assunto, com medo na voz.
_Não. Não está _Harry disse com uma voz cansada _ Escute. Eu vou arrumar um jeito de provar que o Ministério está sendo enganado. Eu sei que algo mágico está por aqui, e vou descobrir o que é.


_Isso não é uma boa idéia. _Rony gaguejou. Ele e Harry estavam se embrenhando no parque, se afastando da área dos brinquedos e das cabanas, para a área do maquinário, e onde ficavam as tendas dos funcionários do Parque. Eles eram como ciganos, acompanhavam o parque para onde quer que ele fosse, levando consigo seus trailers, suas cabanas e seus carros velhos.
Harry e Rony andavam portanto entre as cabanas velhas e cadeiras de plástico dispostas para fora dos trailers, como se fossem pequenos quintais improvisados, e os antigos carros parados como se fossem animais adormecidos.
_Talvez não devêssemos estar aqui _Rony disse, olhando a escuridão ao seu lado cada vez se tornar maior, à medida que se distanciavam da movimentação e se embrenhavam entre as cabanas. Ao longe, ele escutava o latido de um ou dois cachorros. _Não estou gostando disso.
_Estamos apenas procurando por pistas. Tenho certeza que...
Harry se lembrou da última Copa Mundial de Quadribol, que acompanhou os Weasley. Se lembrou de como as cabanas pareciam simples e pequenas por fora, mas enormes e aconchegantes por dentro. Aquilo podia servir de prova. Aquelas cabanas, apesar de sujas e empoeiradas, algumas um tanto rasgadas e todas tão pequenas que não deviam acomodar duas pessoas. Talvez quando se abrisse uma delas, poderia se ver uma confortável casa móvel por dentro.
Harry então parou em frente a uma delas, e decidido, puxou o tecido que servia como porta.
Mas dentro da tenda apenas encontrou, entre a escuridão, algumas camas dobráveis com colchões finos e encardidos sobre elas.
_O que você está fazendo? Se alguém nos pegar aqui estamos fritos Harry!
_Rony, ninguém irá nos pegar. Fique calmo ok? _Harry respondeu com uma voz nervosa. Estava decepcionado por que realmente não parecia que acharia uma prova mágica assim tão cedo.
_Eu se fosse você não teria tanta certeza assim mocinho!
A voz que Harry escutou era grossa e um tanto quanto fanha, e ele sentiu na mesma hora um aroma de tempero para carnes misturada com suor. Quando virou seu rosto para trás, deu de cara com um enorme homem careca, que usava apenas uma calça folgada sobre o corpo, roxa, e um colete dourado, combinando com as muitas pulseiras que tinha no braço e o longo colar em forma de corrente, com algo na ponta que parecia uma presa de onça.
_Xeretas não são bem vindos aqui _Ele continuou a falar, entre os dentes, e agora Harry pode ver que ele tinha dois dentes de ouro também.
_Oh meu Deus! Corre! _Rony gritou apavorado, assim que encarou aquele enorme homem mal-encarado, e antes que alguém pudesse se dar conta, Rony e Harry estavam correndo pelo gramado, desembestados, com o coração batendo direto em seus ouvidos.
Nenhum dos dois se atrevia a olhar para trás e checar se estavam sendo seguidos por aquele homem aterrorizador, por isso, eles apenas continuavam a correr o mais que podiam, se aproximando novamente da movimentação do parque, onde poderiam estar a salvos.
Os dois ultrapassaram alguns carros que estavam estacionados num gramado próximo a bilheteria do parque, mas bem neste momento um enorme cão preto preso a uma corrente saltou na frente de Rony, latindo e mostrando seus dentes, com a saliva escorrendo pela sua boca gigante conforme ele latia mais e mais alto.
_Aiii! _Rony gemeu, parando assustado.
_Por ali! _Harry apontou para um pequeno beco, formado no meio de uma tenda de brincadeiras e outra. Porém, isso era do lado oposto de Harry, e para chegar no beco ele precisaria dar a volta no carro ou passar pelo enorme cachorro que não o alcançava por causa da corrente.
Quando ele se virou para dar a volta no carro, o homem careca apareceu gritando e parecendo ainda mais assustador que o cachorro.
Harry então não teve saídas, deu as costas e correu para o lado oposto, deixando Rony para trás. Rony já tinha desaparecido, por isso o homem careca decidiu ir atrás de Harry, que ainda estava sobre sua visão.
Correndo o mais que podia, Harry atravessou o gramado do parque, por trás das tendas, procurando um vão para poder voltar ao parque. Foi então que viu algo que parecia um pequeno galpão, com uma porta entreaberta. Não teve dúvidas, subiu pela estreita escada de metal e abriu a porta, entrando e a fechando atrás de si, em tempo de ver o homem careca se aproximar cada vez mais.
Assim que Harry fechou a porta com um baque, e a trancou por dentro, escutou o homem a esmurrando e pedindo para que ele a abrisse.
Harry se distanciou, e agora, no silêncio daquele galpão, apenas escutava seu coração palpitando, até que o homem careca desistiu de socar a porta e pareceu ir embora.
Só então Harry se virou, e pode ver onde estava. Era algo que parecia uma caixa de latão, e era muito, mas muito quente ali dentro. A iluminação era fraca, e havia algumas placas de algo que parecia metal, como se fossem paredes, dispostas de uma maneira torta e aleatória, como um pequeno labirinto. Harry passou pelo vão de uma delas com dificuldade, e então pode ver que do outro lado, elas eram apenas espelhos.
Havia espelhos por toda à parte, as paredes todas forradas de espelhos, formando corredores inteiros.
O mais curioso é que os espelhos moldavam a forma de Harry de maneira diferente. Em um deles, Harry podia se ver tão comprido e esticado como uma minhoca. Suas pernas tinham se alongado tanto que batiam quase no teto, não sobrando espaço para o resto de seu corpo.
Em outro espelho, ele era nanico e atarracado, como se um imenso martelo tivesse batido bem em sua cabeça. Mais adiante, outro espelho transformava sua cabeça numa cabeça gigante, com seus óculos se destacando em seu rosto.
Conforme andava, Harry encontrava um novo espelho, e todos lhe deixavam com um formato diferente e estranho.
Foi então que parou em frente de um espelho, mas o que via ali não era sua imagem. Era a imagem de uma garota, com os cabelos castanhos formando enormes tranças que lhe caiam pelo blusão verde que usava, que parecia bem maior do que seu número, lhe caindo até o meio das coxas.
Harry olhou intrigado para aquele espelho. Como ele podia transformá-lo em alguém totalmente diferente do que ele era? Ele passou portanto, para o espelho adiante, e se assustou novamente. A imagem refletida continuava a ser de uma garota, agora um pouco mais próxima, como se tivessem dado um zoom, ou como se ela fosse um gigante.
Intrigado com aqueles espelhos, Harry tentou fazer uma careta, e ver se a imagem do espelho respondia as suas atitudes. A imagem do espelho então sorriu, achando graça na careta que ele fazia.
Harry também não pode evitar sorrir. Conhecia aquela garota de algum lugar, mas de onde? O que exatamente aquele espelho estava refletindo?
De repente, a imagem do espelho sumiu, e apareceu refletido no espelho adiante. Harry correu para vê-la, mas então era como se a imagem estivesse fugindo dele, enquanto dava sorrisinhos. A garota sumia de um espelho e aparecia espreitando em outro, tão rápido que Harry quase não conseguia a acompanhar e a perdia de vista por alguns instantes.
Ele também estava se divertindo, e enquanto corria entre os espelhos, começou a rir junto com a imagem. Era como se os dois estivessem brincando de pega-pega, saltando de um espelho para o outro.
Mas, quando Harry cruzou um corredor, indo em direção a outros espelhos, trombou com alguém. Com o impacto, deu alguns passos para trás, se desequilibrando em seus pés, até que alguém o agarrou pela camisa, evitando que ele caísse estatelado no chão.
_Opa! Te peguei! _Ela disse. _De novo.
Harry então pode ver a imagem da menina do espelho, mas agora ela estava ali, de verdade, segurando ele pela camisa.
E ele então pode se lembrar de onde a conhecia. A garota que tinha trombado com ele na Roda-Gigante agora estava ali, pela segunda vez, segurando Harry pela camisa, o ajudando a não cair no chão.



_Desculpe _Ela disse, enquanto Harry passava a mão pela camisa, se recuperando do quase-tombo _é a segunda vez que quase te derrubo.
_Percebi isso _Ele respondeu, com um pouco de mau humor, e então olhou para ela novamente. Notou que ela corou e desviou seu olhar. _O que você está fazendo aqui? _ele perguntou, e só depois percebeu o quanto sua voz saiu antipática e grosseira.
_Eu moro aqui _A garota disse, abaixando-se e pegando uma pequena vara que ela tinha deixado cair no chão. Harry seguiu aquilo com o olhar, e a garota rapidamente a escondeu atrás de seu casaco. _E você? A sala dos espelhos está fechada para visitantes.
_Eu... eu não sabia _Harry respondeu, voltando a olhar para ela.
Desta vez, pela primeira vez desde que tinha esbarrado com esta garota, Harry deu uma boa olhada para ela. Agora ela olhava para ele, e ela tinha imensos olhos verdes, como os olhos de Harry. Tinha o nariz fino, salpicado por algumas poucas sardas, não como as dos Weasley, mas eram algumas sardas. Seu cabelo era queimado de sol e descia pelos seus ombros em duas tranças grossas. Ela vestia o blusão verde, e um pequeno shorts de brim. O blusão cobria-o quase todo, caindo inclusive por suas mãos e as fazendo sumir. Parecia que tudo que ela vestia era aquele blusão verde. Harry sentiu como se seu estomago tivesse sido amarrado com um barbante e duas corujas estivessem puxando cada ponta para um lado. Ela era bonita... e mais que isso. Algo nela a fazia brilhar.
Ela sorriu, e desviou o olhar de Harry, como se não conseguisse o manter por muito tempo.
_Venha. Temos que sair daqui. Não vai ser nada bom se tia Olímpia descobrir você por aqui _Ela deu as costas para ele, e Harry achou melhor a acompanhar. Ela cruzou todo aquele pequeno labirinto de espelhos como se conhecesse aquele lugar com a palma da mão, e finalmente chegou numa pequena cortina vermelha, que afastou, revelando uma porta de latão. A garota então apenas empurrou o trinco, e logo Harry sentiu o ar gelado da noite batendo em seus cabelos.
_Quem é tia Olímpia? _Ele perguntou, enquanto a garota fechava a porta e apertava o casaco, descendo por uma escada de metal parecida com a qual Harry tinha usado para entrar na Sala dos Espelhos.
_É minha tia. Irmã do meu pai. Ela que toma conta de mim. _A garota disse, sem olhar para Harry, continuando a andar. Os dois estavam ainda um pouco distantes da grande movimentação do parque, e ela andava alguns passos à frente de Harry.
_E onde estão seus pais?
A garota parou e se virou para Harry, que quase tropeçou e caiu sobre ela novamente.
_Meus pais estão mortos. _Ela disse, e depois voltou a virar as costas e andar depressa.
Harry ficou um pouco parado, pensando sobre aquilo, como se tivesse sido atingido por uma pedra na cabeça. Quando acordou, correu para o encontro dela, que já estava adiantada na caminhada.
_Meus pais também morreram _Harry disse, ofegando _Quem cuida de mim também são meus tios.
Ela novamente parou, e então tornou a se virar, olhando para Harry. Harry não sabia por que tinha dito aquilo, mas apenas... apenas se sentiu ligado a aquela garota. Nunca tinha conhecido outro órfão como ele. Nunca tinha sentido que pudesse encontrar alguém que entendesse como podia ser crescer sem os pais.
Desta vez, foi Harry que não conseguiu olhar nos olhos dela. Envergonhado, ele desviou o olhar e olhou para seus tênis, sujos de barro molhado. Neste pequeno instante, a garota então se virou e recomeçou a andar, mas agora devagar, dando tempo de Harry a acompanhar, andando ao seu lado.
Os dois então se aproximaram do parque em silêncio, cruzando as barracas coloridas e sentindo novamente o cheiro doce das guloseimas.
_Harry!
O silêncio foi cortado pelo barulho de alguém se aproximando. Ao levantar o rosto, Harry viu Rony se aproximando, ofegante, com os cabelos desgrenhados, como se tivesse corrido muito. Por alguns instantes, Harry chegou a se esquecer do careca mal encarado e do cachorro ameaçador, mas agora se lembrava de tudo novamente.
_Puxa Harry! Achei que aquele cara tinha te pego! Que susto!
Harry deu um meio sorriso, e olhou para a garota que estava ao seu lado, com o rosto um pouco envergonhado. Não queria que ela descobrisse que ele estava fugindo de alguém e por isso se escondeu na sala.
Foi então que Rony percebeu que o amigo tinha uma companhia.
A garota também notou o ar curioso de Rony, e antes que pudesse ter que responder por qualquer pergunta, limpou a garganta e olhou para Harry.
_Bom, tenho que ir. Foi um prazer conhecer você, Harry Potter.
Ela então deu um pequeno sorriso de canto, e virou as costas, caminhando como se dançasse.
Harry ficou parado, um pouco abobalhado, apenas olhando para ela, e quando ela já estava longe o bastante, lembrou-se que não havia perguntado o nome dela.
E então que percebeu, que também não havia falado o seu nome. Olhou para Rony. Sim, ele tinha o chamado por “Harry”, mas como ela sabia que seu sobrenome era “Potter”?






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