HORIZONTE SOMBRIO
Lílian abraçou-se a Remo com tanta força que ele próprio sentia o dano físico, mas isso não tinha a menor importância naquele momento. Ela soluçava alto, o que o deixava agoniado também, e o que mais o incomodava naquele momento era a pequena platéia que se juntara ao redor da escada caracol que ligava o Salão Comunal Grifinório ao dormitório de Lílian, porque de algum modo parecia que aquilo molestava a intimidade dela, e tudo o que pudesse de algum modo magoar Lílian, o magoava também.
Olhando feio para as pessoas que os fitavam curiosas, Remo, ainda com Lílian chorando no seu ombro, caminhou (e, por conseguinte, a levou junto) para dentro do dormitório, fazendo rapidamente um feitiço que consertasse a fechadura e trancasse a porta novamente.
Fez com que Lílian se sentasse sobre uma das camas (ele não fazia idéia de qual seria a dela, então, escolheu a mais próxima), sentou-se ao lado dela e acariciou seu rosto.
- Shhh... está tudo bem... - murmurou ele.
- Não está. - ela retorquiu, sob o choro - Você sabe que não. Ela morreu e não há nada que eu possa fazer quanto a isso...
- Exatamente, Lily, não há nada o que fazer, não adianta se desesperar. Isso só vai piorar as coisas... você precisa estar forte, você não pode simplesmente mandar tudo às favas. A vida continua...
- É que bate um sentimento de impotência tão forte, Remo... - e nesse momento, Lílian soluçou alto e foi impossível para que ela voltasse a falar por algum tempo, e ele respeitou esse silêncio e a abraçou com ternura, até que ela continuasse a falar - Eu me sinto muito mal, Remo... eu devia ter seguido o seu conselho, eu devia ter ido falar com ela...
O que Remo menos queria naquele momento era Lílian se sentindo culpada, e embora ele ainda mantivesse a opinião - agora mais do que nunca - de que Lílian deveria ter ido falar com Victoria antes que esta fosse para casa, agora ele se amaldiçoava por ter um dia sugerido que ela o fizesse.
- Aconteceu o que tinha que acontecer, Lily. - ele disse - E de qualquer forma, eu duvido muito que ela tenha ficado realmente chateada com você... ela teria feito as pazes com você, é isso o que importa. Você sabe que ela não... morreu magoada com você, Lily, você sabe que não. Você sabe que, no fundo, essa briga de vocês não teve importância...
- Teve, Remo, teve... talvez não tivesse tido se nós tivéssemos feito as pazes, mas nós não fizemos, e ela... ela morreu chateada comigo, Remo, ela morreu brigada comigo...
- O que eu disse, Lily, é que no fundo, ela era e sempre foi sua amiga, e que, tirando o calor inicial da discussão, aquilo não teve importância... talvez a maior importância da briga tenha sido somente a circunstância.
- Isso nem importa muito agora, eu só sei que eu sinto muito a falta dela, Remo. Demais. - murmurou Lílian.
- E isso também vai passar.
- Nunca...
- Lily, o que acontece é que agora, a ferida acabou de ser aberta, e por isso está doendo tanto, mas com o tempo, ela vai cicatrizar, até virar só uma lembrança triste. Acredite em mim, eu falo por experiência própria. - disse ele num tom solene, e Lílian ergueu os olhos para mirá-lo - Eu não sei se essa é a hora certa, e nem sei se há hora certa, Lílian, só sei eu sinto que preciso te dizer isso agora.
Ela não parecia em condições de perguntar nada, mas seus olhos inchados pelo choro pareciam curiosos, e ele prosseguiu:
- Eu acho que agora não dá pra te contar os detalhes, mas o fato é que, bem, eu nunca te contei isso, Lily, mas eu tinha um irmão. Um irmão gêmeo, Rômulo, que morreu, e eu era só uma criança. E eu demorei muito tempo até aceitar que não foi por culpa minha, afinal, e que não adiantava nada ficar me lamentando pelo que não tinha mais jeito.
Lílian não estava bem o suficiente nem para pensar na informação que havia acabado de receber. Ela apenas olhou para Remo, e sua expressão era ilegível.
- Bem... - continuou Remo, sem-graça, procurando não olhá-la nos olhos, e já fazendo menção de se levantar - eu vou indo, acho que vão compreender que você não está bem o suficiente para atender ao pedido do Dumbledore e descer, mas eu...
- Fique. - pediu Lílian, olhando fixamente para ele ao que o segurou pelo pulso com as duas mãos, fazendo-o sentar-se novamente. - Fique, por favor... não me deixe sozinha... eu estou com medo...
Ele olhou para Lílian de forma esquisita demais para que ela pudesse compreender, a abraçou novamente e beijou-lhe a testa, acariciando seus cabelos acaju enquanto ela chorava baixinho. Ela nunca havia parecido a ele tão pequena e vulnerável quanto parecia agora, e ele sentia uma vontade imensa de protegê-la.
- Shhh... eu nunca vou te deixar sozinha, Lily...
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Já fazia algum tempo que Remo havia se trancado dormitório de Lílian com ela, e Tiago fitou a porta trancada e suspirou.
- Ótimo. - reclamou Heather, de braços cruzados - Eu pedi que ele tomasse uma providência e a única coisa que ele fez foi se trancar com ela de novo.
- Os dois têm os seus motivos, Heather. - retorquiu Tiago, querendo soar compreensivo - Vamos logo descer, você não tem mesmo o que fazer lá em cima.
- Claro que tenho! Olha o estado do meu cabelo! - ela exclamou numa voz muito aguda.
- Você está ótima, Heather... deixe os dois em paz... - disse Sirius, tentando parecer zombeteiro.
- Talvez a Heather tenha razão, Sirius... será que não é melhor chamar esses dois? - perguntou Tiago.
- Não. - respondeu Sirius energicamente, dando um tapa de leve na cabeça de Tiago.
- É, deixa pra lá. - resolveu Heather, pensando que a possibilidade de deixar Lílian mal-falada era muito mais atraente do que a chance de deixar os seus cabelos ainda mais arrumados.
Em pouco tempo, toda a torre da Grifinória estaria praticamente deserta, exceto por Lílian e Remo.
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- Um feriado cujo motivo, em geral, deveria ser festivo. - disse Dumbledore em tom solene e seus olhos pareciam não olhar exatamente para lugar algum - Hoje nós deveríamos estar festejando a volta de nossos amigos que foram passar o Natal com os familiares e nos preparando para o período letivo de inverno e término do período do outono.
"Mas aconteceu algo que estava totalmente fora das expectativas de qualquer um. O Expresso de Hogwarts foi impossibilitado de chegar a Hogsmeade por um ato de indescritível infâmia. O que vocês precisam saber agora é que alguém, de identidade desconhecida para nós no momento, usou um feitiço que acabava com qualquer espécie de vida a um certo raio de distância. E esse raio atingia exatamente toda a extensão do trem."
Um murmúrio de surpresa e incredulidade varreu o Salão Principal, mas Tiago permaneceu calado e pensativo, com um ar que chagava a ser melancólico.
- Eu não estaria agindo de acordo com a prudência se revelasse agora aos alunos a minha suspeita, mas eu estou longe de ser um bruxo sensato, e as minhas suspeitas ao meu ver ultrapassam o campo do incerto. Acho que posso afirmar que o autor dessa peripécia foi Lord Voldemort, - e ao que o diretor disse isso, houve um silêncio quase mortal - que se manteve recluso e não ordenou nenhum ataque pelos últimos 3 anos, o que nunca impediu que vivêssemos em constante inquietação e nos perguntássemos sempre quando ele voltaria a atacar. Creio que já temos a resposta.
Houve um burburinho infernal, mas logo que Dumbledore fez um gesto com a mão pedindo silêncio, foi prontamente atendido.
- As perdas foram inestimáveis. - continuou - Eu poderia passar o resto do ano enumerando as qualidades de cada um que estava dentro do Expresso de Hogwarts hoje, mas não penso que seja necessário arrancar mais lágrimas que as que inevitavelmente essa notícia está arrancando. De todo modo, não posso deixar de dar satisfação àqueles a quem pessoas que tiveram o infortúnio de embarcar naquele trem possam ter alguma importância especial.
E ele disse o nome de cada aluno de cada casa, e até o nome de quem não era aluno, mas estava lá, como os professores Stanislaus Douglas, de Poções, Cora Prewett, de Astronomia, Aurelius Voight, de Estudo dos Trouxas e Penélope Spencer, de Trato com Animais Mágicos, que tinham ido visitar suas respectivas famílias.
Era impossível, independentemente da casa a que se pertencia (mesmo que fosse a Sonserina, que havia miraculosamente perdido apenas três alunos: Hugh Nott, Michael Zabini e Orlando Lawson), não se sentir pesaroso com o clima que reinava no Salão Principal da escola Hogwarts de Magia e Bruxaria.
Ninguém, no entanto, teve uma reação tão impulsiva quanto uma menina de cabelos castanhos ondulados muito compridos, que se levantou da mesa da Corvinal e saiu correndo esbaforida para fora do castelo de Hogwarts.
Tiago Potter, sem pensar duas vezes, foi atrás dela.
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Estava nevando, como era de se esperar, tratando-se de Hogwarts em dezembro. A menina não foi muito além do campo de Quadribol e parou sentada sobre uma pedra abrigada sob a copa de algumas árvores.
Tiago não demorou a alcançá-la, até porque suas pernas eram bem maiores que as dela.
- Você não é a amiga do Hector Hastings? - perguntou ele, e ao ouvir uma voz estranha ao seu lado, a menina levou um susto.
- Eu... sou... era... - respondeu, com uma voz de choro contido e limpando rapidamente as lágrimas com a parte de trás das mãos.
Tiago se sentou ao lado dela, que o observou silenciosamente.
- Eu também conhecia o Hector... - disse Tiago - Claro que não andava com ele tanto como se via ele com você, mas ele era um cara legal, eu acho. Jogava bem quadribol.
A menina sorriu de leve e Tiago prosseguiu:
- Eu sou Tiago Potter. - disse, como se ela não soubesse o nome do Monitor-Chefe - Me desculpa, mas eu acho que não sei o seu nome...
- Vanessa Montgomery. - respondeu a garota.
- Então, Vanessa... está fazendo um frio de lascar, o que você acha de voltar para o castelo? Eu entendo que você queira ficar sozinha, mas eu tenho obrigações de monitor, você sabe, e em hipótese alguma, vou te deixar sozinha aqui com essa neve toda...
Ela continuou calada, e ele continuou:
- Por favor, Vanessa... você não quer que nós dois aqui tenhamos hipotermia, certo? Acho que, seja lá pra onde os mortos vão, esse lugar já deve estar lotado por hoje.
Pela cara que Vanessa fez, Tiago percebeu que havia dito a coisa mais errada possível a se dizer.
- OK, me desculpa... eu também não estou bem com essa notícia, mas eu não acho que ajude ficar aqui fora com essa neve toda.
- Você pode ir, se quiser. - disse Vanessa, com delicadeza. Havia algo nela que mostrava que, independente do que estivesse sentindo, ela era incapaz de ser rude com quem quer que fosse.
- Eu não vou. Como Monitor, ainda mais Monitor-Chefe, eu não posso te deixar aqui sozinha num tempo como este... tudo o que eu posso fazer é torcer para que você resolva voltar para o colégio para que eu possa fazer o meso. Eu não estou nem um pouco a fim de ficar doente, ainda mais numa hora como esta, só que o futuro da minha saúde depende agora de você. - ele disse, com um sorriso maroto.
Ela se levantou, e era visível que estava contendo um choro, e caminhou com Tiago de volta para o Salão Principal.
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Quando Tiago e Vanessa entraram de volta no Salão Principal, absolutamente todas as cabeças presentes viraram-se para encará-los.
Normalmente, sair assim durante uma reunião como aquela renderia no mínimo um mês de detenção, mas, provavelmente, devido às condições, o deslize seria relevado.
Dumbledore olhou para Tiago e Vanessa e disse:
- Sentem-se novamente, por favor, senhor Potter e senhorita Montgomery.
Os dois, sem pronunciar nenhuma palavra, obedeceram.
- Eu dizia, - continuou o diretor - que todos os alunos já podem voltar às suas torres.
Tiago, normalmente, teria ficado zangado por ter sido ordenado a fazer alguma coisa à toa, mas até achou o acontecido levemente engraçado, em meio ao clima lúgubre.
- O que você foi fazer lá fora, Pontas? - perguntou Sirius, andando com Tiago junto da multidão em direção à torre da Grifinória.
- Você não viu? Aquela amiga do Hector Hastings saiu nessa neve feito uma maluca e eu não imagino o que ela faria se eu não chegasse a tempo...
- Você perdeu o discurso do Dumbledore. - anunciou Pedro - Ele falou muito bem sobre como devemos mais do que nunca reforçar os laços de amizade, como devemos ser solidários até com os que desprezamos...
- Os discursos do Dumbledore são sempre muito bonitos. - disse Tiago - Mas na minha opinião, são perfeitamente dispensáveis.
- Tiago Potter. - disse Dumbledore, assim que Tiago, acompanhado de Sirius e Pedro passaram por ele, e Tiago torceu para que ele não tivesse ouvido o que ele acabara de dizer.
- Quê? - perguntou Tiago, parando junto com os amigos.
- Eu gostaria de trocar uma palavrinha com você. - disse Dumbledore.
Tiago fez sinal para que Sirius e Pedro prosseguissem, e aproximou-se de Dumbledore, fitando-o interrogativamente.
- Eu aprecio muito o que você fez pela menina Montgomery. - disse Dumbledore - Ela realmente parecia desolada, e uma mão amiga sempre espanta os maus pensamentos. Fico muito feliz que você tenha ido atrás dela, Tiago, você provou mais uma vez o quão merecedor é de estar na Grifinória.
Tiago deu um meio sorriso, e Dumbledore pôs uma mão sobre o seu ombro.
- Se você não se importar, Tiago, gostaria que me acompanhasse até minha sala. Vai haver um conselho com a equipe de Hogwarts e alguns convidados, e eu gostaria que você e a Lílian estivessem lá, mas eu percebi que ela sequer desceu agora como eu pedi que fizesse.
- A Lílian Evans não está muito bem, professor. Ela me pareceu bastante chocada com a morte da amiga... não deve ser fácil de aceitar. Ela ficou na torre da Grifinória mesmo, e o Remo ficou fazendo companhia a ela.
- Ela e o garoto Lupin estão namorando, não é? - perguntou Dumbledore, pestanejando.
- Estão sim. - respondeu Tiago, um pouco rápido demais.
- E que opinião você tem a esse respeito?
A pergunta pegou Tiago de surpresa, e ele hesitou antes de responder:
- Eu acho... acho que isso não é da minha conta...
- Mas você deve ter alguma opinião sobre isso, não tem?
- Eu... - Tiago corou - bem, não era exatamente o que eu queria que acontecesse, mas... fazer o quê? E também era mais porque eu e ela vivíamos... hã, num clima de hã... não muita harmonia, mas... bem, nós meio que fizemos as pazes, e está tudo bem, agora...
Dumbledore pestanejou novamente, e Tiago sentiu uma raiva repentina daquele pestanejar de olhos do diretor, mas permaneceu calado.
- Se a Lílian Evans não está se sentindo bem, - disse Dumbledore - ela está muito bem dispensada da reunião.
E com isso, ele, Tiago e os professores seguiram até sua sala.
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Heather Waltham chegou um pouco depois de Sirius Black e Pedro Pettigrew ao Salão Comunal da Grifinória, e de algum modo, seu nariz parecia estar menos empinado, e até um pouco vermelho.
O clima lá não era melhor que o que tomou conta do Salão Principal depois que o colégio tomou ciência do atentado ao Expresso de Hogwarts.
Ela sentou-se na primeira poltrona que viu pela frente, com um ar até bastante solene.
Sirius aproximou-se da garota, e sentou-se no braço da poltrona dela.
- Você está se sentindo bem, Heather?
- Estou... estou um pouco chocada. Francamente, Sirius Black, o que você esperava? Que eu estivesse me sentindo ‘muito bem, obrigada’ depois de ouvir uma coisa dessas?
- Calma! - exclamou Sirius - Eu só estou perguntando porque cada pessoa tem uma reação diferente, e eu achei que você não estivesse se sentindo bem porque você parecia calada demais... não é muito característico de você ficar desse jeito...
- O que não é característico de mim é ficar dando conversa pra você.
- Ah, claro. Agora que você não está mais com o Tiago, pra quê ser legal com o melhor amigo dele?
- Exatamente. - retrucou a garota rispidamente.
- Escuta, Heather. - Sirius parecia irritado - Eu só estava preocupado com você, só isso... se você não pode tentar ser gente pelo menos uma vez na sua vida, é melhor que fique calada mesmo...
Heather primeiro olhou para ele com raiva, mas depois suspirou, e, parecendo realmente sincera no que dizia, falou:
- Desculpa, Sirius... eu realmente não estou bem.
Sirius deu um meio sorriso e ela prosseguiu:
- Eu estou "calada demais" porque eu não vou ser hipócrita e ficar forçando choro só para mostrar como "oh, eu sou sensível". Eu só estou chocada, mal por essa meleca de Lord das Trevas ter voltado a agir, por tanta gente ter morrido, mas não foi ninguém com quem eu realmente me preocupasse.
- Eu entendo o que é isso, Heather. Eu também vou sentir a falta de muita gente que estava lá, mas não mais do que isso... não foi ninguém muito próximo a mim, porque se fosse, acho que não ia conseguir nem manter a sanidade mental.
- É complicado pensar sobre esse tipo de coisa, Sirius. Eu não tenho amigos.
Houve silêncio antes que Sirius perguntasse:
- Mas você anda com tanta gente...
- Colegas, garotas com quem eu tenho o que conversar, com quem trocar idéias... eu não vou com a cara da maioria delas.
- E Diana?
- A Diana não pode ser considerada amiga de ninguém, e eu não me refiro ao que aconteceu entre ela e o Tiago, porque isso é o de menos... ela sempre andou atrás de mim porque de alguma forma ela me considerava um exemplo a ser seguido, e eu sempre achei bom ter um capacho aos meus pés.
Depois de um momento parecendo pensativo, Sirius disse:
- Quando você precisar de um amigo, Heather, pode contar comigo.
Heather olhou para ele, estarrecida, por um momento, e, hesitante, sorriu e pôs uma mão no ombro do garoto.
- Eu sei, Sirius. Obrigada.
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Quando Tiago chegou à sala de Dumbledore, surpreendeu-se com o fato de que lá estavam não só todos os professores como também alguns homens que ele não conhecia, e supôs que fossem Aurores e políticos, e que a habitual ante-sala do escritório de Dumbledore havia sido transformada numa sala de reuniões, com uma mesa imensa, quase toda preenchida.
Todos os presentes se levantaram assim que Dumbledore chegou à ante-sala, acompanhado de Tiago, e dois deles tomaram a frente. Um era Alastor Moody, Auror muito famoso, e o outro era um homem alto e forte de pele morena e cabelos grisalhos mesclados com o dourado que lhe restara da juventude. Os olhos índigo não deixavam dúvidas de que era um Manchester, mas o motivo pelo qual Tiago o reconheceu como o pai de Victoria foi o fato de tê-lo visto com ela uma vez na Estação King’s Cross. Estação King’s Cross, que ironia...
O Sr. Manchester lançou um olhar a Tiago que dizia "o que esse garoto está fazendo aqui?", e Dumbledore pareceu entender o recado:
- Tiago é meu convidado, Meridius... ele irá assistir ao conselho.
- Dumbledore... - começou o Sr. Manchester.
- Um momento, Meridius. - retrucou o diretor - Eu sei que você tem muito a dizer, mas acho que o momento mais adequado será quando estivermos todos reunidos...
- Mas estamos já todos aqui. - retrucou, mal humorado, Meridius Manchester.
- Ainda falta... - Dumbledore começou, mas foi interrompido quando a porta da sala abriu-se num estrondo, e por ela, entrou um casal que Tiago reconheceu como os Monitores-Chefes de Hogwarts do ano letivo anterior, Lucas Myers e Audrey Fischer, e um animal verde e esquisito que os trouxas reconheceriam como um ET.
- Desculpa, Dumbledore. - disse a moça, muito rápido - Nós viemos logo que recebemos sua coruja, mas você sabe como os horários da barca mágica são muuuuuuito inteligentes, e já que não se pode Aparatar em Hogwarts...
- Sem problemas, Audrey, eu mesmo acabei de chegar. - respondeu Dumbledore.
A moça parecia um pouco constrangida com os olhares severos que os Aurores, especialmente Meridius Manchester, lançaram a ela e ao rapaz a seu lado, mas ele pareceu nem ligar e sentou-se displicentemente ao lado dela e do ET à mesa de reunião, ao mesmo tempo que Dumbledore, Tiago, Moody e Manchester o fizeram.
A mesa tinha 24 lugares, e apenas um vazio, que Tiago supôs ser o que deveria pertencer à Lílian. Doze lugares eram ocupados pelo corpo docente de Hogwarts, incluindo Rúbeo Hagrid, que era apenas o guarda-caças (mas quem Tiago sempre visitava quando podia), e mal cabia na cadeira (e também estava chorando alto com um lenço do tamanho de uma toalha de mesa), e o próprio Dumbledore; três pelo ET, Audrey e Lucas (o casal de ex-Monitores-Chefes); um pelo próprio Tiago; e mais sete por Meridius Manchester, Alastor Moody, uma moça bastante baixa, que não parecia ser mais velha que Tiago, de pele muito clara, cabelos e olhos pretos e pestanas espessas, que andava muito perto de Moody, e Tiago supôs que fosse uma secretária; e mais quatro homens que ele não sabia dizer se eram Aurores ou políticos.
- Agora que já estamos todos aqui, - disse Dumbledore, da cabeceira da mesa - O conselho pode ter início.
- Se me permite, Dumbledore, - começou o Sr. Manchester, exaltado, quase levantando da cadeira - eu gostaria de dizer algumas coisas. Minha filha mais velha estava no Expresso de Hogwarts e eu acho um absurdo que não se admita desde já que aquele pulha fez essa calhordice!
Tiago ficou espantado pelo fato de que o Sr. Manchester parecia muito mais ferido na sua honra de Auror do que realmente triste pelo que acontecera a sua filha, uma vez que parecia muito mais irado do que pesaroso.
- Acalme-se, Meridius. - respondeu Dumbledore, muito calmo - Eu convoquei este conselho justamente para dizer isso... todos nós somos esclarecidos o suficiente para afirmar quem foi o autor desse atentado.
O Sr. Manchester voltou a se acomodar na cadeira, mas ainda parecia muito nervoso.
- Então o que diabos estamos fazendo aqui se todos já sabemos disso? - perguntou Manchester.
- Calma, Meridius. - dessa vez, o próprio Moody segurou Manchester na cadeira.
- Na verdade, Meridius, - disse Dumbledore - eu chamei todos aqui para que pudéssemos compartilhar o que sabemos, multiplicar os nossos conhecimentos, e eu gostaria muito que você começasse contando o resultado das investigações até agora.
Manchester respirou fundo, levantou-se, e com um movimento ágil de sua varinha, conjurou uma espécie de tela.
- Havia 76 pessoas no Expresso de Hogwarts, - anunciou, ao que figuras acompanhavam o que ele dizia na tela - entre estudantes, professores e tripulação do trem. Ainda não detectamos exatamente qual feitiço foi utilizado, e isso sequer tem muita importância, mas o que importa é o efeito que ele causou, destruição em massa. Comparamos os efeitos aos de uma bomba trouxa, e a diferença é que esse não explode nada, a prova foi que o Expresso chegou ao seu destino, e o que houve de errado foi que ninguém saiu de lá. Não demorou muito para que os bruxos da Estação de Hogsmeade abrissem o trem e se dessem conta de que todos lá dentro estavam mortos... sem estarem mutilados, como ocorreria com uma bomba trouxa, mas mortos.
Ao final de sua "palestra", Manchester estava ofegante e mais nervoso do que jamais estivera, e voltou a se sentar. Em seu lugar, o Professor Flitwick conjurou uma escadinha, subiu nela, e aproveitou a tela para falar:
- Desde que tive a notícia do ultraje que aconteceu esta manhã, me recolhi em meu escritório e... - o professor Flitwick estremeceu e falou mais baixo - andei pesquisando em uns livros de... - estremeceu mais e falou ainda mais baixo - artes das trevas. - voltando ao tom normal - Não me parece ser nenhum feitiço já reportado, mas um aperfeiçoamento, se é que se pode usar uma palavra que indica mais perfeição com uma barbaridade dessas, mas foi um aprimoramento do Feitiço... - sua voz diminuiu a um ponto que ficou quase inaudível - Avada.
- O feitiço Avada, de Salazar Slytherin? - perguntou o professor Brutus Faber, de Herbologia, parecendo surpreso.
- Sim, sim. - respondeu Flitwick, constrangido. - esse mesmo...
- Realmente. - disse Lucas Myers, de onde estava - Nós descobrimos que trouxas que passavam perto do trajeto do Expresso de Hogwarts viram uma luz verde muito forte passar muito rápido.
- Nós nem ligamos muito uma coisa a outra. - concordou Audrey - Na hora, achamos até que tivesse sido coisa do Astor, e até duvidamos dele quando ele negou que tivesse causado essa luz...
O próprio Astor, com seus enormes olhos de ET, nem falava nada.
- Isso confirma a minha teoria. - disse o professor Flitwick, que, com um aceno de Dumbledore, recolheu sua escada com sua varinha e voltou ao seu assento.
- Se me permite, Dumbledore, - disse Lucas, de sua cadeira - Eu posso ainda ser muito jovem e não ter estudado tanto quanto os professores de Hogwarts, mas que eu saiba, pelo que o feitiço causou, não pode ter sido uma bomba mágica deixada no trem, mas... foi causado por uma varinha...
- Sim, sim... quem quer que tenha sido o autor do crime, morreu junto... - concordou o professor Flitwick.
- Mais que isso. - disse Audrey - O autor do atentado era ou aluno ou professor em Hogwarts...
- Isso é um absurdo! - protestou o professor Kurt Kert, de Defesa Contra as Artes das Trevas e chefe da Sonserina, revoltado - Como essa menininha pode querer acusar alguém de Hogwarts? Quem ela pensa que é? O que ela está fazendo aqui?
- Eu só estou tirando conclusões lógicas... - argumentou a moça.
- Ela é minha convidada, Kurt. - disse Dumbledore - E eu realmente acho válido o que ela disse. - virou-se para Moody - Alastor, havia alguém no trem além de alunos e professores de Hogwarts e da tripulação habitual?
- Só os sapos de chocolate, Alvo. - respondeu Moody, rindo baixo, a despeito da situação.
Todos se viraram para ele e o encararam de uma forma severa, mas sendo ele quem era, não se sentiu nem um pouco constrangido e riu ainda mais um pouco, até levar uma cotovelada mal-humorada da baixinha a seu lado, e, contrariado, resolver ficar quieto.
- Continuando, - disse Kurt, mal-humorado - agora é a minha vez de falar. E a tripulação do trem? Acho muito mais provável que tenha sido alguém de lá do que um aluno meu...
- Só se foi a vendedora de sapos de chocolate. - caçoou Moody novamente, levando uma cotovelada ainda mais forte da baixinha, de modo que deu um pequeno grito de dor.
- Kurt, - disse McGonagall - Você é o que tem menos o que temer a respeito de ser um aluno seu, ou pelo menos da sua casa... a Sonserina só teve três baixas, contrastando com vinte e cinco da Grifinória, dezenove da Lufa-Lufa e dezessete da Corvinal.
O professor Kert falou um palavreado em alemão, sua língua natal, e depois, aborrecido, perguntou:
- O que a minha cara colega quer insinuar com isso?
- Absolutamente nada. - disse McGonagall, embora sua voz estivesse bastante aguda - Eu só estou dizendo que é menos provável que tenha sido um sonserino do que um aluno de outra casa qualquer. Pelo menos levando-se em consideração os números.
Kert fez uma cara feia, mas, resignando-se, cruzou os braços e afundou-se em sua cadeira.
- De fato, - disse Moody, mais sério - muito poucos sonserinos morreram em comparação a alunos das outras casas.
Dessa vez, Kurt Kert levantou-se de sua cadeira, e praticamente gritou:
- E você preferia que mais alunos da Sonserina morressem só para ficarem empatados com as outras casas?
A baixinha ao lado de Moody pegou um caderno de sua bolsa e, apontando a varinha para ele e murmurando umas palavras, parecia querer procurar alguma coisa.
- De modo algum. - respondeu Moody - Eu só achei o fato muito estranho e talvez mereça a atenção dos Aurores...
- Realmente. - disse a baixinha, evitando, por respeito, o sorriso que se formava em seu rosto quando achou o que procurava - No ano passado, 31 alunos da Sonserina foram para casa no Natal, e este ano, só 3. Ao que consta, até alunos do sétimo ano que passaram os últimos 6 voltando para casa, este ano resolveram ficar. Deve haver algum motivo.
Todos se voltaram para Kert, ao que Moody, orgulhosamente, murmurou algo como:
- Muito bem, Gwen.
- Eu não tenho que dar explicações. - disse Kert, ultrajado - Não cabe a mim decidir quem vai e quem fica. E não é a primeira vez que alunos que passaram todos os anos letivos anteriores indo para casa no Natal resolveram ficar no colégio durante o último ano... devo dizer que o Baile de Inverno é um grande atrativo.
- Com todo o respeito, senhor, - disse a moça ao lado de Moody - não é estranho que um Baile, que ao que consta acontece todos os anos, só tenha se transformado num grande atrativo este ano?
Kert a fuzilou com o olhar, e, levantando-se da cadeira como quem fora indescritivelmente humilhado, bradou:
- Para mim, já basta! Não estou aqui para ouvir esse tipo de acusação!
E fez menção de sair, mas Dumbledore falou:
- Kurt, por favor, fique. Ninguém está te acusando de nada.
Relutante, Kert voltou a sua cadeira e sentou-se, contrariado.
- Continuando, - disse Dumbledore - Acho que todos concordamos quem foi pelo menos o mandante do atentado. Os outros pormenores deverão ser investigados mais tarde, e não cabe a nós ficar especulando nada agora. Dou pelo menos este tópico da reunião por encerrado, e vamos agora discutir a vinda dos Aurores estrangeiros para o país, e a transferência de seus filhos para Hogwarts. Abriram muitas vagas com esse atentado, afinal de contas, sessenta e quatro alunos faleceram.
- Exatamente por isso viemos aqui. - disse um homem baixo e franzino de rosto pálido e cabelos grisalhos - O Ministério agiu com espantosa rapidez, e já conseguiu recrutar alguns Aurores americanos para a Grã-Bretanha.
O Sr. Manchester pareceu irritado:
- Como? Como o Ministério recruta Aurores ianques para cá e eu não sou nem comunicado? Nós somos o suficiente, e se o ataque é contra o nosso país, somos nós que temos de defendê-lo, e não americanos janotas!
- O senhor está sendo comunicado agora, Sr. Manchester. - disse, com bastante audácia para o seu tamanho, o funcionário do departamento de imigração do Ministério da Magia.
Manchester pareceu bufar de raiva, mas Moody colocou uma mão sobre o seu ombro e disse:
- Calma, Meridius, ele tem razão. Nós somos muito poucos em comparação às proporções do ataque... muitos de nós morreram - e ao dizer isso, estremeceu - nos ataques anteriores, e os jovens estão muito acomodados, poucos são aqueles que aceitam entrar numa profissão de tanto risco... qualquer ajuda é preciosa neste momento, não podemos ficar com "orgulho patriótico" numa hora dessas.
Meridius Manchester bufou mais uma vez, mas parecia resignado.
- E também, sr. Dumbledore, - disse outro homem que mantivera-se calado até então - como disse o meu colega Bates, o Ministério já providenciou que alguns Aurores dos Estados Unidos se instalem aqui na Grã-Bretanha, e com isso, seus filhos também deverão ser transferidos para Hogwarts. Isto é, se o colégio tiver infra-estrutura para aceitar mais alunos...
- Como eu já disse, - falou Dumbledore - houve muitas mortes, e com isso, por mais infeliz que seja, abriram-se muitas vagas.
- Perfeito. Mas devo dizer que eles devem chegar num prazo de uma semana...
- Uma semana? - perguntou McGonagall, surpresa.
- Sim... o Ministério está cuidando para que tudo seja o mais rápido possível... não podemos ficar para trás dos Comensais da Morte.
Quando a conversa tomou um rumo mais burocrático a respeito dos alunos e Aurores que viriam para a Grã-Bretanha, Tiago deixou de prestar atenção nela e voltou-se para Lucas e Audrey:
- Oi! Eu não esperava ver vocês dois aqui em Hogwarts novamente...
Audrey Fischer e Lucas Myers haviam sido Monitores-Chefes no ano letivo de 1976/1977, ela sendo da Grifinória e ele da Corvinal. Ela era bem baixa e magra e seus olhos eram grandes e castanho-escuros e seus cabelos da mesma cor. Ele era bem alto e magro e tinha cabelos e olhos escuros, um nariz peculiarmente maior que a média (embora não se comparasse ao de Severo Snape) e sobrancelhas juntas. A aliança na mão esquerda de ambos indicava que o sobrenome de Audrey mudara de Fischer para Myers, e o próprio Tiago havia colaborado para que isso acontecesse quando ajudou a juntar os dois num jogo de verdade ou conseqüência. Obviamente toda Hogwarts já sabia disso.
- Pois é. - respondeu Lucas - Nem nós...
- Mas até aí, - disse Audrey - nós também não esperávamos que o tio Voldie voltasse a atacar bem agora...
Audrey era a única pessoa que Tiago conhecia que chamava o Lord das Trevas por um nome tão... coloquial. Mas ele sabia que ela não conseguiria chamá-lo por Lord Voldemort, do mesmo modo que a maioria do mundo dos bruxos também se abstinha de fazer. O apelido, naturalmente, era uma forma de transformar um assunto sério em piada, e Audrey fazia muito esse tipo de coisa.
- Mas tem algum outro motivo em especial para que o Dumbledore tenha chamado vocês? - perguntou Tiago.
- Hum... ele não disse exatamente, mas nós achamos que ele pretende contratar a gente como professores... - disse Lucas.
- O que vai ser muito bom, afinal de contas, porque assim não vamos mais depender dos seus pais. - disse Audrey, olhando diretamente para Lucas, e, com uma risada baixa e escarninha, acrescentou - Tiago, você conhece o ‘Sherlock’?
- Cala a boca, Drey! - murmurou Lucas.
- É a rede de pubs da família do Lucas, - continuou Audrey, mesmo sem Tiago responder, e rindo - Adivinha qual é o enfeite da entrada?
- Qual? - perguntou Tiago.
Lucas tapou a boca de Audrey com a mão, mas ela mordeu os dedos dele e disse, tentando ser discreta ao rir histericamente:
- É um Sherlock Holmes... sentado... sentado num CACHIMBO!
Todos se viraram para Audrey ao que ela disse a última palavra muito alto, e ela corou.
- Bem feito! - disse Lucas para Audrey, mas já era tarde demais, porque era visível que Tiago reprimia um riso atrás da mão.
Lucas virou-se para Audrey e fez uma cara mal-humorada, o que fez com que ela esquecesse o pudor e risse novamente.
- Ei, o que vocês acham de ir comigo pra Torre da Grifinória? - perguntou Tiago, de repente.
Audrey olhou para Lucas e perguntou:
- Vamos?
- Eu não sou... era... da Grifinória... - argumentou Lucas.
- Deixa de ser bobo, você já se formou. Não é mais de casa nenhuma! - disse Audrey, puxando o marido com uma mão e dando a outra mão para Astor.
Tiago murmurou, sem-graça, alguma coisa para Dumbledore, e se sentiu feliz ao se ver livre da reunião, acompanhado de Lucas, Audrey e Astor.
Eles caminharam pelos corredores de Hogwarts, conversando em tom normal, e sentindo já menos vergonha quando riam num dia como aquele. Lucas freqüentemente reclamava quando Audrey apertava suas costelas forte demais, a forma que ela tinha para guiá-lo e avisá-lo a respeito de degraus, uma vez que ele era cego, o era só um detalhe a respeito de Lucas Myers, e que não fazia realmente muita diferença em relação a nada na vida dele.
- Pára de reclamar ou eu ponho o Astor para subir essas escadas com você. - disse Audrey.
- Eu sei que você adora me agarrar, amor, mas não precisa ir com tanta sede ao pote. - retorquiu Lucas, de modo irônico.
Audrey revirou os olhos e Tiago riu. Já estavam em frente ao retrato da Mulher Gorda.
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- Que droga! - reclamou Heather, jogada num sofá - Quando é que a Evans vai se mancar e abrir aquela maldita porta?
Sirius, numa poltrona ao lado, respondeu balançando os ombros.
- Eu me pergunto o que ela está fazendo com o Remo lá em cima... - disse Heather, com um sorriso malicioso.
- Nada que você nunca tenha feito. - retrucou Sirius, com um sorriso igualmente malicioso.
Heather revirou os olhos:
- O que o Tiago andou te contando?
- Tudo, minha cara. - respondeu Sirius, rindo, ao que ela fez uma expressão de mal-humor - Mas, sério, acorda aí, Heather... a melhor amiga dela acabou de morrer. Você realmente acha que ela está fazendo... coisas impróprias lá em cima?
- Eu sei lá... aquela ali é uma santinha do pau oco...
- Heather, a Lílian é a garota mais certinha que eu conheço, e posso dizer o mesmo do Remo... eu duvido que eles sequer pensem em sexo pelos próximos três anos...
- Nunca se sabe...
- Nossa, você acaba de me arrebatar o troféu de "A Mente Mais Poluída de Hogwarts", Heather... francamente, só uma cabeça muito doente pode pensar que a Lílian, justamente a Lílian, está pensando em uma coisa dessas no dia em que descobre que a melhor amiga morreu.
Heather fez um gesto de desdém, e nesse instante, Tiago entrou no Salão Comunal acompanhado de Audrey, Lucas e Astor.
Sirius virou-se para eles no mesmo momento, e, deixando Heather com seus pensamentos, correu até o grupo.
- Audrey! Lucas! Há quanto tempo... o que vocês fazem aqui?
- Oi, Sirius. - respondeu Lucas jovialmente - Nós viemos só fazer uma visitinha turística a Hogwarts, sabe? Adoramos fazer visitinhas turísticas durante atentados que matam gente em massa...
Sirius riu.
- Você continua o mesmo, hein, Lucas... eu sei que vocês vieram aqui por causa dessa história, mas o motivo exato é qual?
- O Dumbledore nos chamou aqui para uma reunião e nós viemos. - respondeu Audrey - Estamos desconfiados de que ele queira nos contratar como professores...
Sirius teve um ataque de risos.
- Vocês dois? Professores? O Lucas pode até ser, mas você, Audrey?
- Ei! Qual é o problema? - protestou ela, fazendo um beicinho em zombaria.
- Nenhum, imagina... - respondeu Sirius.
- Mas, sério, - disse Lucas - que coisa horrível...
- O clima aqui está horrível. - disse Tiago - é gente chorando pra todo lado...
- Não daria para se esperar outra coisa... - disse Sirius - Mas eu só estou abalado e meu humor se alterou um pouco, fora isso, estou bem.
- Comigo é mais ou menos alguma coisa. - disse Tiago - Só que eu me considero menos alegrinho que você, Sirius.
- Eu não estou alegrinho!
- Eu estou de brincadeira, mongol... só estou dizendo que estou realmente sentido com o que aconteceu.
- Quem realmente parece sentida é a Lílian, mais do que qualquer pessoa que estava no Salão Principal depois de receber a notícia. - disse Sirius - Ela está trancada lá - apontou o dormitório das meninas com o queixo - há horas.
- Eu não vejo a Lílian desde que me formei. - disse Audrey - Depois eu vou querer falar com ela, ela deve estar muito mal... a Victoria estava lá, afinal de contas... foi realmente muito ruim o que aconteceu, e eu gostava da Victoria, embora ela não fosse muito com a minha cara.
- A Victoria não tinha nada contra você, Audrey. - disse Lucas - Você que tem complexo de "todo-mundo-me-odeia".
- Ela não ia com a minha cara, não... - retorquiu Audrey - mas eu até que gostava dela...
- A Victoria sempre foi meio fechada, exceto com a Evans. - disse Tiago, tentando pôr fim ao assunto.
- Evans? - exclamou Lucas - Ah, Tiago, não me diga que você e a Lílian ainda estão com essa babaquice...
- Na verdade, nós já fizemos as pazes... hoje, aliás... mas eu chamei ela de Evans por força do hábito.
- Vocês fizeram as pazes? - perguntou Sirius, surpreso.
Tiago revirou os olhos:
- Na verdade, foi uma trégua...
- Eu prefiro nem me meter na relação desses dois. - disse Audrey a Sirius, que assentiu.
McGonagall entrou pela passagem da Mulher Gorda nesse instante e chamou:
- Lucas e Audrey Myers, o diretor quer falar com vocês. Venham comigo.
Audrey e Lucas se despediram rapidamente de Tiago e Sirius, e seguiram McGonagall de volta à sala de Dumbledore.
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- Oi, Heather. - cumprimentou Tiago, num tom monótono, logo que Lucas e Audrey saíram.
- Olá, Tiago. - retrucou Heather, mal-humorada.
- Por que você não vai para o seu quarto?
- Que eu saiba o Salão Comunal é público...
- Quase isso. - retorquiu Tiago - Mas, sério... eles não saíram de lá ainda?
- Não. - respondeu Heather, azeda - Mas não tem problema, eu tenho outros lugares para ir...
Ela deu um sorriso malicioso para Tiago, se levantou, ajeitou-se rapidamente, e, dando um tchauzinho para Sirius e Tiago, saiu pela passagem da Mulher Gorda.
- É impressão minha, ou... - disse Tiago - havia alguma coisa no que ela disse e eu não entendi?
Sirius riu.
- Você sabe para onde ela vai? - insistiu Tiago.
- Pelo jeito que ela estava, foi ver o namorado. - respondeu Sirius.
- Namorado?
- É... ela me disse...
- Quem?
- Lockhart. - respondeu Sirius, rindo baixo - Gilderoy Lockhart...
Tiago teve um pequeno ataque de risos:
- O filho da Gilda Lockhart, das maquiagens? - riu mais alto - A Heather realmente consegue ser patética, se ela acha que eu vou sentir ciúmes disso...
- E não sente?
- Não... francamente, o máximo que deve acontecer nos encontros deles deve ser discussões calorosas sobre a nova linha de cosméticos da mãe dele...
- Tiago... você se garante demais... - advertiu Sirius, zombeteiro.
- E, realmente, eu não estou com ciúmes. - assegurou o Maroto - Deveria estar?
Sirius balançou os ombros, e Tiago, desfazendo o sorriso, sentou-se e convidou Sirius a fazer o mesmo. Chamaram Pedro, que estava com o nariz vermelho de tanto chorar, para que se unisse a eles, e Tiago começou:
- O Dumbledore me chamou pruma reunião...
E ele contou cada detalhe do Conselho que acontecera na Sala de Dumbledore, e concluiu:
- E eu acho que tem mesmo alguma coisa na Sonserina... essa história de irem só 3 pessoas para casa no Natal...
- Hum... Narcisa me disse que... - começou Sirius, mas foi cortado por Tiago.
- Narcisa?
- É... Narcisa Zabini...
- Você está saindo com a noiva do Lúcio Malfoy? - perguntou Pedro, embasbacado.
- Não exatamente saindo... ela é rango fácil e é sempre bom sacanear o Malfoy.
- Sirius... o Lúcio Malfoy se formou há 5 anos... ele nem vai tomar conhecimento... - argumentou Pedro, mas Sirius deu de ombros.
- O que importa é que ele está sendo sacaneado, mas, como eu dizia, Narcisa me disse que os alunos da Sonserina tinham realmente um atrativo a mais para ficarem em Hogwarts... parece que organizaram um festival de duelos nas Masmorras Sonserinas...
- Organizaram? - perguntou Tiago - Kert fez isso?
- Não, não Kert. - respondeu Sirius - Stanislaus Douglas.
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Remo sentiu-se satisfeito quando percebeu que os soluços de Lílian cessaram e ela finalmente conseguira adormecer. Ficou alguns minutos apenas observando a garota, ouvindo sua respiração regular e sentindo o cheiro de lírios que tinham seus cabelos ruivos.
Olhar para a imagem de Lílian adormecida era como olhar para outra pessoa. Ela não parecia nem de longe aquela garota de personalidade intempestiva e "esquentada"; parecia tão serena quanto um anjo.
Ele se levantou da cama, tomando cuidado para não acordar a namorada quando se soltava do abraço dela, e foi só então que percebeu que estivera na cama com Lílian. Mesmo não tendo feito nada, esse pensamento era estranho.
Conjurou um cobertor e cobriu a moça com cautela, e fez um feitiço para que ela conseguisse dormir bem até a manhã seguinte; ela precisaria daquelas horas de sono.
Ajoelhou-se em frente à cama e deu um beijo na testa da garota, e só então, saiu.
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- Eu ouvi bem, Pontas? - perguntou Sirius, perplexo - Você está propondo que nós entremos clandestinamente nas Masmorras da Sonserina?
- Shhh, fala baixo, Almofadinhas! - advertiu Tiago - É, que outro modo você vê de nós apurarmos quem esteve envolvido nessa história?
- Você quer dizer... achar Comensais da Morte em Hogwarts? - perguntou Pedro, estremecendo - Quer dizer, gente da nossa idade é Comensal?
- Claro, Rabicho... quem você acha que fez aquilo no Expresso de Hogwarts? - perguntou Tiago.
- E eu aposto que Severo Snape é um. - disse Sirius - Aquele seboso nunca me enganou...
- Ele que deveria implicar com você, Almofadinhas. - disse Tiago - Ainda mais depois do que você aprontou com ele ano passado...
- Ele mereceu. - disse Sirius - Mas eu realmente concordo que fui longe demais...
- Exatamente, eu também não gosto do Seboso Snape... - disse Tiago - e apesar do lance dele gostar de Artes das Trevas, eu não vejo ele como uma pessoa realmente maligna...
- Aquele seboso me dá calafrios, não que me assuste, é lógico... - disse Sirius.
- Se ele é Comensal ou não, - disse Tiago - nós vamos descobrir logo, logo.
- Como? - perguntou Pedro - Nós... nós não temos a senha para entrar nas Masmorras...
Tiago revirou os olhos e disse:
- Rabicho, meu caro, e quem disse que os Marotos precisam de senha?
- Você está pensando em nos disfarçarmos de Sonserinos? - perguntou Sirius - Porque se for, deve tirar logo essa idéia da cabeça... ia ser levemente complicado a gente mudar a nossa aparência, e, além do mais, ia ser fácil ver que éramos nós... e para piorar, nós iríamos continuar sem ter como entrar...
- E quem falou em se disfarçar de alguém, Almofadinhas? - perguntou Tiago - Eu estou pensando em entrarmos lá debaixo da minha capa de invisibilidade...
- É mesmo... - fez Sirius, dando um tapa na própria testa.
- Mas... mas não é perigoso? - perguntou Pedro.
- Ah, Rabicho, deixa de ser cagão... nós somos os Marotos, esqueceu? - disse Sirius, e Pedro, relutante, concordou.
- Mas... vocês não vão esperar o Aluado? - perguntou Pedro.
Sirius já ia dizendo que "claro que vamos", mas Tiago respondeu, quase rápido demais, numa voz firme:
- Não. - olhou para a porta do dormitório feminino do sétimo ano - Ele está ocupado demais.
Sirius deu de ombros, e os três subiram ao quarto que ocupavam a fim de buscar a capa de invisibilidade de Tiago Potter.
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Quando Remo desceu, não encontrou nenhum de seus melhores amigos, nem no Salão Comunal, nem no dormitório masculino do sétimo ano, onde ele acabou por ficar, depois de tomar um banho rápido.
Sirius, Pedro e Tiago, no entanto, viram-no claramente passar pelo aposento ao que eles deixavam o Salão, mas Tiago impediu que os amigos chamassem Remo:
- Ele não vai querer ir. - disse, resoluto - Vamos logo.
E com isso, passaram pelo retrato de Mulher Gorda, e, num corredor vazio, jogaram a capa por cima de si próprios e começaram a caminhar em direção à entrada das Masmorras.
- Só um detalhe, Pontas... - começou Pedro, num sussurro - Você sabe onde fica a entrada da Sonserina?
- Hã... não. - respondeu Tiago - Mas isso a gente descobre... Sirius, você sabe?
- Não...
- Mas você nunca acompanhou a Narcisa Zabini até as Masmorras?
- Não. - retorquiu Sirius.
- Ah, ótimo...
- Mas qual era o seu plano, Sr Pontas?
- Nós vamos ter que seguir algum sonserino...
- Perfeito... e onde você planeja achar algum sonserino depois do toque de recolher, hein, inteligência rara?
- A gente acha, confiem em mim... - disse Tiago, embora ele próprio não parecesse demonstrar muita confiança.
De repente, eles ouviram um barulho, que virou um gemido, que virou um chamado:
- Potter! Potter! Potter!
Não precisaram pensar muito para reconhecer a voz de Pirraça. Pedro gelou e falou, muito rápido:
- Eu... eu vou embora...
Antes que Tiago ou Sirius pudessem segurá-lo, Pedro saiu de debaixo da capa e correu o máximo que podia para longe de onde vinha a voz .
- Era só o Pirraça... - murmurou Tiago para Sirius - Ele tem mania de gritar o meu nome de noite já há algum tempo...
- E eu não sei disso?
Dali a pouco tempo, viram dois meninos da Sonserina, provavelmente do primeiro ano, parecendo estar perdidos.
Sob a capa, Sirius e Tiago se entreolharam, e, não havendo opção melhor, resolveram seguir os dois.
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Os dois Marotos estavam pensando seriamente em desistir do empreendimento quando Severo Snape, monitor da Sonserina, apareceu no trigésimo sétimo corredor errado que a dupla de sonserinos (com quem Tiago e Sirius já estavam até familiarizados e já sabiam inclusive que: a- se chamavam Timothy e Edward b- eram mesmo do primeiro ano c- pareciam sofrer de sérias tendências homossexuais já aos 11 anos de idade) e sibilou:
- O que vocês estão fazendo fora das Masmorras a essa hora da noite, Syler e Bulfinch? Vocês não sabem que se forem pegos pelos corredores a esta hora, a Sonserina vai perder pontos? E não é justo que a Sonserina perca pontos por causa de dois fedelhos como vocês!
- Você não tirar pontos da gente, vai, Snape? - perguntou Timothy.
- Não, Bulfinch. Se a Sonserina perder mais pontos, adeus campeonato inter-casas. Venham logo comigo antes que algum professor os veja. Eu vim aqui especialmente para buscar vocês, porque eu me importo com a situação da nossa casa.
- Que filho da... - murmurou Sirius, fazendo menção de, a despeito da capa de invisibilidade que o cobria, partir para cima de Snape, mas foi contido tanto de realizar seu propósito quanto de continuar o que iria dizer por Tiago, que com uma mão calou sua boca, e com a outra o segurou pelo braço.
Snape olhou para os lados:
- Há mais alguém aqui com vocês?
- Não... - responderam Timothy Bulfinch e Edward Syler em uníssono.
E sem mais nenhuma palavra, o trio seguiu até as Masmorras da Sonserina, sendo seguidos por Tiago Potter e Sirius Black.
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Não demorou para que eles chegassem às Masmorras, e entrassem no Salão Comunal da Sonserina depois que Severo Snape murmurou a senha, "Quimera".
Quase colados no pequeno grupo, Tiago e Sirius conseguiram entrar no Salão Comunal sonserino.
Era um aposento comprido e subterrâneo, com paredes de pedra rústica, de cujo teto pendiam correntes com luzes redondas e esverdeadas. Era um ambiente frio, não só pelo pouco calor que a lareira, que era encimada por um console de madeira esculpida, emitia, mas também pela quase completa ausência de calor humano. Tiago e Sirius, mais que nunca, se sentiram felizes por pertencerem à Grifinória.
- Andem, não é hora de pirralhos ficarem acordados. - disse Snape, e os dois garotos saíram correndo para seus dormitórios.
Sirius e Tiago ficaram em alerta. Não havia mais ninguém no Salão Comunal sonserino salvo eles próprios, ocultos pela capa, algumas garotas em volta da lareira e o próprio Snape, e parecia óbvio que Seboso logo iria se dirigir ao próprio dormitório.
E assim ele o fez, subindo por uma escada de pedra polida e, para a surpresa dos garotos, bateu à porta antes de entrar. Talvez, pensaram, eles, que sempre dividiram o dormitório com amigos de modo a nunca terem precisado bater à porta para entrar, Eles sejam cheios de não-me-toques mesmo.
A porta abriu num rangido e Tiago e Sirius tiveram de fazer um grande esforço para poder passar por ela, junto com Snape, que fechou a porta logo atrás de si.
Foi quando tiveram a surpresa: não era o dormitório masculino; era o dormitório feminino, vide os frufrus com que era arrumado. E lá dentro, só havia Narcisa Zabini.
Droga, pensou Tiago, se esforçando para permanecer quieto, não vamos tirar nada de interessante daqui.
Snape aproximou-se da garota e os dois se beijaram com paixão.
Tiago soltou um riso abafado e escarninho, e murmurou o mais baixo que pôde para Sirius:
- Parece que você não é o único que está transformando Lúcio Malfoy num grande corno...
- Cala a boca, Pontas. - murmurou Sirius, mal-humorado.
E os dois calaram-se de vez para que pudessem escutar o rumo que tomava a conversa, ao que o casal terminou seu beijo.
- Severo. - ela disse, num muxoxo, jogando a cabeleira loura platinada para o lado - Aonde você foi? Foi complicado tirar as meninas do quarto, e você ainda nos joga fora dez minutos?
- Perdão, Narcisa. - disse ele - Mas é que eu tive que ir atrás de uns moleques do primeiro ano que estavam perambulando pela escola a essa hora da noite... e você sabe, nós não podemos ficar perdendo pontos...
- Pontos, pontos! - Narcisa pareceu se exaltar - Severo, quando é que você vai parar de pensar em coisas tão desinteressantes? Essa história de campeonato inter-casas é completamente infantil. Você precisa se engajar em atividades que realmente demandem o fervor com que você migalha pontinhos idiotas.
Snape apenas a encarou, sem dizer nada.
- É por isso que você prefere o Malfoy, não é? É por que ele defende a Causa?
Narcisa revirou os olhos e começou a andar pelo quarto, de modo que Tiago e Sirius quase tropeçaram quando tentaram sair do caminho dela.
- Eu não vou ter essa conversa com você novamente, Severo. Eu já te expliquei os meus motivos e gostaria que você não insistisse nisso!
- Nós vamos ter essa conversa até você me apresentar um argumento realmente convincente, Narcisa.
- Se você não está satisfeito. - disse ela - Pode ir embora.
Snape pareceu resignar-se, e disse, num tom bem baixo:
- Você está certa...
A moça abriu um sorriso enorme e disse:
- Eu sabia que você ia entender, Severo. - e beijou Snape, que hesitou um pouco ao corresponder.
- Será que nós vamos assistir a uma cena de sexo explícito? - murmurou Sirius para Tiago.
- Só mesmo uma mente realmente doentia como a sua iria gostar de assistir ao Severo Snape afogando o ganso. - retrucou Tiago, por sob a respiração.
- Cala a boca, Tiago... eu só fiz esse comentário porque eu realmente não quero assistir a esse circo dos horrores!
E os dois se calaram, porque, subitamente Snape interrompeu seu beijo com Narcisa e começou a olhar para os lados.
- Você ouviu alguma coisa, Narcisa?
- Claro que não, Severo. - respondeu a loura, puxando-o para mais um beijo - Estamos só nós dois aqui, deixe de ser paranóico...
E quando eles estavam assim, bem agarrados, a porta se abriu e por ela entrou uma moça baixinha de cabelos pretos encaracolados e cheios na altura da nuca, que Tiago reconheceu como a suposta secretária de Moody, que estava na sala de Dumbledore.
- Hã... eu detesto interromper, mas...
Snape e Narcisa se afastaram bruscamente e ele lançou à baixinha um olhar de raiva.
- Não está no seu livro de etiqueta bater na porta antes de entrar num cômodo fechado, não? - perguntou Narcisa, seus olhos faiscando de raiva.
Como toda baixinha que se preza, esta era enfezada (até um pouco além da conta, os Marotos descobririam mais tarde), e deu uma resposta à altura:
- Não está no seu livro de etiqueta não se agarrar com rapazes em dormitórios compartilhados, principalmente quando se tem um noivo, não?
Com isso, Narcisa calou sua boca e Snape, envergonhado, saiu, sem mesmo se despedir, de modo que Sirius e Tiago não puderam sair com ele pela porta, e, por conseguinte, ficaram presos no quarto.
- Droga! - murmurou Sirius, ao que a baixinha pareceu olhar diretamente para onde ele e Tiago estavam.
- Então... Narcisa Zabini... - começou a moça - fique tranqüila, que não é do meu feitio delatar casaizinhos, eu realmente tenho mais o que fazer. - disse, sentando-se numa das camas e tirando delicadamente suas botas de salto-alto. Ela era ainda mais baixinha do que aparentava ser.
A resposta de Narcisa foi apenas lançar um olhar ameaçador para ela.
- Eu também não tenho medo de cara feia. - disse, e, mudando completamente o tom de voz, continuou - Oh, eu esqueci de dizer o quanto eu sinto pelo seu irmão...
- Obrigada. - retorquiu Narcisa, num tom gelado.
- Ao seu dispor. - respondeu, zombeteira, a baixinha - Eu não o conhecia, mas ele devia ser realmente uma pessoa muito querida, o tanto que você está se acabando em lágrimas por ele...
Narcisa a encarou novamente, sem responder.
- Sério agora, - continuou a baixinha, num tom falsamente preocupado - Você deveria se preocupar com a sua frigidez antes que tenha que começar a fingir orgasmos...
Narcisa revirou os olhos, e disse:
- Boa noite, Crowley. - e fez menção de começar a se despir para vestir a roupa de dormir, o que foi extremamente apreciado por Sirius e Tiago, mas...
- Não faça isso! - exclamou a moça de sobrenome Crowley.
- O que foi agora?
- Hã... se eu fosse você, trocaria de roupa no banheiro.
- O banheiro fica do outro lado das Masmorras. Por que eu iria tão longe só para trocar de roupa?
- Hã... porque, bem... porque eu, que sou visita, quero trocar de roupa, e não vou fazer isso na sua frente.
Revirando os olhos, Narcisa pegou sua camisola do malão perto de sua cama e saiu porta afora. Mais uma vez, os Marotos não se aventuraram a sair.
Olhando para a porta, a baixinha fez uma careta e disse:
- Frígida, já vai tarde! - virou-se e caminhou até onde os Marotos estavam - Agora...
Tiago e Sirius tentaram recuar, mas ela foi mais rápida e tirou a capa de cima deles.
- Você não ia tirar a roupa? - foi a primeira coisa que Sirius disse, para logo depois levar uma cotovelada forte de Tiago seguida por um revirar de olhos da moça.
- Esse trabalho todo só para ver a Zabini tirar a roupa? - exclamou a baixinha, ignorando Sirius - Ela faria isso sem vocês precisarem estar escondidos...
- Como... como você nos achou? - perguntou Tiago, embasbacado.
- Muito fácil. - ela respondeu, orgulhosa - Eu sou quase uma Auror, e bem se vê que vocês são amadores... não é difícil perceber movimento e vozes num canto supostamente vazio...
Tão atordoados que estavam, os dois nem repararam no fato de que uma mulher acabara de dizer que era quase uma Auror, profissão até então exclusivamente masculina.
- Aliás, eu gostaria de saber o que diabos vocês estão fazendo aqui. - disse ela - Vocês não vieram aqui só para ver a Zabini nua, suponho?
- Não. - respondeu Sirius - Mas também não temos motivos para te contar.
- Ah, tem sim. - retrucou a moça, os olhos negros faiscando - Vocês ainda não se ligaram que estão na minha mão!
- OK. - disse Tiago, resignado - Nós contamos, mas antes diga quem é você e o que você está fazendo aqui.
Ela revirou os olhos:
- Vocês não estão em condições de exigir nada, mas acho que não me custa me apresentar. Sou Gwendolyn Crowley, mas podem me chamar de Gwen.
- Eu sou Sirius Black, mas pode me chamar de Sirius mesmo. - disse Sirius, rindo.
- Tiago Potter.
- Agora que já fomos apresentados, que tal irem abrindo logo o jogo? - disse ela.
- Você ainda não disse o que está fazendo aqui. - insistiu Tiago - Você não estuda aqui em Hogwarts, e estava no conselho junto com Moody.
- Ah, sim. Eu só vou ficar aqui esta noite mesmo, e por isso me instalaram nesse dormitório com essa nojenta e mais umas outras meninas que estão no Salão Comunal... e Alastor Moody é meu padrinho e tutor legal desde os meus doze anos de idade. Agora é a vez de vocês falarem.
- Bem, nós viemos... hã... ver o que havia de errado na Sonserina. - disse Tiago.
- Caçar comensais? - Gwen riu, de um jeito que soou até um pouco arrogante - Bem se vê que são amadores... francamente, vocês acham que se realmente houverem Comensais aqui, eles vão ficar falando abertamente sobre o assunto com o castelo cheio de Aurores?
Tiago e Sirius se entreolharam, abobalhados.
- Hum, mas como eu dizia - disse Gwen - embora aquela Zabini seja realmente nojenta e fútil, eu fui especialmente desagradável com ela para ajudar vocês. Vocês me devem, no mínimo, um "muito obrigado".
- Você nem sabia quem éramos nós e quais eram as nossas intenções. - disse Sirius - Você só quis se ver livre dela porque a sua curiosidade falou mais alto.
Gwen revirou os olhos.
- Eu poderia ter descoberto vocês com ela aqui, concordam?
Tiago deu uma cotovelada em Sirius e disse:
- OK, muito obrigado, Gwen. Você sabe como nos tirar daqui?
Ela sorriu, e disse:
- Venham comigo.
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Horas mais tarde, já em seu dormitório, Sirius Black ainda lembraria de como a tampinha metida a Auror os tirou em segurança das Masmorras da Sonserina.
Ela simplesmente desceu com eles atrás de si ao Salão Comunal da Sonserina e, sem falhar nem um pouco a voz, deu "boa noite" às meninas que estavam ao redor da lareira, e saiu de forma trivial sem deixar no ar nenhuma suspeita de que estava levando dois intrusos para fora das Masmorras.
A desenvoltura com que fez tudo realmente o impressionara, mas o seu jeito de agir não só o irritava como o inquietava. Mas era tarde, e realmente não era hora de pensar sobre isso.
O dia seguinte (ou o dia que viria depois dessa madrugada) seria certamente exaustivo com os funerais e todo o resto, e era preciso dormir.
Virou-se em sua cama e adormeceu.
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Quando Lílian Evans acordou, na manhã seguinte, parecia um zumbi. Heather e Diana já pareciam ter acordado, uma vez que suas camas estavam vazias e desarrumadas, e Lílian trocou de roupa quase que em piloto automático.
Desceu para o Salão Comunal e encontrou-o praticamente vazio, exceto por...
Remo estava vestido de preto e havia rosas brancas em sua mão.
- Lílian, eu estava esperando por você...
- O quê? - ela perguntou, num tom monótono.
- Hã... o enterro... você acordou um pouco tarde, quer dizer, eu fiz um feitiço pra que isso acontecesse porque eu achei que, de outro modo, você iria ter pesadelos ou ia acabar não conseguindo dormir, e eu achei que você precisava de algumas horas de sono... mas, bem, as pessoas já saíram para o enterro das vítimas do atentado há mais ou menos uma hora, e eu estive aqui esperando você para irmos juntos...
- Por que você não me chamou antes? - perguntou Lílian, num tom sem rancor.
- Por dois motivos: o primeiro e mais óbvio é que você não conseguiria acordar tendo sido enfeitiçada para dormir por quinze horas, o segundo é que eu também pensei que seria até melhor se você não fosse... se você quiser, é melhor nem ir... se despedir de um corpo não é se despedir da pessoa.
Embora Lílian não concordasse, de algum modo, apreciou o carinho que Remo tivera com ela, e, assentindo, disse rapidamente que iria subir para trocar de roupa (ela estava levemente multicolorida) e buscar alguma coisa.
Alguma coisa, no caso, era o pingente com os dizeres "Amigas Para Sempre", que mudava de cor de acordo com o humor do dono, e que ela havia planejado dar de Natal a Victoria.
Já vestida de negro e com o pingente no bolso esquerdo das vestes, desceu e, acompanhada de Remo, seguiu até o recém-construído memorial às vítimas (que ficava bastante afastado do castelo, provavelmente porque Dumbledore não concordasse muito em viverem perto de algo que trazia, por natureza, luto).
A cerimônia já parecia estar terminando, e Lílian logo avistou Marina Manchester e seus pais em frente ao túmulo de Victoria, que já estava sendo fechado por elfos domésticos.
Ela correu até eles, deixando Remo para trás, e gritou:
- Esperem!
Os elfos pararam imediatamente o seu trabalho, e Lílian, sem sequer olhar para Meridius e Ivana Manchester, ou mesmo para Marina, ajoelhou-se em frente ao caixão da amiga ao que seus olhos se encheram de lágrimas e ela as limpou com a parte de trás das mãos.
Sem nenhum pudor de tocar num cadáver, Lílian segurou as mãos do corpo de Victoria e praticamente debruçou-se sobre ela:
- Me desculpa. - murmurou, entre soluços - Perdão, Vicky... eu queria ter dito isso antes... perdão...
E, limpando mais uma vez as lágrimas do rosto, Lílian pegou o pingente de seu bolso e fez as mãos inertes da amiga o segurarem.
Foi quando sentiu uma mão sobre o seu ombro e virou-se para encarar Remo, parecendo solene. Ele estendeu-lhe a mão e ela levantou-se, ao que ele a abraçou.
Já recomposta, ela direcionou-se aos pais de Victoria, que olhavam para ela perplexos, e viu Remo dar as devidas condolências e entregar uma das rosas à Sra Manchester e apertar a mão do Sr Manchester.
- Eu não trouxe flores. - disse Lílian, envergonhada - Mas eu realmente sinto muito pela Victoria.
- Está tudo bem, querida. - disse Ivana Manchester, enxugando as lágrimas com um lenço branco - Eu sei que você sente pelo que aconteceu com a Victoria.
- Nós percebemos o quanto. - disse Meridius, referindo-se ao pequeno espetáculo que Lílian acabara de protagonizar, mas sem, no entanto, haver rancor em sua voz.
Ivana Manchester era praticamente uma versão mais velha de Victoria, salvo os olhos, que eram verdes, e não índigo. Ela parecia realmente inconsolável. Já seu marido, embora parecesse uma rocha, mostrava nos olhos de Manchester que não havia lá mais pensamentos felizes.
O surpreendente, pelo que Lílian pôde perceber, foi a reação Marina, que, considerando-se sua personalidade extremamente impulsiva, esperar-se-ia que estivesse debulhada em lágrimas. Mas ela estava simplesmente solene, sem irradiar aquela alegria tão estupidamente irritante, mas irritantemente quieta. Parecia que não queria acreditar.
Antes que se afastassem dos Manchester, no entanto, Marina se aproximou de Lílian com um embrulho pardo e pesado e disse:
- Era de Victoria, mas agora, eu acho que, mais que ninguém, você o merece.
Lílian agradeceu e fez um feitiço para que diminuísse o suficiente a ponto de caber em seu bolso.
O caixão de Victoria foi finalmente fechado, ao mesmo tempo que os caixões das outras vítimas do atentado ao Expresso de Hogwarts, e Lílian tentou acompanhar a terra ser jogada sobre a urna de madeira da amiga, e, não suportando a visão, afundou o rosto nas vestes de Remo, que passou a mão sobre sua cabeça.
Eram novos tempos, tempos negros. E por pior que fosse, era preciso se acostumar com isso. Acostumar-se, não se acomodar. Jamais se acomodaria.
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A despeito do que esperaria de si mesma, Lílian sentiu-se disposta a dar os pêsames às famílias de cada uma das vítimas (exceto, talvez, as dos três Sonserinos mortos, uma vez que elas não pareciam solícitas a receber as condolências de uma "sangue-ruim"), mas não foi a sua fibra, e nem a presença de pessoas que ela realmente não esperava ver, como Audrey e Lucas Myers (o que, afinal, foi uma boa surpresa), o que a mais surpreendeu:
Heather Waltham, com um ramalhete de rosas brancas, aproximou-se dela e de Remo e tocou-lhe o ombro de leve.
- Pra você, Evans. - disse, estendendo as flores.
Lílian, hesitante e perplexa, aceitou o ramalhete.
- Eu sinto muito. - disse Heather, parecendo realmente sincera - Apesar de tudo, eu gostava dela... e até de você, um pouco. - riu - Eu vou sentir falta de levar um banho de penas durantes aquelas guerras de travesseiro.
Relutantes, as duas se abraçaram. Realmente, os tempos estavam mudando.
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Demorou um pouco para que Lílian se lembrasse do embrulho que Marina Manchester havia lhe entregado, mas quando o fez, já em seu dormitório na Grifinória, teve uma surpresa: era o diário de Victoria.
Primeiro, ela sentiu um certo receio de abrir o volume, era como entrar indevidamente na intimidade de Victoria, e isso, de certo modo, agora parecia algo sagrado, errado.
Mas quando a curiosidade e a saudade da amiga - ou de qualquer coisa que ainda pudesse remeter a ela - finalmente a venceram, ela instintivamente abriu o diário em seu último registro, e leu:
Casa, 26 de dezembro de 1977
Querido Diário,
Hoje estou saindo de casa (se é que se pode chamar de casa um lugar onde só se passa as férias e alguns feriados) e indo de volta para Hogwarts. O Natal foi normal, quer dizer, Papai e Mamãe armando a cena de "a família feliz" e eu fazendo o meu papel de filhinha boazinha (mas eu ganhei uma coruja nova - a quem batizei de Órion - e que me vai ser muito útil principalmente agora na escola, e quando eu me formar, é lógico... YAY!).
Eles acham que eu não vejo Mamãe tomando remédios anti-depressivos (o equivalente trouxa - aprendi isso com o Professor Voight - para a Poção Reanimadora... provavelmente ela toma a versão trouxa porque não deve querer que eu perceba) . Mas eles fazem questão de sermos a tal "família feliz" e pelo menos nunca brigam, e além do mais, sempre há a esperança de que tudo volte a ser como há alguns anos...
Para variar, Papai está ocupado demais para se lembrar de que eu existo e de que este é o meu último dia em casa antes da Páscoa (e meu último Natal ainda como estudante, daqui a seis meses, eu vou ser legalmente maior de idade pelas leis do nosso mundo!!!) - isso se eu estiver afim de vir pra cá em abril - então, Mamãe é quem vai me levar para a Estação King’s Cross.
Gostaria antes de registrar o meu entusiasmo por voltar a Hogwarts, porque, como eu disse ontem, eu andei pensando (talvez o tal Espírito Natalino tenha me inspirado) e acho que a minha briga com a Lílian foi por nada. Quer dizer, ela se irritou um pouco, mas ela é assim mesmo, né? Nem parece que eu a conheço há seis anos da minha vida... e, além do mais, se eu não fizer as pazes com ela, com quem eu vou implicar? Quem eu vou acusar de ter uma relação de amor e ódio com o Tiago Potter e deixar realmente irritada com isso? As outras meninas da escola - eu inclusive, devo admitir - provavelmente ficariam felizes com essa insinuação, mas a Lily fica realmente pau da vida...
E por um lado, ela até tinha razão quando disse que eu me meto demais na vida dela, mas isso é porque ela é a única e melhor amiga que eu tenho e eu me preocupo muito com ela. Mas, é isso, eu ainda estou um pouco brava e espero que ela se desculpe também. Nós duas temos muito o que nos desculpar.
A propósito, eu também quero conversar com ela, porque, mesmo ela provavelmente achando que não (se eu bem conheço o meu eleitorado, ela não vai desconfiar de nada até que alguém diga com todas as letras), eu tenho CERTEZA de que o Remo Lupin está afim dela, embora não possa dizer com muita segurança se a recíproca é verdadeira, porque eu não dirigi a palavra a ela esse tempo todo e ela é fechada demais para demonstrar qualquer coisa.
É isso, quando chegar em Hogwarts, já está decidido, vou procurar a Lílian e tentar fazer as pazes.
Preciso ir agora, mamãe está chamando... amanhã eu conto como foi a volta a Hogwarts...
Victoria Manchester
Ao final da leitura, Lílian fechou o diário e o abraçou, e um sorriso se formou em seus lábios ao mesmo tempo em que uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Finalmente se sentia em paz.
Sob a terra, o pingente de Victoria ficou azul. Estivesse onde estivesse, ela estava feliz.
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