O LÍRIO, O LOBO E A LUA
Os dias seguintes transcorreram normalmente, ou ao menos conseguiram ser normais em meio à anormalidade que se instalara em Hogwarts.
E junto com a anormalidade e o princípio do ano de 1978, vieram também, logo no primeiro dia de janeiro, e bem antes do que podia se esperar, os tais estudantes americanos e os novos professores. Audrey assumira a cadeira de Poções, e Lucas tornara-se o novo tutor de Estudo dos Trouxas. As disciplinas de Trato com Animais Mágicos e Astronomia foram preenchidas por professores desconhecidos por Lílian, Tiago e por 99% dos alunos de Hogwarts: Ruffus Kettleburn e Dânae Sinistra, respectivamente.
Remo reparara que Lílian estava quase totalmente de volta à velha forma, e foi num clima até agradável que os dois foram juntos até a cabana de Hagrid, pagar-lhe a primeira visita no ano, já no dia 5 de janeiro de 1978.
Precavida, Lílian trouxe consigo uma cesta com tortinhas de abóbora e outras guloseimas da cozinha de Hogwarts.
- Isso foi uma jogada de mestre, Lílian - disse Remo, sobre a cesta. - Assim a gente não precisa comer aqueles bolos de mármore, que realmente parecem ser feitos de mármore, mas sem magoar o Hagrid.
Lílian apenas sorriu em resposta, e o resto do caminho até a cabana do guarda-caça foi feito praticamente em silêncio.
Logo chegaram ao destino, e foram recebidos calorosamente por Hagrid, que trajava um avental rendado:
- Até que enfim vocês chegaram! - disse ele, jovialmente - E você, Lílian, que não me aparecia aqui há mais de um mês...
Ela sorriu brevemente e explicou, enquanto Hagrid abria caminho para que ela e Remo entrassem na cabana:
- Você sabe que este ano está difícil, Hagrid...
- ...que você virou Monitora-Chefe, blábláblá - arremedou o homenzarrão. - Aí você abandona os velhos amigos. E, além do mais, o Tiago também virou Monitor-Chefe e continua tão assíduo quanto antes.
- Também, - retorquiu Lílian, com uma ponta de mau-humor - aquele lá não cumpre um décimo das obrigações dele.
Remo apenas riu, ao que Hagrid, fitando a cesta de Lílian, disse:
- Ah, você e essa sua mania de trazer comida para cá. Mas dessa vez, você vai levar essa cesta de volta para o castelo, porque eu preparei algo especial para nós três...
Remo e Lílian se entreolharam com idênticas expressões de desespero, mas logo se recompuseram quando Hagrid virou-se para eles, indicando-lhes duas cadeiras ao redor de sua mesinha redonda, e, em pouco tempo, voltou com um tabuleiro de biscoitos diferentes de qualquer amanteigado que ele houvesse preparado nos últimos sete anos.
- É uma receita nova - explicou, tomando seu próprio lugar à mesa - Cookies, biscoitos americanos. Aprendi a receita com a Candy.
Lílian cruzou os braços, subitamente mal-humorada. Candice Fielding, filha de um Auror vindo do estado americano do Kentucky, era uma das novas alunas e também sua nova colega de quarto, no dormitório feminino do sétimo ano da Grifinória. Ela tinha cabelos castanho-dourados, olhos escuros (que, na opinião de Lílian, pareciam um tanto dissimulados) e um sorriso cândido que fazia jus a seu apelido, "Candy". Em apenas cinco dias, todos pareciam ter caído de amores por ela, exceto Lílian, que a achava falsa e nojenta.
- O que foi, Lily? - perguntou Hagrid, notando o semblante da garota.
Remo respondeu por ela, com um riso escárnio:
- É que a Lily anda com medo de perder o seu cargo de queridinha da McGonagall para a Candy...
Lílian o fuzilou com o olhar:
- Candy, Remo?
- É o nome dela...
- É o apelido dela - retrucou Lílian entredentes, e, voltando-se para Hagrid, falou - Na verdade, não é nada de ciúmes como ele está dizendo... é só que para mim, aquela Fielding é uma sonsa.
- Não sei de onde você tirou essa idéia - disse Hagrid. - Candice é uma moça tão boa, tão prestativa...
- Eu não vou com a cara dela, dá licença? - disse Lílian rispidamente, ao que Hagrid e Remo, que já conheciam bem Lílian nesse período do mês, retraíram-se.
- Eu ainda não conheci os outros dois alunos que foram para a Grifinória, no mesmo ano de vocês... - disse Hagrid, num esforço para mudar de assunto - Deles você gosta, Lily?
Mesmo sentindo uma ponta de provocação na pergunta, Lílian respondeu:
- A Jeanine Jackson parece ser uma garota legal, mas eu ainda não pude ter uma opinião forte a respeito do Piers Woolfenden, porque ele é muito calado e as aulas só começam mesmo amanhã.
- A Jeanine realmente é muito legal - concordou Remo. - E eu já tive uma dose um pouco maior do Piers que a Lily, porque ele está no mesmo quarto que eu e os garotos... mas, francamente, confirmo o que a Lily disse, é impossível ter uma opinião forte dele só nesses cinco dias... ele não larga aquele joguinho estranho dele e mal abre a boca.
Piers Woolfenden, de Boston, era um garoto alto, magro e pálido de olhos azuis esverdeados emoldurados por cabelos lisos muito escuros e traços delicados que lhe davam um aspecto bastante andrógino. De natureza reservada, ele sempre estava às voltas com uma espécie de jogo mágico portátil (um quadrado de cristal com imagens que ele parecia controlar com sua varinha) e sempre muito quieto, poucos na Grifinória eram aqueles que haviam escutado o som de sua voz.
- Preciso conhecer esses dois... mas eu ainda não sei o que você viu de errado na Candy, Lily - disse Hagrid - Ela é a criatura mais doce que eu já conheci.
Lílian revirou os olhos e disse:
- Vamos mudar de assunto, sim, Hagrid? Como vai o Oz, ainda tristonho?
Oz era a mais nova aquisição do zoológico particular de Hagrid, seu novo "filho", um agoureiro (ou fênix irlandesa, como Hagrid teimava em chamá-lo, alegando que era um nome menos baixo-astral) que ele cismou de adotar por pena pela suposta tristeza e desnutrição da ave.
- Tadinho - disse Hagrid, de cujos olhos começavam a brotar lágrimas que ele enxugou com a toalha da mesa. - Eu tentei de tudo, mas ele não come nada, e não pára de cantar daquela forma tão triste... resolvi soltar o bichinho, talvez fosse saudade de outra fênix irlandesa lá fora - acrescentou, apontando a janela.
Como já se sabia, agoureiros, pássaros preto-esverdeados muito magros de aspecto melancólico, que lembravam pequenos abutres malnutridos, eram aves extremamente tímidas cujo canto baixo e soluçante era tido, no passado, como um anúncio de morte. Com o tempo, porém, descobriu-se que esses pássaros simplesmente anunciavam a aproximação de chuva.
Lílian e Remo sabiam disso tudo, mas, pelo bem do clima da visita, preferiram mudar de assunto:
- E o Bolinha, Hagrid? - tentou Remo, esperançoso, ao que Hagrid começou a chorar alto.
- O que é o Bolinha? - perguntou Lílian em sussurro a Remo.
- É um pomorim - respondeu Remo, no mesmo tom.
- Mas a captura de pomorins é extremamente proibida pela lei e acarreta penalidades severas a quem faz isso! - exclamou Lílian, em tom de espanto.
- Foi exatamente isso - choramingou Hagrid. - O Dumbledore insistiu que o lugar do Bolinha não era comigo, e acabou arranjando de levar ele pra um santuário de pomorins. Espero que o Bolinha esteja se sentindo feliz lá, pobrezinho...
- Hã... Hagrid? - tentou Lílian, querendo amenizar o clima - Nenhum "filho" novo?
Parando imediatamente de chorar, Hagrid abriu um sorriso que ia de orelha a orelha, e levantou-se, convidando Lílian e Remo a irem com ele para fora da cabana, o que eles fizeram com muita satisfação por escaparem da cilada que deveria ser comer os "cookies" de Hagrid.
- Este é o Godric! - exclamou Hagrid, apresentando a Remo e Lílian um animal com cabeça de águia e corpo de leão que eles reconheceram como um grifo - O nome dele é uma homenagem a Godric Gryffindor.
Mantendo uma distância segura do animal, Remo e Lílian apenas o observaram, maravilhados.
- Ele é muito bonito, Hagrid... - disse Lílian. - Eu nunca tinha visto um grifo de perto.
- Nem eu - disse Remo.
- O Godric, se pudesse ir a Hogwarts, com certeza seria da Grifinória - disse Hagrid, sorrindo orgulhosamente, e, mudando de assunto, já com uma expressão mais séria - E você, Lily, como está?
Lílian sabia exatamente do que ele estava falando, e suspirou, antes de responder:
- Eu vou indo bem... - virou-se para Remo, e olhando significativamente para ele, os dois deram as mãos - O Remo tem me ajudado bastante... tem tido jornada dupla de trabalho comigo, de melhor amigo e de namorado... e eu também acabei mudando de opinião a respeito da Marina, irmã da Vicky. Sem ela, eu estaria muito mal... ela me deu o diário da Vicky, não sei se você sabe, Hagrid, mas a Vicky morreu brigada comigo... e no diário eu vi que ela não estava com raiva, e até parecia disposta a fazer as pazes comigo... nós teríamos nos entendido. - uma lágrima correu pelo rosto de Lílian, que a limpou instantaneamente com a parte de trás da mão - Eu sou imensamente grata à Marina por isso... e nós estamos nos ajudando bastante a superar a falta que a Victoria nos faz, trocamos experiências, conversamos sobre ela... e a Marina está bastante mudada, com a morte da mãe também...
Ivana Manchester, logo depois do enterro da primogênita, havia tomado uma poção mortífera, que fazia seu coração parar imediatamente. Meridius Manchester tentou abafar o caso, tal era a vergonha de ter uma esposa suicida, dizendo que ela teve um ataque natural pela tristeza de perder a filha, nada intencional, mas Marina havia contado à Lílian toda a verdade.
- Ivana estudou comigo, no mesmo ano, aqui em Hogwarts - disse Hagrid solenemente. - Foi realmente muito ruim o que aconteceu com ela, uma perda e tanto... ela era uma boa garota... mulher agora, digo... e não era tão depressiva quanto hoje em dia, muito pelo contrário, ela sempre foi muito alegre, foi só depois que ela casou com aquele crápula que ela ficou assim... Meridius Manchester era dois anos mais velho que nós, e ela sempre foi apaixonada por ele, mas mesmo depois do casamento, ele nunca soube dar a atenção e o amor que ela merecia.
"A Ivana era muito boa... e ela me ajudava com os estudos, sabem? E quando eu fui... expulso, ela sempre me apoiou."
Lílian pensou em perguntar por que diabos Hagrid fora expulso, sempre teve curiosidade em saber qual era o motivo, mas não achou o momento apropriado.
- Nós estamos com um novo professor de Trato com Animais Mágicos, você sabe, não é, Hagrid? - disse Remo, tentando mudar o curso da conversa.
- Sei - respondeu Hagrid, mal-humorado. - Ruffus Kettleburn não tem carinho algum pelos animais... vai ser muito bem feito se ele acabar perdendo as pernas e os braços...
- Que horror, Hagrid! - exclamou Lílian.
- É o que ele merece...
- Bem, eu também tenho as minhas antipatias - ponderou a garota.
- Menos uma... Tiago me contou que vocês fizeram as pazes - disse Hagrid. - Eu fico muito feliz... ele nunca foi tão amigo de uma garota quanto de você... vocês tinham uma amizade muito bonita.
Remo e Lílian se entreolharam, e ela falou:
- É verdade, Hagrid... quer dizer, acho que o que eu e o Potter combinamos mais pode ser chamado de "convivência pacífica". Nós combinamos parar de brigar, mas daí a sermos amigos...
- Já é um começo - disse Remo.
- É, é um recomeço - concordou Lílian.
- Ela também fez as pazes com a Heather, Hagrid - disse Remo ao guarda-caças.
- Verdade, Lily? - perguntou Hagrid.
- Mais ou menos. Eu e ela também estamos numa espécie de convivência pacífica, ela foi legal comigo no enterro, mas isso também não pode ser chamado de "fazer as pazes" porque eu e ela nunca fomos amigas. E nem somos hoje, mas estamos nos respeitando mais...
- É bom desfazer inimizades, mas eu mesmo nunca gostei da menina Waltham... ela me parece esnobe demais, sempre achei que o Chapéu Seletor tinha errado quando não colocou ela na Sonserina - disse Hagrid.
- Eu também não gosto muito dela - disse Remo, que nunca falava mal de ninguém. - Quer dizer, não é nem questão de não gostar, mas eu não falo com ela, nem ela comigo, daí não posso ter exatamente uma opinião.
- Admita, ela é antipática - disse Lílian. - Mas está mais mansa depois do que aconteceu.
- É... um pouquinho - concordou Remo, um pouco envergonhado.
- Todo mundo mudou depois do que aconteceu - disse Hagrid sombriamente.
- Hogwarts nunca mais vai ser a mesma, né? - disse Lílian num tom solene, ao que Hagrid sorriu.
- Hogwarts nunca é a mesma...
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Jeanine Jackson era uma nova-iorquina negra de personalidade jovial e temperamento expansivo, alta e realmente muito bonita, com cabelos encaracolados e longos e olhos verde-musgo. Ela era praticamente perfeita, na opinião de Tiago Potter, com quem a garota estava tendo altos papos no Salão Comunal da Grifinória nesse momento.
- Eu gosto bastante de quadribol, - disse Jeanine - mais ainda do que de Trancabola, que é bem mais famoso no meu país... e como não há muitos times decentes lá, eu sou fã de carteirinha do Puddlemere United...
- Do Puddlemere United? - perguntou Tiago, interessado - Sério? É o meu time desde que eu nasci!
- Bem, eu não sou fã há tanto tempo assim, e nunca tive a oportunidade de jogar, porque lá em Eastwick, minha ex-escola, o esporte oficial é o Trancabola, mas eu sempre sonhei em ser Apanhadora de Quadribol, mas como eu nunca pratiquei... na verdade, eu comecei a me interessar por quadribol quando eu vim aqui pro Reino Unido pela primeira vez, e eu devia ter uns 7 anos... mas meus pais não ligam muito pra esportes, e meu irmão, muito menos.
- Você tem um irmão?
- Tenho, sim, ele é mais velho que eu 12 anos, é quase um tio. Você não tem irmãos?
- Não... - respondeu Tiago. - Eu sou filho único, assim como o meu pai. Tenho dois tios por parte de mãe: o tio John, que eu adorava e morreu quando eu tinha 13 anos, e a tia Janet, uma solteirona escalafobética. O tio John teve uma filha, Juliet, de 5 anos, o que é uma grande diferença pra mim, que tenho quase 18, e ela está sendo criada pela tia Janet desde os 11 meses de idade, que foi quando os pais morreram.
- Você deve ser muito mimado... - brincou Jeanine.
Tiago sorriu.
- Mas eu tenho irmãos... tenho três irmãos, a diferença é que eu que os escolhi - disse ele. - O Sirius, o Pedro e o Remo... são os melhores irmãos que eu poderia ter.
- Eu nunca tive amigos que eu pudesse chamar de irmãos...
- Bem, - Tiago sorriu da mesma forma irresistível que fizera quase toda a população feminina de Hogwarts se derreter. - Eu me ofereceria para ser seu amigo-irmão, mas sabe, eu sou bastante contra o incesto, então eu não acho que seria muito prudente...
Jeanine sorriu rápido, desconcertada, ao que Edmundo Tabor cutucou Tiago:
- Tiago, a Vanessa está lá fora e pediu pra que eu te chamasse...
Jeanine cruzou os braços, divertida, e riu:
- Quer dizer que você tem uma namorada e já pensa em trair a pobre coitada com o seu projeto de irmã?
- A Vanessa? Minha namorada? - Tiago riu - Ela, sim, é a minha irmãzinha...
- Sei, sei... Vai lá ver o que a sua "irmãzinha" quer - disse Jeanine, rindo. - Depois a gente conversa sobre o incesto.
Sorrindo, Tiago deixou o Salão Comunal da Grifinória.
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Quando Dumbledore deu a notícia do Atentado ao Expresso de Hogwarts e que soube que seu único e melhor amigo, Hector Hastings, tinha morrido, Vanessa Montgomery, aluna do sexto ano da Corvinal, entrou em parafuso.
Mas quando Tiago Potter foi em seu encalço, naquele momento em que ela estava se sentindo realmente péssima, depois do instante de incômodo em que ele lhe pareceu terrivelmente inconveniente, ela sentiu-se reconfortada por haver alguém no mundo, ainda que esse alguém fosse praticamente um desconhecido, que se preocupava de alguma forma com ela.
Não fazia muita diferença que essa pessoa era o então Monitor-Chefe e capitão do melhor time de Hogwarts, não para Vanessa. Era simplesmente um ombro amigo numa hora difícil, e ela soube reconhecer isso.
Embora tenha achado melhor não comparecer ao enterro, Vanessa recebeu flores de Tiago, e depois dos funerais, sua visita junto com três amigos, que ela obviamente conhecia muito bem de vista.
Sirius Black era o mais alto e brincalhão, embora às vezes fosse longe demais com suas brincadeiras. Ele também era o mais forte e bonito dos quatro, com olhos negros e brilhantes que refletiam o futuro próspero que ele certamente teria pela frente e cabelos negros e compridos que lhe davam um ar selvagem.
Pedro Pettigrew era baixinho, gordinho e extremamente prestativo, com cabelos louros, fininhos e escassos e olhos pequenos e azuis. Muito bochechudo, ele parecia um bebê gigante, e era um ótimo amigo, que sabia ouvir e aconselhar.
Remo Lupin era o mais reservado dos três e um verdadeiro mistério para Vanessa. Era um pouco mais baixo que Tiago, tinha cabelos castanho-claros lisos e curtos; não era exatamente bonito, mas tinha um certo charme de intelectual. O que a intrigava, entretanto, era a forma com que seus olhos pareciam sempre melancólicos, não importa o quão feliz ele estivesse. Era uma tristeza da vida que nenhuma alegria parecia ser capaz de tirar.
E havia Tiago, que dos quatro, era o que mais a fazia lembrar do jeito de Hector com ela. Ele era quase tão alto quanto Sirius, e assim como Remo, não era dono de uma beleza convencional, mas Vanessa entendia muito bem o motivo pelo qual tantas garotas do colégio haviam sucumbido ao seu jeito de menino crescido. As feições de Tiago haviam mudado pouco desde que ele entrara em Hogwarts, em quase sete anos, ele parecia só ter esticado e encorpado um pouco com o quadribol. Ainda não havia sinais de barba em sua face, e isso o fazia parecer ainda mais um menino grande.
Eram, sem dúvida, quatro meninos de ouro, e do mesmo modo que desde o derradeiro dia 26 de dezembro, Tiago, e depois os outros, a adotaram como uma espécie de mascote, ela também os adotara como os irmãos mais velhos que jamais tivera.
E, por isso, agora que ela não tinha mais ninguém de amigo na Corvinal, todo santo dia, geralmente logo de manhã, ela ia procurá-los na entrada da Torre da Grifinória, de onde ela logo descobriu o caminho.
Ela sempre pedia para alguém que estava entrando ou saindo da Torre para chamar Tiago, e em pouco, lá estava ele.
Não foi diferente dessa vez, e ela sorriu quando o viu atravessar a passagem que o quadro da Mulher Gorda guardava.
- Oi, Vanessa! - ele a cumprimentou, acenando.
- Bom dia, Tiago - respondeu a garota, sorrindo.
- Então, o que você manda?
- Eu estava pensando em fazer uma visitinha ao Hagrid, e queria ver se você queria ir... sabe, eu costumava ir com o Hector...
- Entendo... - disse Tiago - Você quer ir agora ou prefere esperar pelos garotos?
- Eles vão demorar?
- Bem, eu não sei... o Sirius eu acho que foi ajudar o Pedro a pôr a matéria em dia para o recomeço das aulas, e o Remo... o Remo deve estar se agarrando em algum canto com aquela namorada dele...
- Ah, sim - exclamou Vanessa, sorrindo. - Bem, nesse caso, acho melhor irmos só nós dois mesmo... depois do jantar eu ainda pretendo estudar um pouco de Herbologia e Feitiços para não fazer feio na aula amanhã...
E com isso, os dois caminharam em direção à cabana de Hagrid, conversando animadamente no caminho.
Nem precisaram ir tão longe para encontrar o guarda-caças, porque ele estava fora de sua cabana, ao lado de um animal que parecia ser um grifo e de uma garota alta e ruiva de mãos dadas com um garoto um pouco mais alto que ela, de cabelos castanho-claros...
Ei!, pensou Tiago, aqueles dois são a Lílian e o Remo!
Nem um pouco intimidado por essa confirmação, Tiago continuou a andar, ao lado da amiga, em direção a Hagrid.
- Fala, Hagrid! - exclamou Tiago jovialmente. - Oi, Remo. Oi, Lílian - acrescentou, olhando rapidamente para o casal, para logo depois voltar sua atenção para Hagrid.
Vanessa meramente acenou para o pequeno grupo ao redor do grifo. Remo e Lílian apenas retribuíram o aceno, direcionando-o também a Tiago.
- Tiago! Vanessa! - exclamou Hagrid, alegre. - Hoje é o meu dia de sorte... tem dias que ninguém se lembra de vir me dizer "oi", mas quando eu tenho visitas, vem tanta gente que parece uma festa!
- Então, - disse Tiago, passando a mão sobre a cabeça de águia do grifo sem o menor traço de medo ou hesitação. - Onde você arranjou esse, Hagrid?
- Ele estava na Floresta, com a pata machucada - disse Hagrid, apontando para a pata esquerda do animal. - Eu trouxe o Godric para cá e o curei.
- Curou como? - perguntou Lílian, desconfiada, mas sorrindo.
- Hã... - fez Hagrid, sem graça. - Não digam isso pra ninguém, mas eu ainda tenho o que restou da minha varinha...
Embora isso fosse contra os seus princípios, até Lílian sorriu.
- É incrível como os bichos gostam de você, Tiago, - disse Hagrid, mudando de assunto.
- Eles apenas são bons quando sabem que vamos tratá-los bem - disse Tiago, não sem uma ponta de pretensão.
Hagrid sorriu, e Lílian, virando-se para Vanessa, perguntou:
- Quem é você? Você não é da Corvinal?
- Sou... sou, sim, - respondeu Vanessa, gaguejando espantada pela forma com que foi bombardeada com perguntas. - Meu nome é Vanessa Montgomery, mas não precisa me dizer o seu que eu já sei - acrescentou, sorrindo.
Lílian não respondeu, apenas olhou significativamente de Vanessa para Tiago.
Nesse momento, Hagrid falou:
- Que tal irmos lá pra dentro agora que vocês todos já conhecem o Godric?
Mesmo apesar de os quatro jovens já terem noção do banquete indigesto que os aguardava dentro da cabana de Hagrid, não tiveram como negar, e entraram lá com ele.
Remo e Lílian retomaram seus lugares ao redor da mesa, e mais duas cadeiras foram postas lá para acomodar Vanessa e Tiago. Em pouco tempo, Hagrid voltou com o tabuleiro de cookies (que ninguém havia comido até agora, uma vez que com a conversa sobre Candice Fielding, Remo e Lílian conseguiram escapar por pelo menos mais um pouco de tempo da culinária "animal" de Hagrid), e mais uma bandeja com chá, torradas, geléia e manteiga - provavelmente tudo preparado por ele.
Finalmente, Rúbeo Hagrid também sentou-se à mesa, e Lílian, Tiago, Remo e Vanessa se empenharam ao máximo para disfarças as caras de desgosto que fizeram por causa da comida.
Jovialmente, Hagrid insistiu que todos provassem os cookies que ele havia preparado, com o mesmo discurso anterior de que havia aprendido com Candy e que ela era uma ótima garota.
Compadecida, Lílian deu sua primeira mordida no biscoito, cujo gosto era de pura farinha com traços das gotas de chocolate excessivamente amargo. Sorriu forçada ao mastigar, e Hagrid, satisfeito, falou:
- Podem pegar quantos vocês quiserem.
Ao que tanto ela quanto os outros adolescentes quase engasgaram, e foi quase em uníssono que todos disseram:
- Não, obrigado, Hagrid.
Passada a provação inicial, Lílian virou-se para Tiago:
- Vocês estão namorando? - perguntou, referindo-se a ele e Vanessa.
Vanessa, sobressaltada, foi um pouco para frente com a cadeira, a fim de responder, mas, sem querer, de algum modo acabou dando com o cotovelo na manteiga caseira de Hagrid.
Com isso, todos começaram a rir, até um pouco jubilosos pelo fato de terem se livrado da obrigação de besuntar suas torradas com aquela manteiga de aspecto estranho, e até Vanessa acabou achando graça, embora parecesse um pouco constrangida quando se desculpou com Hagrid.
- Que nada, essas coisas acontecem - respondeu Hagrid, embora ele próprio nunca tivesse visto ninguém enfiar cotovelo em manteiga.
Vanessa sorriu, sem graça, ao que Tiago pegou o braço dela, apontou a própria varinha para o cotovelo da garota e murmurou "Abluo!", ao que a mancha que a manteiga havia deixado nas vestes dela desapareceu.
Lílian assistiu de sobrancelhas erguidas à cena, e disse:
- Do jeito que você ficou assustada com o que eu perguntei, Vanessa, vou tomar a resposta como um ‘sim’.
- Na verdade, não estamos - retrucou Tiago, guardando a varinha no bolso das vestes. - A Vanessa é só a nossa mascote.
Lílian abriu a boca para dizer qualquer coisa, mas se calou em seguida. O fato de eles terem adotado a garota, deixado que ela entrasse para o grupo, era muito pior do que se ela estivesse namorando Tiago. Era como se Vanessa estivesse roubando o lugar que por direito era de Lílian, porque, pelo menos se tratando de Tiago, uma amiga era uma coisa muito menos impessoal que namorada. Mas ela tratou logo de espantar esses pensamentos, e as lembranças de um tempo longínquo em que fora a melhor amiga de Tiago Potter, de sua cabeça. Dane-se o Potter, dane-se essa garota.
- O Tiago tem muitas namoradas - disse Hagrid, bebendo seu chá. - Mas quando eu vi ele entrando aqui com a Vanessa, nem pensei nada desse gênero, porque eu sei que ela não é de ficar namorando...
Vanessa corou.
- Eu também não sou uma assexuada, Hagrid - riu timidamente. - Eu só não encontrei ainda a pessoa certa pra mim...
- Mas pode deixar que quando você encontrar, o moleque vai ter que passar pela nossa aprovação, e se não te tratar bem, vai se ver conosco, - disse Tiago jovialmente - A gente mete a mão em quem se aproveitar da Vanessa, não é, Remo?
- É, sim, Tiago - respondeu Remo, quase que automaticamente.
- Ainda bem que você não falou "mete a varinha", ia pegar muito mal - disse Lílian num tom de voz baixo, arrancando gargalhadas de todos à mesa.
- Eu achava que você e o Hector um dia... você sabe - disse Hagrid à Vanessa, que se encolheu na cadeira, ficando escarlate. - Mas, deixa pra lá, não vamos ficar pensando no que poderia ter sido - virou-se para Remo e Lílian - Vocês que foram a grande surpresa pra mim... eu jamais imaginaria que vocês iam acabar namorando, eu tinha pessoas diferentes para cada um de vocês na minha cabeça, mas agora que vocês dois estão juntos, eu acho que fazem um casal muito bonitinho.
Remo e Lílian se entreolharam e sorriram, e ele se inclinou para dar um beijo de leve nos lábios dela. Nesse momento, Vanessa reparou, surpresa, quando ele olhava para Lílian, que o que parecia impossível acontecia, e a supostamente eterna melancolia dos olhos dele desaparecia completamente, dando lugar a um brilho radiante.
- Ainda vamos ter um casamento aqui em Hogwarts - disse Hagrid, aplaudindo.
Tiago e Vanessa sorriram, ele um pouco forçado, e ela sem-graça.
- Agora é você, Tiago, que precisa arrumar uma namorada firme - disse Hagrid. - Você parece um navio sem porto...
- Eu namorei a Heather por três anos, Hagrid! - protestou Tiago.
- Claro, - dessa vez foi Remo quem falou, num tom sarcástico - Você ficava com a Heather por duas, três semanas, daí brigavam, você ficava com umas duas, voltavam, mais um mês, terminavam de novo, você ficava com três,...
- Não era bem assim... - murmurou Tiago, parecendo um pouco envergonhado.
- Era sim - Hagrid fez coro, rindo. - Ou você não se lembra de que me contava tudo? E você acha que eu não tive que consolar com os meus chás uma porção de mocinhas desoladas porque você tinha tido um namorico com elas, mas voltou logo depois com a menina Waltham?
- Ok, eu não sou santo... - disse Tiago. - Mas eu nunca enganei ninguém. Será que a gente poderia mudar o assunto dessa conversa?
- Seria bom... - concordou Lílian, com um sorriso.
- Está começando a escurecer, - disse Remo - acho que seria bom que a gente voltasse pro castelo...
- Já? Eu nem percebi o tempo passar... - disse Hagrid.
- Nós realmente temos que ir, Hagrid, - disse Lílian, se levantando - Foi muito bom pôr a conversa em dia com você.
- Vê se não demora tanto para voltar aqui como fez da última vez - disse Hagrid à garota, que sorriu.
- Pode deixar!
- A gente também vai indo, - disse Tiago - não é, Vanessa?
- É, vamos sim, - respondeu a garota, que estava distraída, muito rápido.
Todos se dirigiram à porta, e depois de finalmente se despedirem de Hagrid, voltaram ao castelo de Hogwarts.
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Quando Lílian chegou ao seu dormitório, encontrou Candy Fielding sentada sobre a sua cama.
- Olá, Lily! - Candy a cumprimentou, com seu habitual sorriso doce, chamando Lílian pelo apelido. - Espero que você não se importe, mas eu tomei a liberdade de arrumar a sua bolsa com o material todo que você vai precisar amanhã, e de quebra, ainda ajeitei a bagunça que estava a sua arca.
Lílian sentiu uma profunda raiva daquela garota que tentava inutilmente conquistar sua amizade. Ela detestava que mexessem em suas coisas, mas tudo o que respondeu foi um "Obrigada" muito seco.
Candy, obviamente, reparou, tanto no tom quanto na cara que Lílian fez, e, expressando o seu desgosto com a reação da moça no rosto, disse em voz chorosa:
- Eu sei que você não gosta de mim...
- Imagina - retrucou Lílian em tom gelado, enquanto se ajoelhava para procurar alguma coisa em sua arca.
- Por favor, não seja irônica - pediu Candy. - Eu não fiz nada de ruim pra você não gostar de mim... quer dizer, talvez... - e calou-se.
Lílian virou-se para a garota, com ar subitamente interessado, e perguntou:
- Talvez o quê?
- Ah, eu não devo... - murmurou Candy, se levantando e andando de um lado para o outro.
Revirando os olhos, Lílian insistiu:
- Não deve o quê, Fielding?
- Está vendo? - exclamou Candy - Você sabe... você está me chamando pelo sobrenome, você já deve saber...
- Sei o quê?
- Eu juro que a culpa não foi minha, eu não fiz nada para que ele... - Candy estava quase em prantos.
- Ele quem?
- Com certeza, você reparou no jeito com que o Remo anda me olhando... - disse Candy, cautelosa - Mas eu juro que não fiz nada para encorajá-lo a agir dessa maneira...
Lílian encarou Candy por alguns segundos, sem dizer nada, até que falou:
- Eu não vi nada, você deve estar interpretando errado os "olhares" dele...
- Como eu gostaria que fosse só isso... - murmurou Candy. - O problema é que ele próprio se insinuou para mim...
- Se insinuou como?
- Eu não sou de fazer intrigas - disse Candy, virando-se de forma a não encarar Lílian, e depois se virando para ela novamente - Mas eu te admiro muito, Lily, muito mesmo, e por isso eu não acho justo o que ele está fazendo com você...
- E eu posso saber o que ele está fazendo comigo? - perguntou Lílian, num tom monótono.
- Ele... - Candy começou a chorar - Ele me chamou para sair escondido de você...
Lílian riu alto.
- Escuta, Fielding, você não conhece o Remo... não vou nem dizer que seja de má fé que você está fazendo isso, mas o Remo nunca teve outra namorada na vida além de mim... ele só saiu uma vez com uma francesa por imposição dos amigos, e já faz tempo... e ele é um cara romântico. Eu confio nele.
E, pegando o rolo de pergaminho que procurava na sua arca, Lílian preparou-se para sair. Quando ela estava de costas para Candy e prestes a abrir a porta, a garota falou, fazendo com que Lílian parasse:
- O nome "Jardim das Fênix" diz alguma coisa pra você, Lílian?
Sem se dignar a olhar para trás, Lílian abriu a porta e saiu, mas quem visse o seu rosto não viria estampado nem vestígios da autoconfiança que ela demonstrou dentro do dormitório.
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- Por que você está parecendo tão preocupado, Remo? - perguntou Pedro, observando o amigo que via a chegada da noite através da janela de seu dormitório.
- O de sempre, Pedro, o de sempre - respondeu Remo em tom cansado, fechando as cortinas.
- Está na hora, não é? É amanhã? - perguntou Pedro.
- É...
- Achei que você já tinha se acostumado...
- Como eu poderia me acostumar com isso?
- Não sei... é só que acontece todo mês, achei que você já tinha aceitado...
- Eu não tenho como não aceitar, mas acredite, eu não gosto nem um pouco disso...
- Mas você parece mais preocupado que o habitual, Remo...
- A Lílian...
- O que tem ela? - perguntou Pedro, ao que algo pareceu estalar dentro de sua cabeça - Ela ainda não sabe?
- Não - retrucou Remo, um pouco mais rápido do que o normal.
- E quando você pretende contar a ela?
- Não sei...
- Você sabe que vai ter que contar um dia, não sabe?
- Sei, mas é difícil... eu não sei como ela reagiria...
- Remo, se ela gosta de verdade de você, ela vai te aceitar - disse Pedro. - Eu, o Tiago e o Sirius te aceitamos, por que ela não aceitaria?
Remo apenas sorriu debilmente e deu um tapinha nas costas de Pedro, antes de se jogar sobre a sua cama com um suspiro mofado.
Pedro ergueu as sobrancelhas e voltou a ler sua revista.
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Desde que voltou de sua visita a Hagrid, Tiago não saiu de perto de Jeanine Jackson. Qualquer um que conhecesse um pouco dele perceberia que Jeanine seria sua futura vítima. Obviamente, Heather Waltham percebeu isso muito bem, e nem por um minuto deixou de olhar disfarçadamente para Tiago.
- Você disse que gosta de Quadribol, não foi, Jeanie? - perguntou Tiago, com aquele seu sorriso de derreter gelo, já tão íntimo da garota que a chamava por apelido.
- Disse.
- Você queria ser apanhadora, não é?
- Queria, mas eu nunca pratiquei...
- Hã... isso não importa muito, porque o talento vem de dentro... adivinha só, estamos com a vaga de apanhador aberta, já que o nosso... bem, ele estava no trem.
- Oh - exclamou Jeanine, arregalando um pouco os olhos. - Eu adoraria, mas...
- Como capitão do time da Grifinória - Tiago foi dizendo - Eu gostaria de fazer um teste com você...
- Um teste?
- É, um teste... para ver se você tem talento mesmo...
- Tiago, eu não sei o que dizer... - murmurou Jeanine, sorrindo de orelha a orelha. - Você faria isso por mim?
- Pelo time... estamos precisando de grandes jogadores como você.
- Mas você ainda nem me viu jogar... - ponderou a garota, desconfiada.
- Ainda não - concordou Tiago. - Mas é que eu tenho uma forte intuição, sabe?
Se Jeanine conhecesse Tiago um pouco mais, certamente não cairia nessa ladainha.
- E quando seria esse teste? - ela perguntou.
- Agora.
- Agora?
- Por que não? - exclamou Tiago, já se levantando da poltrona.
- Porque... oras, porque... - a garota parecia perdida por palavras - Já é tarde, e...
- Deixe de besteira, Jennie - disse Tiago. - Vamos!
E puxando a garota, que parecia completamente perdida e ria tolamente, Tiago caminhou em direção à passagem da Mulher Gorda.
- Jeanine, Tiago... - disse Sirius, que vinha da direção contrária, e havia acabado de entrar no Salão Comunal. - Aonde vocês vão com tanta pressa? - acrescentou, com um sorriso maroto.
- Jogar quadribol - respondeu Jeanine, rápido.
Suprimindo um riso, Sirius continuou seu caminho para o interior do Salão, ao que Jeanine e Tiago saíram da Torre da Grifinória. Em pouco, Sirius deu de cara com Heather olhando fixamente para a passagem, e caminhou até ela.
- Noite, Heather.
- Boa noite, Sirius - ela respondeu, num tom de voz seco. - Você sabe para onde... ele foi?
Erguendo as sobrancelhas e com um sorriso que mostrava exatamente o que ele estava pensando, Sirius respondeu prontamente:
- Foram jogar quadribol.
- Jogar quadribol? - ecoou Heather, com uma risada nervosa. - Ele vai jogar quadribol com ela?
- É o que parece... - retrucou Sirius, divertido. - Que cara é essa, Heather?
- Aposto que ele vai querer mostrar os seus pomos de ouro...
Sirius arregalou os olhos. Aquilo fugia completamente ao conceito de quadribol...
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Lílian foi até a Biblioteca como se absolutamente nada houvesse acontecido, talvez apenas o seu rosto estivesse mais pálido e preocupado que o de costume. Ela sempre ia à Biblioteca quando estava mal, talvez porque o ambiente lhe fosse agradável; ela sempre se sentia bem em meio aos livros.
Na verdade, ela só havia passado no dormitório para buscar um pergaminho onde ela havia feito umas poucas anotações de descumprimento de regras durante o feriado, mas de repente, sentiu-se sem nenhuma vontade de punir os alunos desrespeitosos. Ela própria rasgou o pergaminho no meio do caminho para a biblioteca e fez os seus restos desaparecerem com um feitiço.
No caminho, no entanto, percebeu alguém segurando-a pelo braço. Era Marina.
- Lílian! - exclamou a garota, que estava bem mais pálida e abatida e perdera vários quilos desde a tragédia, mas que, no entanto, parecia muito menos vivaz e bonita do que antes.
- Oi, Marina.
- Que cara é essa?
- A minha.
- Sério, Lily... eu achei que nós estivéssemos sendo amigas...
- Eu só estou meio preocupada...
- Com o quê?
- O Remo...
- O que tem ele?
Lílian olhou para os lados e checou se não vinha ninguém. Num tom de sussurro nervoso, disse:
- Aquela nojenta, a Candice Fielding... ela disse que ele anda dando em cima dela...
- Lílian! - o tom de Marina era bem mais alto do que o dela - Você vai acreditar numa reque invejosa?
- Mas é que... você não entende!
- O que eu não entendo? Que a sua insegurança chega ao ponto de você acreditar no que uma qualquer diz e desconfiar do próprio namorado, que, me desculpe, mas qualquer um nota que arrasta um bonde por você?
- É que ela... - Lílian parecia levemente envergonhada. - ela sabe de coisas que supostamente só eu e o Remo saberíamos...
- Desencana, Lily... ela é só uma invejosa fofoqueira - disse Marina. Lílian realmente sentia falta de Victoria, que pelo menos nessas horas, teria sido mais compreensiva. - Eu tenho que ir, Lily...
- Tchau, Marina - retrucou Lílian, num tom um pouco seco demais e continuou seu caminho até a biblioteca.
Quando chegou lá, foi prontamente cumprimentada pela bibliotecária:
- Lílian, querida, estava sentindo a sua falta por aqui...
Lílian era uma das poucas alunas com quem Irma Pince simpatizava.
- A senhora sabe, Madame Pince... as coisas andam difíceis ultimamente, e eu mal tenho tido tempo de pegar uma coisinha para ler... - respondeu a garota rapidamente.
- Eu entendo, Lílian, bem... você já conhece todas as estantes dessa biblioteca... fique à vontade.
Agradecendo, Lílian procurou uma mesa bem ao fundo da Biblioteca, e bem longe das vistas de quem quer que seja. O problema é que, em véspera de volta às aulas, à temporada de aulas de primavera em Hogwarts, a Biblioteca estava lotada, e foi um custo para que ela encontrasse uma mesa isolada de todas as outras.
Ela pegou pergaminho e pena e começou a rabiscar. A melhor terapia para Lílian era rabiscar, porque assim, por mais idiota que parecesse, ela não pensava em nada.
E foi nesse estado de distração que ela se encontrava quando alguém disse:
- Posso me sentar aqui?
Ela ergueu os olhos e deu de cara com Piers Woolfenden, dessa vez afastado de seu inseparável joguinho portátil. Assentiu e ele sentou-se à mesa dela, derrubando um livro muito grosso sobre a mesa.
- É muito difícil? - ele perguntou, muito rápido.
- Hã?
- É muito difícil... aqui em Hogwarts?
- Ah, sei lá! - retrucou Lílian. - Eu estudei aqui a vida inteira, não tenho base de comparação.
- A maioria dos alunos transferidos vem de Eastwick, que é a maior escola de bruxos da América, mas eu venho de North Abbey, que é a mais tradicional...
- Eu já li a respeito das outras escolas de magia - disse Lílian. - Certamente você esteve muito melhor servido em North Abbey que em Eastwick.
- Mas eu soube que as escolas na Europa são mais puxadas.
- Eu realmente não tenho como te responder... nunca estudei em outra escola de magia que não fosse Hogwarts.
- Entendo...
- Você é muito calado, né?
- Um pouco... - respondeu Piers, com as orelhas começando a ganhar alguma cor mais avermelhada que o habitual branco de leite azedo - Quer dizer, é que aqui eu não conheço ninguém.
- Você não conhece... nem a Jeanine Jackson nem a... Candice Fielding?
- Conheci a Jeanine Jackson aqui em Hogwarts, ela era de Eastwick, mas conheço a Candice há tempos - respondeu o garoto, num tom de voz severo. - Ela também estudava em North Abbey e... ela é minha ex-namorada.
Pelo tom de voz com que ele falava de Candy, Lílian sentiu-se satisfeita ao constatar que não era a única em Hogwarts a detestar a garota.
- Ah, entendo... - disse Lílian, mesmo que estivesse doida para perguntar mais. - Bem, eu tenho que ir... boa sorte com os livros!
- Tchau.
E, com isso, Lílian saiu da Biblioteca, ainda preocupada com o que quer que tenha havido entre Candy e Remo, mas muito melhor por ver que mais alguém compartilhava de sua péssima opinião sobre Candice Fielding.
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- Acho que você já deve saber, mas eu sempre apresento tudo aos novos jogadores... - disse Tiago, sorrindo, ao abrir a caixa com as bolas já no campo de quadribol do colégio.
- Novos jogadores? - exclamou Jeanine, surpresa. - Quer dizer que...?
- Não, ainda não - respondeu Tiago amigavelmente. - Olha, são dois balaços, que servem para os batedores atirarem nos jogadores, uma forma de atrapalhar o jogo do time adversário; uma goles, e aí está o meu trabalho como artilheiro, tenho que driblar o goleiro e marcar gols. E por último, o pomo de ouro... o apanhador tem de pegá-lo antes do apanhador do time adversário...
- Eu já sei disso... - disse Jeanine, sorrindo.
- Pronta para praticar?
- Claro! - exclamou Jeanine, animada. - Eu sempre quis jogar quadribol, mas nunquinha na vida tive a oportunidade...
- Vai ter agora...
- Você não sabe o quanto eu estou agradecida... mas... onde estão as vassouras?
- A minha está aqui.
Não vendo nenhuma vassoura, demorou alguns segundos para que Jeanine entendesse a suposta piada:
- Tiago!
- O que foi? - ele riu. - Pensando besteira, srta Jackson? A minha vassoura está aqui! - disse ele, tirando uma caixinha, do tamanho de uma caixa de fósforos, do bolso e, com um feitiço, fazendo-a aumentar e voltar ao tamanho normal.
Instantaneamente, era possível ler na caixa "Nimbus 1001". Tiago abriu a caixa e tirou dela, com muito cuidado, a vassoura.
- Uau! - exclamou Jeanine, olhando maravilhada para a Nimbus 1001 de Tiago. - É a vassoura mais moderna que existe!
- É, sim... - disse Tiago, orgulhoso. - Eu ganhei de Natal dos meus pais...
- Que legal!
- Você vai ser a primeira pessoa pra quem eu empresto... - disse Tiago, embora parecesse um pouco receoso. Com um suspiro, disse - Bem, eu vou jogar o pomo e vou cronometrar quanto tempo você demora para capturá-lo... é um teste simples, porque não tem nenhum batedor atrás de você, nem apanhador adversário... é só pra dar uma idéia da sua velocidade.
Tiago entregou sua Nimbus 1001 à garota, que, desajeitada, montou na vassoura. Logo que ela pareceu pronta, ele soltou o pomo de ouro no ar e virou de cabeça para baixo uma ampulheta graduada.
Passou um minuto, dois, três... o próprio Tiago via o pomo perto de si, à esquerda da orelha de Jeanine, na frente do nariz dela, mas a garota era tão desajeitada com a vassoura e parecia tão distraída que a impressão que ele tinha era de que ela nunca iria capturar o bendito pomo.
Quatro minutos, cinco, seis, sete,... meia hora, uma hora. Nada. O próprio Tiago começava a ficar impaciente:
- Na sua frente, Jennie! - ele gritou mais de uma vez.
Mas ela apenas olhava para os lados e tirava as mãos da vassoura para tentar pegar às cegas o pomo, se desequilibrava - era visível que não sabia voar direito - e voltava a se apoiar na vassoura.
Tiago suspirou. Definitivamente, Jeanine precisaria melhorar muito para chegar à categoria de péssima.
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Lílian voltou ao Salão Comunal, ainda aborrecida, e jogou-se sobre uma poltrona, começando a ler um livro que havia escolhido ao acaso na Biblioteca.
Remo caminhou até ela, mas ela fez questão de mostrar o quão interessada no livro estava, de uma forma quase cômica.
- Lily, o que foi?
- Nada.
- Você está franzindo as sobrancelhas.
- É que o livro é muito intrigante.
Remo riu, deu a volta na poltrona, olhando para ela e disse:
- Gozado... é legal mesmo?
- É...
- Puxa, e isso é uma nova técnica de leitura?
- Hã?
- Ler de cabeça para baixo...
Foi só então que Lílian percebeu que demonstrara tanto interesse pelo livro que nem notara que ele estava de ponta-cabeça. Ela jogou o livro no colo e encarou Remo, vermelha como seus próprios cabelos.
- Qual é o problema com você, Lily? - ele perguntou, ajoelhando-se ao lado da poltrona.
- Eu já disse que não tem nada comigo!
- Então eu quero que você me explique - disse ele. - Por que você está fria comigo, por que você está lendo um livro de cabeça para baixo e franzindo as sobrancelhas desse jeito, e por que você está me evitando?
- Não enche, Remo! - ela exclamou, largando o livro na poltrona e subindo as escadas para o seu dormitório quase correndo, e deixando o namorado sozinho.
- Mulheres... - murmurou Remo, tomando o lugar de Lílian na poltrona e mexendo no livro sem muito interesse.
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Ao chegar no dormitório, Lílian ficou satisfeita ao constatar que Candy não estava lá. Encontrou apenas Diana, penteando os cabelos.
- Oi, Lílian - ela cumprimentou, sorrindo.
- Oi - respondeu Lílian, desabando sobre a própria cama.
- Você acha que eu devo mudar a cor dos meus cabelos?
- Sei lá.
- É que talvez eu aparente ser menos burra se deixar de ser loura.
- Diana, tinta pinta cabelo, não cérebro.
- Eu sei, mas... talvez eu fosse ficar com menos cara de débil mental, tivesse um ar mais inteligente...
- Você quem sabe...
- Da cor dos cabelos da Candy, talvez? - divagou Diana. - Os cabelos dela são muito bonitos e ela tem cara de inteligente com eles.
Lílian revirou os olhos e disse:
- Você quer virar clone dela? Você vai parecer muito mais panaca tentando imitar o estilo de outra pessoa do que mantendo o seu próprio.
Diana a encarou perplexa e voltou a pentear seus cabelos, sem responder. Lílian percebeu que havia sido grosseira, mas não estava com paciência para pedir desculpas ou falar qualquer coisa.
Dali a pouco, alguém bateu à porta.
- Pode entrar - disse Diana, com voz meiga.
Era Remo. Ele entrou no quarto, foi direto até Lílian, e antes que ela pudesse protestar, ele disse:
- Diana, você poderia nos dar licença por dois minutos, por favor?
Lílian ficou com a coluna muito esticada e virou-se para Remo:
- O que você quer?
- Toma o seu livro - ele disse, jogando o volume de capa vermelha sobre a cama dela.
- Só isso?
- Você sabe o que eu quero... Lílian, eu conheço você. O que está havendo de errado?
- Nada.
Ele a segurou com força pelo braço.
- Você está me machucando, Remo.
- Me diz, Lílian, qual é o problema?
- Se você não é capaz de me dizer, Remo, eu vou continuar calada.
Ele a soltou e se afastou bruscamente, saindo porta afora.
- Você acaba de assinar a sua confissão, Remo Lupin - ela murmurou, percebendo que seus olhos começavam a se umedecer.
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- Ela sabe - disse Remo a Sirius, de supetão.
Sirius estava sentado num sofá do Salão Comunal conversando com Heather Waltham, e foi interrompido por Remo justamente num momento crítico da conversa. Ele olhou para o amigo, embasbacado, e perguntou:
- Ela quem sabe o quê?
Remo suspirou e Sirius, pedindo licença a Heather, pulou o sofá e seguiu o amigo até um canto:
- O que foi, Remo?
- A Lílian... ela sabe.
- Sabe do quê?
- Do quê, Sirius? Adivinha.
Sirius suspirou e respondeu, por fim:
- É o que eu estou pensando?
- É...
- Como ela descobriu?
- Não sei...
- Eu sabia que era pra você ter contado...
- Mas eu não contei. Bem, eu também não tenho certeza se ela sabe.
- Como assim?
- Eu só sei que se ela não sabe, ao menos desconfia.
- O que está acontecendo afinal, Aluado?
- Ela estava fria comigo... e depois disse que eu sabia qual era o problema com ela.
Sirius revirou os olhos:
- Ah, Remo, vá te catar! Você que está sendo complexado, bem se vê que você não tem experiência alguma com mulheres...
- Hã?
- Remo, meu amigo, você deve ter esquecido alguma data importante, deve ter agido de alguma forma que ela não gostou... se fosse o que você está pensando, ela não estaria fria com você... - disse Sirius. - Ela estaria tocando o rebu em Hogwarts e fugindo de você.
- Ah, grande consolo - murmurou Remo sarcasticamente. - Mas o que será que ela tem, então?
- Mulheres são assim... acordam bem num dia e te agarram, mas no outro, querem ver o seu cadáver.
Remo riu.
- Sério, Aluado... - disse Sirius. - Não é para você se esquentar com isso, não, que com certeza ela não sabe... com certeza ela não soube pela boca de ninguém, mas é bom que você conte antes que ela descubra sozinha. Porque a Lílian tem neurônios o suficiente para fazer isso... eu e o Tiago descobrimos por nós mesmos, não foi?
- É, mas...
- Mas você nos contou antes que te disséssemos o que nós tínhamos descoberto - completou Sirius. - E é por isso que a gente é seu amigo hoje, porque você nos deu uma prova de que confia na gente... não que a gente fosse te dedurar, nós nunca faríamos isso, mas o fato de você ter dito isso pra gente mudou tudo... porque era você quem estava provando que era nosso amigo, que confiava na gente... e nós aceitamos o que você é, Remo, porque nós somos seus amigos de verdade... nós somos seus irmãos.
Remo sorriu e Sirius continuou:
- Mas a Lílian não vai fazer como a gente, a Lílian não vai ficar de boca calada por dois meses esperando que você venha contar a ela... ela vai ficar chateada com você por não ter dito antes, ela vai dizer isso na sua cara logo que descobrir a verdade. Mas se você contar, ela vai ver que você confia nela, que você gosta dela de verdade...
- Ela vai sentir medo... ela vai ficar com medo de mim, medo de que eu possa machucá-la... e repulsa... nojo de estar com um lobisomem.
- Se você realmente acha que ela vai sentir isso quando souber, Remo, eu não sei o que você viu numa garota como essa... se ela sentir isso daí que você está falando, ela não é nem um pouco digna de estar com você.
- E se for por pena, Sirius? E se por pena, ela resolver continuar comigo?
- Você está muito paranóico, Remo... ela está com você agora, e não está com você por pena... o fato de você ser o que é não altera nada... por que, depois de saber, ela ia ficar com você por um motivo diferente do motivo pelo qual ela está com você agora?
- Não sei... eu não sei, Sirius...
E, com isso, Remo andou para longe do amigo, que voltou para o seu lugar no sofá.
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Tiago já estava sentado, encostado numa baliza, com os braços cruzados, e a ampulheta - cujo limite era de uma hora - já tinha sido virada três vezes e se preparava para a quarta, sua marca já apontando quarenta e oito minutos, o que significava que, por duas horas e quarenta e oito minutos, Jeanine ainda não chegara nem perto de capturar o pomo de ouro; quando a garota começou a gritar:
- Consegui! Consegui!
Tiago ergueu os olhos e viu Jeanine com o pomo na mão. Levantou-se preguiçosamente, pensando na enrascada que havia se metido quando propôs que ela fizesse o teste, e, forçando um sorriso, exclamou:
- Nada mal!
De modo canhestro, ela aterrissou, e não parecia mais tão animada pelo "feito".
- Eu demorei muito, não foi?
- Hã... - Tiago olhou para a ampulheta.
- Quanto tempo?
- Duas horas e quarenta e oito minutos... - ele disse.
- E isso sem ser nem jogo - murmurou Jeanine. - Eu devia saber... sou péssima!
- Que isso! - exclamou Tiago, tentando ser compreensivo, embora compartilhasse da mesma opinião. - Você só... nunca jogou...
Ela baixou a cabeça e começou a soluçar baixinho:
- O meu sonho sempre foi ser jogadora de quadribol...
- Shhh... você foi muito bem pra quem... não tem experiência. Tão bem que... - ele viria a saber mais tarde o quão difícil foi tomar essa decisão - tão bem que você está oficialmente no time da Grifinória!
Jeanine ergueu a cabeça e abriu um sorriso que ia de orelha a orelha, e pulou no pescoço de Tiago, dando-lhe um abraço apertado:
- Jura? Sério mesmo?
- É... é sério sim...
Ela, muito contente, começou a beijar todo o rosto de Tiago, bochecha, queixo, olhos... boca.
Foi um beijo "selinho", mas bastou para que houvesse o choque e ela se afastasse bruscamente de Tiago, envergonhada:
- Desculpa... foi erro de mira...
- Desculpa? - ele riu. - Adoro erros de mira desse tipo.
E, com isso, ele a puxou para outro beijo, dessa vez bem mais passional que o primeiro.
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Sua ausência no jantar não passou despercebida, e Tiago notou isso logo que viu uma Lílian Evans aborrecida, batendo a varinha na mão, bem no portão do Salão Principal, que separava o castelo de Hogwarts do resto da propriedade.
- Até que enfim, Potter! - exclamou Lílian, já esquecendo do armistício que travara com o garoto. - Estava esperando você resolver se lembrar das suas responsabilidades!
- Hã? - talvez pela sessão de agarramento a que tivesse acabado de ser submetido, Tiago parecesse um pouco lento para entender as coisas. - Ah, a reunião.
- Éééé... - Lílian sorriu cinicamente. - A nossa reunião diária de monitores que você insiste em esquecer...
Jeanine olhou de Tiago para Lílian e, constrangida, disse:
- Hum... eu vou indo... até mais, Tiago - disse, com um ar que Lílian achou idiota. - Tchau, Lílian - acrescentou.
Lílian acenou para a garota com um sorriso forçado, e Tiago ainda deteve sua cabeça virada na direção dela por um tempo.
- Potter!
- Aqui, Evans!
- Que idéia é essa de cabular a reunião?
- Eu... ah, Evans, você mesma sabe que eu sempre acabo me esquecendo e você vai sempre sozinha mesmo... Por que diabos você resolveu esperar pela minha oh-tão-ilustre pessoa dessa vez?
- Ah! - exclamou Lílian. - Quer dizer que você acha certo eu fazer o trabalho todo sozinha?
Tiago revirou os olhos.
- Não foi isso que eu disse.
- Foi o que você quis dizer - resmungou Lílian. - Mas vamos deixar de conversa mole que nós temos muito trabalho para fazer.
Dando de ombros, Tiago a seguiu até a sala da monitoria.
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- O que tanto tinha pra gente fazer aqui, senhora Monitora? - perguntou Tiago, examinando desinteressadamente a pauta abandonada sobre a mesa.
- Não sei.
- Como você disse que tem muito trabalho então?
- Eu não sei se tem muito trabalho ou não, Potter - disse Lílian rispidamente. - Eu só acho que seria bom se você assumisse as suas responsabilidades como Monitor Chefe pelo menos de vez em quando. Não é justo que a trabalheira fique toda nas minhas costas.
Tiago meramente revirou os olhos.
- E, de todo modo, - disse Lílian, quase que se defendendo. - Amanhã as aulas vão recomeçar e nós temos o que pôr em dia aqui.
- Por exemplo?
- Ah, Potter! - reclamou Lílian. - Vá procurar o que fazer também, parece até que eu sou a única Monitora-Chefe aqui!
- Qual é o problema com você, Evans?
Lílian olhou para ele com raiva:
- O problema, Potter, é que eu estou cansada de servir de elfo-doméstico pra você, ouviu bem? Daqui por diante, as nossas tarefas como Monitores-Chefes vão ser divididas irmamente, entendeu?
- OK, Evans, mas qual é o propósito de me trazer aqui quando não se tem nada pra fazer?
- Como não há nada pra fazer? - exclamou Lílian, irada. - É só procurar, trabalho não falta. Durante esses seis meses em que eu fui Monitora-Chefe praticamente sozinha, não faltou trabalho uma vez sequer.
- Eu achava que o seu problema era falta de homem, Evans, mas agora, ou o Remo não está dando conta do recado ou então você tem mesmo uma crise de TPM aguda que dura o mês inteiro.
- Ah, cala essa boca, Potter! Você é um vagabundo preguiçoso e acha que cobrar que você cumpra as suas responsabilidades na hora em que você deveria cumprir as suas responsabilidades mas preferiu ficar se agarrando com uma garota que você mal conhece, é falta de homem ou TPM. Eu só estou fazendo com que você cresça e veja que têm tarefas a fazer!
- Cala essa boca, você, Evans!
- É ruim escutar verdades, não é?
Ele riu e retorquiu:
- Então é por isso que você ficou tão irritada quando eu disse que o seu problema é falta de homem...
Lílian ficou mais vermelha que o seu cabelo, e, deu um passo até Tiago, o agarrou pela gola das vestes com tanta força que os dois caíram, ela em cima dele, sobre a mesa.
Ela sacou sua varinha e a estava apontando para o rosto de um Tiago Potter perplexo quando a porta se abriu.
- Uau! - exclamou Audrey, com Astor, seu ET de estimação, no colo. - Estamos interrompendo uma sessão de sadomasoquismo ou o quê?
Lílian, muito envergonhada, saiu de cima de Tiago e se ajeitou rapidamente, ao que o garoto, pouco depois, levantou-se da mesa, ainda meio atordoado, e arrumou os óculos.
- Hã... - fez Lílian, agora vermelha de vergonha. - Não é o que parece...
Audrey riu, e entrou na sala da monitoria, sendo seguida por Lucas.
- Não ligue para o que a Audrey diz, Lílian - disse Lucas, também rindo. - Metade não deve ser levado em consideração.
Audrey lançou ao marido um olhar significativo.
- Obrigada pela parte que me toca - disse ela a Lucas, e, voltando-se para Lílian e Tiago, continuou, sorrindo - É só que, vocês sabem, é tradição os Monitores-Chefes terem alguma coisa com as Monitoras-Chefes, não é? - acrescentou, dizendo essa última parte para Lucas.
- É verdade... - disse Lucas. - Eu e você nos casamos... a Glenda Smith e o John McKinley namoraram por dois anos... William Cage e Catherine Grant teriam se casado se ela não tivesse, bem... morrido; e, que eu saiba, Amos Diggory casou-se com a Christina Finley também...
Lílian e Tiago se entreolharam, com caretas idênticas.
- Bem... o que vocês querem? - perguntou Lílian muito rapidamente.
- Nós... bem... - começou Lucas - A gente só queria lembrar dessa sala... foi aqui que nós começamos a namorar...
- Oh - fez Lílian.
- E o Astor está aqui para uma ménage à trois? - perguntou Tiago, recuperando a velha forma.
Audrey e Lucas riram.
- Na verdade, nós só viemos ver a sala. Mesmo - disse Audrey.
- Sei, sei... - brincou Tiago.
Nisso, Astor começou a percorrer a sala no seu passo de criança altista, e, com um barulho esquisito que parecia um guincho, chamou Lucas.
- O que foi, peste? - perguntou Lucas ao ET.
O pequeno alienígena respondeu com outro guincho.
- Ele está dizendo que achou alguma coisa - Audrey explicou à Lílian e Tiago.
- O quê? - Lílian quis saber.
Como que respondendo à Lílian, Astor pegou com sua mãozinha de três dedos um papel do chão e entregou a ela.
Lílian arregalou os olhos ao ler o panfleto: estava visivelmente em código. Mas ela era uma bruxa esperta o suficiente para entender que bastava um simples feitiço tradutor para desvendar aquilo, e, executando a magia, olhou novamente para o panfleto.
E seus olhos se arregalaram ainda mais.
Juventude Puro-Sangue Consciente
Trouxas são uma raça repugnante. Vivem a destruir os recursos naturais do mundo, vivem a se achar superiores a tudo, vivem a nos acusar de ser crendice popular. Trouxas são seres patéticos, infames, incapazes de produzir qualquer tipo de magia. Ainda assim, são maioria no mundo. Talvez porque o raro é mais precioso, estejamos mesmo em menor número.
Mas ainda defronte a todos esses malefícios, alguns bruxos dotados de distúrbios mentais acasalam-se a seres de tamanha insignificância, e, eventualmente, produzem espécimes mais dotados de sangue mágico do que do pestilento sangue dos trouxas. O sangue, verdadeiro elixir da vida, perde sua consistência mágica no processo.
Ainda há os casos de trouxas produzirem um filho com uma quantidade miserável de magia nas veias, mas ainda assim, suficiente para serem detectados pelos radares mágicos e serem convidados a ingressar em escolas de renome como Hogwarts. A pergunta é: será que é justo que vocês, bruxos por direito, de sangue-puro e completamente mágico, se misturem com raça de tal imundície?
Com o espalhamento dessa raça mestiça e impura, que acaba por também produzir descendentes com bruxos de sangue-puro, há cada vez menos bruxos legítimos e mais com pouco poder. Eventualmente, não haverá mais nenhum.
A causa prega que cortemos o mal pela raiz. Sábio foi Salazar Slytherin quando humildemente sugeriu que não fossem aceitos alunos de sangue impuro. O início deve ser o banimento dos impuros, e, após as pequenas conquistas, o total extermínio de sua pestilência do mundo.
Faça valer o seu sangue de bruxo legítimo e torne-se um Comensal da Morte. Aqueles que forem fiéis ao Mestre serão muito bem recompensados.
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Lílian passou o papel, atordoada, a Audrey, que leu e arregalou ainda mais os seus olhos naturalmente arregalados.
- Precisamos avisar Dumbledore - foi tudo o que Audrey disse, antes de puxar um Lucas confuso e sair correndo pelos corredores, com Astor em seus calcanhares.
Tiago virou-se para Lílian, com uma expressão interrogativa no rosto.
- O que houve? - perguntou.
- Adivinha - retrucou Lílian, sem emoçãão. - Um folheto de um fanático... e eu que achava que isso tinha sido extinto com Grindelwald... ou com nós, trouxas, há algum tempo...
Uma lágrima rolou pelo rosto de Lílian, embora a própria não aparentasse desolação no rosto. Tiago percebeu e a enxugou com um dedo.
- Você não é trouxa, Lílian... você é uma bruxa. Das melhores que eu já conheci.
Ela afastou a mão dele e deu um passo para trás.
- Eu não preciso da sua compaixão, ouviiu bem, Potter? Não preciso! - gritou, nervosa, e saiu pela porta.
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- Achei você! - berrou Marina, o que fez Lílian, já a um corredor bastante distante da sala da Monitoria, parasse.
Lílian estava quase da cor de seus cabelos e seus olhos estavam também meio vermelhos, mas à primeira vista, Marina não pareceu reparar.
- Esta aqui é uma amiga que eu queria muito te apresentar - disse Marina, apontando para a garota a seu lado, que só então, Lílian notou.
Era uma moça de uns 15 anos, mais ou menos da idade de Marina, com cabelos castanhos escuros e pele bronzeada. Lembrava um pouco Candice Fielding fisicamente.
- Lany, esta é Lílian Evans, de quem lhe falei. Lílian, esta é Elaine Fielding.
- Pode me chamar de Lany - disse a moçaa rapidamente.
- Prazer - retrucou Lílian, confusa. Por que diabos Marina iria querer lhe apresentar a irmã de Candy a essa hora da noite?
- Viu como ela está, Lany? A megera deve ter andado atacando novamente - disse Marina, finalmente dando atenção ao estado emocional de Lílian.
Lany deu um sorrisinho tímido, e respondeu:
- Megera é um pouco de exagero, mas... bem, eu queria te contar... a Candy já fez algo parecido comigo.
Oh, não! Pensou Lílian, a Marina já andou espalhando a minha história.
- É mesmo? - perguntou Lílian, sem muitto interesse.
- É, sim - respondeu Marina, por Lany, que nada falava. - Vamos logo discutir o babado!
E puxou Lílian e Lany, uma com cada mão, e entraram numa sala deserta.
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- Viu, viu? Eu não disse que ela era só uma reque invejosa? - exclamou Marina, toda cheia de si, assim que Lany acabou sua narrativa.
- É, é sim - concordou Lílian, embora agora, o seu namoro com Remo tivesse uma importância quase nula em relação à possibilidade de uma guerra futura entre bruxos "do bem" e Comensais, e ainda a chance de trouxas, e... semi-trouxas serem exterminados.
Lany Fielding havia acabado de contar uma verdadeira odisséia amorosa. Lílian ouviu conscientemente apenas parte do relato, distraída como estava, mas entendeu que Lany namorava, Piers Woolfenden, em North Abbey, ou melhor, tinha uma espécie de rolo - que Lílian não entendeu muito bem o conceito - com o garoto. Ela gostava dele, ele gostava dela. Um belo dia, Candice resolveu que a irmã era muito nova para namorar e que Piers era areia demais para o caminhãozinho dela, disse a Lany qualquer mentira a respeito dele, ela acreditou, encerrou o "rolo" com ele, mas Candy correu para consolar o garoto, deu em cima dele, ele se apaixonou, os dois namoraram (para o grande espanto de Lany), mas pouco tempo depois, terminaram. Realmente, era parecido com o que Candy estava tentando fazer com ela em relação a Remo.
- E por que você não volta com o Piers, Lany? - Marina perguntou de supetão, como se fosse a coisa mais simples do mundo.
- Er... - Lany começou, ruborizando. - É um pouco complicado agora, e de certa forma, eu me decepcionei com ele. Além do mais, já tivemos a nossa chance.
- Chance desperdiçada, se você quer saber a minha opinião - resmungou Marina. - Por uma reque invejosa.
- A "reque invejosa" é minha irmã, apesar de tudo - disse Lany, e virou-se para Lílian. - Mas não ligue para o que ela falar... se ela estiver fazendo a mesma coisa que fez comigo, ela vai conseguir a maior quantidade de detalhes verídicos possível, mas distorcer bastante. Ela não é esse doce de pessoa que gosta de parecer ser.
- Eu já tinha percebido - respondeu Lílian. - Mas agora sei que, além de tudo, ela é uma mentirosa... e falsa. E que eu fui muito injusta com o Remo.
- Eu não acredito! - exclamou Marina, num tom bastante agudo. - Não me diga que você terminou com ele por causa daquela reque!
- Não, eu não terminei - respondeu Lílian. - Mas tratei muito mal.
- É melhor você corrigir... - disse Lany - enquanto é tempo.
- Obrigada - disse Lílian.
As três se despediram, Lany e Marina seguiram para a Torre da Corvinal, e Lílian, para a da Grifinória.
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No dia seguinte, Lílian, já se sentindo melhor e meio esquecida do panfleto que achara na sala da Monitoria, fez plantão muito cedo na porta do dormitório dos garotos, e quando Tiago, num acontecimento quase inédito, foi o primeiro a sair pela porta, ela engoliu sua rixa com o garoto e foi logo perguntando:
- Potter, o Remo já acordou?
- Bom dia para você também, Lílian. Achei que a nossa "amizade" já tinha progredido pelo menos para uma convivência pacífica na qual nos trataríamos pelos nossos primeiros nomes.
Lílian revirou os olhos.
- Ok, Tiago, o Remo já acordou?
- Não sei. Espere aí - ele enfiou a cabeça para dentro do quarto, e gritou lá para dentro - Ei, Remo, você já acordou?
Lílian apenas cruzou os braços, ao que Tiago tirou a cabeça do vão da porta e voltou a encará-la, já com uma resposta:
- Lílian, ele está fazendo sinais para eu dizer que não. Boa sorte.
E, cantarolando alguma coisa, ele desceu as escadas, e Lílian abriu a porta do dormitório com raiva, esquecendo inclusive da possibilidade de ver alguém sem roupas.
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Quando viu Lílian entrar daquele jeito no dormitório, Remo Lupin teve tempo apenas de pensar nas maneiras mais dolorosas de assassinar Tiago Potter.
- Que história é essa de mandar dizer que ainda está dormindo? - ela perguntou, quase que aos berros, e sem se importar com os outros garotos, ainda deitados, mas ouvindo.
- Lílian, por favor... - fez Remo, mas teve seu pedido ignorado.
- Por favor digo eu, Remo - reclamou Líílian. - Olha, eu sei que eu fui meio grosseira ontem, mas me evitar por causa disso?
- Lílian, - disse Remo cautelosamente - Eu sei que nós temos que... conversar. Eu só não acho que este seja o momento apropriado.
- Conversar? - murmurou Lílian. - Você quer dizer que...?
- Mais tarde, Lílian, mais tarde - disse Remo, quase que empurrando a namorada do quarto.
A porta se fechou atrás dela, e Lílian apenas teve tempo de olhar para ela, com cara de tacho, e murmurar para si mesma:
- Será que eu exagerei tanto assim ontem?
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Diferentemente do que prometera, Remo não foi procurar Lílian "mais tarde", embora o conceito de "mais tarde" pudesse ser mais amplo do que ela esperara. E foi com uma pontada no estômago que ela percebeu que o namorado sentou-se quase que no extremo oposto da mesa da Grifinória de onde ela estava, para o café da manhã.
Lílian ficou apenas a cutucar a comida, desinteressada, até quando viu.
Jeanine Jackson chegou ao Salão Principal toda serelepe. Sendo o assento ao seu lado o único vago, Lílian esperou que a garota viesse se sentar lá. Pelo menos seria bom ter alguém com quem conversar, afinal, mesmo que fosse uma conversa impessoal e vazia. Mas Jeanine seguiu para o outro lado da mesa. O lado onde estavam todos os Marotos. Lílian ficou apenas a observar a cena, sentindo-se ligeiramente revoltada.
Tiago levantou-se na mesma hora para cumprimentar a garota.
- Bom dia, Jeanie!
- Bom dia, Tiago - ela respondeu, e, a princípio, pareceu meio confusa na hora de mirar o que deveria ser um beijo na bochecha do colega de escola.
Mas parece que a mira estava bem errada mesmo, e de forma obviamente proposital. O beijo foi na boca. Um selinho, mas na boca.
- Isso é algum tipo de amizade coloridaa? - brincou Sirius, rindo da cena.
- Hum - fez Jeanine. - Nós estamos... nós estamos...
- Namorando - completou Tiago, embora parecesse bastante atordoado.
Lílian ficou boquiaberta, mas Heather Waltham levantou-se de onde estava e retirou-se do Salão Principal, parecendo bastante ofendida. Sirius, assim que percebeu, a seguiu.
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Não demorou para que Sirius alcançasse Heather, em uma escada próxima do Salão Principal, e a segurasse pelo braço. Ela soltou-se de forma quase feroz.
- Me deixa em paz, Sirius!
- O que deu em você? - ele perguntou.
Heather revirou os olhos.
- O que você acha, hein?
- A Jeanine Jackson com... o Tiago? - disse Sirius, parecendo de algum modo ferido.
- Está na cara, não está? - fez Heather. - Eu sei que o Tiago não merece, mas eu não posso evitar... eu ainda gosto dele, Sirius.
Sirius suspirou.
- E onde está o imbecil do seu namorado?
- Gilderoy? - Heather riu. - O Gilderoy está comigo mais por ter algo que já "pertenceu" a Tiago Potter do que por qualquer outra coisa. Sejamos francos, Sirius, eu tenho meus atributos, mas o sonho verdadeiro de Gilderoy Lockhart é ser o Tiago.
- E você se presta ao papel de ficar com ele?
- Necessidades físicas. Eu não sou o tipo de garota que fica sozinha por muito tempo. Além do mais, eu queria mostrar ao Tiago que posso me virar sem ele.
- E você... tem esperanças de voltar com o Tiago?
- Não sei.
- Você... quer voltar com o Tiago?
Depois de uma pausa, Heather respondeu:
- Quero. Não há razão de negar, há?
- Então... - Sirius suspirou - então... acho que a melhor maneira que você tem de... conseguir o que quer é manter a dignidade e descer. Aprenda, o Tiago precisa se sentir menos seguro de que pode ter você de volta a hora que quiser... se você se mostrar indiferente, ele vai ficar inquieto.
Heather sorriu, e Sirius continuou:
- Além do mais, ele sempre volta para você, não é?
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O dia seguiu tranqüilo, embora a fofoca do dia fosse o namoro de Tiago Potter e Jeanine Jackson. Apesar disso, os pensamentos de Lílian estavam concentrados em Remo e na maneira com que ele estava agora evitando olhar para ela. Lílian, por sua vez, decidiu que também não tomaria a iniciativa de ir falar com ele.
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- Você tem certeza de que não quer falar com ela? - Sirius perguntou a Remo, enquanto os outros se aprontavam para a habitual "viagem" mensal.
- Tenho - respondeu Remo, sem olhar o amigo nos olhos. - É melhor assim.
- Remo, o que me frustra em você é esse seu jeito de corno manso - disse Sirius, irritado. - Pelo amor de Deus, você parece sentir tanta autopiedade que fica patético!
Remo olhou para Sirius, incrédulo, e Sirius prosseguiu:
- Eu só estou te dizendo isso porque sou teu amigo. Acho que você devia abrir o jogo de uma vez com a Lílian ao invés de ficar nessa de "oh, eu não mereço ela". Sem sacanagem, Remo, se ela não te aceitar como você é, quem não te merece é ela. E pára com essa dor de corno por antecipação, pelo amor de Deus.
- Eu já disse que não estou preparado para falar, Sirius, vê se entende! - Remo também parecia irritado, e se levantou, abrindo a porta em direção ao Salão Comunal.
- Vocês estão vendo? - disse Sirius aos outros dois. - Depois ele que não diga que eu não avisei.
- Ele me pediu para mandar a Jeanine entregar um bilhete à Lílian - avisou Tiago.
- Um bilhete?! - exclamou Sirius. - Isso tudo é covardia?
- Agora que eles estão... juntos, acho que ele não tem coragem de dizer uma mentira assim, tão na cara dela - disse Tiago. - E eu vou indo entregar o bilhete logo, depois a gente sai.
- E tem que ser rápido - acrescentou Pedro. - Porque agora não somos só nós quatro neste quarto.
- É mesmo! - exclamou Sirius. - Maldição! O Dumbledore tinha que deixar aquele corujão no mesmo quarto que nós?
Corujão significava algo como "nerd" na linguagem dos bruxos.
- Ele é legalzinho... - disse Tiago. - Mas vai nos atrapalhar, não tenha dúvidas. Agora eu vou, antes que fique muito tarde... e eu vou dar um toque no Remo para ele deixar de ficar circulando no Salão Comunal agora.
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Foi só quando terminaram as aulas do dia, e ainda antes do jantar, que Lílian subiu para a Torre da Grifinória, sentindo-se exausta e derrotada, e foi abordada por Jeanine Jackson.
- Lílian... os meninos resolveram fazer uma viagem hoje, o Dumbledore autorizou, mas... o Remo pediu para que eu te entregasse este bilhete.
Lílian olhou de Jeanine para o bilhete, e o pegou, mas não o abriu até chegar ao dormitório.
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Lílian ficou satisfeita ao constatar que nenhuma das outras garotas estava no quarto, o que a deixaria em paz para ler a carta. Ela encostou-se, meio inclinada, em seu travesseiro, e finalmente abriu o bilhete:
"Lílian,
Perdão. Houve uma fatalidade, tive de viajar de emergência com os meninos. Dou os detalhes mais tarde, não se preocupe.
Com amor,
Remo"
Lílian sentou-se, com a coluna ereta e a respiração ofegante. O que diabos estava havendo com Remo agora?
Ele sempre inventava essas indisposições todo mês, e estava fugindo dela o dia todo. Mas, pelo menos, e esse pensamento era o que aliviava todos os outros na cabeça dela, ele escrevera "com amor". Isso deveria significar alguma coisa, não deveria?
E, nesse momento, Candice Fielding abriu a porta.
- Lílian! - ela exclamou, de forma teatral.
Lílian, a princípio, ficou apenas levemente irritada. O básico, se tratando daquela garota. Mas então, Candy se aproximou de forma que até pareceria fraternal, e se sentou na cama de Lílian.
- O que você está fazendo na minha cama? - Lílian perguntou pausadamente, os olhos faiscando de raiva.
- Ah, Lílian, eu sinto muito... - disse Candy, de forma pretensamente melancólica, embora Lílian pudesse jurar que vira o esboço de um sorriso.
- Sente muito pelo quê?
- Ah... claro. Você não sabe o que o canalha fez. Ou pior, - disse Candice - o que ele é.
- Do que você está falando, Fielding? - Lílian perguntou, irada. - Olha, eu não estou bem hoje e não vou ficar caindo nas suas intrigas idiotas. Não está escrito "débil-mental" na minha testa, está? Eu já entendi que você está afim do Remo, mas é simplesmente ridículo a forma que tenta conseguir o que quer.
- Eu não iria querer ficar com ele... - disse Candy. - Ele não é... normal.
Lílian fez uma careta. Anormal é você, sua reque, pensou, sem, no entanto, transmitir o pensamento para a "reque" em questão.
- Você não sabe... pobrezinha - continuou Candice, se deliciando em dar a notícia. - Ele é um lobisomem.
Candy deu a notícia a Lílian assim, tão na lata, que a primeira reação da garota foi soltar uma bela gargalhada.
- Você está realmente ficando patética com essa história toda... parece vilã de romance de jornaleiro - disse Lílian, mas Candy não pareceu ficar ofendida.
- Pode achar que é bobeira, mas eu estou falando isso porque sou sua amiga. Você nunca se perguntou por que ele tem de se ausentar todo mês? Eu achei que você fosse inteligente, com todo o respeito. Você nunca olhou o calendário lunar? Nunca reparou que é nessa época que ele some?
Repentinamente, Lílian parou de rir. E arregalou os olhos. Um silêncio incômodo foi gerado.
- Quando... quando você soube disso? - Lílian perguntou, por fim, gaguejando.
- Acabei de receber uma coruja de meu pai - disse Candy. - Ele é Auror, - essa parte foi dita com grande orgulho - foi designado para cá, por isso que tivemos de nos mudar, aliás. E, bem, ele tem acesso a esse tipo de informação e quando soube que havia um lobisomem em plena escola, me avisou para me manter distante. E eu achei que você merecia ser avisada, apesar da forma fria com que me trata.
Lílian engoliu em seco e assumiu um aspecto pensativo, digerindo a informação que acabara de receber. Candy começou a acariciar os cabelos ruivos de Lílian.
- Ai, Lílian, eu sinto muito, muito mesmo. E ele nem te contou nada, o canalha... queria só te enganar... uma criatura tão nojenta... você deve estar sentindo repulsa por ter sido tocada por ele, agora.
Lílian tirou a mão de Candy de sua cabeça bruscamente, e olhou para a garota de um modo que parecia que iria mordê-la, de tanta raiva.
- Cale essa sua boca - disse, vagarosamente. - Seja o Remo o que for, ele nunca vai ser uma criatura tão repulsiva quanto você.
Aquilo não tinha sido um grande moral, mas a forma com que Lílian disse isso fez com que Candy desse um pulo para trás.
- Você é uma mal-agradecida - disse uma Candy assustada, por fim. - Eu vou te deixar aí sozinha para pensar melhor na injustiça que você está cometendo comigo.
E saiu. Lílian realmente pensou. Se é que havia no que pensar, numa situação tão clara como aquela. Remo a havia enganado.
E esse pensamento singular era pior do que qualquer criatura que Remo pudesse ser. Era traição. E era algo que Lílian jamais soubera tolerar.
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Já passara das cinco da madrugada, mas Lílian não se importava. Não sentia vestígio algum de sono, tal era a sua ansiedade. Ela estava sentada numa poltrona bem de frente para o retrato da Mulher Gorda, pernas e braços cruzados. Estava usando lentes de contato, um par que ganhara de Tiago Potter - feito por ele mesmo - havia uns quatro anos, e que lhe permitia ver através de qualquer coisa. O que significava que ela podia enxergar sob capas de invisibilidade.
E foi cerca de meia hora após o sol nascer que ela viu. Sob a famosa capa de invisibilidade de Potter, estava Pedro Pettigrew junto de Tiago e Sirius, que apoiavam... Remo, sendo que este parecia um tanto debilitado. Isto não impediu que Lílian fizesse o que estava por fazer.
O único que pareceu notá-la foi Tiago, mas a princípio, não pareceu se importar, uma vez que ele tinha consciência de que estava debaixo de uma capa debaixo da qual, a priori, não deveria ser visto. Mas este pensamento foi logo dissipado quando Lílian caminhou até eles e retirou-lhes a capa com alguma violência.
Todos se assustaram ao vê-la, mas Remo parecia ter visto uma assombração. Tiago era o que parecia mais tranqüilo, como se tivesse certeza de que podia tirar Remo daquela situação.
- Olá, Lílian! - ele a cumprimentou de forma jovialmente debochada.
Mas Lílian ignorou Tiago, e seus olhos verdes, agora emoldurados por uma argola vermelha de raiva, estavam mirados em Remo Lupin.
- Como você pôde? - ela perguntou. - Você achou que tinha o direito de esconder isso de mim?
- Na... na verdade... - Pedro tentou pôr panos quentes. - Nós só estávamos dando uma voltinha pelo colégio... escondidos à noite.
Sirius lançou a Pedro um olhar de reprovação.
- Cala essa boca, Pedro. A merda quanto mais mexida, mas fedida fica.
- Você já sabe, então, Lílian - disse Remo, desviando o olhar da garota e se esforçando para parecer calmo. - Não tem nada que eu precise dizer.
Lílian cruzou os braços, indignada, e falou:
- Ah, não há nada? Você não vai tentar se justificar e nem nada?
- Me justificar por ser o que eu sou? - exclamou Remo. - Eu bem que gostaria, mas não há como. Talvez você queira ouvir a história de como um moleque de 3 anos foi mordido por um lobisomem.
- Você sabe que não é disso que eu estou falando - disse Lílian, muito vermelha. - Eu poderia perdoar qualquer coisa, Remo, mas você me enganou. E eu não quero ouvir seus ataques de autopiedade. Você sente tanta pena de si mesmo que foi até capaz de achar que eu não aceitaria sua condição, quando quem não a aceita é você mesmo. Pra mim, chega, Remo.
E, com isso, ela virou-se, tentando conter as lágrimas, e saiu pelo retrato da Mulher Gorda. Remo não tentou impedi-la.
Os quatro Marotos se entreolharam, atônitos. Tiago foi o primeiro a falar:
- Você não vai atrás dela, Remo?
Remo suspirou, e sem encarar o amigo, respondeu:
- Não.
- Então você é tão frouxo quanto ela disse que você era - disse Tiago.
Remo não respondeu. Sirius fitou Tiago como quem compreendesse o que ele dissera. Pedro também permaneceu quieto.
- Agora está feito, Remo - disse Sirius, por fim. - Eu disse que o melhor era contar a ela.
- Você precisa jogar isso na minha cara? - exclamou Remo. - Além do mais, não é o fim do mundo. Ela pode viver sem mim - hesitou - e eu posso viver sem ela.
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Mas ao contrário do que Remo disse, nem ele nem Lílian pareceram estar muito bem durante o dia que se seguiu. Ele deu um jeito de faltar a todas as aulas do dia, e nem mesmo os outros Marotos sabiam onde ele havia se enfiado. Já Lílian, era visível que ela se sentia perturbada.
O fato é que ela não tinha mais amigos. Victoria Manchester estava morta, Remo Lupin, que de amigo havia virado namorado, agora não era mais nem uma coisa, nem outra. Marina Manchester podia ser legal às vezes, e servir para se animar em determinadas situações, mas o seu temperamento definitivamente não batia com o de Lílian, e ela podia ser bastante inconveniente quando queria (e quando não tinha a intenção, também). Hagrid era um bom conselheiro, mas não era como se ele realmente pudesse entendê-la.
Ela estava pensando agora em Tiago, e em como ele fora tão especial e intensamente seu amigo durante quase cinco anos, e como seria bom ter o que ele era agora para conversar. E foi quando não o Tiago de quinze, mas o de dezessete anos entrou intempestivamente na Sala da Monitoria, onde ela estava fingindo que fazia alguma coisa.
- Potter? - ela exclamou, atordoada. - O que você está fazendo aqui?
- Eu também sou Monitor - ele disse rapidamente. - O que já dispensaria perguntas desse tipo. Mas, realmente, o que eu vim fazer aqui não tem nada a ver com isso.
Lílian o encarou. Ele parecia tão sério que seria praticamente impossível reconhecer aquele garoto irritantemente brincalhão e idiota a que ela estava acostumada.
- Olha, Potter, se você veio falar sobre o seu amiguinho, saiba que eu não estou nem um pouco disposta a ouvir, e...
- Não está disposta, mas vai ouvir - ele falou, num tom imperativo que normalmente teria feito Lílian berrar com ele pela audácia, mas que estranhamente, fez com que ela o obedecesse. - Eu não sei onde ele está, e, francamente, mesmo que soubesse, não iria atrás dele agora. Porque isso é um dever seu.
- O quê?
- Eu ainda não terminei, Lílian - Tiago prosseguiu. - Eu já fui seu amigo há alguns anos, e, acredite ou não, eu gostava disso. E você fez algo bem parecido com o que está fazendo com o Remo agora, mas a diferença é que eu não admito que magoem meus amigos.
Lílian ficou indignada. E ele não a tinha magoado anos atrás?
- O Remo me magoou.
- Eu sei, Lílian - Tiago pareceu finalmente ceder na firmeza que vinha mantendo na voz. - Mas eu queria só que você buscasse compreender... não é tão fácil assim ser um lobisomem.
- Ah, e eu suponho que você saiba - ela disse, sarcástica.
- Sei... não tanto como o Remo, não metade do que o Remo sabe, mas sei, porque eu estive durante cinco anos ao lado dele, tentando entender e fazendo o meu melhor para apoiar ele. Porque ele é meu amigo e não é perfeito, e eu não estou falando do fato de ele ser um lobisomem, mas do fato de que ele também demorou a me contar. E eu sei que se ele não fez isso antes, é pelo mesmo motivo que também escondeu de você: medo de perder. E não estou falando também do medo de perder algo banal como uma taça de quadribol ou qualquer porcaria desse tipo, mas do medo de perder algo que se conquistou e que se aprecia... e que se ama. Eu nunca aprovei o namoro de vocês dois, e ainda não aprovo. Mas estou aqui porque sei que isso é importante para ele.
Lílian apenas encarava Tiago, os olhos duros, mas sem dizer nada. Ele continuou:
- Faça você o que quiser, Lílian, mas não seja tão paranóica a ponto de pensar que se ele escondeu o que escondeu de você foi por um motivo menor do que a adoração, ou até amor, que ele sente por você. Ele não quis te enganar, ou trair. Ele quis só te preservar, por mais sem sentido que isso possa parecer. E ele não precisa de um carrasco mais cruel do que a própria consciência, porque ele próprio já se sentia pouco merecedor de você... - Tiago suspirou. - Eu não estou tentando isentar ele da culpa de não ter te contado, Lílian, estou só tentando te mostrar que ele teve seus motivos, e que é muito fácil culpá-lo sem estar na pele dele.
Lílian suspirou e baixou os olhos. Houve um silêncio momentâneo, até que Tiago perguntou, por fim:
- Você já sabe o que vai fazer?
Ela não respondeu.
- Muito bem, Lílian... você não precisa me dizer. Mas se você ainda é metade da garota que foi minha amiga, eu posso ter certeza de que você vai tomar a melhor decisão.
Ela não respondeu, continuou apenas a encará-lo.
- Você viu a gente debaixo da capa... - começou Tiago - com a lente que... eu te dei?
Lílian assentiu, e, com isso, ele saiu da sala, com o esboço de um sorriso, deixando a garota sozinha com seus pensamentos.
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Era óbvio que ela sabia onde ele estava. Como todo casal, eles também tinham seu lugar especial (e brega), e no caso, tratava-se do Jardim da Fênix.
Remo estava sentado na grama quando ela se aproximou, sem que ele percebesse, e sentou-se ao seu lado. Ele a viu e se assustou, mas seu tom de voz pareceu calmo quando ele finalmente falou, mesmo que não olhasse para ela:
- O que você veio fazer aqui?
- Conversar - disse Lílian. - Nós temos muito que falar.
- Pode começar... eu já estou acostumado. E se você quiser vir falar que ainda quer ser minha amiga e que talvez eu possa até ser um lobinho de estimação bonitinho para você, eu posso até sorrir.
- Sem essa, Remo - ela falou, levemente irritada. - Você não faz idéia do motivo pelo qual eu estou aqui?
- Você já disse que quer conversar. Eu sou todo ouvidos.
Lílian revirou os olhos. Por que ele tinha que dificultar tanto as coisas?
- Você me magoou, Remo, me magoou muito. E não foi porque você é o que é, mas...
- Pode falar lobisomem.
- Um lobisomem, então, Remo. Não ia fazer diferença... Mas o que me magoou foi o fato de você não contar.
- Se não ia fazer diferença, pra quê contar?
- Ah, pára com essa lógica imbecil! Você entendeu muito bem o que eu disse. Mas se você achava que eu ia terminar com você só porque você era um lobisomem, devia pelo menos ter me dado esse direito.
- Você já terminou.
- Mas eu queria ouvir de você. Eu queria que você tivesse confiado em mim o suficiente para não omitir algo tão importante.
- Eu sei, Lily - Remo abaixou a cabeça. - É só que quando eu estou com você... você consegue me fazer esquecer. E eu não queria perder isso.
- Você não ia perder - ela falou. - Você não perdeu.
Ele virou-se para ela, de súbito, e seus olhos pareciam brilhar.
- Você pode... você pode... repetir o que disse?
Lílian sorriu, e segurou as mãos dele. Então suspirou e disse algo que lhe pareceu forçado e até duvidoso, mas que era perfeitamente apropriado ao momento:
- Eu te amo, Remo... e eu também tenho defeitos. E eu compreendo a razão que te fez esconder tudo de mim, mas... talvez se nós pudéssemos tentar de novo, do zero... e se prometêssemos sermos absolutamente sinceros um com o outro...
Ele apenas a encarou, incrédulo.
- Você tem certeza, Lílian? Você tem certeza de que quer ficar comigo?
- Tenho - ela respondeu sinceramente.
E então, ele a beijou. E tudo pareceu perfeito entre eles, de repente. Mas não para sempre.
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