DE TRÉGUA À GUERRA
- É ÓBVIO que o Puddlemere United vai ganhar nesta temporada. Nós temos os melhores jogadores. - exaltou-se Tiago Potter, já a altas horas da madrugada, quando a maioria dos alunos já havia despencado em suas camas, e só restava ele e Sirius no Salão Comunal.
- Tiago, não viaje... o Montrose Magpies é o melhor desde sempre. Hamish MacFarlan, o grande mito, era nosso! - disse Sirius. Quadribol era o único assunto no qual as opiniões de Tiago Potter e Sirius Black realmente se diferiam.
- Mitos, mitos... quantos nós já não tivemos? Jerome Parry, Vincent Bronwell, Lola Lemmon, Kate Marshall, Oliver Finch... O Puddlemere United é o time mais antigo. Os outros são imitação.
- E você esperava que eles jogassem contra quem, se não houvesse com quem competir?
- Ah, não enche... e de mitos atuais, nós temos Claudius Jennings como apanhador... não há como nos vencer!
- Eu francamente não acredito até hoje na forma como você jogou fora a melhor oportunidade da sua vida...
- Ah, isso de novo, não, Sirius! Primeiro que eu JAMAIS viraria a casaca e jogaria por outro time, segundo que eu não ia ficar jogando fora e estudando ao mesmo tempo, muito menos para o Montrose Magpies!
- Você é o maior idiota que eu conheço.
- Você jogaria pelo Puddlemere?
- Não, mas...
- Então não me venha com essa...
- Eu só acho que você jogou uma grande oportunidade fora...
- Problema meu...
- Você é um grande babaca, Tiago.
- Muito obrigado.
Sirius não pôde deixar de rir.
- Quer saber, Tiago? Eu vou dormir...
- Eu também...você já viu o Remo passar?
- Ele já deve estar no vigésimo sono lá em cima, se bobear deve ter subido antes da gente...
- Deve ser...
E os dois finalmente subiram as escadas, e por segundos, deixaram de ver Lílian Evans e Remo Lupin entrando no Salão de mãos dadas e idênticos sorrisos tolos no rosto.
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Lílian acordou muito cedo, ou melhor, não chegou a dormir. Passou a madrugada inteira, ou o que restara dela, divagando sobre o que havia acontecido entre ela e Remo, e agora, já que os primeiros raios de sol começavam a entrar pela janela, levantou-se, extremamente disposta, para quem não havia pregado o olho, e, a despeito de si própria, viu-se rejeitando praticamente o seu guarda-roupa inteiro.
O uniforme de Hogwarts era composto por basicamente as mesmas roupas, com variações muito pequenas mais relativas ao clima: havia um tipo de uniforme para quando estava calor, e outro, para dias mais frios, mas eram ambos muito parecidos. O que não mudava era a capa preta. Para a sorte - ou azar - de Lílian, em época de feriados, como era o caso, podia-se usar roupas normais.
Ela fez algo que jamais se julgara capaz de fazer, e espalhou sobre a cama todas as roupas que julgava mais insinuantes - sim, agora que ela tinha um namorado não podia se vestir feito uma nerd.
Lílian estava experimentando e cogitando a possibilidade de usar, mesmo apesar do frio, um vestido vermelho que ganhara de tia Dóris no seu aniversário de 17 anos, no último 21 de agosto, e nunca usara por tê-lo julgado indecente, quando Heather Waltham, a cara ainda amassada pelo sono, levantou a cabeça, sentou-se na cama, espreguiçou-se e disse, numa voz abafada e espantada:
- Evans, Evans... quem diria... eu veria minha avó usando um vestido desses antes de imaginá-lo em você.
Lílian teria dado uma resposta mais ferina em dias normais, mas apenas ruborizou e manteve-se calada.
Heather levantou-se da cama, com cara de quem havia dormido muito mal.
- Eu ao menos esperava que você estivesse menos desagradável hoje, Waltham, já que você e o seu namoradinho parecem ter se entendido. - disse Lílian, voltando à velha forma.
- Cala a boca, Evans. Aquele babaca não me interessa mais. - retrucou Heather.
- Nossa! Que demonstração de falta de interesse você fez ontem... aposto que a sua língua estava explicando para a dele esse novo ponto de vista. - riu-se Lílian, enquanto Pontas pulava no seu colo e ela acariciava sua cabeça.
- O que deu em você para ficar tão sarcástica hoje, Evans? Não faz muito o seu gênero...
- Nada, eu só estou de bom humor, e muito obrigada por se preocupar.
Heather foi andando até o banheiro, ainda mais carrancuda, e Lílian suspirou, desistindo do vestido vermelho, com medo de parecer patética usando algo com tão pouco tecido em pleno inverno, e optou por calça e pulôver, bem justos.
Diana Davis também acordou, e parecia bem séria sem aquele habitual sorriso estúpido.
- Bom dia, Lílian. - disse ela, num tom monótono.
- Bom dia, Diana. - respondeu Lílian, pensando em perguntar se estava tudo bem entre Diana e Tiago, sondar se ela sabia o que tinha acontecido entre ele e Heather, mas acabou resolvendo que não era da sua conta e, tratando-se de Tiago Potter, não deveria demorar muito para descobrir. E também, pensou, há coisas mais interessantes.
- Você parece contente. - disse Diana a Lílian, forçando um sorriso e tentando puxar assunto.
- Pois é. - Lílian abriu um sorriso bem largo.
- O que aconteceu?
- Uma coisa legal. - respondeu Lílian, ruborizando. Não se sentia à vontade para falar sobre esse tipo de coisa com Diana Davis, e ficou satisfeita porque ela não pediu detalhes.
- Eu não posso dizer o mesmo de mim. - disse a garota - Sabe, eu e o Tiago terminamos, se é que algum dia chegamos a começar.
- Ah, eu sei...
- Sabe?
- Hã... é que... bem, eu vi ele com a Waltham... - disse Lílian, porque parecia óbvio que Diana também sabia desse "acidente".
Diana baixou a cabeça e disse:
- Eu também vi.
- Ele foi um imbecil com você, Diana, mas o melhor que você tem a fazer é ignorar, se não ele vai se sentir ainda mais insubstituível. Aja como se ele não fizesse a menor falta, o que, francamente, não deve fazer mesmo. Qualquer garota está melhor sozinha do que com ele.
- Eu vou fazer isso. Ele não pode se sentir o gostoso, né?
Lílian apenas sorriu e Diana prosseguiu:
- Eu posso parecer burra... - disse, e fez uma pausa quando Lílian fez menção de argumentar - Não precisa dizer que "não é bem assim", Lílian, porque eu sei o que as pessoas acham, e que você acha o mesmo... eu não sou muito estudiosa e nem digo coisas inteligentes como você e a Heather... bem, eu posso parecer burra, mas eu entendo bem as coisas, pelo menos o que está na minha cara... eu não faço diferença o suficiente para o Tiago ligar se eu estou ligando que nós terminamos ou não, mas eu vou seguir o seu conselho, sim... pelo menos vai ter menos alguém correndo atrás dele a partir de agora.
Lílian sorriu e disse:
- Olha, Diana, faça o que você acha que deve fazer... eu conheço muito pouco da sua relação com o Tiago Potter para te dar qualquer conselho. Agora eu vou indo, ok?
- Obrigada, Lílian.
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Se Lílian achava que havia se levantado cedo demais, isso não era nada comparado a Remo Lupin. O garoto já estava andando em círculos há pelo menos uma hora quando ela desceu.
- Oi! - ele exclamou assim que a viu, com um sorriso de orelha a orelha.
- Bom dia. - ela respondeu, com um sorriso idêntico.
Ela apressou o passo, os dois se abraçaram e se beijaram, já com bem mais naturalidade do que como ocorrera pela primeira vez, em frente ao lago, há apenas um dia.
- Eu estava com saudades. - disse Remo, por fim.
- Saudades? - Lílian sorriu - Mas não faz nem 3 horas que...
Ele a beijou novamente.
- Eu sei, mas eu sinto a sua falta toda vez que fico mais de um segundo sem te ver. - completou o rapaz.
E ficaram naquela melação digna de todo casal recém-enamorado ainda por algum tempo, até que Sirius Black resolveu descer.
- Lílian! Remo! - exclamou, boquiaberto ao ver os dois adolescentes se agarrando.
Lílian e Remo finalmente desgrudaram, visivelmente constrangidos, e Sirius, com seu grandessíssimo senso de oportunidade, terminou de descer as escadas, dessa vez com um sorriso maroto nos lábios e se abanando com as mãos, como quem diz que o clima está quente.
- Uau! - fez ele, ainda sorrindo de orelha a orelha, com cara de quem ia rir muito - Quem diria, hein!
Não haveria muitas ocasiões em que Lílian teria ficado da mesmíssima cor de seus cabelos, mas essa foi uma delas.
- Hã... bom dia, Sirius!
- Oi, Almofadinhas. - cumprimentou Remo, também muito vermelho.
- Bom dia pra vocês dois... - respondeu o garoto, já quase se acabando de rir - Realmente, quem diria... e você não nos diz nada, hein, seu lobo sem-vergonha!
Lílian não entendeu muito bem por que Sirius chamou Remo de "lobo sem-vergonha", supôs que fosse uma espécie de gíria entre os bruxos, e de qualquer forma, não estava com juízo o suficiente para pensar sobre isso naquele momento.
Remo apenas sorriu, ainda mais vermelho, se é que isso era possível, e disse:
- Nós começamos a namorar ontem... quer dizer, esta madrugada...
- Percebe-se... - disse Sirius - ou então não estariam parecendo querer compensar os últimos 17 anos que passaram sem se agarrar... - fez uma pausa para fazer efeito - Mas podem deixar que eu já me toquei, e vou dar o fora daqui...
- Hã... não precisa, Sirius. - disse Lílian, cuja voz denunciava o seu embaraço - Nós vamos agir... civilizadamente.
- Não, não. - disse Sirius, sorridente, dando um soco no ar - O Remo precisa perder a cabeça de vez em quando mesmo, mas... não se importem comigo, finjam que eu não estou aqui.
E ele se sentou num sofá bem em frente ao que o casal estava, e ficou olhando para o casal e sorrindo feito um maníaco. Lílian e Remo apenas olharam para ele, e Remo pigarreou alto, até que ele se tocou:
- OK, muito bem. - disse ele, levantando os braços - Eu já estava de saída mesmo...
E saiu apressado, ao que Lílian e Remo caíram na gargalhada.
- Será que nós estávamos tão... indecentes assim? - perguntou a garota, quando os dois se recompuseram.
- Nada... - respondeu Remo - O Sirius é que acha o fato de eu estar com alguém um grande evento.
- E não é? - Lílian provocou.
- Só nesse caso. - retrucou o garoto, se inclinando para beijá-la, o que teria conseguido, não fosse...
Heather Waltham e Diana Davis desciam juntas a escada-caracol que ligava o dormitório delas ao Salão Comunal. Heather estava maquiada demais para uma manhã de inverno e com o habitual nariz empinado, discutindo (embora parecesse mais um monólogo) alguma coisa com Diana, que parecia dessa vez estar tentando fazer pouco caso.
Mas as duas pararam a discussão, seja lá o que estivessem discutindo, quando viram Remo e Lílian tão... confraternizados.
- Ora, ora. - disse Heather bem alto, sorrindo - Não é que tudo tem mesmo uma explicação? Eu mesma não fazia idéia de por que cargas d’água a Evans estaria querendo usar um vestido tão minúsculo quanto aquele que ela estava experimentando hoje de manhã... bem se vê agora o porquê, afinal, ela tem sérios motivos para recorrer à vulgaridade, uma vez que não tem muitos artifícios com os quais possa prender um homem.
Lílian corou, de raiva e embaraço, e talvez por esse motivo, tenha levado mais de 2 segundos antes de retrucar:
- Se não é a vulgaridade em pessoa quem fala dos malefícios de se ser vulgar... e francamente, Waltham, eu definitivamente não preciso de vestidos ou maquiagem de palhaço para que alguém fique comigo, porque as pessoas se interessam pela minha personalidade, e não pela minha maquiagem, se eu usasse alguma. E antes que eu me esqueça, não fale de mim na terceira pessoa, porque eu estou aqui bem na sua frente e você não precisa fingir que não está falando diretamente a mim.
Heather não respondeu, apenas olhou para Lílian como se tivesse acabado de tê-la tirado do nariz, empinou o nariz ainda mais, se é que isso era possível, e saiu do Salão Comunal, esquecendo até de sua discussão com Diana.
- Hã... hum... parabéns pra vocês dois. - disse Diana, muito sem-graça - Eu também vou indo nessa. Hã... tchau.
- Não precisa sa... ir - disse Remo, um pouco tarde demais
- Será que nós fizemos algo de tão sério assim pras pessoas ficarem desse jeito ou é só o fato de que para Hogwarts inteira, eu sou um verdadeiro alienígena em relações amorosas? - perguntou Lílian.
Remo riu.
- Então somos dois aliení... isso aí que você falou.
Ela sorriu e os dois finalmente conseguiram se beijar, mas por muito pouco tempo, porque ambos estavam com a pulga atrás da orelha, crentes que mais alguém ia aparecer.
- Hã... vamos para o jardim, Lílian? Só por precaução...
- Claro, Remo, vamos...
E os dois dirigiram-se ao Jardim das Fênix, o que não serviu de muita coisa, porque nas duas horas seguintes, ninguém mais apareceu no Salão Comunal da Grifinória.
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Quando Tiago acordou, já era quase 1 hora da tarde, e isso só ocorreu porque Sirius resolveu que não queria mais nem segurar vela, nem fazer nada sozinho, e, com um feitiço de chuva concentrada, acordou de uma vez Pedro e Tiago.
- Diabos, Sirius! - exclamou Tiago na sua voz mofada de quem estava no décimo sono - Que idéia foi essa de jogar água em mim? Não podia me acordar de forma mais convencional, não?
- Há há. - fez Sirius - Acordar você de forma convencional? Só se convencional no seu conceito for trazer As Magicadas para tocarem aqui, porque francamente... você demorou mais até que o Pedro - e apontou para o garoto, já de pé e olhos inchados de sono a seu lado - para se dar conta de que tinha água caindo na sua cara... e olha que ele tava de ressaca...
- Eu estou de ressaca. - salientou Pedro, cuja voz não era muito menos mofada que a de Tiago.
- Tanto faz. - dise Sirius - Eu só quero que vocês se levantem porque o almoço em dia de feriado sai tarde, mas nem tanto... e também porque eu tenho uma notícia e não vou agüentar ficar mais duas horas sem falar nela...
- Desembucha então e me deixa dormir, seu infeliz! - resmungou Tiago.
- Vejam com os seus próprios olhos! - exclamou Sirius - Eu não vou dar a notícia assim, de bandeja, vocês vão ter que levantar e ir conferir!
Tiago revirou os olhos e cobriu a cabeça com o travesseiro.
- Vá plantar hipogrifo, Sirius! Eu vou é dormir.
- Bem, eu já estou acordado mesmo... - disse Pedro - Vou com você...
Sirius sorriu e disse, bem alto, de modo que Tiago (se estivesse acordado...) pudesse ouvir.
- Muito bem, se certas pessoas preferem dormir a se manter informadas de coisas que realmente as interessam... o problema não é meu.
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Lílian e Remo já haviam voltado para o Salão Comunal, que, naturalmente, já estava lotado. Não ficaram realmente muito tempo no Jardim das Fênix, afinal.
Eles estavam visivelmente bem menos hormonais que no início do dia, uma vez que estavam simplesmente sentados juntos, ele abraçando ela, e eventualmente, trocando beijos... o básico entre namorados.
Também passado o tempo, a fofoca de "olha, a Lílian Evans, aquela monitora certinha, a Monitora-Chefe, está namorando. Sabe com quem? Com o Remo Lupin, aquele amigo do Sirius Black e do Tiago Potter, veja só!" já havia atenuado, uma vez que fofocas realmente só têm graça quando são novidade, e, uma hora depois que 90% da população de Hogwarts presente já estava acordada, não havia novidade que já não tivesse perdido a graça. Os poucos que não sabiam, ou seja, os que estavam dormindo, eram praticamente disputados a tapa por aqueles que queriam espalhar a história primeiro.
E Sirius Black desceu com Pedro Pettigrew, já quase avisado, o que não impediu que os olhos do garoto praticamente saltassem de órbita ao que ele percebeu o que estava acontecendo entre Lílian e Remo, e de seus lábios se contorcerem num sorriso.
- Ahá! Eu sempre achei que esses dois fossem ficar juntos! - exclamou Pedro, contente.
- Eu também... estava um pouco óbvio demais, não, Pedro? - disse Sirius - Até porque, quando se já tem mais experiência, - e ao que disse isso, Sirius sorriu, orgulhoso - já se percebe essas coisas com mais facilidade.
- Eu só quero ver a cara do Tiago quando ele vir isso. - murmurou Pedro, sorridente.
- Por quê? - Sirius quis saber.
- Oras... ele vai ficar simplesmente irado quando descobrir que...
- Eu vou ficar simplesmente irado quando descobrir o quê? - perguntou Tiago, surpreendentemente já levantado e já com a voz normal.
Sirius e Pedro apenas abriram caminho para ele na escada, mas Tiago pareceu não perceber bem a "vista" de Lílian e Remo, e terminou de descer até alcançar o Salão Comunal, e andou até a roda onde o casal estava, desta vez assistindo a uma partida de xadrez de bruxo ultra-interessante entre Frank Longbottom e Edmundo Tabor, ambos do sexto ano.
- Bom dia! - disse Tiago jovialmente.
- Boa tarde. - responderam todos.
- Você vai continuar a dizer que esse agarramento todo é só coisa de amiguinho? - perguntou, sorrindo, Tiago a Remo, cuja cabeça estava agora no colo de Lílian.
- Não... nós estamos namorando. - respondeu Remo, em tom de naturalidade, endireitando-se e sentando normalmente ao lado de Lílian, pondo o braço em volta dela, que encostou a cabeça em seu ombro.
O sorriso de Tiago desapareceu de seu rosto.
- Como assim, namorando?
- O que você não entendeu, Tiago? - perguntou Frank, sem tirar os olhos da torre que Edmundo movia.
Lílian revirou os olhos.
- Qual é o problema, Potter?
- Problema nenhum, Evans... eu só achei que o Remo tivesse me dito que não estava rolando nada entre vocês...
- Agora está. - retrucou Lílian, subitamente mal-humorada.
- Rápido, não? - provocou Tiago.
- Não tão rápido quanto você costuma ser. - retorquiu a garota.
Tiago sentou-se junto à roda de modo a poder assistir o jogo Longbottom vs. Tabor, e prosseguiu:
- Pois é...
Remo apenas ria.
- Onde é que eu fui me meter arranjando uma namorada e um melhor amigo que não se bicam?
Tanto Lílian quanto Tiago lhe lançaram olhares assassinos.
- Calma... - fez Remo - Não está mais aqui quem falou... eu só espero que vocês finalmente resolvam parar com essa briguinha ridícula...
Tiago revirou os olhos e cruzou os braços, e Lílian disse:
- A gente se fala mais tarde, Remo.
E ela se levantou e caminhou em direção a seu dormitório.
- Lílian... - ele chamou, mas foi ignorado.
- Será que eu causei a primeira briga do mais novo casal 20 de Hogwarts? - perguntou Tiago, num tom monótono - Que responsabilidade...
- Tiago, eu francamente não entendo... - disse Remo.
- Vamos jogar xadrez? - perguntou Tiago ao amigo, olhando para Edmundo e Frank, que assistiam à cena em silêncio.
Remo entendeu, e os dois amigos se dirigiram a uma mesa longe de olhares curiosos e conjuraram um tabuleiro de xadrez.
- Eu não entendo... - recomeçou Remo - Qual é o grande problema de eu estar com a Lílian.
- Eu já enumerei a maioria. - retorquiu Tiago, movendo uma peça - Mas não compete a mim decidir nada...
- Você é meu amigo, Pontas, e eu esperava que você entendesse que eu estou apaixonado.
- Não é um pouco cedo demais no namoro para você já se declarar apaixonado por ela?
- Essa é a grande diferença entre nós, Pontas... eu e a Lílian começamos a namorar porque já estávamos apaixonados... com você, é assim: você olha para uma garota que atenda aos seus requisitos de beleza, dá em cima dela, vocês começam a namorar, e se ela é legal, ou inteligente, ou o que quer que seja, vem por sorte... e você se apaixona por sorte, se é que um dia já chegou a se apaixonar...
- O assunto não sou eu, Aluado, é você.
- Eu já percebi isso... só que eu não fico me metendo se você está com a Heather ou com quem quer que seja... e não pense você que eu acho a Heather uma maravilha de pessoa.
- Você é meu amigo, Aluado, e se você nunca discutiu isso comigo, foi porque nunca teve vontade, porque eu sempre te dei liberdade pra isso. Do mesmo modo que, como seu amigo, eu me sinto com liberdade o suficiente para iniciar esta conversa.
- Então fale.
- Eu não estou pedindo que você termine com ela...
- Só faltava, também.
Tiago suspirou.
- Aluado, o que eu estou dizendo é que a impressão que eu tenho é que ela faz isso para me provocar.
- Isso o quê?
- Vocês dois, oras! Do que você acha que eu estou falando?
- Você está dizendo que a Lílian está comigo só pra pôr ciúmes em você?
- Óbvio que não! - Tiago se exaltou - Eu só acho que ela quer ter na mão pelo menos um dos meus melhores amigos...
- Nem tudo gira em torno de você, Pontas. - dessa vez foi Remo quem pareceu exasperado.
- ... porque um dia ela foi a minha melhor amiga, Aluado, a minha única amigA, diga-se de passagem... - completou Tiago, com voz cansada.
- Eu sei disso. E eu acho que nem que seja por mim, vocês deveriam voltar a se falar...
- Não é tão simples assim, Remo... eu não consigo mais gostar dela como pessoa... mas em respeito a você, eu juro que não brigo mais com ela.
Remo sorriu:
- Vocês ainda vão voltar a ser amigos, pode apostar. Eu nunca vi duas pessoas tão parecidas, Tiago... ela disse a mesma coisa que você.
Tiago sorriu, mas foi mais porque havia encurralado a rainha de Remo:
- Xeque-mate, Remo, você me deu essa rainha de bandeja... você precisa deixar de ser tão aluado e prestar mais atenção às coisas...
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Lílian voltou furiosa ao dormitório. Desde que começou a namorar Remo, na madrugada anterior, não pensou em Tiago, na relação que tinha com ele e o que significava namorar um de seus melhores amigos.
Ela se jogou com força em sua cama e agarrou um travesseiro. Será que estar com Remo significaria ter que voltar a falar com Tiago?
Por muito tempo, mesmo que secretamente, ela desejou poder voltar a falar com ele, mas não dessa forma. Não queria que fosse uma coisa forçada e fora do natural, e pensando agora no assunto, ela não sabia se realmente queria voltar a falar com ele.
O pior era que ela sabia que Remo ia pressioná-la nesse ponto e ela não sabia até quanto suportaria ser pressionada. Lembrou-se de uma coisa que sua mãe vivia dizendo a seu pai em relação a sua avó paterna (com quem Flora Evans nunca teve uma relação que pudesse ser chamada de excelente): "eu me casei com você, não com a sua mãe".
Era exatamente isso. No momento em que ela aceitou namorar Remo, não quis dizer que também aceitava ficar de bem com os amigos dele. Pelo menos não com um amigo em especial.
Foi quando ela se lembrou de outra coisa que sua mãe dizia, geralmente a respeito de Petúnia, mas que se encaixava perfeitamente no que Lílian estava vivendo, "De vez em quando, precisamos fazer alguns sacrifícios para satisfazer aqueles de quem gostamos".
E Remo valia o sacrifício.
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Lílian havia adormecido, talvez pela falta de horas dormidas que o Baile e a vontade de levantar-se cedo lhe causou, e por esse motivo, quando acordou, percebeu que já havia passado das cinco da tarde.
Um sorriso tomou conta de seu rosto assim que ela se lembrou de que Victoria já deveria ter voltado.
Mas a pequena valise que ela levara para o feriado não estava sobre a cama ao lado. Talvez ela já tenha guardado, pensou.
Tirando com água os últimos vestígios de sono do seu rosto e penteando rapidamente os cabelos, Lílian correu para o Salão Comunal.
Olhou em volta, e não parecia muito diferente de como o havia deixado, mas havia um ar diferente.
- Os alunos que foram saíram da escola para o Natal ainda não voltaram? - ela perguntou a Edmundo Tabor, a primeira pessoa que viu pela frente.
- Parece que não. - ele respondeu em tom monótono - Aliás, acho que é por isso que está tendo essa convenção de monitores...
- Reunião de monitores?!
- É... acho que andaram até procurando por você, mas ninguém achou...
- É na sala da monitoria?
- Não sei, não sou monitor...
Lílian nem sentiu vontade de revirar os olhos, como teria feito normalmente, até porque sua pergunta fora bastante estúpida... onde mais os monitores se reuniriam se não na sala da monitoria?
Ela própria se dirigiu até lá, e encontrou o aposento lotado, com um burburinho infernal que não fazia jus ao título dos monitores. E espantosamente, parecia que era Tiago quem estava pondo ordem na algazarra.
- Evans, até que enfim! - exclamou Tiago, assim que a viu passar pela porta.
- O que aconteceu, Potter?
- É exatamente esse o problema, eu não sei... aliás, ninguém sabe, por isso esta agitação toda.
- Dumbledore deve saber...
- E o que ele não sabe?
- Acho que a gente devia ir na sala dele... nós somos Monitores-Chefes, afinal. - sugeriu Lílian, que sentia um crescente frio na barriga.
- Eu pensei nisso, mas nós não temos ordem...
- Não é você quem diz que regras foram feitas para serem quebradas? - Lílian o interrompeu, com um meio sorriso - É hora de pôr essa filosofia em ação.
Tiago sorriu.
- Silêncio! - Lílian quase berrou para que os monitores se silenciassem - Eu e o Potter vamos ter uma pequena conferência com Dumbledore e depois vamos voltar com notícias.
- Mas vocês não têm autorização. - ponderou Severo Snape, monitor da Sonserina.
- Temos sim, eu acabei de receber e vim aqui só para buscar o Potter. - retrucou Lílian, e Tiago a fitou de olhos arregalados.
Tiago e Lílian saíram da sala da monitoria, e o garoto se virou para ela e disse:
- Evans... eu te vi fazer coisas erradas muito poucas vezes na vida, mas mentir com essa cara lavada... meus parabéns.
- Obrigada, Potter. - respondeu Lílian, que não sabia se ficava envergonhada por ter infringido regras ou orgulhosa por ter mentido tão bem que até Tiago Potter reconhecia isso.
- O que você acha que aconteceu? - perguntou Tiago - Deve ter sido alguma coisa realmente séria, mas eu acho que se a intenção dos professores era acalmar o pessoal, eles foram muito burros.
- Eu prefiro não pensar no que aconteceu. - Lílian murmurou - Mas eu não consigo parar de pensar que realmente deve ter sido sério...
- Talvez não... - ponderou Tiago - só se houve algum imprevisto para o trem deixar de sair...
- Ou ele saiu e não conseguiu chegar. - disse Lílian, que agora sentia a sua voz falhar.
- Duvido... nunca ouvi falar em acidentes com trens mágicos, muito menos com o Expresso de Hogwarts.
- Mas até aí, eu também nunca ouvi falar em cancelamento ou atraso de viagens em trens mágicos...
E nesse momento, os dois se viram em frente à gárgula que guardava a entrada da sala de Dumbledore.
- Bunda de trasgo. - recitou Lílian, sem olhar para a cara de Tiago, onde obviamente se formava um sorriso escarninho.
Mas a gárgula não se moveu.
- Ótimo. - resmungou Lílian - O que podemos fazer agora?
- Esperar. - retrucou Tiago.
Lílian revirou os olhos e sentou-se no chão de braços cruzados apoiada contra a parede do corredor. Tiago também se sentou, mas com as costas na parede oposta à que Lílian estava encostada.
- Você está chateada...
- Estou. - respondeu Lílian rispidamente.
- Você está... chorando. - disse Tiago, não sem alguma surpresa na voz.
- Não estou, não. - respondeu Lílian, teimosa, com a voz falha e limpando uma lágrima. Era odioso que Tiago Potter a visse chorando.
- Evans... - Tiago se arrastou até a parede dela - Não fica assim...
- Potter, sem essa, tá? - ela murmurou.
- Eu não estou querendo bancar o amigo... mas eu prometi uma coisa ao Remo...
- O quê?
- Que eu não ia brigar mais com você...
- Eu sabia que ele ia pedir esse tipo de coisa... se ele pedia antes da gente ficar junto, imagina agora...
- Mas eu acho válido, Lílian. - disse Tiago, dando especial enfoque ao primeiro nome dela - Eu acho bastante razoável que ele queira que nós pelo menos não fiquemos nos atacando, e ele tem razão, eu estive pensando, e nós devemos fazer isso não só por ele, mas...
- Por nós dois. - completou Lílian, sem pensar.
- Exatamente. Eu não posso deixar de concordar com você quando você me chama de infantil, mas você também tem que concordar que eu não sou o único... nós dois estivemos agindo feito dois bebês desde...
- Desde que brigamos, Tiago Potter. - completou ela novamente, e, na dúvida se chamava o garoto de Tiago ou de Potter, o chamou pelos dois nomes.
- Acho que você também concorda comigo que não dá para resgatarmos a... amizade que a gente tinha, mas pelo menos podemos...
- Uma convivência pacífica, sim, claro.
- Pelo Remo...
- Pelo Remo. - concordou Lílian.
- ... e por nós, se quisermos poder ser chamados de adultos um dia.
- Isso é uma trégua?
- Como quiser chamar... - disse Tiago, oferecendo a mão.
Lílian e ele apertaram as mãos e ela tirou a sua logo que ele a soltou, e a balançou no ar.
- Ai! Precisava essa força toda? - reclamou.
- O aperto de mãos de homens de verdade é feito com força... - ele sorriu e perguntou - Agora que eu sou oficialmente... ou melhor, que eu oficialmente não sou seu inimigo, que tal me dizer por que você está chorando?
Ela soltou um riso abafado, e, com o sorriso desaparecendo rapidamente do seu rosto, respondeu:
- Eu estou preocupada com a Victoria... ela deveria voltar nesse trem...
- Eu não sei o que posso dizer para te fazer se sentir melhor...
- Não precisa dizer nada, não ia adiantar, de qualquer forma... eu sou extremamente pessimista, e especialmente em situações como essa, nada vai tirar os pensamentos ruins da minha cabeça até que eu tenha uma notícia boa.
- Talvez você devesse se concentrar em imaginar a notícia boa chegando...
- Como se adiantasse...
- Às vezes, quando você quer muito uma coisa e pensa muito nela, ela acaba acontecendo, nem que seja só na sua cabeça... e de uma forma ou de outra, é sempre um conforto maior.
- Numa ocasião em que eu estiver menos nervosa, vou levar isso em conta. - retrucou ela, já parando de chorar.
Os dois ficaram em silêncio por algum tempo, até que a passagem por trás da gárgula se abriu e uma Minerva McGonagall muito pálida passou por ela.
Ao contrário do quê tanto Lílian como Tiago esperavam, McGonagall não ralhou com eles.
- O que vocês dois estão fazendo aí no chão? - ela perguntou, numa voz sem rancor - Ah, entrem logo!
Lílian e Tiago mal tiveram tempo de se entreolhar, antes de se levantarem e seguirem a professora até a sala de Dumbledore.
Lílian estava anormalmente pálida, e, percebendo isso, Tiago pegou a mão dela e a segurou, e a garota não pareceu fazer nenhuma objeção. Na verdade, para ela foi reconfortante ter a sensação de alguém tão próximo, e que a ampararia depois que ela recebesse a notícia. Porque ela sabia que não era uma boa notícia, mas ao mesmo tempo não assumiria isso de todo e entraria em desespero antes que houvesse a confirmação (se é que haveria mesmo) e ela não pudesse mais negar seus temores.
Ela e Tiago entraram na sala de Dumbledore, e Lílian apertou com muita força a mão do garoto, tal era o seu nervosismo, mas ele não reclamou.
- Lílian. Tiago. - disse Dumbledore, numa voz comedida - Sentem-se.
Os dois Monitores Chefes obedeceram, e Dumbledore prosseguiu:
- Vocês vieram aqui por vontade própria, então eu suponho que também seja por vontade própria que vocês vão escutar de mim o que aconteceu.
- Houve um... um... acidente com o trem, não foi, professor? - perguntou Lílian, muito nervosa.
- Não houve acidente algum, Lílian. - retorquiu Dumbledore cautelosamente, mas havia um quê de reticências no tom que usou, e Lílian sabia que havia mais por vir.
- Viu, Lílian, eu não te disse que não era nada? - disse Tiago à garota, com a mão agora sobre o ombro dela, mas ele também não soava muito confiante.
-Bem, Tiago, também não se pode dizer que não houve nada. - disse Dumbledore.
Houve um silêncio incômodo.
- Eles... as pessoas no trem... morreram? - perguntou Lílian - Victoria Manchester... morreu?
Dumbledore olhou para Lílian, razoavelmente chocado por ela ter sido tão direta. Passado esse breve instante, ele assentiu.
Lílian gelou e Tiago engoliu em seco.
Mais uma vez, mas não pela última naquele dia, o clima pesado que tomou conta da sala impediu que qualquer um deles falasse por um tempo, e Dumbledore os observou com silêncio e cautela.
- Como isso aconteceu? - perguntou Tiago, por fim, uma vez que dentre ele e Lílian, ele parecia ser o único capaz de falar qualquer coisa.
- Por enquanto, só podemos imaginar. - respondeu o diretor - O que é certo é que não houve acidente algum... fizeram um feitiço que destrói qualquer tipo de vida a um determinado raio de distância, e isso era o trem todo. Ninguém que estava lá dentro sobreviveu.
- Mas quem... quem faria uma coisa dessas de propósito? - perguntou Lílian.
E o estalo não demorou a vir. Ela fitou o diretor e disse, bem devagar, como que digerindo a informação:
- Voldemort.
Dumbledore assentiu novamente.
- Por enquanto é só uma suspeita... não podemos ter certeza de nada, ainda mais considerando que os últimos ataques aconteceram há três anos. Mas aurores estão vindo a Hogsmeade investigar...
- O senhor quer que nós passemos isso adiante? - perguntou Tiago, com uma voz controlada.
- Não precisa, eu mesmo vou fazer isso daqui a pouco. Gostaria só que vocês dissessem a todos os alunos que descessem em meia hora para o Salão Comunal.
- Pode deixar, Dumbledore, nós vamos fazer isso. - disse Tiago, dando um tapinha amigável nas costas de Lílian, que continuava olhando para o nada, muito pálida, e com uma expressão de choque.
A garota levantou, ainda parecendo muito atordoada, e seguiu Tiago para fora da sala de Dumbledore.
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Lílian chegou ao salão comunal não muito diferente de como o fazia naturalmente. Quem olhasse para ela, acharia apenas que ela parecia preocupada com alguma coisa.
Era mais fácil notar uma mudança em Tiago, que chegou um pouco depois dela, uma vez que parecia ter sido o único capaz de comunicar qualquer coisa aos monitores ("O Dumbledore não disse nada, ele falou só pra todo mundo estar no Salão Principal em meia hora, todos os alunos"), pois ele não parecia mais irradiar aquela alegria tão profunda e nem esbanjar aquele sorriso que tanto irritava Lílian Evans. Seu ar era solene, o que não era comum de se ver nele.
Bem antes de ele sair da Sala da Monitoria, Lílian já tinha ido para o dormitório dela, que estava vazio, e feito um feitiço para ficar trancada lá, a despeito de haver outras pessoas que também ocupassem o quarto.
Ela se jogou na cama de Victoria e agarrou o travesseiro da amiga, e, finalmente, chorou.
Há horas na vida em que queremos ficar sozinhos por não poder estar perto de alguém, e era exatamente disso que Lílian precisava, enquanto encharcava o travesseiro de lágrimas.
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- O que aconteceu, Pontas? - perguntou Sirius logo que o amigo chegou ao Salão Comunal. - Eu sei que tem alguma coisa aí, até porque a coisa mais pública de Hogwarts são seus segredos, mas eu ainda não sei o que é...
Tiago suspirou, olhou em volta e disse:
- O Expresso de Hogwarts, Sirius... um atentado... todo mundo que estava lá... morreu.
Os olhos de Sirius quase saltaram das órbitas, Pedro engasgou o biscoito que estava comendo e Remo largou o livro que estava lendo de supetão.
- Eu ouvi direito, Tiago Potter? - perguntou Sirius - Repete, por favor.
- Todo mundo que foi para casa no Natal morreu.
- Você... está falando sério? - perguntou Remo.
- O que você não entendeu, Remo? As. Pessoas. Morreram. Abotoaram o paletó de madeira, bateram as botas, viraram comida de minhoca,... - pela primeira vez depois da sala de Dumbledore, Tiago perdeu o controle, ficou muito vermelho, de raiva ou indignação e quase gritou, de modo que as pessoas por perto, embora não tenham prestado atenção às palavras dele, olharam.
- Eu entendi, Tiago. - disse Remo, embasbacado - Só não entendo... como.
- Nem eu, Remo. É irreal demais.
- Ninguém... ninguém sobreviveu? - Sirius quis saber.
- O Dumbledore disse que não. E, aliás, temos todos de estar no Salão Comunal em meia hora.
Sirius sentou-se e cobriu o rosto com as mãos.
- Daniel Bones, Bonnie e John Clifford, Hector Hastings, Victoria Manchester, Gabrielle Taylor... - ergueu os olhos para encarar Tiago - É muita gente que eu conhecia, que eu falava... simplesmente não dá pra acreditar.
- Pode parecer pessimista, mas eu tenho a impressão de que esse foi só o começo. - disse Tiago, num tom lúgubre, também se sentando, e, num meio sorriso, acrescentou - Eu estou feliz porque pelo menos, nenhum de vocês estava lá. Eu não sei o que aconteceria comigo se eu perdesse qualquer um dos meus amigos...
Os olhos de Pedro Pettigrew brilharam e ele se sentiu importante. Ele também não conseguiria se imaginar sem ter Tiago como amigo.
Nesse momento, Heather Waltham apareceu exasperada gritando por Remo.
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Lílian já devia estar abraçada ao travesseiro de Victoria há algum tempo quando bateram à porta.
Ela enxugou as lágrimas com a manga do seu pulôver, engoliu o choro e gritou:
- Vá embora!
- Evans, caso você tenha esquecido, esse quarto também é meu! - veio a voz irritante de Heather Waltham do outro lado da porta - E eu não sei que diabos você fez com essa porta, porque ela não abre nem com feitiço.
Em outra ocasião, Lílian teria rido. Tudo o que ela tinha feito foi trancar com chave.
- O Dumbledore mandou todo mundo ir ao Salão Comunal agora, e o todo mundo também inclui Monitoras-Chefes arrogantes, Evans, e além do mais, eu tenho que trocar de roupa, e... ABRA LOGO ESSA MALDITA PORTA, EVANS!
Lílian não respondeu, e como o silêncio continuava, entendeu que Heather havia desistido.
Como estava errada...
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- Remo Lupin! - começou Heather Waltham, se metendo no meio do grupo dos Marotos - Faça alguma coisa já a respeito dessa sua namoradinha!
- O que é que tem a Lílian? - perguntou Remo, ainda embasbacado pela notícia que acabara de receber de Tiago, a respeito do atentado.
- Ela simplesmente está trancada no dormitório que por um acaso pertence tanto a ela quanto a mim, e não quer de jeito nenhum abrir. Você deveria ir lá consertar esse xilique dela!
- Como assim, xilique?
- Ela não responde... fica calada, achando que pode mais que os outros alunos só porque é Monitora-Chefe, quando as ordens, pelo menos ao que eu saiba, foram para que todos alunos, inclusive monitores, descessem até o Salão Principal.
De repente, tudo fez sentido para Remo. Atentado, Victoria Manchester no Expresso de Hogwarts, Lílian se sentindo culpada por não ter feito as pazes e triste pela perda da amiga, Lílian descontrolada, trancada...
Remo olhou para Tiago interrogativamente e perguntou, numa voz rouca:
- Ela já sabe, Pontas?
Tiago fez que sim com a cabeça.
O pressentimento de que Lílian certamente estaria fazendo, ou já teria feito, alguma bobagem tomou conta da cabeça de Remo Lupin, que, sem pensar duas vezes no que estava fazendo, e sem nem prestar mais atenção no ataque histérico de Heather, levantou-se da poltrona que ocupava e subiu as escadas que separavam o dormitório das garotas do salão comunal, de dois em dois degraus, sem nem se preocupar com a possibilidade de tropeçar.
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- Lily? - ele perguntou, batendo de leve na porta, fazendo força para controlar seus nervos.
Ela não respondeu.
- Lily, sou eu... - ele insistiu.
E mais uma vez, foi ignorado.
- Lílian, eu sei que você está aí, abra já essa porta! O Dumbledore pediu pra todo mundo descer... - agora o seu tom era bastante mais alto.
Lílian continuava sem se manifestar, o que o deixou muito preocupado.
- Lílian Evans, se você não abrir essa porta agora, eu vou arrombar essa droga! - ele gritou, e um aglomerado de gente se reuniu em volta da escada caracol que ligava o dormitório ao salão.
Como ela continuou sem responder, ele chutou com força a porta uma, duas, três vezes, até que a fechadura arrebentou, e dentro do quarto, ele viu uma Lílian Evans encolhida, pálida e com os olhos verdes inchados e avermelhados pelo choro olhando para ele, perplexa.
Os dois ficaram em silêncio por algum tempo, até que ela correu até ele e o abraçou, e chorou o resto de suas lágrimas no ombro dele, ao que ele a envolveu com os seus braços num gesto de consolo.
Mesmo depois de tudo o que havia acontecido, e pela primeira vez depois de ter recebido a notícia, ela se sentiu bem em saber que ainda havia alguém com quem contar. Ainda havia Remo. Sempre haveria Remo.
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