BAILE DE INVERNO



Lílian e Tiago entraram de braços dados no salão principal, e ela não pôde de deixar de sentir um frio na barriga quando, já movidos (pelo menos ele) pela prática de três anos de bailes de inverno, abriram o deste ano sem precisar da "ajudinha" da Professora McGonagall.

Tiago a puxou pela mão, e os dois tomaram a posição de dança lenta: ela, sentindo-se muito envergonhada por ter que colocar os braços em volta do pescoço dele, e ele, com desenvoltura, a puxou para perto de si pela cintura, e a despeito de si mesma, Lílian sentiu que o friozinho na barriga havia se transformado em um baita iceberg.

Relaxe, Lílian, disse a si mesma, É só uma dança... você sabe que só está nervosa porque não quer que ele caçoe de você por dançar mal. Lembre-se do aniversário de quinze anos da Petúnia... ei, eu tinha só dez anos... bem, lembre-se do Baile de Inverno do quarto ano...

Bingo. As lembranças vieram à tona como um lampejo. Tiago foi com Waltham. Tiago e Waltham começaram a namorar. Tiago passou da categoria de melhor amigo para babaca homérico.

Passou o frio na barriga, e agora os dois já estavam no meio da pista de dança, rodopiando, e uma das mãos da garota já estava junto de uma mão de Tiago.

- Fala alguma coisa, Evans. - sussurrou ele - Se já é chato dançar, imagina dançar calado...

- Fala você. - retrucou ela, saindo de seu estado de distração.

- Você viu a Heather em algum lugar? Com o Sirius? - fez ele, olhando por sobre o ombro dela.

Lílian revirou os olhos e fez uma careta.

- Não. - respondeu secamente - Você sabe quando essa música acaba?

- É uma valsa, Evans, e portanto, é comprida. Daqui a uns quatro ou cinco minutos.

- E nós dois vamos ter que pagar o mico de ficar dançando sozinhos na frente de todo mundo o tempo todo?

- É o que parece, não? Ou você espera que saiamos no meio da música?

- Hoje definitivamente não é o meu dia.

- Eu queria te perguntar uma coisa.

- Que é, Potter?

- Por que você saiu correndo daquele jeito esbaforido no meio do Salão Comunal?

- Não é da sua conta... que saco!

- Evans, sério... aquilo foi preocupante.

Lílian revirou os olhos.

- Música lenta é muito chata... sempre os mesmos passos...

- Quer dizer que a nossa Monitora Chefe sabe dançar música rápida? Interessante saber...

- Faz um favor, Potter?

- O quê?

- Cala essa boca.

Ele riu, mas obedeceu. Lílian viu, por sobre o ombro dele, Remo no meio da multidão de alunos em vestes a rigor, sorrindo para ela, e quis acenar, mas sabia que McGonagall depois diria que acenos estragam a dança...

Dançar com Tiago Potter era monótono, para não dizer chato. Embora ele a conduzisse com destreza, Lílian não se sentia à vontade com ele, e as conversas que tinham se resumiam a implicâncias mútuas... o de sempre. E a despeito de tudo, ela, por um momento, desejou que estivesse dançando com Remo. Certamente, pensou, eu estaria me sentindo bem melhor agora, bem mais confiante de que tudo daria certo.

Depois de alguns poucos minutos, a música acabou, e Lílian e Tiago foram liberados para aproveitar o baile.

- Só peço que não se embebedem, não tenham relações promíscuas, enfim, dêem o exemplo que Monitores Chefes devem dar. - disse McGonagall, olhando diretamente para Tiago.

- Pode deixar, Minnie. - disse Tiago, com uma seriedade debochada.

McGonagall lançou-lhe um olhar severo:

- E da próxima vez que me chamar de ‘Minnie’, senhor Potter, tenha certeza de que vai passar o resto do ano letivo limpando o corujal.

- Não se preocupe, Minnie, eu vou ser responsável. - retorquiu Tiago, já sumindo em meio à multidão.

Minerva McGonagall ficou irritada, mas já não havia mais o que fazer. Virou-se para Lílian, que, continha um riso atrás da mão. Não foi preciso mais do que o olhar com que a fuzilou para que a garota se recompusesse.

- Me desculpe, professora. Realmente, o Potter tem um sério problema com regras.

- O meu recado foi para a senhorita também. - disse, mas ficou menos carrancuda - Lílian, querida, você já está se sentindo melhor?

Lílian suspirou. Sabia o que a professora quisera dizer.

- Mais ou menos. - disse, sentando-se à mesa vazia ao lado - Quando eu soube que a Landers tinha morrido e que, indiretamente, eu era a culpada, eu entrei em parafuso. Mas agora, já passou um tempo, mesmo que um período curto de tempo e... bem, um amigo meu em especial tem sido bastante legal comigo e me ajudado a dar a volta por cima. Ele já conseguiu até me convencer de que a própria Landers, se pudesse voltar à vida, não me culparia... segundo ele, ela talvez ficasse até feliz de morrer tendo uma predição, falsa ou não.

- Verdade. Sabe, Lílian, - disse McGonagall, que tratava e gostava de Lílian como de uma filha, uma filha que nunca tivera, também já sentada,- você é muito parecida comigo, que também sou bastante cética. Mas Alvo é um homem racional, e de algum modo, ele está levando a sério o que quer que Mena tenha previsto ou imaginado. A carta já foi mandada para ser decifrada e eu mesma me surpreendo imaginando se era verdadeira ou não. Mas o fato é que estava codificada, e em sânscrito, e a nossa própria razão nos faz crer que há algum fundamento nisso tudo. Talvez fosse só o velho desejo das professoras de Adivinhação, que sempre sonham em morrer fazendo algo de importante, como uma predição, e a pobre Mena tenha apenas tido uma alucinação seguida de um ataque pelo excesso de emoção, mas... temos que esperar. - olhou para Lílian - Ah, querida, não fique preocupada. Nossos especialistas já estão tratando disso para você, e não há de ser nada grave... vá aproveitar a festa, Lílian, porque a juventude dura muito menos do que gostaríamos e não é muito sensato desperdiçá-la com tanta maturidade precoce. Falo por experiência própria, Lílian, esqueça um pouco de suas responsabilidades e faça valer os seus dezessete anos. - abriu um sorriso (que Lílian sempre achou igualzinho ao de Margareth Thatcher) - Para o Tiago Potter eu tenho de pedir responsabilidade porque ele já aproveita até mais do que deveria, mas para você, que já é responsável além da conta... ah, aproveite, Lílian, e esqueça dessa "coroa" aqui...

Lílian sorriu e abraçou McGonagall como abraçava sua mãe: com carinho, respeito e admiração.

- Pode deixar, professora... eu vou indo, então.

- Até logo, Lílian.

E Lílian, assim como Tiago, também sumiu na multidão aos olhos de Minerva McGonagall, que soltou um suspiro nostálgico.



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- Lílian! - berrou Remo, acenando para a garota - Aqui!

Lílian sorriu e caminhou até a mesa onde Remo estava, e seu sorriso foi rapidamente desfeito quando viu que Tiago também estava lá.

- Oi, Remo, Pedro... Potter.

- Oi, Lílian. - respondeu jovialmente Pedro Pettigrew, já derramando na goela a terceira garrafa de cerveja amanteigada.

- Você aqui, Evans. - fez Tiago, olhando carrancudo dela para Remo.

- Não repare, Lílian, ele só está com ciúmes... - disse Pedro, com a voz já um pouco alterada pelo álcool.

Tiago lançou-lhe um olhar mortífero.

- Ele quer monopolizar os amigos, sabe? - prosseguiu Pedro, e Tiago puxou a garrafa de sua mão e engoliu o resto da bebida que havia lá dentro - Ei!

Lílian sentou-se, e perguntou:

- E onde está o Sirius?

- Em algum lugar com a Heather, mas eles ainda não desceram. - respondeu Tiago, mal-humorado - Grandes amigos os que eu tenho.

- Ei, o que foi que eu fiz? - protestou Pedro.

- Lílian, você está... - fez Remo, olhando para a garota como se estivesse hipnotizado - linda.

Lílian sorriu, Pedro começou a rir, e Tiago pegou mais uma garrafa de cerveja amanteigada e entornou dentro de sua garganta, sem nem sentir direito o gosto.

- Ei, Tiago, acho melhor a gente dar o fora... quer dizer, eu já tenho diploma de segurador de vela, mas você...

Dessa vez, foi Remo quem lhe lançou o olhar severo.

- Calma. - fez Pedro, levantando as mãos - foi brincadeirinha...

- Hã... Lílian? - fez Remo, ignorando os amigos - Quer dançar e se livrar desses dois pinguços com dor-de-cotovelo?

- Eu não estou com dor-de-cotovelo! - protestou Pedro - O Tiago que está! - começou a fazer caretas para Tiago, mexendo com as mãos ao lado das orelhas - A Heather está com o Sirius, lalá-lalá-lá-lá!

Tiago apenas revirou os olhos e bebeu mais uma garrafa de cerveja amanteigada.

A essa altura, Remo e Lílian já estavam na pista de dança.

- Putz, ainda estão tocando música lenta... - reclamou Lílian.

Remo sorriu e disse:

- Vamos então apenas conversar e ficar dando dois passos pra cá, três pra lá.

Lílian riu:

- Você não existe, Remo!

E os dois, muito desajeitados, começaram a dançar. Não havia como comparar Remo e Tiago como dançarinos. De longe, Tiago dançava bem melhor, mas com Remo, ela se sentia leve e confortável.

Parecia que havia só os dois e mais ninguém em todo o grande Salão Principal de Hogwarts enquanto dançavam, e Lílian surpreendeu a si própria tendo esse tipo de pensamentos. Será que estava começando a gostar de Remo mais do que deveria?

Até que uma voz esganiçada gritou para ela, mais alta do que a música:

- LÍLIAN!

Lílian soltou-se de Remo, virou-se e viu Marina Manchester, parecendo um barril em suas vestes azuis com fita rosa na cintura acompanhada pelo sempre elegante e agora encabulado Frank Longbottom.

- Olá, Marina. - cumprimentou Lílian, sem graça. - Oi, Frank!

Remo apenas sorriu para o casal e disse:

- Oi Marina, Frank, como vai, cara?

- Há quanto tempo a gente não se vê, hein! - respondeu Frank - Acho que os nossos horários de aula não coincidiram muito esse ano... mas qualquer hora a gente conversa. - acrescentou, olhando apontativamente para Lílian, e teriam reparado que Remo ruborizou levemente, se o salão não estivesse à meia luz.

- Ok, até logo. - disse Lílian, ansiosa por se ver livre de Marina, e dando graças a deus que ela própria não tinha uma irmã caçula e pentelha... mas até que a indiferença e língua ferina de Petúnia eram piores do que o... digamos, excesso de simpatia de Marina.

Lílian puxou Remo para o meio da multidão, e, como se num passe de mágica seus desejos fossem realizados, a música lenta que tocava, então, parou e uma voz surgiu no amplificador mágico:

- Senhoras e senhores... digo, meninos e meninas, antes de chamar "As Magicadas", passo a palavra ao excelentíssimo diretor desta escola. - disse uma moça de cabelos muito cheios tingidos de louro, um pouco mais velha que os Marotos, que Lílian reconheceu como Rita Skeeter, ex-aluna, e atual organizadora de eventos - Alvo Dumbledore, Ordem de Merlin, Primeira Classe, Grande Feiticeiro, Bruxo Che...

- Deixe de lado as apresentações, Rita, - disse Dumbledore, tomando a palavra - Todos aqui já me conhecem. Antes de começar a falar, gostaria de dizer umas palavrinhas: Pateta! Chorão! Destabocado! Beliscão! - como todos realmente já o conheciam, ninguém estranhou essas palavras - Obrigado. Muito bem, alunos, eu gostaria de aproveitar a ocasião para apresentar-lhes uma pessoa. Antes de mais nada, digo a vocês que nada se substitui e não gostaria que vissem essa pessoa como a substituta de Mena Landers. Ela vai substituí-la no cargo, porque a matéria precisa ser lecionada, mas não o lugar, qualquer que seja ele, que Mena tinha nos corações de vocês, e peço, então, que reservem um lugar novo e especial para Leila Landers, sua nova professora. Por favor, Leila.

Uma mocinha de seus vinte anos, baixa e magrela, até um pouco franzina, com cabelos lisos e louros e olhos castanhos muito grandes pegou o magicrofone, de cabeça baixa, sem olhar para o público.

- Muito obrigada, Dumbledore. - disse a moça, com a voz chorosa - Eu não sou muito boa para falar em público, não esperem nenhum grande discurso de mim. Mas eu falo com o meu coração, e falo não só como quem vai dar aulas pela primeira vez, mas também como uma órfã recente, que acabou de perder a mãe. Não foi fácil vir para cá tão pouco tempo depois dos últimos acontecimentos, mas a vida foi feita para ser seguida em frente, e não adianta ficar chorando pelo que já passou. Espero que vocês me aceitem bem, já aviso que não sou tão boa quanto minha mãe era, mas aprendi o que pude com ela e vou dar o melhor de mim. Acho que é tudo. Obrigada.

E deu um passo para trás, ainda com a timidez muito aparente, quando aplausos discretos ecoaram pelo salão. Dumbledore pegou o magicrofone e falou novamente:

- Seja bem vinda, Leila Landers. Vamos deixar agora esse clima lúgubre de lado e aproveitar esta festa tão bonita. Espero que aproveitem a presença d’As Magicadas.

E Dumbledore, Rita Skeeter e Leila Landers desceram do palco, e uma luz contagiante iluminou as quatro garotas que estavam pouco atrás deles, e, magicamente, a parte da frente do palco se uniu com o que havia atrás, de modo que "As Magicadas" ficassem quase na ponta.

Eram quatro bruxas com cabelos coloridos: Melody Morgan tinha cabelos azuis, Viola Vylette, vermelho, não como a cabeleira acaju de Lílian, mas um vermelho-sangue; Sandra Song, de cabelo verde-limão, e por fim, Sabrina Drums, de cabelos com mechas de todas as cores do arco-íris.

Lílian achava que "As Magicadas" pareciam muito com desenhos japoneses, mas não disse isso a ninguém, até porque duvidava que alguém soubesse o que isso significava.

A música era rápida e agitada, meio punk, meio rock, mas com algo de bossa. Era difícil definir, e nem mesmo com a misturada que Lílian fazia na sua cabeça para tentar dizer que estilo era aquele, conseguia chegar perto do que era. Para os bruxos, existia música lenta e música rápida, mas todas elas eram muito diferentes entre si. "As Magicadas" não tinham mais instrumentos que suas varinhas, as quais mexiam e faziam formar no ar umas notas músicas em rápida sucessão, e cada uma emitia seu devido som. Todas as quatro cantavam, mais rápido do que o som, e era também difícil definir o que diziam de supetão, mas no fim, se fossem pensar a respeito, teriam a letra inteira na cabeça.

Todos pareciam gostar muito da música, e dançavam muito rápido, e boa parte das pessoas que estavam sentadas se levantaram e foram dançar também. Havia alguma coisa na música que fazia as pessoas quererem dançar até arrebentar os ossos.

Lílian e Remo dançaram, um rindo dos passos do outro, umas cinco músicas seguidas, ou até a banda dar o primeiro intervalo.

- Vamos beber alguma coisa. - disse Lílian, puxando Remo.

Os dois estavam rindo de alguma coisa, ou de qualquer coisa, como era comum quando estavam animados, quando chegaram à mesa onde havia as bebidas, e direcionaram-se aonde havia a tigela de ponche.

Mas a risada de Lílian cessou quando ela viu Tiago Potter e Heather Waltham atracados na boca um do outro, num amasso nada discreto que a maioria não teria coragem de dar nem atrás dos arbustos.



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Logo depois que Lílian e Remo saíram da mesa, Tiago perguntou:

- Ei, Pedro, você acha que está rolando alguma coisa entre esses dois?

- Eu... gulp! - soluçou - Eu não ashcho nada, eu vejjjjo é que aí tem coisa.

- Sabe, a Evans até que não é feia, mas pra quem já ficou com Lauren Rouchou, o Remo está decaindo muito. - disse Tiago, que, apesar de também já estar bebendo há um tempo, não estava tão alterado pelo baixo teor de álcool da cerveja amanteigada.

- Eu achhhho a Lílian bonita, se você querr saberr. - disse Pedro - ela só não se arruma tanto... tire trêsh quilosh de maquiagem da cara da Heather, e ela vira um trashgo...

- O que vocês estão falando da Heather? - perguntou Diana, sentando-se à mesa deles - Ela ainda não está pronta, dá pra acreditar? Mas o que você achou do meu visual "Baile de Inverno", meu pomorinzinho fofo?

Pedro começou a rir, por mais tempo do que deveria, e enterrou a cabeça nos braços e dando socos sobre a mesa, histericamente divertido. Quando levantou a cabeça, jogou beijos debochados para Tiago, que apenas observava o amigo, pasmo, e disse:

- Meu pomorinzinho fofo. Quaquaquaquaquaquá!

Tiago e Diana se entreolharam, e Tiago, muito sem-graça por ter sido chamado de "pomorinzinho fofo" por uma garota que nem sua namorada direito era e ser caçoado pelo amigo, disse:

- Diana, vamos para outro lugar... o Pedro está bêbado demais...

- Eu eshtou sóbrio. - argumentou Pedro.

Mas foi ignorado, e Tiago e Diana foram dançar. A música era lenta, e Diana não parava de pisar no pé de Tiago e dizer:

- Ai, este momento é tão único e romântico, Tiago...

Tiago sorria, mesmo apesar dos pontapés, e eventualmente, os dois se beijaram. Abrindo o olho, Tiago viu Lílian e Remo conversando com Frank Longbottom e uma garota "cheinha" que lembrava Victoria Manchester.

À medida que os pontapés se intensificaram, Tiago sugeriu:

- Er... Diana? Vamos voltar para a mesa?

Diana, como sempre fazia a respeito de todos os pedidos de Tiago, aceitou, e eles sentaram-se novamente ao lado de Pedro, que agora não estava bebendo nada.

Foi quando Heather surgiu, de braços dados com Sirius, realmente "deslumbrante e inédita" em suas justas vestes a rigor à moda Grifinória: um vermelho quase vinho com detalhes dourados nas bordas, e os cabelos ruivo-dourados estavam presos no alto de sua cabeça num coque com mechas elegantemente soltas, e as jóias que usava eram diamantes bastante discretos, para compensar o esplendor do vestido. Sirius não havia feito mais do que pôr suas vestes a rigor azul-marinho, mas estava muito bonito de qualquer jeito. Certamente, Heather e Sirius eram o par mais invejado da festa.

Tiago apenas ficou olhando para a ex-namorada, quase babando, e Diana, com sua grandessíssima inteligência, obviamente nem notou, e continuou sorrindo como uma pamonha.

- Heather! Sirius! Olha que legal! Minha melhor amiga namora o melhor amigo do meu namorado. Mão é o máximo? - exclamou, feito uma boba alegre.

Heather forçou um sorriso, mas até os seus sorrisos falsos eram lindos. Mesmo assim, Tiago sempre achou que faltava alguma coisa no sorriso dela... era como se fossem de algum modo vazios.

- Claro, Diana, claro. - fez ela.

- O único detalhe é que eu e Heather não estamos namorando. - completou Sirius - E, que eu saiba, nem você e o Tiago. - acrescentou, num murmúrio quase inaudível.

- Heather, você eshtá um arraso, e, Siriush, se eu fosse mulher... - disse Pedro lá de sua cadeira e começou a gargalhar muito alto.

- Obrigada, Pedrinho. - agradeceu Heather, e dessa vez, seu sorriso não foi forçado, mas Tiago ainda achava que faltava alguma coisa.

- Parece que o Rabicho andou bebendo além da conta. - disse Sirius - Vamos, Tiago, vamos levar esse traste lá pra cima antes que ele tenha um piripaque.

- Ok. - concordou Tiago, mas Heather segurou o seu braço e ele se virou.

- Tiago... eu queria conversar com você.

Sirius deu um meio-sorriso e Diana continuou a sorrir como se não estivesse prestes a voltar ao seu posto de apenas amiga da namorada de Tiago Potter.

- Diana, você me ajuda a levar o Pedro lá pra Torre da Grifinória? - pediu Sirius.

- Claro. - respondeu Diana, solícita, mas olhando para Tiago.

- Sirius... - disse Tiago, soltando seu braço da mão de Heather - Eu levo o Pedro.

Heather sabia exatamente o que Tiago queria ouvir, mas não queria se humilhar. Optou pelo plano B, que deixaria Tiago muito danado da vida:

- Não é nada do que você está pensando, Tiago... eu só queria pedir para que nós fôssemos amigos e parássemos com essa coisa de ficar um ignorando o outro... eu não quero acabar como você e a Evans, isso é tão ridículo... eu andei pensando e acho que realmente, eu e você juntos não temos nada a ver, tanto é que eu estou falando isso com três testemunhas. - olhou para a figura bêbada de Pedro - quer dizer, duas... Então, Tiago, amigos? - disse, oferecendo a mão para que ele apertasse.

Tiago olhou para Diana e depois para Sirius:

- Vão indo vocês dois que eu tenho que trocar umas palavrinhas com a Heather...

- Eu não eshtou bêbado, eu só eshtou aproveitando a vida.

Olhando para Tiago como quem diz "força, companheiro", Sirius ignorou os protestos veementes de Pedro e o ergueu, junto com Diana, pondo os braços do amigo sobre os ombros de cada um dos dois, e ele, obviamente, carregava mais peso que a garota.

- Que legal, finalmente vai ficar tudo resolvido e a Heather e o Tiago vão ser amigos e um dia ela vai ser até madrinha do meu casamento. - murmurou Diana para Sirius enquanto atravessavam o Salão Principal rumo aos corredores que os levariam à Torre da Grifinória.

- Com certeza, Diana, agora, o Tiago e a Heather vão ser mais amigos do que nunca. Eu particularmente acho que eles devem estar se confraternizando como... como irmãos muito apegados. - disse e adicionou bem baixo, de modo que a garota não pudesse ouvir - Numa relação muito incestuosa.

Tiago e Heather observaram o trio partir, e Tiago virou-se para ela, apertando muito os seus olhos castanhos atrás de seus óculos, e falou:

- O que você disse mesmo, Heather?

- Eu disse que quero fazer as pazes com você e que sejamos amigos daqui por diante...

Tiago ergueu a sobrancelha. Nunca tinha sido amigo de Heather. Até o quarto ano, eles mal se falavam, principalmente porque ele era um menino e ela, uma menina, e portanto, eram extraterrestres um para o outro. Havia Lílian de amiga, mas só ela, porque ela não tinha muitas daquelas frescuras e era legal naquela época. Ele começou a realmente conversar com Heather quando começou a se interessar por garotas do jeito que seus catorze anos sugeriam que o fizesse, e em pouco tempo, começaram a namorar. Foram de colegas a namorados, e provavelmente, se tivessem passado pelo estágio "amizade", não teriam chegado aonde chegaram, e nem Tiago tinha certeza se seria amigo de Heather, porque os dois certamente não teriam o que conversar como amigos. E ele certamente não queria ser amigo dela. Ele gostava dela de outro modo, e a seu modo. Mas, acima de tudo, ele conhecia o seu eleitorado e resolveu entrar no jogo:

- Acho muito racional, Heather. Eu realmente acho que devemos ser amigos. Eu queria falar com você há muito tempo, mas eu achei que não tinha clima... eu só não assumi mesmo o meu namoro com a Diana por medo de te magoar...

Heather abriu a boca, indignada, e depois, fechou-a novamente. Era tudo o que Tiago precisava ver, e ele abriu um sorriso que ia de orelha a orelha, e disse:

- Eu também quero voltar com você, Heather.

E a beijou. A primeira reação de Heather foi não corresponder, porque ela não queria voltar tão fácil assim para Tiago, mas ela logo cedeu, e os dois protagonizaram uma das cenas mais calientes de beijo que Hogwarts já viu em seus mil anos de existência.

Nesse exato momento, Lílian e Remo, sorridentes, aproximavam-se da mesa para buscar ponche.



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Como Diana não agüentava nem a parte que lhe cabia do peso de Pedro, Sirius acabou por ter de carregá-lo sozinho e a garota somente o acompanhou.

Pedro não parava de tentar cantar o pedacinho da música das Magicadas que acabara de ouvir, mas acabava enrolando-se no caminho e achando graça do que tinha feito, até que, quando chegaram, e Pedro já estava tonto por demais, Sirius mandou Diana buscar uma cadeira, e fez com que o amigo se sentasse e que inclinasse a cabeça, de modo que ela ficasse entre as pernas e em um nível inferior ao do joelho, e ia pedir que o amigo respirasse fundo, mas Pedro não agüentou e vomitou. Pelo menos o desmaio foi contido.

- Tome conta dele rapidinho, Diana. - disse Sirius - Eu vou buscar uma poção antiembriaguez para ele. Sabendo como ele é com bebida, nós sempre temos alguns frascos aqui mesmo...

Em um minuto, Sirius voltou correndo com o frasco de líquido verde, e fez com que Pedro engolisse o conteúdo.

- Pronto. - disse - Abluo! - acrescentou, apontando para a pequena poça de vômito, fazendo-na desaparecer.

- Ele vai ficar bem, né? Não é nada grave, é?

Sirius não respondeu, apenas revirou os olhos e, apoiando Pedro em seus ombros, levou-o até o dormitório dos garotos do sétimo ano, sendo seguido por Diana.

- Converto Induviae. - disse, fazendo com que as vestes a rigor de Pedro fossem transfiguradas em um confortável pijama.

Diana, dessa vez, não precisou que Sirius pedisse para que tirasse a colcha da cama, abrindo caminho para Pedro poder deitar e dormir. Sirius colocou o amigo sobre a cama e Diana o cobriu.

Finalmente, Sirius, já exausto, sentou-se sobre a cama ao lado e suspirou. Diana sentou-se ao seu lado.

- Eu nunca estive no dormitório dos garotos, mas é bem parecido com o das meninas, só não é tão arrumado.

Sirius apenas ergueu a sobrancelha, visivelmente cansado, em resposta.

- Diana, se você quiser, volte para a festa. Eu acho que vou ficar por aqui mesmo...

- Ok... - Diana já ia dizendo quando, parecendo ter um estalo em sua cabeça, falou - Não! Volta pra festa... tem uma surpresa pra você lá embaixo!

- Que surpresa? - perguntou Sirius.

- Você vai ver... você disse que não está com a Heather, né? Eu tenho uma amiga bastante interessada em você.

Ao ouvir a palavra "amiga", Sirius logo animou-se e foi, junto com Diana, de volta para o Salão Principal.

Quando eles voltaram para a festa, no entanto, não encontraram mais nem Tiago nem Heather.

- Onde será que está o Tiago, Sirius? - perguntou Diana, na sua voz habitual, que sempre parecia um gemido.

- Eu que vou saber? - fez ele, olhando para um ponto e fazendo uma careta - Droga!

Aproximando-se deles vinha Ella Parkinson da Lufa-Lufa, também conhecida entre os Marotos como "dragão", "trasgo montanhês" e "Medusa" (geralmente, o primeiro apelido imperava). Realmente, a irmã do legendário sonserino Patrick Parkinson, que se formara três anos antes, fazia jus ao apelido: era a única da família que não tinha cara de buldogue, mas isso não era nenhuma vantagem; ela não era gorda, mas era flácida, e os cabelos eram ensebados, mas não naturalmente: por preguiça ou incompetência, o que era mais provável, ela não usava feitiços alisadores para deixar os seus cabelos crespos mais arrumados, mas sim, passava um creme gosmento que tinha um cheiro muito ruim de perfume barato. Ainda tinha um bigode similar ao de garotos entrando na puberdade e seu cheiro era uma mistura da inhaca de quem toma banho a cada dia cinco de mês par misturado a perfume.

- Sirius? - Ella o chamou e Sirius murmurou algo que não seria educado repetir.

- Ele está aqui, Ella! - exclamou Diana, acenando para Ella, que já vinha na direção deles.

Sirius fez um esforço para sorrir quando Ella aproximou-se deles, enquanto Diana sorria de orelha a orelha de modo conspirador. Putz, essas duas são amigas e a Diana deve ter ficado de ajudar a Parkinson. Sirius Black, morra!, disse a si mesmo mentalmente.

- Feliz Natal, Parkinson. - disse entre os dentes.

- Ah, Sirius! - Ella sorria - Você sabe que pode me chamar de Ella, não?

Sirius mais uma vez forçou um sorriso, que saiu amarelo.

- Nós quase fomos pais da mesma criança! - acrescentou Ella, e nisso, Diana engasgou e arregalou os olhos para Sirius.

Na verdade, num jogo de verdade ou conseqüência, Sirius fora obrigado por seus amigos-da-onça a beijar Ella Parkinson, e desde então, Ella não saía do seu pé, e além de tudo, achara, na ocasião, que ficara grávida em um beijo.

- Er... na verdade, Ella... - fez Sirius - As pessoas não engravidam em beijos... eu não sei se a sua mãe já te contou essa história, mas as abelhinhas e as flores...

- Outra hora você me conta, Sirius... - disse Ella, tentando parecer sedutora - Agora vamos dançar, eu tenho certeza de que a Diana não se importa... - e pegou Sirius pelo braço.

- Não mesmo. - disse Diana, sorrindo, quando Sirius olhou para ela, quase implorando.

- Na verdade, - disse Sirius, desvencilhando-se do braço de Ella - Eu torci meu pé.

- Oh! - Ella parecia desapontada - Não faz mal, acho que então, só uma foto não tem problema. - tirou da bolsa uma máquina fotográfica de bruxo e a entregou a Diana - Diana, é só dizer replicare segurando esse canto da máquina, que é o catalisador de magia, ‘tá?

E voltou-se para Sirius, puxando-o para que ele ficasse em pé ao lado dela.

- Vem, Sirius, vamos se juntarmos para tirar uma foto!

Sirius percebeu que definitivamente odiava tudo em Ella Parkinson, desde seus erros de concordância e a aparência até o cheiro e a chatice. E disse a si mesmo, que no dia em que fosse gostar de alguém, seria de alguém que fosse pelo menos o extremo oposto de Ella.



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Ao ver a cena, Lílian ficou, não irritada, mas sem graça. Remo olhou dela para o casal e do casal para ela.

- Er... Remo, vamos beber outra coisa? - sugeriu Lílian, num murmúrio, sem perceber que sua voz havia ficado rouca.

Ele assentiu, e iam virar às costas para a cena, quando Heather deu-se conta da platéia que tinham, e, interrompendo seu beijo com Tiago, apontou para ele Lílian e Remo, logo atrás.

Tiago virou-se e encarou o amigo e a inimiga, e disse, ainda meio zonzo, acenando para os dois:

- Oi.

Lílian olhou para Heather, que retribuía o olhar desafiadoramente, mas ainda calada, e depois para Tiago, e, sem pensar direito no que fazia, virou as costas sem dizer nada e saiu correndo.

Remo olhou para Tiago e sorriu, sem graça, dizendo apressadamente:

- Eu vou atrás dela.

E saiu correndo, no meio da multidão, atrás de Lílian.

- O que será que deu na idiota da Evans, hein, Tiago? - perguntou Heather ao recém-reconquistado namorado.

- Hã? - perguntou Tiago, olhando para o lugar por onde Lílian e Remo haviam acabado de chegar e desaparecer.

- Deixa pra lá, nós temos coisas mais interessantes para falar, não é mesmo? - disse Heather, com um sorriso maroto - Ou fazer. - e o beijou de leve.

Tiago sorriu rapidamente.

- Vamos voltar para a mesa... o Sirius e a Diana devem estar voltando...

- Ai, Tiago! - reclamou Heather - Você vai pensar no Sirius e naquela idiota agora? Vamos dançar!

E conduziu Tiago até a pista de dança, o lugar onde havia a maior concentração de gente em Hogwarts no momento.



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Se livrar de Ella Parkison não foi tão difícil para Sirius, mesmo apesar de ela grudar mais que feitiço colão. Ele simplesmente disse que ia buscar ponche e não voltou.

Não querendo perder a festa, ele rapidamente deu um jeito de levar Meredith Parker, uma garota de cabelos negros e olhos azuis, do sexto ano da Corvinal, consigo para trás dos arbustos. Obviamente, ele não ficou por mais do que quinze minutos com ela, só o tempo suficiente de darem uns amassos, e bye bye. Não era à toa que, apesar de ser de longe o cara mais bonito que havia na escola, ele não era tão popular.



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- Ella, acho que o Sirius não vem mais... - disse Diana, olhando para os lados.

- Será? - fez Ella, numa voz chorosa - Ele deve ter se perdido, só pode...

- Bem, eu vou indo procurar o Tiago, tá? Ele deve estar procurando por mim, você sabe, agora que somos namorados...

- Vai sim, Diana... eu fico aqui esperando o meu Sirius voltar...

E Diana foi, deixando Ella "Dragão" Parkinson sentada, desolada, na mesa, à espera de Sirius.

Não demorou muito para que chegasse na pista de dança, e visse os cabelos rebeldes de Tiago em um canto junto com a cabeleira ruiva alourada de Heather. Quando Diana chegou perto, percebeu que os dois estavam se beijando. Pelo menos, era bem menos risquée do que quando Lílian e Remo os haviam visto, mas ainda assim, deveria ser um impacto muito maior para alguém que se considerava namorando o garoto. Diana apenas ficou os fitando, calada, imóvel e séria, e quando Tiago e Heather a perceberam, ela, ao contrário das expectativas, não gritou, não fez escândalo e nem disse nada de idiota. Ela apenas virou-se e foi embora, como se nada tivesse acontecido.

- Diana... - Tiago tentou chamá-la.

- Shh. - fez Heather - ela tinha que saber de qualquer jeito...

E fez menção para que voltassem a dançar, mas Tiago soltou-se e disse:

- É estranho, mas eu não me sinto bem fazendo isso... eu acho que preciso conversar com ela, talvez eu tenha sido sacana.

- Ah, Tiago! - exclamou Heather - Não me venha com uma de sentimental agora que isso não cola com você!

Mas Tiago já tinha ido.



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Diana Davis mal teve tempo de sentar-se em uma poltrona, ainda chocada, tentando digerir o que havia acabado de acontecer quando Tiago entrou, ofegante. Ela meramente olhou para o garoto, enquanto ele se aproximava, já mais vagarosamente, e ajoelhou-se em frente a sua poltrona, de modo a ficar no mesmo nível que ela.

- Eu não sei o que dizer. - disse Tiago, olhando para ela.

- Fique quieto, então. Às vezes é melhor. - murmurou Diana, em resposta.

- Me desculpa. - fez ele, com sinceridade.

- Não precisa pedir desculpas. - disse Diana - Eu já devia saber. Você e a Heather sempre terminam, voltam, terminam, voltam. Eu ainda tive a minha dose de Tiago Potter, não é?

- É que eu estou me sentindo mal com isso e eu queria que você dissesse que está tudo bem com você.

- Está tudo bem comigo. - respondeu a garota.

- Eu sei que eu fui um canalha, eu devia ter te contado antes de... bem, você sabe.

- Eu já disse, Tiago, no fundo eu sabia que isso ia acontecer... acho que estava bastante óbvio para Hogwarts inteira. Agora, com licença, eu vou dormir porque essa festa me deixou exausta.

E levantou-se e deixou Tiago sozinho no Salão Comunal.

Tiago tomou seu lugar na poltrona e parou um pouco finalmente para pensar... pela primeira vez em seis anos, Diana parecia ter mais massa encefálica do que aparentava.

Uns quinze minutos depois, Sirius apareceu.

- E aí, garanhão? - exclamou, sorrindo - Considerando o fato de que você não deu o ar de graças depois que eu e a Diana fomos trazer o Rabicho para cá, devo achar que você e a Heather se entenderam?

- Cala a boca, Sirius...

- Ih, então o mar não deu peixe hoje? Isso pode ter duplo sentido... - disse, se aproximando de onde Tiago estava.

- Eu e a Heather voltamos, mas a Diana nos pegou no flagra...

- Já vi tudo, rolou barraco, briga mulher-mulher, arranhões e puxões de cabelo, penas por todo o lado e gritos histéricos de - afinou a voz - "Fiuum! Vagabunda! Reque!", foi?

Fiuum e reque eram os equivalentes bruxos para "galinha" (no sentido feminino) e "piranha", respectivamente, em gíria trouxa (*ler "Animais Fantásticos & Onde Habitam").

Tiago riu.

- Não, a Diana simplesmente nos viu e saiu.

- Ela é puxa-saco da Heather, Pontas... para ser sincero, foi até uma surpresa quando vocês começaram a namorar, você sabe, porque com certeza a Heather não gostou disso, mas aí eu pensei que toda mulher é inimiga uma da outra, e que um cara é muito mais atraente quando namora uma amiga.

- Antes da Diana, a Evans e o Aluado já tinham nos visto, e a Evans teve um ataque... nessa hora, eu já meio que senti que estava fazendo algo de errado... e quando a Diana me viu com a Heather, eu me senti um canalha.

Sirius gargalhou alto.

- É o que eu digo, Pontas, você é um galinha, mas um galinha com princípios...

Tiago revirou os olhos.

- Eu só quis dizer que eu acho que deveria ter terminado com a Diana, mesmo apesar de nós não estarmos oficialmente namorando, antes de voltar com a Heather. - suspirou e abrindo um sorriso maroto, perguntou - E você, Almofadinhas, faturou quantas?

Sirius baixou os olhos, desanimado:

- Só uma... a Ella Parkinson ficou na minha cola...

- E quem foi?

- Meredith Parker...

- Eu fiquei com ela semestre passado, daquela vez que eu e a Heather brigamos, na Páscoa...

- Eu sei, ela é meio dada... eu só queria curtir, e como todas as garotas decentes já estavam acompanhadas, fui até ela.

Nesse momento, Heather entrou no Salão Comunal, com um ar de altivez.

- Heather! - chamou Tiago, e ela olhou para ele, de longe, como se ele fosse um verme.

- Me esquece! - gritou ela, subindo as escadas para o dormitório das garotas.

- Ih, pronto! - disse Sirius, depois que ela sumiu da vista deles - Não vai correr atrás dela, não, Romeu?

- Agora eu estou cansado, amanhã eu falo com ela... - retorquiu Tiago.

- Seja novamente bem vindo ao clube dos livres e desimpedidos, Pontas!

Tiago sorriu.

- Eu já sou membro honorário.



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O problema de seguir Lílian no meio da multidão era justamente a multidão. Remo logo a perdeu de vista, e saiu do salão principal, e começou a andar pelo jardim, tomando cuidado para tomar uma rota diferente das que os casais de namorados que queriam mais privacidade costumavam tomar, e começou a chutar uma pedra no caminho.

Ela gosta do Tiago, pensou ele, chateado, e isso é tão óbvio que eu não sei como não vi antes. Ela implica demais com ele, fica desse jeito porque viu ele beijando a Heather...

E, perdendo sua linha de pensamento num choque, ele viu ao longe Lílian sentada, abraçada aos joelhos, em frente ao lago, olhando para o horizonte.

Ele andou até onde ela estava e sentou-se ao seu lado. Ela olhou para ele, e depois voltou a contemplar o lago.

- Lílian?

Ela apenas sorriu fracamente para ele e baixou a cabeça novamente. Ele a ergueu pelo queixo.

- Shh. O mundo não acabou. - disse.

- Eu fui um desastre. - Lílian murmurou - você viu!

Remo suspirou.

- Lílian, responda com toda a sua sinceridade, por favor. Você gosta do Tiago?

Ela ainda estava virada para o lago, e ele olhava para ela com solicitude.

- Acho que um pouco. - disse ela - Não desse jeito que você está pensando, mas às vezes, eu sinto falta do Tiago que era meu amigo. Como eu sentiria a sua falta se você deixasse de ser meu amigo, ou da Victoria, se nós virássemos efetivamente inimigas.

- Eu entendo, mas por quê você saiu correndo, então?

- Eu não sei o que deu em mim... acho que, no fundo, eu sempre tive a esperança de que o problema do Tiago fosse a adolescência, e quando ela passasse, ele voltaria a ser o cara legal que era... mas o jeito que ele estava se agarrando com a Waltham, caramba, me fez voltar a ter catorze anos e ver meu melhor amigo com a garota que eu mais detesto.

"Eu vi um babaca de novo, e me entristeceu o fato de que ele é tão superficial, e que há pouco tempo, ele estava também com a Diana Davis. Eu já vi ele beijando a Waltham, a Diana e outras garotas, antes, Remo... claro que não desse jeito, mas já vi... e hoje eu finalmente me dei conta de que ele realmente é essa pessoa que eu vejo, e não o menino que eu conheci. E de qualquer forma, eu acho que fiquei emotiva demais depois do que aconteceu com a Landers."

- Você tem certeza de que é só isso, Lílian? Porque faz muito sentido que você goste dele, e eu não estou aqui para julgar ninguém...

- Tenho. - disse Lílian, com sinceridade - Eu sinto falta do Tiago que era meu amigo, mas desse, eu nunca gostei, nem como amigo, muito menos como outra coisa.

Remo percebeu que um sorriso se formava em seus lábios. Ele também virou para o lago e os dois permaneceram algum tempo em silêncio, olhando para o horizonte, até que Lílian, do nada, perguntou numa voz jovial:

- Eu fui muito ridícula quando saí correndo?

Remo riu.

- Pensando agora, Lily, foi hilário.

Lílian deu um empurrão de leve em Remo, que riu.

- Era pra você dizer que não, seu bobo. -- fez ela, rindo também - Você não vai voltar para a festa?

- Só se você vier junto comigo.

- Quer dizer que se eu resolver ficar aqui a festa inteira, você vai ficar me fazendo companhia?

- Vou.

Lílian sorriu, e perguntou novamente:

- Eu fui muito ridícula mesmo?

Remo sorriu e disse num tom de quem o fazia porque Lílian tinha reclamado de sua última resposta:

- Não, você estava linda.

Lílian sorriu também, e disse, debochada:

- Que galanteador.

Dessa vez, Remo assumiu um aspecto severo, e disse:

- Lábia não adianta de muita coisa, Lily, determinação, sim. E eu estou determinado. De verdade.

Lílian virou-se para encará-lo. Nunca havia pensado em Remo como algum exemplo de beleza, mas agora, havia um ar diferente no rosto dele, um ar decidido que nunca havia pairado sobre o rosto de Remo Lupin em toda a extensão de seus dezessete anos. E pela primeira vez na vida, Lílian olhou para ele e viu um homem.

- Determinado a quê? - Lílian perguntou, meio que já sabendo a resposta, mas querendo desesperada e estranhamente ouvi-la da boca do rapaz que a encarava com tanta atenção, tanto carinho.

Remo inclinou-se para perto de Lílian, fez seus dedos correrem pelo canto do rosto da garota suavemente. Ela fechou os olhos e ele aproximou seu rosto do dela, os lábios roçando-se de modo quase infantil. O que não era nada infantil foi o que veio a seguir, quando Remo também fechou seus olhos investindo no que seria o primeiro beijo de amor da sua vida. Foi quando ambos perceberam que o momento que estavam vivendo fora ansiado há muito tempo.

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