Natal
Passaram-se dois dias desde a morte da professora Landers, ou um dia desde a descoberta do corpo. Dumbledore insistiu que o Baile de Inverno ainda fosse celebrado, alegando que o luto tinha que ser desfeito antes que Hogwarts virasse um mausoléu. Todos concordaram entusiasmados... era certo que apesar do choque, poucas lágrimas foram derramadas. E, afinal de contas, não haveria maneira melhor de esquecer uma tragédia que com uma festa.
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Lílian estava sentada numa poltrona do dormitório feminino do sétimo ano, observando a amiga, talvez ex-amiga, Victoria Manchester arrumar sua valise para passar o Natal com a família, por sobre o livro que lia. Lílian teria que ficar em Hogwarts para o baile, cumprindo suas funções de Monitora-Chefe.
Victoria também lhe lançava uns olhares, mas nenhuma das duas daria o braço a torcer... pelo menos não tão cedo.
No fundo, Lílian queria desesperadamente desabafar com Victoria a respeito dos últimos acontecimentos, a culpa que vinha sentindo, a amizade com Remo, mas era impossível nesse momento.
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- Falou com ela, Lily? - perguntou Remo, fitando a garota - Vocês duas precisam se acertar...
Lílian se ajeitou na almofada. Eles estavam novamente na sala cujas escadas davam para o Jardim da Fênix.
- Não. - disse - Ela que deu o xilique, não eu, ela que peça desculpas.
- Lílian, - disse Remo - Não é por nada, não, mas pelo que você me contou, você quem foi grossa com ela...
Lílian suspirou.
- É, eu sei. Mas ela estava muito chata, me amolando, falando do bendito Potter...
Remo sorriu fraternalmente, respirou fundo, e com um leve rubor no rosto, disse:
- Lílian, eu te chamei aqui para te perguntar sobre outra coisa... bom, você... você... sabe, você é a minha única amiga garota. Eu sempre ando pra tudo que é canto com o Sirius e o Tiago e o Pedro, e eu também não tenho uma namorada. Eu queria ir acompanhado ao Baile, mas não com uma matraca falante toda emperiquitada que eu mal conheço, mas sim, com uma amiga. Topa?
Lílian olhou para baixo.
- Eu adoraria, mas vou ser obrigada a ir com o Potter...
Remo sorriu, sem graça.
- Está... tudo bem. Eu devia saber que os monitores têm que ir juntos...
- Aliás, monitor tem que fazer uma porção de coisas chatas. Se dependesse de mim, nem ao baile eu iria. É noivado da minha irmã depois de amanhã, não que seja realmente importante para mim, mas eu ia ir.
- Ok, eu entendo. Mas, sem querer ser chato, e mudando radicalmente de assunto, eu realmente acho que você deveria ir falar com a Victoria.
- Mas... eu prefiro deixar a poeira baixar, entende? Quem sabe depois que ela voltar do feriado de Natal, ela vai ainda hoje, você sabe.
- Eu acho que você deveria falar com ela o quanto antes. Hoje é véspera de Natal...
- Eu não sei se quero falar com ela. Às vezes, isso me faz falta, ter com quem conversar... bom, eu agora tenho você, mas é diferente...
- É como os meninos para mim. Eu entendo.
- Mas, por outro lado, eu ia ferir demais uma parte de mim se fosse me humilhar agora. Eu posso ter errado, mas ela vem errando há muito tempo, também. Nós tínhamos que conversar, discutir o que anda errado na nossa amizade, e não simplesmente uma das partes assumir toda a culpa sozinha.
- Bem, você quem sabe, Lily. Eu só estou dizendo isso porque... - parou, de repente.
Lílian o fitava com olhos interessados:
- Porque...?
Remo se levantou bruscamente e disse:
- Depois conversamos, Lílian, eu fiquei de ajudar o Pedro com o dever de casa.
Lílian apenas suspirou, e o seguiu para fora do jardim.
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- É assim, Rabicho, nada realmente difícil se você se der ao trabalho de relembrar umas aulas do nosso primeiro ano. Diga apenas Vingardium Leviosa, e aponte a varinha para o papel. Eu já te dei até uma colher de chá e fiz o feitiço mais complicado antes... está vendo? A gaivota já está voando! - disse Tiago, olhando para a gaivota que planava no Salão Comunal com uma cara que Lílian Evans certamente diria ser de um idiota completo - Agora, se você quiser, é só recitar - cochichou alguma coisa no ouvido de Pedro Pettigrew - que ela vai correndo atrás de quem você quiser, por uma boa meia hora, e a pessoa não vai entender nada, porque esse feitiço para gaivotas teleguiadas é uma invenção exclusiva...
- Da Potter & Black Traquinagens. - completou Sirius, com um sorriso.
Pedro franziu as sobrancelhas:
- Ué? Que eu não tenha ajudado tudo bem, eu sei que eu sou meio que uma negação nesse tipo de coisas, mas... o Aluado não deu nem uma ajudinha?
Tiago cruzou os braços, subitamente mal-humorado, e Sirius, também com aspecto severo, mas ao mesmo tempo gozador, disse:
- Aquele ali virou a casaca... agora só vive pra cima e pra baixo com a Lílian Evans. Vê se pode!
Pedro riu.
- Vocês deviam parar de ser tão ciumentos... deixa o Remo com a garota! Eu e ele nunca reclamamos quando vocês ficavam com aquelas matracas chatas.
- Mas... mas... - a voz de Tiago atingira um tom demasiado agudo - é diferente! Eu nunca dei muita corda para uma garota... eu ficava e pronto, e o Sirius também! E além do mais, o Remo NÃO está namorando a Evans, eles só estão amiguinhos demais pro meu gosto.
- Exatamente. - concordou Sirius - Se ele ficasse com ela, tudo bem... mas essa história de nos abandonar para ficar amigo de mulher não me cheira nada bem.
- Sirius, pelo amor de Deus... - fez Pedro - o Remo é esperto, isso, sim... quantos caras vocês conhecem que conseguiram fisgar a Lílian?
Sirius ergueu os olhos, como quem tenta lembrar de alguma coisa, e Tiago, ao contrário, olhou para baixo.
- Realmente. - disse Sirius - Eu não sei de ninguém que tenha ficado com a Lílian...
- É porque ela é uma baranga. - disse Tiago - aí ninguém quer mesmo.
Nisso, Sirius tirou os óculos de Tiago e os examinou de modo zombeteiro.
- Você tem certeza de que esses óculos estão direitos, Tiago? Tudo bem que a Lílian não é lá a garota mais bonita do mundo, mas baranga... é um pouco demais...
- A Lílian é interessante. - completou Pedro - Ela é bonita, sim, mas não ao extremo... muitas garotas aqui em Hogwarts dão um banho nela nesse aspecto, até porque a Lílian não é de se arrumar toda. Mas ela é inteligente e tem personalidade, o que a faz parecer bem melhor que qualquer outra garota.
- Até aí, tudo bem - disse Tiago, revirando os olhos - Mas o Remo só está com a Lílian com papo de garota... nada demais. Ele me disse.
- Pois é. - Pedro deu um riso escarninho - É o que ele te diz... você realmente acha que ele faz o tipo que ia sair por aí, espalhando pra todo mundo que ficou com alguém?
Tiago franziu o cenho.
- Mas eu sou amigo dele... não sou todo mundo... ele devia me contar. E eu sei que ele nos contaria se acontecesse alguma coisa.
- Talvez ele esteja esperando acontecer... - ponderou Pedro.
- Por mim, estaria tudo bem se ele ainda continuasse a ser o Aluado. - disse Sirius - Eu nunca pensei que ia ficar tão feliz com a lua cheia chegando... pelo menos de algum modo, ele vai voltar a ser o nosso amigo, o velho Remo Lupin de antes.
Tiago suspirou:
- Não sei como fomos desviar tanto do assunto... vamos voltar à gaivota, sim?
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Remo ia andando a passos largos, enquanto Lílian tentava, com pouco sucesso, acompanhá-lo.
- Remo... espera!
Ele continuou andando, e ela o agarrou pelo braço, fazendo com que ele virasse e a encarasse.
- Remo, você está muito estranho... estava tudo bem com a gente, você estava ocupando um papel de melhor amigo na minha vida, e agora, você simplesmente parou no meio da frase e saiu praticamente correndo... o que está acontecendo?
- Lílian, tem coisas que é melhor a gente não saber... - disse ele melancolicamente - Eu estava me envolvendo demais em uma coisa que não ia dar certo... eu não ia dar certo, eu sou... bem, deixa pra lá, eu sinto muito, Lílian, eu devo estar precisando descansar um pouco... desculpa se eu fui grosso.
Lílian abriu a boca para dizer alguma coisa, mas ele continuou a andar, deixando-a sozinha no corredor e desaparecendo numa curva.
Ela queria ter perguntado o que exatamente era o problema dele, e estava se sentindo muito culpada por não ter percebido o que quer que fosse antes... ela o tinha atribulado demais com os seus próprios problemas e fora tão desatenta como amiga que nem reparou que ele não estava bem. Um súbito sentimento de remorso pela briga com Victoria tomou conta dela, pois talvez tivesse agido com a (ex?) amiga exatamente como supunha ter agido com Remo: por demais preocupada com os próprios problemas e pouco se lixando para os problemas do outro...
Saiu correndo corredor adentro. Finalmente percebera que estivera errada o tempo todo, e que precisava de qualquer jeito pedir desculpas à Victoria e reatar a amizade o quanto antes.
Atravessou o Salão Comunal Grifinório esbaforida... Remo já havia chegado lá enquanto ela refletia no corredor, mas Lílian nem tomou conhecimento dele, nem de Pedro, nem de Sirius, tampouco de Tiago. Abriu a porta do dormitório feminino com força e olhou em volta.
- Victoria?
Diana, que pintava suas unhas de rosa choque com a ponta de sua varinha, virou-se para Lílian, e disse, com uma voz cândida:
- A Victoria saiu faz uns dez minutos... ela foi pra casa, por causa do Natal, você sabe.
Lílian nem agradeceu, nem respondeu, apenas virou as costas e saiu correndo de novo. Os alunos, principalmente os mais jovens, fitaram-na espantados... seria uma miragem ver a implacável Lílian Evans correndo como uma doida pelo Salão Comunal?
Tiago, que a acompanhava com os olhos, gritou para ela, rindo como um louco:
- Olha o mau exemplo, hein, Monitora Chefe! Você vai pra lista de advertidos.
Mas Lílian já havia deixado o salão.
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Lílian chegou ao Salão Principal ofegando. No jardim da frente, havia uma pequena multidão de umas duas dúzias de alunos: namorados que foram se despedir das namoradas que partiram, namoradas que foram se despedir dos namorados que foram para casa, melhores amigos que foram se despedir de seus melhores amigos...
Lílian parou finalmente de correr, com as vestes escolares já encharcadas pelo suor, apesar do frio natalino, e olhou as carruagens sem cavalo que levavam os alunos para a estação de Hogsmeade desaparecerem ao longe. Sentiu tristeza, mas logo se animou com a perspectiva de poder voltar a ser amiga de Victoria depois do Natal.
Subitamente, uma mão tocou seu ombro.
- Lílian! - disse uma voz bem parecida com a de Victoria.
Lílian virou-se e se deparou com uma menina um pouco mais nova que ela, bastante parecida com a amiga, não fosse os cabelos castanho-escuros longos e cheios, enquanto os de Victoria iam só até o ombro e eram castanho-claros e lisos, a completa ausência de espinhas no rosto (Victoria tinha um monte) e a silhueta mais grossa. Os traços em si eram muito parecidos, e os olhos eram absolutamente da mesma cor: índigo.
Lílian apertou os olhos tentando se lembrar do nome da menina. Sabia que ela era a irmã caçula de Victoria, mas o nome não lhe vinha à cabeça. Afinal de contas, geralmente Vicky se referia a ela como "coisa" ou "criatura", e muitas vezes, "aborto da natureza". E não ficava bem dizer "Olá, Aborto!"
- Oi! - disse, num tom bastante íntimo para compensar o esquecimento do nome da sujeita, com um sorriso forçado.
- Você veio se despedir da Vicky? - perguntou a menina, desconfiada - Mas eu achei que vocês estavam brigadas...
- Estávamos, sim. - retrucou Lílian, mal-humorada.
- Então o que você vinha fazer aqui?
- Assistir às vacas voarem no céu. - respondeu Lílian, já perdendo a paciência e apelando para o seu sarcasmo (no caso dela, alguma coisa carregada de humor sem graça).
Ao invés de ficar irritada, Marina deu um meio sorriso.
- Você veio fazer as pazes com ela antes que ela fosse embora pra casa, não é?
- Por que você não foi passar o natal com os seus pais também? - Lílian mudou de assunto bruscamente, já que não estava gostando muito do rumo que a conversa estava tomando. Ela tinha consciência de que queria reatar a amizade, mas não era o tipo de coisa que fosse discutir com uma garota com quem ela mal falava.
- Porque esse é meu ano de ficar em Hogwarts. São sempre os anos pares... eu estou no sexto ano, fico. A Victoria está no sétimo, ímpar, vai. Até porque desse jeito, os nossos pais têm sempre pelo menos uma filha parar passarem o Natal. - disse e encarou Lílian - Agora que eu respondi a sua pergunta, que tal responder a minha?
- Que pergunta?
- Você veio fazer as pazes com ela?
Lílian hesitou, mas como não havia saída, assentiu.
- Ahá, eu sabia! - fez a menina - Eu passei a vida inteira vendo vocês andarem juntas. Não ia acabar assim, uma amizade tão comprida...
- Assim como?
- Bom, como eu não sei... mas é que vocês brigaram de uma hora pra outra, então foi coisa boba.
Lílian apenas ergueu as sobrancelhas e escutou a menina prosseguir:
- Eu sei que você mal me conhece, nós trocamos uma ou duas palavras em seis anos que eu estudo aqui, mesmo apesar de você ser a melhor amiga da minha única irmã, mas eu reparo muito em vocês duas. A Victoria não fala muito dos assuntos dela comigo, mas é fácil descobrir, sabe? E eu sou bastante observadora.
- Eu sempre falei com você. - protestou Lílian - Eu sempre te cumprimentei.
- Como hoje. - suspirou a irmã de Victoria - Você nunca deixa de me cumprimentar quando a gente se esbarra, o que, diga-se de passagem, não acontece lá muitas vezes, até porque eu não sou nem da mesma casa que vocês. Mas você nunca me chama pelo nome. É sempre "oi", "bom dia" e "boa tarde". Você, por um acaso, lembra do meu nome?
Lílian ficou muito sem graça. Era um tanto chato dizer a alguém que ele era tão insignificante que não merecera nem um simples lugar para o nome na memória dela.
- Manchester. - respondeu Lílian, sabendo que não adiantava.
- Marina. - retrucou a menina - sim, meu sobrenome é Manchester, mas eu perguntei a respeito do meu nome. De qualquer forma, eu vou te dizer por quê meu nome é esse, segundo papai, assim da próxima vez, você não comete essa gafe. - sorriu - É por causa dos olhos dos Manchester. Não sei se a Victoria te contou, mas todos os Manchester têm os olhos desta cor - apontou para os próprios olhos - Cor de mar turbulento. Marina significa "do mar". A Victoria só não se chamou Marina porque ela nasceu justo na época em que os Aurores capturaram o primeiro Comensal da Morte e ficaram crentes, crentes que tinham acabado com o problema todo... e foi o papai quem o capturou, exatamente, então foi a tal "vitória". Mas foi uma vitória falsa, como você sabe, já que mesmo depois que ele levou o Beijo do Dementador, os crimes continuaram, e acabaram descobrindo você-sabe-quem. Taí um apelido que você pode chamar a Victoria mais tarde: "vitória falsa". Eu sempre chamo ela assim.
- Ok, eu vou anotar no meu caderno de coisas para fazer: chamar a Victoria de vitória falsa - retorquiu Lílian, entediada.
- De qualquer forma, eu ainda não te perdoei por ter esquecido o meu nome.
- Ok, desculpa, mas são mil alunos em Hogwarts.
- Mas eu sou a irmã da sua melhor amiga! - argumentou Marina, debochada - Mas eu quero te pedir um favorzinho como reparo pelo seu esquecimento.
- O que é? - perguntou Lílian, definitivamente irritada com a tal "Marina".
- Primeiro você tem que prometer que vai fazer.
- Ok, ok. - concordou Lílian, querendo se livrar logo da mala - Eu prometo.
- Eu quero poder andar com você por uma semana. Pelo menos um pouquinho...
- Ok, então. - disse Lílian - Tchau.
- Ei! Que tal começar a cumprir a sua promessa a partir de agora?
Lílian revirou os olhos, e Marina, como um pônei saltitante, pulou ao seu lado, com um sorriso de orelha a orelha.
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Tiago ficou olhando, consternado, a porta por onde Lílian havia saído e fez um gesto circular com o dedo indicador perto da orelha, como quem diz "maluca".
- Vocês viram isso? - perguntou aos três amigos - Essa garota é doida ou o quê?
Os três deram de ombros, mas Remo ficou particularmente quieto, e, uns segundos depois, virou-se para Pedro e falou:
- Você queria ajuda no dever de casa, não é? Vamos pro dormitório que eu te ajudo... lá é mais quieto.
Pedro foi com ele até o dormitório do sétimo ano, e Sirius e Tiago os observaram partir.
- Eu tenho que concordar com você, Pontas. - disse Sirius - O Remo realmente está estranho... não é só o lance com a garota, é algo mais.
- O que me irrita é que ele se diz nosso amigo, mas não é capaz de se abrir com a gente. - disse Tiago.
- Ele sempre foi assim, fechado. - fez Sirius, pensativo - Caladão, na dele. Você se lembra de como descobrimos o quê ele era.
- Claro que lembro. - fez Tiago, com um olhar nostálgico - Mas mesmo depois disso tudo, ele não aprendeu a confiar na gente. Isso me chateia.
- Sabe, Tiago, o Remo conta as coisas quando são fatos concretos, consumados. Ele nos contou que era... você-sabe-o-quê espontaneamente, sem saber que nós já sabíamos, mas isso foi compreensível, eu e você sabemos que não deve ser fácil arriscar perder os únicos amigos que tem por causa de uma coisa que não é nem culpa dele, e de todo modo, ele acabou nos contando espontaneamente. Mas quanto a gostar de uma garota... ele sempre teve medo. Não medo de ser rejeitado, mas de gostar, ser correspondido, e depois perder tudo, por causa da condição dele. Porque você sabe que ele não se sentiria bem ficando sempre com uma garota diferente... ele é muito tímido nesse sentido, e só ficou com alguém daquela vez que nós arranjamos para ele sair com a Lauren Rouchou, lembra dela?
- Claro. Um ano mais velha que a gente, neta de veela,...
- Pois é... aquela foi a única vez que ele saiu com alguém, e foi no ano retrasado.
- A única vez que nós tomamos conhecimento. - corrigiu Tiago, pensativo.
- O fato é que ele contaria pra gente se estivesse mesmo namorando a Lílian. Se ele não contou, é porque não está.
- Mas quer. - fez Tiago, rangendo os dentes.
- Quer, e isso está bastante óbvio. - concordou Sirius - E o problema deve ser justamente o problema de sempre.
- Aquilo. - completou Tiago.
- Aquilo. - confirmou Sirius. - O que mais seria?
- Ele quer ficar com ela, mas sabe que, se contar, ela não vai querer ficar com ele.
- Só pode ser. - fez Sirius - Eu tenho muita pena dele nesse sentido... até a família...
- Principalmente a família...
- Apesar de ficar meio chateado pelo fato dele estar passando muito pouco tempo com a gente, no fundo eu torço que dê tudo certo com eles dois...
- Pois é. - assentiu Tiago, sem dizer que também torcia, já que não sabia bem se queria que seu amigo ficasse com Lílian Evans. - Mas eu preferia que fosse outra garota.
- Ele que tem que escolher...
- Bah, problema dele...
- É.
- Pois é.
- Que assunto, hein? - fez Sirius - Você vai mesmo com aquela descerebrada ao baile? Nada contra, já que ela é bonita... desde que fique com a boca calada.
- Não... eu tenho que ir com a Lílian, já disse. Somos os Monitores-Chefes, esqueceu?
- Eu vou com a Heather.
Tiago engasgou.
- Com a Heather, Sirius?
- Sim, com a Heather. Qual é o problema?
- Ela é minha ex.
- Exatamente. Ex.
- Mas ela é a oficial, se é que você me entende. Eu só estou saindo com a Diana para a Heather se pôr no lugar dela...
- Aproveite, então.
- Sirius, você não vai tocar na Heather, está me ouvindo? Nós somos amigos, não sócios.
Sirius riu.
- E a Potter & Black traquinagens?
- São negócios... a Heather é a minha namorada... nós só estamos temporariamente separados, mas ela é a única garota com beleza, personalidade e inteligência na medida certa para mim.
- Quer dizer que você pode se agarrar com quem quiser, mas ela não?
- Basicamente, é isso.
- Postura machista, Tiago, mas eu não posso falar nada. De qualquer forma, eu sei que ela só vai comigo para te provocar, e o meu orgulho não vai permitir que eu tenha nada com ela, nem a minha amizade por você, é claro. Não é do meu feitio ser brinquedo de garotas que só querem fazer ciúmes... e eu só vou com ela porque queria me livrar da Ella Parkinson.
- Ah, aquele dragão ainda anda na sua cola... - Tiago riu - pobre Sirius...
- Fazer o que se eu sou irresistível, né? Mas tem coisas que eu não posso aturar... como mulheres muito feias ou muito burras. E Ella Parkinson é as duas coisas.
Tiago apenas balançou sua cabeça, risonho.
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- Bom, Marina, aqui você está, na frente da torre da Corvinal. Eu tenho as minhas tarefas de Monitora Chefe, ainda mais em véspera de Natal. Você não é da minha casa, não pode vir comigo.
Marina Manchester fez beiço, mas logo pediu:
- OK, já vi que não vai dar pra você andar comigo... então eu peço outra coisa pra compensar... eu quero que você faça com que o Frank Longbottom me convide para o baile.
- E se ele já tiver acompanhante? Não se esqueça de que o baile é depois de amanhã...
- Ele não tem. Todo ano ele vai sozinho, que eu saiba... ele sempre arruma par na própria festa... mas eu quero ser convidada por ele.
- Hum... e como você acha que eu vou conseguir?
- Apenas diga que acha que eu estou interessada. Eu não sou de jogar fora. - Marina sorriu.
- Você quem sabe. - fez Lílian - Se ele te achar oferecida depois...
- O máximo que ele vai achar é que você é fofoqueira, de modo que eu não fico prejudicada em nenhuma situação.
- Bem pensado. - disse Lílian. - Pode deixar que eu falo com ele. Porque, francamente, eu estou pouco me lixando se ele vai me achar fofoqueira ou não.
E foi embora, deixando uma Marina Manchester com ar marotamente sonhador.
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Quem visse Lílian Evans entrando de volta no Salão Comunal Grifinório jamais conectaria aquela moça de olhar altivo à desvairada que havia pouco, saíra correndo feito uma maluca do aposento. Mas as pessoas, tendo assistido a ambas as cenas, apenas entreolharam-se, confusas.
Tiago Potter tomou a iniciativa de aproximar-se dela, já tramando o que dizer a ela.
- Evans! - chamou ele, segurando o braço da garota - O que tinha acontecido?
- Não é da sua conta, Potter.
- Como você adora dizer para mim, eu também sou Monitor Chefe, e, como não podemos usar dois pesos para uma medida, você vai ter que ser advertida por correr em ambiente fechado do colégio. - avisou, com um sorriso maroto.
Ela apenas o encarou.
- Muito justo. Só estou imaginando que moral você tem para advertir alguém, Potter. Afinal de contas, se eu fosse levar em conta as vezes que você desrespeitou as regras, teria que passar o mês inteiro escrevendo os pedidos de desconto de pontos.
- Verdade, mas eu nunca me meti a ficar dedurando ninguém.
- Delatando, Potter. Que vocabulário!
- Vocabulário de um garoto de dezessete anos de idade, Evans. Ao contrário de você, eu pareço ter a idade que tenho, e não cinqüenta anos a mais.
- Você parece ter sete anos.
- E você, sessenta e sete.
Lílian respondeu revirando os olhos.
- Mas eu não vim aqui para brigar com você, Evans, porque eu sei perfeitamente bem que não faz sentido discutir com você, já que nossas discussões não costumam sair do lugar. Eu vim aqui te lembrar de que você vai ter que ir comigo ao baile.
- E daí?
- E daí que você pode ter se esquecido desse detalhe e resolvido ir com outra pessoa.
Alguma coisa disse a Lílian no fundo de sua mente que essa "outra pessoa" a quem ele se referia era Remo.
- Eu tenho perfeita consciência das minhas obrigações como Monitora Chefe. Não preciso de que você fique me lembrando.
- Muito bem, senhora Monitora Chefe. Era só isso.
Lílian deu de ombros, virou-se e perguntou a um menino do sexto ano se ele sabia onde estava Frank Longbottom. A resposta foi quase óbvia: jogando xadrez de bruxo, seu hobby favorito, num canto ermo da sala.
- Frank? - fez Lílian, tocando de leve no ombro do garoto.
- Oi, Lílian! - Frank a cumprimentou, abrindo um sorriso que ia de orelha a orelha.
- Posso trocar uma palavrinha com você?
- Claro. - disse ele, olhando para o seu companheiro de xadrez, que entendeu o recado e apressou-se em sair, desajeitado.
- Bem, você já tem companhia para o baile?
- Hum... não. Geralmente, eu vou sozinho e tiro umas garotas para dançar. Por quê?
- É que eu tenho um palpite de uma garota que gostaria muito de ir com você... - Lílian teria corado se soubesse que Frank pensava que ela se referia a ela própria - Quer dizer, eu acho que ela gostaria. O que você acha da Marina Manchester, da Corvinal?
- Manchester... ela é a irmã da Victoria, não?
- É sim.
- Ela é um pouco... - Frank pensou em dizer "gorduchinha", mas se conteve, e, como não tinha coragem de dizer "não" a um pedido de Lílian, respondeu - Pode deixar, eu chamo ela, sim.
Até que a Marina não é tão gorda assim, meio cheinha só e, pensou Frank, pelo menos tem olhos muito bonitos.
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Lílian passou a meia-noite que dividia a véspera de Natal do Natal em si deitada em sua cama no dormitório feminino. Em Hogwarts, diferente de sua casa, a festa de Natal, o Baile de Inverno, acontecia no próprio dia 25, e então, não havia lá muitos motivos para manter-se acordada.
Por volta das sete da manhã, ela acordou e encontrou um monte de embrulhos no pé de sua cama (mais uma coisa diferente, em casa, ela recebia os presentes sob a árvore de Natal) e pôs-se a abri-los.
O primeiro era uma caixa redonda azul listrada com branco com uma grande fita turquesa. A cara dos presentes que sua avó lhe dava. Abriu e lá estava um cachecol vermelho, provavelmente feito pela própria remetente. Lílian sorriu, embora não pensasse em usá-lo de jeito nenhum. Leu o cartão - um daqueles musicados trouxas - e guardou-o com o presente.
O segundo era um embrulho vermelho plano, com um cartão branco. Lílian pegou o cartão e viu que era de sua melhor amiga trouxa, Nicole Ludlow, um disco do Led Zepelin.
- Uau. Obrigada, Nic! - deixou escapar.
O terceiro era uma caixa de veludo verde, de seus pais e de Petúnia (só no nome, obviamente, já que era provável que Petúnia nem tinha tomado conhecimento do presente). Continha uma gargantilha e brincos de esmeralda que combinavam muito com os olhos de Lílian, e ela não pôde deixar de adorar.
Havia também o presente de Válter "Porco" Dursley, o noivo de Petúnia, um livro de auto-ajuda chamado "Como ser Normal", que Lílian pensou em enviar de volta para o remetente para que ele o lesse. Ela tinha plena consciência dos olhares que ele lhe lançava durante as festas de família, quando ela estava em casa, e não gostava nada, nada deles.
E também havia o presente de seus padrinhos, tia Dóris e tio Paul, que como sempre era um envelope com dinheiro, trezentas libras, que ela mais tarde trocaria por galeões.
Havia mais três embrulhos, e por experiência, Lílian sabia que nenhum vinha de Victoria e ficou chateada por sua amiga ainda estar chateada com ela, mas sabia que era inevitável. Ela própria havia guardado o presente que comprara, um cordão com os dizeres "Amigas para Sempre" no pingente (que mudava de cor de acordo com o humor do dono), para dar-lhe depois que fizessem as pazes.
O primeiro dos últimos embrulhos era todo vermelho com uma fita dourada (as cores da Grifinória) e era um presente pessoal de Alvo Dumbledore: uma primeira edição de Hogwarts, uma História, antiqüíssimo por sinal.
- Dumbledore, eu te adoro! - murmurou Lílian em tom de exclamação.
O segundo era uma caixa azul com fita amarela, com um cartão que dizia:
Lily,
Feliz Natal e me desculpe por qualquer coisa. Eu gosto muito de você. De verdade.
Do seu amigo,
Remo
Lílian sorriu consigo mesma por ter uma pessoa a menos na sua lista de gente chateada com ela. Era uma caixinha de música que tocava uma música alegre e calma, com dois bonecos (ou seres?) animados que dançavam no ritmo e de vez em quando se cansavam e sentavam no que seria o palco deles. Mais tarde Lílian descobriria que a música que a caixinha tocava variava de acordo com o humor da pessoa, e o casalzinho dançava o que tocasse.
A garota fitou o último embrulho, curiosa. Das pessoas que costumavam lhe mandar presentes, exceto por Victoria obviamente, não havia mais ninguém. Pegou o cartão, que dizia somente:
De Tiago Potter
Para Lílian Evans.
Revirou os olhos. Da última vez que recebera um presente de Tiago, no ano anterior, crente que era uma espécie de pedido de desculpas (não que fosse aceitar, mas adoraria receber), abriu, internamente contente, até se deparar com uma bomba de bosta que explodiu na cara dela assim que abriu a caixa.
Por um instante, pensou em abrir na cara de Tiago para que ele próprio sofresse as conseqüências, mas acabou resolvendo deixar de lado o tal presente e descer para o Salão Comunal, afinal de contas, era Natal e ele precisaria de muito mais que uma bomba de bosta para aborrecê-la.
Olhou para as camas ao lado e viu Heather Waltham dormindo com sua máscara facial à base de abóboras e riu, e na outra cama, Diana Davis dormia. E babava.
Sorridente, Lílian transfigurou seu pijama em suas calças brancas, blusa vermelha e potente casaco branco e desceu as escadas que separavam o dormitório que ocupava, do salão comunal.
Estava praticamente vazio, havia somente dois garotos do quarto ano brincando com snaps explosivos e uma garota do segundo ano, com óculos fundo-de-garrafa, lendo um espesso volume de "Animagi". Voltou ao seu dormitório e buscou o livro que ganhara de Dumbledore, e, depois de descer novamente, pôs-se a examiná-lo.
Como sempre acontecia quando lia, o tempo passou bem depressa, e logo, para seu desgosto, Tiago Potter desceu.
- Oi, Cenourinha. - disse ele jovialmente, sentando-se ao lado dela no sofá.
Ela o fuzilou com o olhar, mais por costume que por irritação mesmo, o que, ela não deixou de sentir, já que sempre odiou piadas a respeito dos seus cabelos ruivos.
- Feliz Natal pra você também, Potter.
Ele sorriu.
- Milagre! E que honra receber "feliz Natal" de você, Evans. Deve ser o tal do espírito natalino.
- Eu fui irônica, se você não percebeu.
- Eu também, se você não percebeu.
Ela voltou a ler e ele se calou.
- Quer parar de ler por cima do meu ombro, Potter? Isso me incomoda.
- Evans, eu não estou lendo essa velharia, estou só examinando o potencial dessas folhas para virarem gaivotas.
- Você só pensa nisso? - perguntou ela, fechando o livro.
- Deixe-me ver... - fez ele, zombeteiramente pensativo - não. Eu penso em outras coisas.
- Sexo, drogas e rock’n’roll. - murmurou Lílian, para si própria.
- Rock’n quê?
- Deixa pra lá.
- A parte do sexo eu concordo... - fez ele, levantando a sobrancelha - Drogas, eu não sei a que você se refere, mas eu não fico com nenhum dragão... e quem diria que a palavra "sexo" passaria algum dia pela cabeça da puritaníssima srta Monitora Chefe. Realmente, baixou um espírito estranho aqui.
- Cala a boca, Potter.
- Eu estou só tentando descontrair o ambiente... - disse ele, alegre - Sorria, Evans, hoje é Natal! - e riu.
Lílian olhou para ele de soslaio.
- Você não tem nada pra me dizer? - perguntou ele, mais sério - Acho que um "obrigada" seria legal, ou pelo menos, educado.
- Eu sinto te decepcionar, Potter, mas se você se refere à sua bomba de bosta ou qualquer outra coisa desagradável que esteja dentro da caixa que você me mandou, eu não abri. Está lá, pra qualquer hora que você resolva pegar de volta e enganar outro otário.
- Evans, você está subestimando a minha criatividade. - disse ele, admirado - Eu não te mandaria bomba de bosta por dois anos seguidos.
- Seja lá o que for...
- Eu tenho certeza de que você vai gostar...
- Me desculpe, mas eu não tenho o seu senso de humor doentio.
- Só abra.
- Nem em um milhão de anos.
Tiago revirou os olhos.
- Traga aqui, Evans, que eu me comprometo a... a... beijar Severo Snape na boca se houver qualquer tipo de sacanagem dentro daquela caixa.
Sabendo que as palavras de um bruxo, mesmo sendo Tiago Potter, valiam sua honra, Lílian, com um sorriso maroto reprimido, pegou seu livro e subiu as escadas para buscar a caixa do presente...
Que garoto maluco, pensou, mas bem que vale a pena levar uma explosão de bomba de bosta na cara pra ver o Tiago, pensou Lílian, se esbofeteando mentalmente com a menção do primeiro nome do garoto, digo, Potter, beijando o Snape...
Desceu com a caixa na mão, e Tiago a pegou com muito cuidado e colocou sobre uma mesa de centro.
- Pode abrir, Evans.
Olhando para ele num misto de ansiedade e desconfiança, Lílian desamarrou o laço que prendia a fita à tampa da caixa, e de lá de dentro saiu uma coruja cor-de-tijolo, com olhos... verde esmeralda!
Tiago sorria de orelha a orelha e Lílian assumiu um aspecto severo. Não ia poder obrigá-lo a beijar Snape porque tecnicamente, aquilo não era uma zombaria. Mas tinha certeza de que aquilo servira para chamá-la de "cara-de-coruja".
- Muito engraçado, Potter. - disse - Onde você arrumou uma coruja dessa cor?
Antes que Tiago pudesse responder, a coruja se transformou num gato.
Que ódio! Além de me chamar de cara-de-coruja, ele ainda quis esfregar na minha cara como ele é o bom de Transfiguração... mas esse gato é tão bonitinho...
- Gostou, Evans? - perguntou ele - Eu te dei praticamente dois bichinhos de estimação... você devia me agradecer.
- Obrigada, Potter. - disse ela, num tom severo de quem é obrigado pela mãe a agradecer as meias que acabou de ganhar da tia.
- Ele precisa de um nome. Ah, vá lá, Evans, você não vai deixar esse pobre gatinho virar um enjeitado, vai? Ele não tem culpa de que fui eu quem te deu... - fez Tiago, com uma voz propositalmente tatibitate.
Pegando o gato com as duas mãos e erguendo-o à altura de seus olhos, Lílian, que nunca vira um gato cor-de-tijolo com olhos verdes na vida, inclinou o rosto, pensativa e, olhando para Tiago de soslaio, respondeu:
- Pontas.
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O dia transcorreu normalmente, o que significa que Lílian passou a tarde toda lendo (dessa vez com "Pontas", que se revelara um ótimo companheiro de leitura - que não lia - , no colo) e assistindo a Diana folhear "Feitiços e Fetiches", a revista símbolo da futilidade adolescente do mundo bruxo e eventualmente mostrar uma página à Heather, que geralmente balançava a cabeça com uma careta e dizia:
- É muito ano passado. Eu quero uma coisa deslumbrante e inédita.
E por fim:
- Definitivamente, Diana, você não vai achar nada aí que me sirva, porque eu quero alguma coisa que ninguém tenha visto. É esse o significado de inédito.
Por volta da página 784, e seis e pouco da tarde, Lílian resolveu começar a se arrumar (a festa era às oito), enquanto assistia à Diana mudar a cor de suas unhas para um prateado fosco, com o cabelo sendo arrumado pelo "Kit Cabelo Mágico de Gilda Lockhart" e Heather, fechada pelas cortinas de sua cama, parecia também estar se aprontando, só que secretamente, provavelmente achando que Lílian copiaria seu tal estilo de maquiagem "deslumbrante e inédita".
Lílian carregou a caixa com sua veste a rigor, sapato e as jóias que ganhara e uma bolsinha com maquiagens trouxas, nas quais ela confiava mais, para o Banheiro dos Monitores.
Logo depois de terminar o banho, se vestir e aplicar um rápido feitiço secador de cabelos (não que Lílian soubesse muito de feitiços cosméticos, mas o básico, como qualquer garota da comunidade mágica, ela conhecia) e passar uma leve maquiagem no rosto, Lílian começou a procurar pela caixa de veludo verde, quando, de repente, uma voz veio de trás de seu ombro, aumentando sensível e gradualmente:
- Procurando por isso, Evans?
Lílian deixou escapar uma exclamação de susto e virou-se, indignada, para encarar um Tiago Potter já completamente pronto, segurando a caixa que ela procurava. Pegou o objeto das mãos dele com violência, e perguntou rispidamente:
- Há quanto tempo você está aqui?
Ele revirou os olhos.
- Eu não sou nenhum pervertido. Eu entrei quando você estava fazendo um feitiço esquisito no seu cabelo e falando coisas bobocas... em todo feitiço de menina você tem que dizer "Aliiiiiiiiiiiiiiisa"?
Lílian deu um sorriso amarelo.
- E aí, você não deve ter escutado eu entrar... a porta desbloqueia sempre que a banheira se esvazia por completo e se bloqueia sempre quando começa a encher, e você sabe disso. E como Monitor, eu também tenho a senha. - disse ele
- Obrigada pela aula, Potter. - retrucou ela, terminando de colocar o último brinco na orelha esquerda e praticamente arrancando a gargantilha da caixa.
Depois de várias tentativas sem sucesso de pôr a jóia no pescoço, Lílian suspirou, impaciente, e Tiago falou:
- Quer que eu coloque?
Não querendo pedir com palavras, Lílian entregou a gargantilha a Tiago e levantou os cabelos, deixando sua nuca à mostra.
Com muita agilidade, ou pelo menos bem mais agilidade que Lílian esperava que um menino tivesse, ele prendeu os fechos da gargantilha e por um breve momento, os dois contemplaram a imagem do casal que formavam no pequeno espelho redondo. Ela com os cabelos levantados pelas mãos e ele, por trás de seus ombros, com as mãos ainda sobre a parte de trás da gargantilha. Quantas vezes Lílian não vira a mesma cena acontecendo entre seu pai e sua mãe...
Na mesma hora, ele tirou as mãos da nuca dela e ela soltou os cabelos e os ajeitou com as mãos rapidamente. Depois de um feitiço para que suas coisas voltassem ao seu dormitório na Grifinória, Lílian virou-se para Tiago e ele ofereceu-lhe o braço. Ela aceitou.
- Sabe, Evans? - disse ele - Você está... diferente.
Lílian gostou muito de ouvir Tiago Potter dizer que ela estava "diferente" no tom de quem queria dizer que ela estava linda. Só gostei porque toda garota gosta de ser elogiada, justificou-se mentalmente, ainda mais pela pessoa mais improvável de vir esse elogio.
E os dois entraram, de braços dados, no Salão Principal.
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