Seja o meu Natal



Capítulo 18 – Seja o meu Natal

I just want you for my own
More than you could ever know.
Make my wish come true
All I want for Christmas is you. (All I Want For Christmas Is You – Mariah Carey)



O espírito natalício rondava a cidade, como uma ameaça deliciosa de cor e conforto. Um dia, Nova Iorque simplesmente amanheceu coberta por um grande manto branco e soube-se que o Natal tinha chegado.


Ginny apercebera-se da chegada das festividades justamente pelo aumento do seu número de clientes: pessoas que encomendavam dezenas de cartões de Natal personalizados, pequenas gravuras para oferecer a todas as tias e tios, quadros de família para o salão onde teria lugar a consoada.


Nos últimos dias evitara cuidadosamente Belle e, consequentemente, Harry. Sabia que a morena não desistira da ideia de passarem as festividades em família e, inconscientemente, temia o que ela poderia fazer para que o seu desejo se realizasse.


Naquele dia, 23 de Dezembro, a cidade se agitava ainda mais do que o normal. Pelo seu tamanho e importância nunca pararia por uma miudeza como a época natalícia, bem pelo contrário. Milhares de pessoas tentavam resolver os assuntos normais e ainda conseguiam correr em debandada para os centros comerciais, a fim de comprar os últimos presentes e ingredientes.


Quando Harry entrou em casa soube, de imediato, que algo estava tremendamente errado. Talvez fosse o ar pesado e húmido que lhe encheu as narinas. Talvez fosse a cara desesperada de Belle, quando correu para o encontrar. Ou talvez fosse apenas a água que invadia o hall e lhe encharcava os tornozelos.


- O que aconteceu? – perguntou, tentando manter o máximo de calma possível dadas as circunstâncias.


- O cano…bem…rebentou. – respondeu Belle, sorrindo sem graça. O longo cabelo dela pingava e Harry pensou, por momentos, se ela teria tentado nadar no corredor alagado.


- Isso é notório. – sorriu levemente em resposta, mas acabou por ficar novamente sério enquanto olhava apreensivamente para o relógio. Tinha ficado até bem tarde na Faculdade, terminando de preparar uma exposição conjunta com os restantes alunos. – Onde iremos arranjar um canalizador a essa hora e praticamente em véspera de Natal?


- Bom, eu liguei para alguns antes de você chegar… – ela começou, a sua expressão fechada numa cara de preocupação engraçada. Harry ergueu o sobrolho, com a vaga sensação de que ali havia coisa. – E nada. O cano da cozinha parece ter rebentado feio e a única solução é fechar a conduta da água.


Harry suspirou enquanto se dirigia ao exterior do apartamento e encerrava a torneira no contador de água. Quando regressou, Belle estava empoleirada em cima do sofá da sala, que parecia flutuar no meio de um imenso mar.


- Harry, nós não podemos ficar aqui.


- Isso é bem claro para mim também, Belle. – ripostou Harry calmamente, enquanto andava de um lado para o outro, recolhendo alguns objectos sensíveis e colocando-os nas prateleiras mais altas. – Vá arrumar as suas coisas, vamos para um hotel até tudo estar resolvido.


- HOTEL?! – ela praticamente berrou aos seus ouvidos. – No NATAL?! Nem morta, Harry James Potter! Eu prefiro ficar boiando aqui, do que passar a minha época do ano favorita num lugar frio, impessoal…


- Tudo bem, então para onde iremos? – a pergunta era quase desafiadora. Desde que chegara que tinha a nítida sensação de que Belle pensara em tudo cuidadosamente. Demasiado cuidadosamente para parecer completamente inocente.


- Ora, para casa da Gi. – respondeu ela, como se demonstrasse a teoria mais óbvia a um aluno particularmente obtuso. Harry franziu o sobrolho.


- Ela certamente iria te receber com o maior prazer, Belle, mas e eu? – tentou parecer indiferente à ideia de pernoitar na casa de Ginny, mas olhando para a irmã soube que falhara redondamente.


- Você vai também, ou acha que ela vai te deixar na rua na véspera de Natal? – olhou-o com descrença, como se ele tivesse acabado de sugerir um grande ultraje.


- Sem dúvida, essa seria uma possibilidade a considerar.


- Arrume as suas coisas, italianinho. Nós vamos passar o Natal com a Gi. – e mandou-lhe um beijo teatral antes de saltar do sofá e chapinhar ruidosamente até ao seu quarto.






Quando abriu a porta e encarou uma sorridente Belle e um Harry sério, ambos de saco de viagem na mão e molhados até aos joelhos, Ginny ponderou a hipótese de desmaiar para fugir àquela situação surreal.


- Erm…Gi, minha irmã do coração! – Belle presenteou-a com um dos seus maiores sorrisos, antes de entrar despreocupadamente para o interior do apartamento da ruiva.


Contudo, os olhos de Ginny estavam presos a Harry, que a fitava com igual intensidade. Ele estava sério, mas a ruiva pensou que conseguia avistar a sombra de um sorriso a bailar nos seus olhos espantosamente verdes.


Lentamente, afastou-se da entrada, permitindo que ele entrasse para o interior, fechando a porta atrás de si.


- Nós tivemos um problema com a nossa canalização, isto é, a do apartamento. Não podíamos ficar lá e eu pensei que certamente não se importaria de nos acolher aqui. Fiz bem…? – a morena pareceu hesitar um instante, como se tivesse ficado desamparada.

Ginny, que estava ainda demasiado surpreendida para formular um discurso coeso e articulado, limitou-se a acenar. Harry, por seu lado, gargalhou interiormente perante a demonstração da veia de actriz da sua irmã.


- Eu estava fazendo biscoitos de Natal. – disse Ginny, corando em seguida perante o olhar interessado do moreno – Fiquem à vontade. – apontou para o sofá e praticamente correu para a cozinha, fechando a porta atrás de si.


Pousou as mãos na bancada marmórea e respirou fundo, tentando readquirir toda a lucidez. Harry ia passar o Natal com ela. Na sua casa. Ali estava algo muito perturbador e que, sem dúvida, não contribuía para o seu bom-senso.


Olhou para as formas de bonecos de neve e árvores de natal que estivera enchendo com massa de gengibre e resolveu terminar a tarefa. Isso iria acalmá-la e ainda poderia dar a desculpa de estar fazendo algo útil.


Quando colocou o último tabuleiro de doces no forno, olhou para o grande relógio branco na parede sob a mesa e viu que passava da meia-noite. Com um suspiro, resignou-se à ideia de que seria indelicado não voltar para junto das visitas.


Mas quando entrou na sala apenas viu Harry, sentado no sofá com a cabeça encostada e os braços abertos, numa posição de profundo relaxamento. Sem se dar conta, os seus olhos viajaram pelo corpo descontraído do moreno e um arrepio cruzou-lhe a espinha.


Pela primeira vez desde que o reencontrara, voltara a sentir por completo a vaga de paixão sufocante que a dilacerara na Sicília. O que sentia ao olhar para Harry, ao trocar um simples olhar com ele, era totalmente anestesiante. Harry era embriagante e, naqueles instantes em que esteve ali parada, contemplando, admitiu o seu enorme desejo de viver perdida nele.


Ainda o admirava silenciosamente quando ele levantou a cabeça e abriu os olhos, encontrando imediatamente os dela. Fitaram-se na penumbra da divisão, apenas cortada por um pequeno candeeiro e pelas iluminações da enorme árvore de Natal que ocupava um lugar de destaque junto à lareira.


Ginny estava prestes a falar, dizer qualquer coisa que cortasse aquele encanto, quando ele se adiantou a ela e sorriu.


- A Belle disse que estava com muito sono e foi deitar-se. Eu disse que talvez ela devesse esperar, mas ela respondeu que conhecia bem a casa e sabia que você não se incomodaria. – olhou-a como se esperasse confirmação e foi o que ela fez.


- Não tem problema. Eu suponho que ela foi até à minha cama…venha, vou mostrar o quarto de hóspedes para você. A cama é pequena, espero que não se importe. – explicou apressadamente, como se as palavras formassem uma barreira entre eles. Harry seguiu-a pelo corredor até à primeira porta à direita.


Ginny abriu-a e o luar iluminou uma Belle profundamente adormecida sob a cama de solteiro. A ruiva surpreendeu-se com a idiotice da irmã. Ela sabia que só tinha aquele quarto de hóspedes e, logo, que Harry deveria ficar nele e Belle dormiria com ela. Amaldiçoou-a mentalmente.


- Gi, eu posso perfeitamente dormir no sofá. – Harry murmurou, na sua voz rouca, como se lesse os seus pensamentos.


Claro, na sua cama é que ele não iria dormir.


Fechou a porta delicadamente, após cobrir o corpo de Belle com uma manta quente e recuou até à sala.


Em silêncio, foi até ao closet no seu quarto e retirou uma pilha de cobertores, voltando com eles nos braços para a sala. Harry esperava-a e prontamente começou a organizar um espaço para que se pudesse deitar.


- Outch! – gritou. Ginny, que pretendia dar-lhe as boas noites e desaparecer o mais rapidamente que conseguisse da sua vista, voltou para junto dele e observou um corte não muito grande, mas profundo, que lhe sulcava a mão esquerda. O sangue começou a pingar para os cobertores no sofá.


- Como você fez isso? – perguntou ela, alarmada, correndo até ao quarto de banho das visitas e trazendo uma toalha limpa para que estancasse a hemorragia.


- Uma mola solta. – explicou, cerrando os dentes para conter uma careta de dor.


- Oh, não, eu esqueci! – Ginny bateu com a mão na testa – A Belle já tinha me avisado no outro dia de que eu tinha uma mola solta que estava rompendo o forro.


- Ginny, eu acho que eu não vou conseguir dormir aqui. – ele olhou para a longa mola, que estava agora bem à vista – Ainda que essa coisa não tivesse me ferido, as minhas costas dificilmente suportariam essa provação. – sorriu, quase divertido.


Ginny fungou, escondendo o riso, e foi buscar o estojo de primeiros socorros para cuidar da mão de Harry. Sem cama de hóspedes, sem sofá… onde ele iria dormir?


Ele estendeu-lhe a mão e ela ocupou-se em desinfectar e fazer um curativo, lutando para ignorar a sensação que a mão cálida e forte de Harry lhe proporcionava.


Admirou o seu trabalho concluído, sempre ciente de que Harry não desgrudava o olhar de si.


- Obrigado – sussurrou ele, suavemente, ao retirar a mão – Eu posso dormir no chão, não se preocupe.


A ruiva viu-se no meio de um duelo interior. Podia deixar o moreno dormir no chão e provavelmente apanhar uma pneumonia, com o frio glacial que se fazia sentir, ou então aceitar compartilhar a sua cama com ele.


As hipóteses eram claras e Ginny sabia que era uma decisão simples. Escolheria uma delas e agarrar-se-ia a ela, não pensaria duas vezes. Diria a Harry para empilhar vários cobertores e se retiraria para o seu quarto onde passaria uma noite descansada, bem longe dele. Só isso. E iria dizer agora. Ok, agora. Erm…agora…por favor…


- Harry… – começou, aclarando a garganta – A minha cama é bem grande. Nós somos adultos e não seria um problema para mim dividir a cama só por essa noite. Claro, se estiver bem para você também! – acrescentou rapidamente, rezando em silêncio para que ele não aceitasse. Obviamente que ele acenou em concordância, um brilho estranho inundando-lhe o olhar.


Foram até ao quarto num silêncio constrangedor, especialmente porque Harry oscilava visivelmente entre o desconforto pela situação e o extremo contentamento por aquela proximidade forçada.


Com uma rápida troca de olhares e de breves palavras, decidiram que Ginny iria se trocar no banheiro, enquanto Harry ficava no quarto.


Quando a ruiva voltou ao quarto, Harry temeu que o seu coração não fosse aguentar. Ela vestia uma camisola de noite comprida, de um tecido negro perlado. Por cima, um roupão do mesmo tecido sedoso, os longos cabelos ruivos, que lhe caíam sobre as costas e o colo, operando um magnífico contraste com o escuro da vestimenta.


Quando a ruiva voltou ao quarto, temeu que o seu coração não fosse aguentar. Harry colocara as calças de um pijama cinza de algodão e o casaco estava vestido, mas todos os botões desapertados, de forma que ela podia acompanhar com o olhar a descida vertiginosa do pescoço ao longo do peito e do abdómen do moreno. Engoliu em seco e desviou rapidamente o olhar.


O moreno percebeu que aquela situação era muito constrangedora para a ruiva e passeou a sua atenção pelo quarto. A cama era grande…na verdade, enorme. Uma porta dava para o closet por onde se passava para o quarto de banho. Um pequeno piano branco, com um aspecto antigo porém bem cuidado, ocupava um canto da divisão, próximo da janela. Era uma peça realmente belíssima e condizia na perfeição com Ginny.


Sentou-se na beira da cama e Ginny foi até uma cadeira de baloiço perto do piano, jogando-se nela. Pescou um livro de uma mesa de apoio minúscula e começou a lê-lo. Por um momento apenas o silêncio, mas depois o riso alto de Harry varreu a divisão.


Desviou os olhos da página que fitava e encarou-o friamente.


- Qual é a piada?


- Bom, não sei se notou, mas o livro está ao contrário… – apontou ele, trocista. A ruiva corou até à raiz dos cabelos, apercebendo-se da figura ridícula que fizera ao fingir que lia um livro voltado ao contrário.


- Certo. – resmungou entredentes. Ia voltar a ler, desta vez da forma certa, quando notou que Harry a olhava com descarado interesse.


- O que foi? – questionou na defensiva, ainda que a sua voz já não soasse tão ríspida


- Eu realmente senti a sua falta, Gi. – as palavras dele ecoaram límpidas e ternas, repletas de uma sinceridade calma. – E não posso negar que estar aqui contigo é estranho, mas nada desagradável.


- Hum… – Ginny não sabia o que dizer. Contudo, descobriu em si uma vontade enorme de falar com ele como nos velhos tempos. Afinal, ele já estava ali…uma palavra a mais ou a menos não faria diferença nenhuma, certo? Certo? – Eu também senti saudades da Sicília.


- Só da Sicília? – retorquiu o moreno, rapidamente. Mas ela permaneceu muda e ele soube que não era o momento certo para insistir. Ainda. – Eu ouvi falar muito da loja, você é um verdadeiro sucesso.


- Ah, sério?! – ela alegrou-se automaticamente – A minha loja é um sonho realizado, eu realmente me sinto muito orgulhosa dela. Draco me ajudou imensamente, sou muito grata a ele. – só depois de terminar a frase reparou no olhar carregado de Harry.
- Afinal, o que houve entre você e o Malfoy? – perguntou, de chofre, o moreno. A ruiva ponderou seriamente a hipótese de não responder, mas algo a impeliu a ser novamente sincera.
- Ele foi uma das pessoas que mais me ajudou, juntamente com Will.
- E quem seria o Will? – questionou-a, curioso. – Mais um admirador? – Ginny sorriu antes de responder.
- Não propriamente. Ele estuda no seminário, foi a primeira pessoa que eu conheci depois que fugi da sua casa.
- Ah! – Harry não conseguiu conter uma exclamação de puro alívio.
Ficaram em silêncio, mas Ginny sabia que ele decidia se devia prosseguir com o interrogatório. Sentiu-se estranhamente confortável por estar ali, sentada diante dele, a dialogar de forma amigável e civilizada.
- Você…Malfoy…ele…erm… – ele pigarreou, mordendo o lábio inferior num gesto que Ginny achou inacreditavelmente sensual.
- Sim. – afirmou, simplesmente – Nós estivemos juntos algumas vezes, mas era uma coisa somente física. Eu sinto apenas amizade por ele e ele por mim, nada mais. Era o que ambos precisávamos naquele momento, mas esses tempos não voltarão.
Harry fechou os olhos por uns instantes, como se tentasse aparar um golpe doloroso. Ginny surpreendeu-se ao pensar, pela primeira vez, se ele se teria mantido fiel a ela ao ponto de não ter estado com mais ninguém. A simples ideia maravilhou-a e assustou-a ao mesmo tempo.
- E você…? Teve alguém nesse tempo? – engoliu em seco enquanto aguardava por uma resposta.
- Não. Eu não queria ninguém… – olharam-se novamente nos olhos e um raio de compreensão passou entre eles. As palavras que tinham ficado por dizer. “Ninguém mais, só você”.
Passaram algum tempo ainda em amena conversa. Falaram sobe Lily, Arthur e a felicidade que partilhavam na Sicília. Belle e o seu amadurecimento desconcertante. A nova vida de Ginny. A exposição e o reconhecimento que Harry atingira. Afloraram até a violação e o processo de cura, mas nenhum deles se sentia ainda à vontade para falar mais profundamente.
Era desconcertante para Ginny a forma como Harry a compreendia para além das palavras, como ele via muito para além daquilo que ela descrevia. Como ele reconquistava a intimidade que um dia tinham tido, com uma facilidade surpreendente.
Quando finalmente se deitaram para dormir, de costas voltadas, cada um chegado o máximo possível para a respectiva ponta da cama, ficaram acordados ainda por muito tempo. Dolorosamente conscientes da presença do outro, de como bastaria esticar a mão e alcançar o corpo quente ao seu lado. Dolorosamente conscientes de que nenhum deles o faria naquela noite fria de Dezembro.




Na manhã de véspera de Natal, Ginny abriu os olhos com a sensação de que não tinha dormido mais do que cinco minutos. Perguntou-se porque é que estaria quase a cair da cama e, quando ia voltar-se, apercebeu-se de que existia mais alguém na sua cama.
Os acontecimentos da véspera vieram à tona e susteve a respiração ao sentir o movimento de Harry, que ainda estava adormecido. Voltando levemente a cabeça por cima do ombro, viu que ele dormia todo esticado na cama, ocupando bastante mais espaço do que aquele que ocupava na noite anterior.
Ele voltou-se mais uma vez e a ruiva sentiu o braço dele roçar levemente nas suas costas. Mordeu o lábio, sentindo a sua respiração acelerar. Num movimento rápido, levantou-se e andou pelo quarto, atravessando o closet, em direcção ao quarto de banho.
Encostou-se à porta e tentou controlar a vertigem, começando a preparar um banho quente que a despertasse da irrealidade em que mergulhara desde a noite anterior.
Quando já estava de banho tomado e vestida, com uns jeans e um sweater largo e confortável, os cabelos ruivos presos no alto da cabeça, voltou ao quarto. Harry ainda dormia, enroscado no meio da cama como um gato manhoso.
Dominou a vontade de ficar admirando-o e saiu do quarto, passando silenciosamente pelo corredor em direcção à cozinha. Harry abriu os olhos e sorriu, fitando a porta por onde a ruiva acabara de passar.
Belle, deitada na cama do quarto de hóspedes e tapada até ao pescoço, abriu os olhos e sorriu. A primeira etapa do plano estava concretizada e, pelo ar mortificado que vira na expressão de Ginny através da fresta da porta, poderia arriscar dizer que fora um completo sucesso.
Agora deixaria a cargo do irmão rentabilizar ao máximo a convivência forçada. Com este pensamento, saltou da cama e correu para cumprimentar a irmã que fazia panquecas para o pequeno-almoço.
No momento em que Harry apareceu na cozinha, impecavelmente vestido e barbeado (ainda que o cabelo estivesse, como sempre, bagunçado) e com um sorriso do tamanho da lua cheia, as duas irmãs já tinham terminado o café e conversavam animadamente sobre o jantar de Natal.
Sentou-se e começou pacatamente a comer, vertendo grandes doses de caramelo nas panquecas e bebendo suco de laranja, enquanto observava Belle a empilhar biscoitos num grande prato e Ginny a colocar um peru de tamanho generoso no forno.
A campainha tocou e Ginny olhou para ele, num pedido silencioso para que fizesse o favor de atender. Sorvendo as últimas gotas do copo rapidamente, foi até à porta e abriu-a despreocupadamente.
- Pois não…? – inquiriu, olhando para um jovem moreno e alto, praticamente com a mesma estatura que ele.
- Você deve ser Harry. – disse o outro, sorrindo levemente – Eu sou Will.
- Ah, sim! – Harry lembrou-se da conversa que tivera na noite passada com Ginny – Entre, por favor.
- Obrigado.
Durante os instantes que se seguiram, mediram-se silenciosamente, como que comparando os dados da memória com a imagem real. Harry não pôde deixar de admitir que Will parecia emanar bondade, nos olhos castanhos espreitava uma alma límpida e sincera. Conseguia entender perfeitamente a empatia imediata de Ginny para com aquele estranho.
Will, por seu lado, reconhecera Harry assim que este abrira a porta. Olhos espantosamente verdes, pose orgulhosa e forte, todo ele honestidade e brilho. Era, no entanto, difícil perceber onde acabava a armadura de força e começava o verdadeiro Harry, mas Will tinha consciência de que estava perante um homem admirável.
- A Gi e a Belle estão na cozinha. – o moreno arrancou o futuro padre do devaneio – Nós tivemos um problema na nossa casa e viemos procurar guarida aqui.
Will acenou e começou a andar em direcção à cozinha, contudo voltou atrás e parou diante de Harry. Este fitava-o com delicada curiosidade, surpreendido com a ideia de que o estranho tivesse algo para lhe dizer.
- Ela precisa de você, Harry. Não deixe que ela o convença do contrário. – definitivamente, de tudo o que ele poderia ter dito, aquilo não era nada que o moreno esperasse ouvir – Eu a vi reerguer-se nesses dois anos e, finalmente, ela está pronta para voltar a ser feliz. Com você.
- Desculpe perguntar, mas e o que você lucra me dizendo isso? – o sobrolho de Harry estava franzido. Ginny era amiga de Will e, no entanto, ele parecia convencido de que ela estava tomando as decisões erradas.
- A felicidade da Gi. É tudo o que me interessa, Harry. – o americano sorriu. Um sorriso sincero, mas triste. E Harry, com uma sensibilidade inesperada até para ele mesmo, viu reflectido no rosto do outro o seu próprio amor pela ruiva. Will também a amava, mas abdicava de qualquer tentativa porque esperava que ele, Harry, a fizesse feliz.
Sem saber muito bem porque o fazia, se pelas palavras de apoio, se pela dedicação que Will demonstrava para com Ginny, o italiano procurou os olhos do outro e murmurou:
- Obrigado.
Quando Harry voltou à cozinha, acompanhado por Will, viu sem nenhuma nota de ciúme a forma como a ruiva o abraçava, entusiasmada. O americano tivera o cuidado de deixar as suas intenções claras desde o início e o moreno estava-lhe grato por isso.
A tarde passou animada, com os quatro cuidando da ceia natalícia e da decoração. Belle ligara a aparelhagem da sala e colocara um CD de música sazonal para tocar, incutindo-lhes ainda mais fortemente o espírito da época.
Quando a noite se aproximava e todos tagarelavam, contando histórias e rindo como velhos amigos, a campainha tocou uma vez mais. Ginny, a dona da casa, deslocou-se até à porta e apareceu algum tempo depois seguida de Draco Malfoy.
Percorreu com o olhar a sala, detendo-se especialmente em Belle e Harry, o sorriso cínico bailando-lhe nos lábios, e dirigiu um aceno de cabeça respeitoso (na sua forma muito própria) a Will.
- Drácula, por aqui também? – a morena deliciou-se como se, por fim, o Natal tivesse realmente chegado. E tinha, agora que tinha Malfoy para azucrinar. – Vai me dizer que a sua família não te suportou nem na véspera de Natal…!
- Não que você tenha alguma coisa a ver com isso, uva mirrada – Belle sorriu perante a troca de carinhos – mas os meus pais estão em Paris. Já o seu irmão, deve ter vindo procurar o espírito de Natal da Gi. – provocou, com o seu melhor sorriso de escárnio. Harry estreitou os olhos.
- Draco, comporte-se. – avisou a ruiva, de passagem entre a cozinha e o corredor.
- Aproveito para agradecer os donativos da sua família à minha paróquia, Draco. – Will aproximou-se do loiro, presenteando-o com um sorriso agradável que o surpreendeu, de certa forma – Realmente, muito generosos. Será bem usado, posso garantir.
Draco acenou, como se afirmasse que não duvidava e Belle gargalhou.
- O que foi agora, passa mirrada?
- Apenas acho engraçado. – Belle fez um trejeito displicente com a mão – A sua família deve estar tentando aparecer mais na coluna social e uma publicidade extra como beneméritos seria bem-vinda. Quero dizer… - os lábios tremeram e Harry observou que a irmã dirigia a conversa estrategicamente para onde desejava – Com todo o historial de negócios escusos de que os Malfoy são acusados.
- Ora, cale a boca sua fedelha! – Draco parecia realmente furioso e Harry, instintivamente, chegou-se para perto da irmã – Não ouse colocar o nome da minha família nessa boca de baga venenosa.
Will aproximou-se do loiro e colocou-lhe uma mão no ombro, como se simultaneamente o reconfortasse e garantisse que ele não partiria para cima de Belle. Harry segurou-a, uma vez que ela ameaçava saltar para o pescoço do seu oponente.
- Escutem bem, vocês todos! – os quatro rodaram a cabeça e viram Ginny parada na soleira da porta, as mãos na cintura e os olhos chispando – Eu não vou permitir luta e nem discussão na minha casa, na noite de Natal. Quem quer ser criança pode ir brincar lá fora na neve e acabar dormindo por lá mesmo – os olhos castanhos varreram Belle – Ou pode passar o Natal sozinho, tomando brisa e rindo de si próprio – voaram para Draco.
Inspirou rapidamente e todos se encolheram, esperando que ela fosse berrar.
- O jantar está servido. – um sorriso cândido e quase infantil brotou dos seus lábios e docemente fez um sinal para que se fossem sentar.
A ceia foi muito agradável. Belle e Draco estavam estrategicamente colocados frente a frente, de forma a poderem trocar insultos em voz baixa e contida. Ginny teve a nítida sensação de que Draco estaria cheio de hematomas no final da noite devido aos pontapés que a morena lhe dava debaixo da mesa.
Enquanto os observava num momento particularmente engraçado, em que Draco ria a bandeiras despregadas de uma ervilha que acertara o olho de Belle, a ruiva deu por si a pensar que eles formavam um belo par. Toda aquela implicância era quase cinematográfica e, em geral, estava associada a uma atracção irresistível, em que ambos tentavam lutar contra aquilo que sentiam rebaixando o outro.
Belle era muito bonita. Mais madura, mas com as mesmas atitudes traquinas e quase arruaceiras. O jeito doce e meigo de ser na vida normal, a inteligência aguçada e um certo desprezo pelas regras e pela ordem natural das coisas. Provavelmente seria necessário um homem mais velho que ela, ainda que apenas dois ou três anos, para domar todo aquele génio.
Draco era de uma crueza brutal, de uma natureza como a do aço temperado. Arguto, tal como Belle, insuportável em muitos momentos, mas com um jeito desarmante quando realmente estava disposto a isso. Draco Malfoy conhecia o caminho dos dois extremos e precisava apenas de um incentivo que o fizesse trilhar cada um deles. Belle podia ser o argumento certo para o tornar uma pessoa melhor, nem que fosse porque seria um desafio conviver com ela todos os dias. E se havia coisa que o loiro gostava, essa coisa era um bom desafio.
Agora que observava a linguagem corporal dos dois com atenção, era inacreditável como não notara antes, nas várias vezes que se tinham encontrado nos últimos tempos. A constante procura de olhares, a forma como cada tique era descoberto pelo outro para poder enxovalhar mais um pouco. Mas para conhecer cada ínfima coisa no outro ao ponto de troçar disso, era preciso reparar. E, definitivamente, aqueles dois se conheciam.
Harry, que estivera embrenhado numa conversa sobre arte sacra com Will, seguiu o olhar de Ginny e viu que ela estava absorvida no duelo travado pela parelha- problema. Observou-os por uns momentos, apenas o tempo suficiente para confirmar mais uma vez as suas suspeitas. Pela forma como Ginny olhava aqueles dois, como se visse muito além dar farpas que lançavam, compreendeu que ela também há tinha percebido.
Em algum lugar do caminho sinistro que era conhecer tão bem o inimigo, ao ponto de o derrotar no seu próprio jogo, aqueles dois tinham se perdido do propósito inicial e tinham ido muito além.
Os olhos da ruiva voltaram-se para ele e encontraram os dele. Sorriam um para o outro, antes de baixarem os olhos, cientes de que partilhavam mais uma coisa. Mais uma.
Entre trincharem o peru, honra que coubera a Will, e devorarem as milhentas iguarias doces e salgadas, a meia noite praticamente chegara. As canções de Natal tocavam alegremente e Will e Belle deslizavam nesse momento pela sala ao som de “Jingle Bell Rock”, ambos muito compenetrados na execução de uma série de passos de tango que nada tinham a ver com a música mas que contribuíram para a diversão geral (ou particular, quando Belle tropeçara e Malfoy se rira por meia hora agarrado ao guardanapo).
Enquanto bebiam algum vinho aquecido, as piadas natalícias começaram a percorrer a sala, bem como histórias engraçadas da vida de todos eles.
- … e então o anjo de natal pergunta onde quer que ele a meta! – Harry acabava de contar uma piada e as garotas gargalhavam, ambas deitadas em frente à lareira, bem como Will. Até Draco tinha um sorriso divertido no rosto.
- Bom, eu estava realmente adorando a noite, mas tenho que ir. – Will levantou-se – Amanhã tenho que assistir a uma missa bem cedo e visitar algumas famílias. Feliz Natal! – beijou Belle no rosto, deu um aperto caloroso na mão de Harry e Draco e dirigiu-se à porta. Ginny seguiu-o e trocaram algumas palavras em surdina, observados por Harry, até que ela abanou a cabeça afirmativamente e ele lhe fez uma breve carícia na face, antes de se encaminhar para o elevador.
- Eu também deveria ir. – Draco balbuciou – Ainda tenho de passar por casa de uns amigos dos meus pais para deixar alguns presentes. O seu está ao pé da árvore, Gi.
Ela sorriu e foi até ao pinheiro, de onde retirou um pequeno embrulho.
- E esse é o seu. Feliz Natal, Draco! – depositou o presente nas mãos do loiro e Belle reparou, sem sequer perceber bem porquê, que ele ficava estranhamente atraente quando sorria assim, verdadeiramente e sem segundos sentidos.
- Feliz Natal, Gi. – deram um abraço afectuoso, antes que ele desaparecesse pela porta.
- Agora vou abrir os meus presentes! – Belle disparou para o monte de fitas e papel reluzente, buscando pelos seus. Nesses momentos ela realmente parecia mais criança do que aquilo que era. Ginny e Harry limitaram-se a olhá-la, enquanto se debatia com os embrulhos, as bochechas reluzentes de entusiasmo juvenil.
- Oh, Harry! – ela gritou, enquanto observava o relógio na caixa transparente – É lindo!
- Eu sabia que você o queria, ficava namorando-o todos os dias na montra da loja. É seu, agora. – a morena pendurou-se no pescoço do irmão e ele beijou-lhe o topo da cabeça.
- E você também merece um abraço de quebrar ossos, Gi! – disse alegremente a morena, esmagando a irmã – O vestido é perfeito, muito obrigada.
Belle presenteou Ginny com um belo par de brincos verde-esmeralda, enquanto dizia, inocentemente, que “coisas verdes ficam maravilhosas perto de você” e a Harry dera um elegante blusão.
Enquanto a morena se deliciava com uma caixa de chocolates, a ruiva aproximou-se de Harry e, totalmente sem jeito, estendeu-lhe um embrulho prateado.
Ele pareceu legitimamente surpreendido, mas depois deu-lhe um grande sorriso e abriu delicadamente o presente, com cuidado para nem rasgar o papel. Era um completíssimo estojo de pincéis, que qualquer pintor apreciaria ter. Hesitante, abraçou-a suavemente, mas ela afastou-se como se tivesse descoberto que ele estava coberto de espinhos.
Assistiram ainda a um filme natalício, que os deixou bem-humorados e em paz com o mundo, altura em que o cansaço pareceu abater-se sobre Ginny. Despediu-se dos dois irmãos, desejando-lhes mais uma vez um Feliz Natal e foi para o seu quarto. Naquela noite, Belle partilharia a cama com ela e Harry ficaria no outro quarto.
Enquanto se trocava, repreendeu-se por estar tão desiludida por Harry não ter nada para ela. Era natural, tentou convencer-se. Limitara-se a fugir dele desenfreadamente, a negar-se a ele. Provavelmente, estava triste e desiludido e sem nenhuma vontade de a agradar de alguma forma.
Deitou-se na cama e reprimiu o ardor no peito. Não ia chorar. Não na primeira noite de real felicidade que experimentava em muito tempo. Não por uma estupidez como aquela. Não porque Harry Potter não lhe dera um presente de Natal.
Fechou os olhos e passado alguns instantes sentiu-se flutuar naquele estado confortável entre o sono e a vigília.
Estava quase adormecida quando soou o primeiro acorde de piano.
Abriu os olhos de rompante e voltou-se na cama. Harry estava sentado no banquinho do piano do seu quarto e tocava uma escala lenta, nas notas mais suaves, como se a quisesse acordar da forma mais doce e agradável possível.
- Harry, o que está…? – ele interrompeu-a, fazendo-lhe sinal para que olhasse para o lado. Na almofada estava pousada uma pauta de música.
Lentamente, Ginny agarrou-a e leu o cabeçalho. Sentiu o sangue fugir do seu corpo e voltar numa explosão, inundando-lhe a cara.
No topo da folha estava escrito “Ginny, por Harry Potter”. Passou os olhos pela pauta e na sua mente formou-se uma melodia que nunca antes ouvira, uma música que oscilava entre sons fortes e notas tristes e melodiosas.
E, nesse momento, percebeu que Harry tinha composto uma música para ela. Nunca a ouvira antes porque era nova. E era só dela.
- O meu presente de Natal é esse, Gi. É tudo o que eu tenho para te dar. – olhou para as teclas onde as suas mãos ainda repousavam e depois para os olhos dela – Eu.
E antes que ela pudesse formular alguma frase, as mãos grandes e quentes dele acariciaram o piano, deslizando pelas teclas como um dia, há dois anos, haviam deslizado pelo corpo dela. E enquanto seguia, com os olhos vidrados, a sonata pela pauta, compreendeu que ele conseguira colocar numa composição musical tudo o que tinham vivido juntos.
Ali, naquele trecho calmo…a noite em que se amaram pela primeira vez. Naqueles acordes graves, a discussão séria do dia fatídico. No bailado alegre e ritmado, a conversa alegre à sombra da árvore mais frondosa do jardim. Na deambulação triste, Ginny podia ver no rosto de Harry o sofrimento profundo que ele sentira nos longos dias de separação. Mas havia esperança, não era uma música destituída de coisas boas…era sim um hino ao amor, em todas as suas formas e faces.
Dos seus olhos caíram lágrimas, enquanto o observava tocar repetidamente. Ele estava ali, dando-se completamente a ela. Ele demonstrara pela última vez o quanto mudara, quão inteiro ele agora. Inteiro, por fim. E todo dela. Sem nada a esconder. Simplesmente, Harry.
E aquele era o momento, ela sabia. Ela podia negá-lo ou aceitá-lo como ele era, mas uma escolha tinha de ser feita.
Quando a música finalmente cessou, ele voltou-se lentamente para ela, olhando-a nos olhos e ela soube que era uma pergunta silenciosa.
- Eu…não sei como agradecer. – balbuciou, achando que tinha que dizer algo.
- Eu não vim aqui para que me agradeça, Gi. – a frase soou forte, mas ela percebeu que ele estava apenas ansioso. Temeroso. Desejoso.
- Então, porque veio até aqui, Harry? – engoliu em seco, ao ver o breve sorriso que se formou nos lábios dele.
- Você sabe, para uma garota tão inteligente, consegue ser realmente lenta algumas vezes. – ele parecia divertido, mas voltou a ficar a sério – Porque acha que vim aqui? Eu vim aqui para estar contigo. Tão simples quanto isso. Quanto se ama alguém, a proximidade é uma coisa boa, independentemente de como a pessoa se sente em relação a nós. Ou não sente, como pode ser o caso.
A ruiva engoliu em seco. Olhou da partitura nas suas mãos para Harry e de novo para a partitura. “Ele realmente te ama. Seja feliz, faça-o feliz”, recordou as palavras de Will. Bastava dar um passo, uma palavra e o caminho para a felicidade estaria diante de si. E ela queria dar esse passo.
- Mas eu senti.
- O quê? – não queria acreditar que tivesse ouvido bem.
- Hoje de manhã. O teu braço roçou nas minhas costas e eu…eu senti.
- O que sentiu? – ele levantou-se do banco, enquanto ela se levantava da cama.
- Eu me senti viva. – disse, simplesmente.
- Ok. Gi…eu vou beijar você agora. – a voz dele soou decidida e ela viu a enorme alegria que se agitava sob a pele dele.
- Você não pode… – ela queria ir em frente, mas talvez fosse prudente ir devagar.
- Gi, você não pode dizer algo assim e esperar que eu não te beije, por isso é exactamente o que eu vou fazer. Eu vou te beijar daqui a dez segundos. E se não quiser que a beije…Bom, suponho que se não quiser vai ter de me impedir. 10.
- Harry, eu…há tanta coisa para dizer. – recuou precipitadamente, embatendo com as pernas na borda da cama.
- Nada que não possamos falar depois. 9. – ele deu um passo, aproximando-se dela.
- Mas não é certo, a Belle pode aparecer para dormir, ela…
- A Belle armou tudo isso. Não acha coincidência demais tudo o que aconteceu? Ela não virá dormir aqui, porque ela quer nos juntar. E vai ficar muito feliz por ter conseguido. 8. – mais um passo.
Ah, ela iria matar a italianinha, certamente.
- Eu ainda te amo. – admitiu ela – Nunca deixei de te amar. Mas isso não me impede de ter medo.
- Eu também tenho, Gi. – sussurrou, carinhosamente, enquanto lhe puxava uma mecha de cabelo vermelho – Mas quando estou perto de você, ter medo não é mais importante. 7.
- Então, o que seria mais importante? – suspirou nervosa, enquanto ele se aproximava quase colando os corpos.
- Nós dois e aquilo que conseguimos quando estamos juntos.6. – as mãos dele colocaram-se nos braços dela.
- Como assim?
- Tudo, Gi. Com você, eu posso conseguir tudo porque me sinto capaz de qualquer coisa. A minha força, a minha fraqueza. E o medo não importa mais, porque ter medo faz parte da coisa. – sorriu, de forma marota – Tudo o que é bom provoca medo ao princípio. 5. – Ginny sorriu, notando que Belle e Harry pensavam da mesma maneira em relação a esse assunto.
- É um caminho sem volta, Harry.
- Eu sei. E é por isso que vai valer tanto a pena, Gi. Porque eu sei que, de qualquer forma, eu não quereria voltar atrás. 4. – os olhos dele brilharam cheios de amor.
As mãos do moreno deslizaram ao longo do corpo de Ginny, até envolverem a sua cintura. Ela mal podia esperar que ele chegasse ao zero, porque certamente não faria nada para o impedir.
- Eu passei muitas noites em claro, compondo. Nunca me senti tão nervoso quanto hoje, antes de tocar. Queria que fosse perfeito, mas descobri que não precisa ser perfeito. 3.
- Não? – questionou ela, desafiando-o. Lambeu os lábios com a pontinha da língua e viu com agrado enquanto os olhos dele seguiam o movimento sedutor.
- É. Basta que seja bom. Nem você é perfeita, como eu poderia exigir perfeição de alguma coisa? 2.
Ela gargalhou, encostando o nariz ao dele, os corpos completamente encostados, sentindo o calor, desejo, ternura, amor.
- Não sou, é?
- Não. – roçaram os narizes, num beijo esquimó enternecedor – Mas é perfeita para mim. 1.
Ginny fechou os olhos, esperando o momento em que finalmente voltaria a senti-lo. Mas a contagem não terminava e ela abriu um olho, na expectativa. Ele olhava-a, irradiando alegria.
- 0. Buon Natale, mia Ginny.
E sem esperar mais um instante, uniu os lábios aos dela. Cada partícula do seu corpo gritava as saudades que sentira daquela mulher e como faria tudo para a ter ali, nos seus braços, para sempre. Um beijo doce e delicado, como o primeiro beijo de dois amantes inexperientes, o encontro de duas borboletas desajeitadas.
Separaram-se, encostando as testas e sorrindo demasiado cheios de amor para trocarem mais palavras. O segundo beijo foi forte e exigente, um buscando sentir o âmago do outro.
Harry pressionou o seu corpo contra o de Ginny e ela embrulhou as mãos nos cabelos revoltos dele, buscando sentir mais intensamente as suaves diferenças que o tempo havia provocado. As línguas roçavam uma na outra, os lábios chocavam, à medida que as mãos de ambos provocavam reacções esperadas e inesperadas.
Com um impulso, Harry segurou-a pelas coxas e ela envolveu-lhe a cintura com as pernas, abraçando-lhe o pescoço e gargalhando, enquanto ele a beijava sem parar e rodava, provocando-lhe uma vertigem.
Quando Harry perdeu o equilíbrio e caiu desamparado no chão, rodando no último instante para que ela ficasse sobre ele, nenhum deles se incomodou. Era tempo de se amarem, com o piano como única testemunha.
E Dezembro nunca mais seria tão frio.

N/A – Ah, eu quase pareço uma autora boazinha com um capítulo como esse. Quase. Ahauahua. Uma coisinha: o título do capítulo foi inspirado na frase “Be my November”, do filme Sweet November. E aí, gostaram? O plano da Belle foi beeeeem maquiavélico, hein? Quem quer um Harry igual a esse coloca um braço no ar (autora coloca os dois no alto ahauahua)! Eu confesso que ia ter NC-17 nesse capítulo, mas eu não me sinto especialmente romântica no momento e acho que seria uma pena estragar o capítulo tão aguardado com uma coisa menos conseguida…então, eu preferi deixar subentendido. Quem sabe, o que os próximos capítulos reservam em relação a isso? Ahahua. Faltam 4 capítulos mais um epílogo…e uma última maldade, que começa já no próximo. Afinal, essa fic é Drama também e nem sempre podemos ter capítulos tão água com açúcar! Ahahua. Espero reviews, ninguém tem desculpa para não comentar esse aqui.

Ah, sim…FELIZ NATAL meus amores!




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