Tudo muda, mas você permanece
Capítulo 16 – Tudo muda, mas você permanece
2 anos depois
Love rescue me
Come forth and speak to me
Raise me up and don't let me fall
No man is my enemy
My own hands imprison me
Love rescue me
Many strangers have I met
On the road to my regret
Many lost who seek to find themselves in me
They ask me to reveal
The very thoughts they would conceal
Love rescue me
Quando ela passa nada fica igual. Todos os dias pela manhã, enquanto o sol se espreguiça calmamente no céu, acariciando a noite sonolenta, ela vem nas suas roupas largas de ginástica e percorre o parque. Nunca se detém propositadamente para falar com alguém e, no entanto, nunca nega um sorriso a quem passa. Pessoas de cara fechada, ar cansado e abatido, arrastando-se para um novo dia, que ao se depararem com um rosto tão sereno e fresco beliscam-se para terem a certeza que já se levantaram das suas camas e não continuam sonhando.
E então pensam que ela não é deste mundo. Como poderia ser? Tão diferente de todos aqueles seres bizarramente semelhantes e prisioneiros de uma rotina sádica, típica de uma metrópole.
Ela corre como a brisa da manhã, num passo firme e invulgarmente suave, como se não fosse tocada pelo esforço a que o seu corpo é sujeito. No seu rosto a determinação e uma beleza simples e discreta. Uma beleza verdadeira, sem artifícios ou subterfúgios.
Quem a vê na alvorada de Nova Iorque lamenta que ela não corra quando toda a cidade se agita, apenas porque a sua vitalidade contagia e embala, emociona e conforta. Quem a vê segue o seu caminho sentindo que existe vida para além daquele percurso, uma vida que todos deveriam saborear.
E quando, mais tarde, a multidão se ocupa como num formigueiro desorganizado, ela atravessa a avenida, os seus cabelos ruivos ondulando no vento frio de Outono. Os jeans justos, moldando os precipícios e vales do seu corpo, as botas de cano alto e o sobretudo preto. Mas não apenas a beleza física perturba quem a olha, e sim o sentimento de que ela carrega em si todas as virtudes e defeitos do mundo. A sensação que permanece no ar, de que ali passou uma pessoa verdadeira para consigo própria. Ninguém diria que é a mesma que corre na madrugada como se fugisse de um mundo para logo conquistar outro, igualmente valioso.
Quando ela passa…nada fica igual.
And the sun in the sky
Makes a shadow of you and I
Stretching out as the sun sinks in the sea
I'm here without a name
In the palace of my shame
Said, love rescue me
In the cold mirror of a glass
I see my reflection pass
See the dark shades of what I used to be
See the purple of her eyes
The scarlet of my lies
Love rescue me
- Harry? – ele ouviu uma voz feminina chamando-o do hall de entrada. Olhou para a tela ainda em branco e suspirou. Definitivamente aquele não era um bom dia para pintar. Da janela ampla, ocupando praticamente toda a parede do atelier, escoavam-se os últimos raios de luz.
- Você não devia estar se arrumando? – voltou-se para olhar Belle, que acabara de entrar na sua sala de trabalho.
- Tenho muito tempo ainda – limitou-se a responder, voltando a fixar a tela vazia.
- Não – ela gemeu – Você não pode estar assim de novo…
- Assim como, exactamente…? – voltou-lhe costas enquanto arrumava os pincéis e tintas. Belle suspirou e aproximou-se da janela, observando o nevoeiro que cobria Nova Iorque.
- Da mesma forma que te encontrei quando vim para cá, faz quase dois anos. Triste, miserável, praticamente catatónico – Harry finalmente voltou o olhar, encontrando o dela, e Belle viu que ele estava zangado.
- Eu estou farto de ficar esperando que um milagre aconteça, Belle. De fingir que a minha vida é perfeita e maravilhosa, como todos pensam que é, apenas porque você acha que devo seguir com a minha vida em frente – ergueu-se do banco onde estivera sentado e andou nervosamente de um lado para o outro, distribuindo tintas pelas prateleiras – Estou cansado de fingir que ela vai entrar por aquela porta quando eu menos esperar.
- Simplesmente não adianta ficar assim, não vai ser por não viver que ela irá voltar – a morena parecia igualmente irritada.
- Dois anos, Belle…Passaram dois anos desde que a vi pela última vez. E todo o tempo eu só conseguia pensar em como eu a amava e queria perto de mim, como queria poder sarar as cicatrizes dela com o meu amor. E nunca, em todo esse tempo, sequer ousei parar para pensar no horror que eu tenho dentro de mim…
- Harry – ela tentou tocar-lhe para o reconfortar, mas ele afastou-se.
- E com a forma como eu me senti, quem se importou? Ele matou o meu pai, fez com que eu perdesse a única mulher que amei…eu o odeio e se você quer saber eu o vejo todas as noites – gritou, levando as mãos ao cabelo – Todas as noites, eu vivo com os meus fantasmas…e vivo cada dia tentando não ser consumido pelo desejo de vingança, porque é tudo o que me resta! – com um grito de fúria, deu um golpe na tela que tombou, arrastando o cavalete.
Belle permanecia impassível, embora nos seus olhos escuros brilhasse um fogo angustiado.
- Acabou? Já terminou de sentir pena de si próprio por hoje? ÓPTIMO! – mandou o longo rabo de cavalo para trás das costas – Agora talvez possa pensar que esta é a sua noite, uma coisa pela qual você também lutou muito.
Harry estava apoiada na vidraça, de costas para ela e respirava profundamente, como se tivesse acabado de correr quilómetros.
- O que aconteceu? Eu sei que isso não foi coisa do momento, Harry – segurou-o pelos ombros.
- Arthur telefonou – respondeu ele, depois de hesitar por momentos – A Gi ligou para lá, dizendo que continua bem e que está feliz. Claro que não disse nada para que a pudéssemos achar – acrescentou rapidamente, sentindo a esperança de Belle – E continuamos sem nenhuma pista sobre Firenzzi, parece ter sido engolido pela terra. Ninguém o viu ou tem alguma informação. Não sei como ele consegue manter-se, já que a polícia congelou todos os bens que conseguiu descobrir.
- Esse é precisamente o problema, Harry. O que a polícia não conseguiu descobrir.
Harry suspirou e olhou-a, com um ar completamente perdido. Belle puxou-o para um abraço, encostando a cabeça dele no seu peito, como se ele tivesse cinco anos e ela fosse a sua mãe. Passado alguns instantes, ele afastou-se e sorriu levemente.
- E como vai o curso? Ainda não acredito que escolheu Veterinária…sempre pensei que fosse muito mais Psicologia.
- Acho que a perda do Padfoot me afectou mais do que eu gostaria de admitir – o rosto jovem fechou-se numa expressão de tristeza – Com a Ginny daquele jeito, eu não consegui me dar conta de como era horrível que ele tivesse partido, até muito tempo ter passado. Por isso a minha dor ficou meio adormecida e, quando veio, o efeito foi muito pior…simplesmente porque o tempo de chorar já tinha passado, mas eu não derramara uma única lágrima.
O moreno fez uma carícia leve na face rosada da irmã e conseguiu arrancar-lhe um sorriso fraco. Olharam-se nos olhos por muito tempo, apreciando a sensação de doce de serem irmãos e estarem muito para além das palavras, até que Belle falou como se completasse um longo diálogo.
- Eu sei que não perdeu a esperança, Harry.
- Como..?!
- Se tivesse perdido – Belle sorriu largamente – Já não estaria aqui, responderia às cartas da Deirdre, não teria pintado todos aqueles quadros e traria para casa uma mulher diferente quase todas as noites. Felizmente você herdou um pouco da minha inteligência – fez uma careta desdenhosa – e sabe que uma pessoa não se esquece colocando outra no lugar…o sentimento, Harry. O sentimento não se esquece. Enquanto você amar o amor que sente por ela, nunca vai esquecer e nem perder a esperança.
- Às vezes você ainda consegue me surpreender – Harry tinha um ar perplexo – Tem certeza que esqueceu Psicologia? – Belle soltou uma sonora gargalhada.
- Um dia, quando você menos esperar, italianinho. Simplesmente porque é assim que deve ser. A sorte a trouxe uma vez para os seus braços…se ela realmente pertencer aí, voltará a fazer das suas. Agora, vou me vestir…devia fazer o mesmo.
Yea, though I walk
In the valley of shadow
Yea, I will fear no evil
I have cursed thy rod and staff
They no longer comfort me
Love rescue me
Sha la la...sha la la la
Sha la la la...ha la la...
Sha la la la...sha la la la
Sha la la la...sha la la
Sha la la la...sha la la la
Sha la la...
I said love, love rescue me
- Algum motivo especial para me obrigar a vestir como se fosse à Ópera de Paris? – Ginny abriu a porta e questionou, encostando-se à ombreira.
- Nenhum em especial, mas até que valeu a pena – percorreu com os olhos o corpo da ruiva que se ocultava por trás de um longo vestido vermelho, sem mangas e com um decote em V – Talvez deva esquecer o programa que tinha pensado e te levar antes para um beco escuro.
- Acha que eu sou mulher de beco escuro? – a ruiva fingiu indignar-se.
- Não, mas eu também não sou homem de gostar de garota de classe média – retorquiu ele, estendendo-lhe uma rosa branca – Como está você, Gi?
- Estou óptima, Draco – deu-lhe passagem, aceitando a flor com um sorriso – Você parece estar…bem, como sempre – o louro sorriu de volta, entrando para a sala acolhedora do apartamento da amiga.
Um grande sofá branco jazia em frente a uma TV moderna. Um cadeirão de baloiço estava perto da grande janela e havia um livro pousado sobre o assento. Na estante estavam vários livros, algumas molduras com retratos de Ginny, fotos que ele reconhecia como sendo relativamente recentes, uma foto deles os dois esquiando e uma de Will. Draco sempre se intrigava com aquela quase completa ausência de passado de ruiva, como se para ela apenas tivessem existido os últimos dois anos da sua vida.
Ele conhecia um pouco da história dela e sabia que tudo estava ligado à caixa-de-música que ela guardava sob a penteadeira do seu quarto. Contudo, ao contrário do que acontecera com Will, Ginny nunca tinha sido completamente sincera. Esta percepção deixava Draco incomodado e inquieto.
A ruiva agradecia por tudo o que este homem fizera por ela. Sabendo apenas partes da sua história, ele a ajudara a erguer-se do nada. Sabia que lhe devia, quase tanto quanto a Will, tudo o que tinha de mais importante: a sua loja de ilustrações, o seu emprego como ilustradora de livros e a sua cura quase total.
Os primeiros tempos tinham sido difíceis. Will deixara-a no Convento, um dia há dois anos, mas cedo ela percebera que não podia ficar ali para sempre. A instituição era carenciada e, mesmo com o seu trabalho voluntário, o peso de mais uma pessoa era uma determinação perigosa para a manutenção do projecto social.
Partira então para a procura de um emprego. Qualquer coisa que lhe desse estabilidade e permitisse ter a vida que ansiava, uma vida preenchida que apressasse o esquecimento. Mas ela era nova, uma estrangeira e apenas iniciara a sua formação em Artes. Todas as portas se fechavam mesmo antes de se abrirem completamente e o desespero apenas não chegava porque tinha Will sempre por perto, o seu amigo de todas as horas.
Até que um dia Draco Malfoy apareceu na sua vida e a mudança teve o seu início.
FLASHBACK
Mais um dia se passara e apenas acordara para ouvir mais uma série de “NÃO!”. Aquele parque era o único sítio onde se sentia em paz, onde sentia que podia alcançar um pouco da pessoa esperançosa que um dia fora. Talvez fosse a calma, talvez a lembrança de um outro jardim da sua vida, um lugar onde nenhuma sombra parecia conseguir penetrar.
Naquele dia resolveu se afastar um pouco do trilho, caminhando sobre a sombra das árvores. Num recanto afastado, sobre um grande carvalho, deparou-se com a figura de um homem. Era alto e louro, mas isso era tudo o que ela conseguia vislumbrar, uma vez que ele estava de costas. Olhando melhor, reparou que ele estava perante um cavalete e uma tela e desenhada estava uma grande cruz negra.
Aquele símbolo atraiu-a, mais do que a presença masculina, e aproximou-se silenciosamente. Ele olhou para trás, aparentemente tendo escutado os seus passos apesar das suas precauções. Ela viu que ele estava zangado com a intromissão e observou as feições marmóreas.
- Não há nada para ver aqui, garota – rosnou ele, colocando o corpo na frente da pintura.
- Desculpe, eu apenas… – Ginny tentou explicar-se, recuando atrapalhada. Mas o jovem parecia subitamente fascinado com alguma coisa atrás dela. Olhou por cima do ombro e não viu nada. Será que ele estava assim por causa…dela?
- Não vá embora. Por favor… – ele acrescentou delicadamente, como se desenterrasse aquelas palavras de uma gaveta há muito fechada.
- Eu apenas tive curiosidade – ela murmurou – Eu também sou artista e o trabalho dos outros me interessa.
- Eu não chamaria, exactamente, isso aqui de trabalho – ele deitou um olhar à pintura – É um lixo, nem sei de onde saiu.
- Provavelmente, saiu de você – disse, antes de poder pensar duas vezes. Ele olhou-a de sobrolho franzido – Quero dizer, todos os artistas pintam aquilo que vêem. Não necessariamente o que os olhos alcançam, mas muitas vezes o que está para além disso. O que está, ao mesmo tempo, para além e dentro de nós.
- Talvez… – o louro ponderou, mordendo o lábio inferior – Você acha que o meu interior é assim tão feio? Nunca nenhuma mulher me disse isso.
Ginny ponderou se seria sensato dizer o que lhe ia na alma, mas achou que não tinha nada a perder.
- Talvez não se dê com as pessoas certas – por um momento pensou que ele ia explodir e gritar com ela, mas ele sorriu tristemente e avançou com a mão estendida.
- Draco Malfoy.
- Ginny Weasley – e apertou a mão dele, grande e extremamente branca. Olharam-se durante uns instantes, a ruiva envolvida pelos olhos cinzentos que, com aquela luminosidade, continham leves reflexos dourados.
- O que é que você vê?
FIM DO FLASHBACK
Depois daquele dia ficaram amigos. Draco era completamente diferente de Will, não tinha nada da sua calma boa e quente. A serenidade que aparentava era puro gelo sólido, uma frieza muitas vezes desconcertante. O seu espírito era sagaz e acutilante, sempre pronto para um comentário mais sarcástico. Embora muitas vezes discordasse das opiniões e atitudes do loiro, Ginny aprendera a distinguir a pose da realidade, e via nele uma pessoa cujos defeitos podiam, muitas vezes, soterrar as qualidades, se fosse aquilo que ele realmente desejava.
Felizmente ele parecia ter sido apanhado com a guarda baixa em relação a ela, desde o primeiro momento. E assim nasceu uma relação estranha, uma amizade aliada a uma cumplicidade fora do comum.
Draco apresentara-a às pessoas certas e oferecera as seguranças económicas que qualquer agência bancária pedia e, assim, ela abrira a sua loja, um sonho muito antigo. Mas mais do que isso, a sua atenção cuidadosa e as palavras ditas no momento certo eram um atalho para recuperar algo que julgara perdido numa sala na longínqua Sicília: a sua feminilidade, a confiança de que continuava sendo uma mulher completa independentemente do que lhe havia sido feito.
Aliás, a violação era uma das poucas coisas que confiara a Draco. Ele apreciara a revelação dela em silêncio, como fazia na maioria das vezes, e depois perguntara se era por isso que ela vivia escondida debaixo de roupas grandes demais, feias demais. Ela surpreendera-se com aquela tirada e mais surpreendida ficara quando nessa mesma noite, ele surgira com um embrulho debaixo do braço. Lá dentro estava um vestido negro, acetinado, que ele exigira que ela usasse quando, mais tarde, a levou a uma recepção em casa de uns amigos. E, nessa noite ela sentiu-se desejada e inteira.
Draco e a sua nova profissão haviam operado milagres no seu estilo de vida. Agora era mais confiante e elegante, embora preservasse a sua simplicidade como uma das suas maiores qualidades.
Mas nem mesmo a melhor das roupas ou a mais bela pintura saída das suas mãos apagava a amargura e tristeza que, de dia e noite, rondava o seu coração. Era nessas horas mais negras que Will era o seu refúgio. Ele continuava no seminário e, em breve, seria ordenado. Ginny temia que esse momento chegasse, pois sabia que inevitavelmente ele perderia muita da sua liberdade e, consequentemente, oportunidade de estar com ela.
Esses pensamentos meio egoístas deixavam-na profundamente envergonhada, mas reconfortava-se sabendo que Will sentia o mesmo, tal como ele próprio lhe confessara.
Ele nunca permitia que a sua alma se desintegrasse, mantinha-a incólume e cuidada, até que a achasse suficientemente forte para voar.
FLASHBACK
Estavam sentados no mesmo lago onde haviam ido no seu primeiro dia em Nova Iorque. Ginny acabara de lhe contar como se sentia bem nos últimos dias, especialmente pela manhã quando corria, tal como ele tinha aconselhado, evitando assim os pesadelos que tanto a haviam atormentado.
- Gi…você está curada – dissera, muito sério, a alegria inundando os olhos castanhos – Tanto quanto poderia estar. Confesso que pensei que nunca conseguiria, porque você fugiu daquilo que a prendia. Sem dúvida que percorreu o caminho mais sinuoso, um que eu não escolheria, mas venceu.
- Eu apenas compreendi que as lembranças serão para sempre, Will. Agora, aquilo que eu vivi faz parte de mim. Mas não vou permitir que seja a maior parte de mim, aquilo que me define. Eu sou muito mais do que um acto de violência, eu ainda sou uma mulher. Ainda posso sentir… – ela fechou os olhos e passou a flor que tinha nas mãos pelo rosto, apreciando o toque delicado e sorrindo cheia de alegria.
- E…Harry? – Will questionou, a medo. Ginny prendeu a respiração. Fazia muito tempo que ela não falava nele, ainda que estivesse constantemente nos seus pensamentos e sonhos.
- Ele também é uma lembrança. Associada a momentos extraordinariamente felizes e outros…que nem tanto – respondeu, tentando manter a voz neutra – Não posso viver presa a ele.
- Ginny… – ele chamou baixinho, segurando o rosto dela com ternura – O Harry é tudo o que você ainda não resolveu. Como você mesma diz, eu ajudei a curar sua alma e Draco ajudou a curar o seu corpo – os olhos dele brilharam por um instante fugaz – Mas só existe uma pessoa que tem o poder de curar o seu coração.
FIM DO FLASHBACK
- Ruiva? Você ainda está comigo ou te perdi para o mundo da fantasia? – aparentemente Draco estivera falando, enquanto ela pensava nas mudanças de que a sua vida fora alvo.
- N…Não! – respondeu, prontamente – Vou buscar o meu agasalho e podemos ir para onde quer que a gente esteja indo – foi até ao quarto, agarrando o sobretudo branco comprido e a bolsa que separara. Colocou também uns brincos pendentes, com brilhantes vermelhos, de tal forma que parecia que do meio dos seus cabelos ruivos vinha um intenso brilho vermelho quando ela se movimentava.
Deu uma breve olhar ao espelho e vendo que estava tudo certo, foi novamente até à sala. Mas Draco já não estava onde ela o deixara, agora encontrava-se perto da estante e sorria enquanto olhava para uma fotografia dela numa festa chata a que tinham ido. Ginny perguntou-se sobre que graça ele poderia estar vendo naquilo, mas pigarreou para o despertar.
- Pronta? Perfeito – estendeu-lhe o braço e ela observou que ele estava, como sempre, impecavelmente vestido para a ocasião, em tons de cinza. Ela aceitou o braço e saíram do apartamento, descendo pelo elevador até à garagem. Foram até ao local onde estava estacionado o carro dele, um Lamborghini prateado, e entraram.
- É agora que você vai me revelar onde vamos? – espicaçou, enquanto ele punha a viatura em andamento.
- É – ele deu um sorriso, mas não desviou os olhos da estrada – Vamos à inauguração de uma Vernissage – a ruiva franziu a testa.
- Já fomos em muitas exposições de pintura e você nunca fez todo esse mistério. O que há, Draco? – conhecia suficientemente bem o loiro para saber que ali havia coisa.
- Acontece que é a Vernissage de um colega meu da faculdade de Belas-Artes…- hesitou - …e nós nos odiamos.
- E você vai ver só para poder falar mal, certo? E achou, e muito bem, que eu não aceitaria me prestar a esse papel se soubesse de toda a história – deitou-lhe um olhar seco.
- Mais ou menos isso – admitiu, sorrindo de forma safada – Bom o plano, não? – ela suspirou.
- E porque você o odeia?
- Ah, porque…ele é metido a herói bonzinho e sofrido, só porque não teve uma infância feliz. Todo o mundo o acha um máximo, especialmente as garotas. E porque ele pinta bem e isso me deixa espumando de raiva…
- Basicamente, porque sim – ele acenou, rindo entredentes e ela gargalhou.
- A única coisa boa é que estaremos terminando esse ano e depois não vou mais ter que olhar para a cara dele todo o dia. E que cara mais feia, vou-te contar…
- Esse ciúme não fica nada bem para você…o seu maxilar treme e ganha um tique no olho meio esquisito – escarneceu, enquanto ele fazia um ar ofendido.
A Galeria de Arte estava completamente cheia de gente, desde apreciadores de arte anónimos, a figuras ilustres da área, a pessoas da coluna social e a meros estudantes interessados. Ginny ficara retida logo à entrada, falando durante um bom tempo com um dos seus maiores clientes na ilustradora.
Agora circulava por entre a multidão, acompanhada de Draco. Parou diante do primeiro quadro, tentando apreciar decentemente a obra daquele jovem cheio de talento (tal como haviam dito inúmeros conhecedores que encontrara).
A pintura para a qual olhava retratava uma mulher deitada numa cama, mas apenas conseguia discernir uma figura feminina, as suas feições e pormenores pareciam estar apagados, como se o autor apenas recordasse vagamente alguém. Olhou para a placa de vidro ao lado e leu o título da obra: Dimenticato.
Leu alto, percebendo que era italiano. Passou ao quadro seguinte, com uma sensação estranha pesando-lhe no peito, que representava um piano e uma bailarina, cuja placa indicava tratar-se de Musica per noi. Atentando aos detalhes, reparou que a bailarina tinha uma longa cabeleira ruiva que se misturava com as folhas de Outono que entravam pelas paredes envidraçadas…
Com o aperto a ameaçar esmagar-lhe o interior, foi rapidamente até ao quadro seguinte e deparou-se com Addio, mais uma vez uma figura feminina que abria os braços para a chuva que caía do céu e lhe apagava as feições.
- É estranho… - murmurou, um nó na garganta prendendo-lhe as palavras e fazendo com que a sua voz saísse rouca e abafada – Todas estas imagens têm algo em comum, alguma coisa familiar… - Draco, ao seu lado, sorriu.
- Pudera, todas as mulheres retratadas são parecidas a você. Têm o mesmo cabelo de fogo, a mesma delicadeza, o mesmo brilho inexplicável…Parece que ele pintou constantemente uma pessoa para não se esquecer dela, como se a quisesse preservar para sempre na tela e na memória.
Ginny tinha lágrimas nos olhos, embora não soubesse exactamente definir de onde vinha aquele mar de emoções.
- Tenho que admitir que ele é bom – disse o loiro, olhando com uma frieza avaliadora para as peças expostas – Esses quadros estão cheios de paixão, dor, angústia. Parece que vão gritar a qualquer momento, tamanha é a carga emotiva que comportam.
- Tudo isso? – Ginny ouviu uma voz dizer nas costas de ambos. Ao ouvir aquele som ela percebeu que muito antes soubera de quem era aquela exposição e quem era a mulher retratada. Fechou os olhos com força, implorando que fosse um engano. Mas sabia que não era.
Draco voltara-se e acenava sarcasticamente ao recém-chegado. A ruiva podia sentir o olhar dele sobre si, imaginando que ele devia estar admirando o seu cabelo longo e ruivo, e voltou-se.
Quando os seus olhos encontraram o verde dos de Harry, e este deixou cair a taça de champanhe que tinha na mão, Ginny soube que nunca, nunca, ultrapassaria o que sentia por Harry Potter.
I said love
Climb up the mountains, said love
I said love, oh my love
On the hill of the son
I'm on the eve of a storm
And my word you must believe in
Oh, I said love, rescue me
Oh yeah, oh yeah, oh yeah...
Yeah I'm here without a name
In the palace of my shame
I said love rescue me
I've conquered my past
The future is here at last
I stand at the entrance
To a new world I can see
The ruins to the right of me
Will soon have lost sight of me
Love rescue me
N/A – Eu sei que demorei bastante com esse capítulo, mas bloqueio de escritora não escolhe hora nem data para acontecer. Quando eu tinha inspiração não tinha tempo, quando eu tinha tempo e sentava para escrever a inspiração fugia para bem longe. A vida da Gi está diferente…ela está mais feminina, mais sofisticada, com uma carreira de sucesso, com dois amigos maravilhosos…e agora o Harry reentra na sua vida! (pausa para as manifestações de alegria dos H/G fervorosos…nos quais me incluo! Ahauhua. A música deste capítulo foi Love Rescue Me dos U2. Hm, e Dimenticato significa “esquecimento”, mas coisa menos coisa. No próximo capítulo, o reencontro dos dois, uma conversa de irmãs e revelações de sentimentos.
Ah! A Noiva terá novo capítulo no máximo no final de semana :)
Hoje eu não deixarei resposta às reviews, simplesmente porque estou morrendo de cansaço. Aí seria mais um dia de espera com reviews ou capítulo novo hoje sem…será que escolhi o certo? Ahauahua. Mas quero que saibam que todos estão no meu coração e que vocês têm e terão muitos motivos para admirarem o Will e babarem pelo Harry!
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