Vidas que se cruzam
Capítulo 8 – Vidas que se cruzam
Ginny enfrentou o olhar penetrante de Harry. Sentia-se completamente congelada por dentro. Como é que poderia admitir agora o laço que a unia a Arthur? Harry estava profundamente envolvido no casamento de Arthur, muito mais do que ela poderia imaginar. Lily era a mãe de Harry e Belle, e Arthur era o pai de Belle, mas não de Harry, e ia se casar com a mão da sua filha. Ou seja, ela não tinha nenhum parentesco com Harry, embora tivessem uma meia-irmã em comum. Que grande embrulhada, parecia que a sua vida estava se aproximando de uma novela decadente!
Nem sequer se atrevia a perguntar como é que uma situação tão complicada chegara a acontecer. Além disso, ela era Ginny Knight, filha ilegítima de Arthur Weasley e a sua vida já estava bastante complicada. Quanto mais depressa se afastasse daquele lugar, melhor.
- Se…se a sua mãe vem para cá, acho melhor limpar tudo antes de ir embora.
Harry deixou cair as mãos e olhou para ela, sem compreender nada.
- Nada disso, você não pode ir embora. Não quer saber como chegámos a essa situação? – perguntou ele. A jovem encolheu os ombros, surpreendendo-se a si mesma com aquela força. Não tinha outra opção senão ir embora e salvaguardar a felicidade de todas aquelas pessoas, bem como o pouco orgulho que lhe restava.
- Nada disso tem a ver comigo, Harry. Agora compreendo tudo, tudo o que você fez. A sua mãe é a mulher com quem Arthur vai-se casar e é natural que não quisesse que eu andasse por aí, por isso também não devo estar aqui quando ela chegar – disse com a voz ostentando uma convicção que na realidade não sentia. Ele agarrou-a por um braço quando ela deu a volta.
- Você não vai. Primeiro, vai ter de se explicar.
- Explicar o quê? Não há nada a ser explicado. Nem você nem eu somos idiotas, Harry, logo sabemos muito bem a razão pela qual eu tenho de ir – ela murmurou, reparando que os olhos dele brilhavam de raiva e frustração.
- Pois, então, eu devo ser estúpido porque não estou vendo essa razão. Você continua zangada comigo por ter ido ter com o Arthur para que ele me confirmasse que você nunca tinha sido amante dele? Será que não pode compreender o que me levou a isso? Você andou fazendo perguntas sobre ele e, sim, errei ao pensar que podia ser amante dele. Não demorei a perceber que você não era esse tipo de garota, mas ainda assim tinha que saber se havia alguma relação entre os dois – insistiu de forma apaixonada – E sim, tem a ver com o meu orgulho e com a minha mãe. Ela já passou por muito, Gi. Não estou disposto a permitir que esse casamento não aconteça.
- É por isso que eu devo ir – afirmou a jovem – O melhor é que ela nunca me veja, sequer. E sim, você é idiota por não perceber isso – odiou-se por ter de fazer aquilo, mas sabia que era a única forma – O Arthur não te confirmou que eu nunca fui amante dele!
- O quê? – a face dele ficou sombria. Ginny sabia que tinha de acabar com aquilo antes que Belle e Lily chegassem.
- O Arthur não confirmou nada – repetiu – Mentiu. Claro que negou me conhecer. Vai casar com a tua mãe. Pode ser que você seja muito unido a ele, mas não neste tipo de assunto. É o que qualquer homem faria nas vésperas do seu casamento: o Arthur negou a minha existência porque não sou importante para ele, enquanto você e a Lily são, e ele quer que o casamento corra bem.
Os olhos dele escureceram como as nuvens de uma tempestade, carregadas de trovões. Acusara Arthur de ser um mentiroso, mas tinha que proteger a verdade. Essa jamais poderia ser revelada.
- Agora, já sabe porque é que nunca neguei as suas acusações – disse, o desespero aumentando o tom de voz – Porque aconteceu, Harry. Fui amante do Arthur. Conhecemo-nos em Londres, no início deste ano, e tivemos um apaixonante romance que, evidentemente, eu levei mais a sério do que ele, mas só soube disso quando cá cheguei. E sim, essa é a razão pela qual eu vim até à Sicília, e essa é também a razão pela qual eu vou embora. Como você mesmo disse uma vez, sou a última pessoa que deveria estar presente neste casamento! – virou-se e saiu da cozinha. Já não podia voltar atrás. Dissera tudo e ele acreditara.
A queimadura que sentia no seu interior aumentou à medida que subia as escadas a correr e chegava ao quarto. Harry acreditara nela! Tremia e a cama parecia rir-se dela por ser tão ingénua. Apenas a ingenuidade podia explicar que continuasse a amá-lo, que tivesse se dado tão completamente a ele; até mesmo, só a ingenuidade a levara a empreender aquela viagem.
Começou a fazer as malas. No entanto, não parara para pensar como iria sair dali ou o que faria a seguir, nem mesmo para onde iria. Mas Harry deveria estar desejoso de a levar para qualquer lugar, bem longe dele.
Sem se dar conta, as lágrimas caíam pela sua cara, tudo aquilo era insuportável e o peso no seu peito apenas aumentava. Amava Harry e tivera que destruir todo o seu amor, mas fora a coisa certa a fazer.
- Oh, não! – gemeu. Um som que não pertencia aos habituais da casa e dos seus arredores chegou-lhe aos ouvidos…o zumbido de um motor. Meus Deus, já tinham chegado! O que deveria fazer? Para onde deveria correr? Estava presa.
“Pensa, Ginny, pensa!”
Padfoot estava deitado, a dormir à sombra da velha oliveira. Ginny encontrava-se sentada, com as pernas cruzadas, sob a mesma árvore. Tinha o caderno de desenho apoiado nos joelhos e o pincel movia-se mecanicamente na sua mão. Não via nada daquilo que estava a fazer. Estava cega e surda, sem noção do tempo. Sentia as pernas dormentes, sede e muito calor. Não se lembrava de como chegara até ali. O seu amigo fiel recebera-a com amor e devoção, e agora dormia aos seus pés, alheio à angústia pela qual ela estava a passar.
- Olá. Você é a Ginny, não é? – a ruiva levantou a cabeça de imediato e pestanejou contra a luz do sol que inundava aquela paisagem. Sentiu um aperto no coração.
“Belle!”
Morena e de expressão doce, com um longo cabelo castanho, olhos cor de chocolate e umas leves sardas nas bochechas, tão diferente dela que se interrogou se seria possível serem irmãs. Por um instante fugaz, imaginou que aquela encantadora jovem não era sua irmã, nem Arthur o seu pai e como seria maravilhoso não ter qualquer laço genético com aquelas pessoas. Mas, no fundo do seu coração, sabia que Arthur era o seu pai…um instinto especial garantia essa verdade, tal como soubera que Harry iria ser uma pessoa especial na sua vida assim que o conheceu uma manhã, em Palermo.
Belle sorria para si com alguma incerteza enquanto Ginny a olhava sem nada dizer. Padfoot acordou ao ouvir a voz melodiosa da jovem morena e, abanando a cauda, lançou-se sobre ela para a cumprimentar. Belle riu, um riso puro e cristalino como o das crianças, abraçando o cão, sem dar importância ao facto de o seu vestido de seda lilás estar a tocar no chão. Ginny apreciou a forma de ser suave e dedicada dela, não se incomodando de sujar o vestido impecável.
- Padfoot! Sentiu saudades minhas? Eu senti muitas de você, mas o Harry disse que a Ginny tem cuidado de ti, por isso não me senti tão mal por estar longe – com um sorriso voltou-se para Ginny – Ainda bem que estava aqui. O Harry e o Padfoot se odeiam, não sei bem porquê. Talvez por ambos terem personalidades muito fortes – aproximou-se dela com a mão estendida – Sou a Isabelle, mas todos me tratam por Belle mesmo…como se você já não soubesse – riu – O Harry esteve a falar de você. É tudo tão engraçado!
Ginny sentiu um nó no estômago, mas fez um esforço para sorrir e cumprimentar Belle. O que teria Harry dito? A verdade? Impossível!
- Acho tudo tão romântico – suspirou Belle – Ele parar na rua para te ajudar. Tem que me contar a história toda. Aquela gente deve ter sido muito má para você, não? Eu nunca estive em Palermo. De facto, o ano passado foi a primeira vez que vim à Sicília. Fui criada na América do Norte, em Nova Iorque para ser mais exacta.
Ginny sorriu.
- Agora entendo porque é que não tem sotaque italiano – comentou suavemente. Que mais podia dizer? Que explicação teria Harry dado? Tinha que ter cuidado, muito cuidado. Não podia, nem queria, magoar aquela jovem de rosto doce e terno – E a viagem? Correu bem? Harry disse que estiveram em Milão fazendo compras – Belle riu e fez um breve gesto com a mão.
- Não foi mau ir às compras, mas foi a minha mãe quem se divertiu a sério. Anda louca com o casamento. Mas a verdade, é que eu nem sei porque se estão incomodando tanto – voltou a rir – O meu pai disse que é isso que devem fazer, mas eu pertenço a outra geração e não me importo nadinha com o facto de ser filha ilegítima. A maioria das garotas do meu internato tem passados obscuros. Enfim… – suspirou – Te surpreendi um pouco, não foi?
Ginny sorriu com nervosismo. Se Belle pudesse imaginar todas as surpresas que já tivera desde que chegara ali. A ilegitimidade não era nada. Vivera toda a sua vida com ela. Olhou para Belle que retribuiu com uma expressão preocupada.
- Você está bem? Parece um pouco pálida.
- Acho que já estou aqui sentada há demasiado tempo – explicou, esboçando um sorriso tímido – Preciso de esticar as pernas.
Necessitava de se afastar dali, de estar sozinha, pois aquele estranho confronto não a fazia se sentir nada bem.
- Boa ideia – animou-a Belle, batendo com as mãos uma na outra – Vamos dar um passeio. Vamos, Padfoot! – Ginny ia protestar quando a viu sorrir, feliz.
- Ainda bem que você também está aqui…assim, terei alguém com quem conversar! Acho que tenho menos uns dois anos do que você. A mãe está descansando e, por vezes, o Harry é muito aborrecido – fez uma careta engraçada – Além disso, ainda não parou de falar ao telefone e pediu para que eu tomasse conta de você, e é exactamente isso que eu vou fazer. Não porque ele tenha dito – nova careta cómica, de desprezo pelas ordens do irmão mais velho – mas porque eu quero. Tenho bebidas frescas na mala. Você já foi até junto do penhasco? Acho que o Harry nunca te levou lá. Ele nunca vai naquele lugar. Foi lá que o pai dele morreu.
Virou-se e começou a caminhar, mas Ginny tinha os pés colados ao chão. O pai de Harry morrera ali. Teria se suicidado? Não, não podia ser. Estava se tornando melodramática, só podia, vendo drama em todo o lado. “Provavelmente porque a minha vida está uma autêntica tragédia grega” pensou quase trocista.
- Gi, aonde você vai? – ouviu a voz de Harry perguntar, que se aproximava. Belle já se adiantara com Padfoot a seu lado, trotando alegremente, e ao ouviu o irmão cumprimentou-o com a mão, mas não se deteve – Aonde você vai? – insistiu ele.
- Dar um passeio – respondeu ela, secamente – Disse à Belle para tomar conta de mim e é isso que ela está fazendo.
Harry agarrou-a por um braço e puxou. Alarmada, a ruiva olhou-o. Parecia tenso, com toda a certeza achava aquela situação muito embaraçosa.
- Antes de ir, não diga nada à Belle que possa lhe fazer mal.
- Fazer mal? Que tipo de pessoa pensa que eu sou?
- Sei exactamente quem você é – afirmou ele, os olhos ardendo – Disse que nos conhecemos por acaso em Palermo…
- Foi o que eu ouvi dizer – respondeu, tentando se soltar – Ela acha muito divertido, mas eu não. Posso saber porque disse isso?
- Elas sabem que te expulsaram da casa dos Firenzzi e o porquê…uma versão mais suave do que a verdadeira, claro…
- Claro – repetiu Ginny, sarcástica.
- Me ouve. Recolhi você em Palermo e te trouxe para minha casa porque não tinha para onde ir. Estamos tendo uma aventura e…- a jovem conteve a respiração – Sim, uma aventura!
- Isso tem um ar barato e sórdido – protestou ela.
- Perfeito para você, não acha? - o olhar que lançou a Ginny atravessou-a.
- Não precisava ter dito isso – ripostou com um olhar fulminante e dorido.
- É isso que você merece. A Belle e a minha mãe pensam que é minha amante e é isso que vão continuar pensando. Para os outros, estamos apaixonados, entendeu? E se você se lembrar de lhes dar motivos para duvidarem da minha história, farei com que se arrependa de ter nascido! – murmurou perigoso, soltando Ginny que recuou, cambaleando.
Naquele momento, desejou realmente nunca ter nascido.
- E…durante quanto tempo terei de ser sua Gi?
- Durante o tempo que eu considerar necessário. O casamento será daqui a uma semana.
- Uma semana? Vou ter que fingir durante tanto tempo?
- Fingir não é difícil para você – retorquiu ele maldosamente, a sua boca contorcida num esgar – Sou eu quem vai sofrer. A minha vida sempre se pautou pela verdade e honestidade, e mentir é muito difícil para mim.
- Pois, mas faz a sua função muito bem – acusou-o, magoada – especialmente na cama, hipócrita!
De repente, Harry voltou a abraçá-la e a sua boca explodiu na dela. Um beijo com tanta violência que a queimou, para depois se suavizar até chegar a um beijo de apaixonados…e, de repente, Ginny soube porquê, e isso foi o que mais doeu de tudo o que ele fizera ou dissera. Fora apenas uma farsa para que Belle visse.
- Vai fazer aquilo que eu te disse, Gi, se souber o que é melhor para você – disse ele, enquanto parecia acariciar-lhe o rosto com ternura infinita. Que grande actor que era! – E, agora, vai com ela – sussurrou, como se estivesse falando com uma criança – Fala com ela, mas cuidado com o que diz – advertiu e depois franziu o sobrolho – É curioso, mas acho que se darão como unha e carne. Têm tanta coisa em comum: insensatez, ingenuidade, inocência…mas a sua não é verdadeira, pois não?
- Vai à merda! – sussurrou ela entredentes, sorrindo depois para cobrir a dor excrucitante que sentia – Até logo, amor! – despediu-se alto, beijando-lhe o rosto cálido – Vejo você no inferno, Harry Potter– adiantou em voz baixa.
- Estou tão feliz pelo Harry – informou Belle quando Ginny se juntou a ela – Pensei que nunca iria encontrar alguém que o fizesse feliz. Tem um bando de namoradas, mas nada a sério. Mas a forma como ele olha para você, eu nunca vi isso nele – Ginny deu um sorrisinho amarelo, pensando que Belle não era muito boa observadora. Harry a odiava mais do que nunca! – A mãe acha que isso se deve ao nosso passado. Diz que desconfia do amor e do casamento, devido àquilo que lhe aconteceu a ela. Ele leva a vida demasiado a sério.
Ginny não pôde deixar de acenar, dando razão integral à morena.
- Ele me disse que você é muito alegre – comentou ela ao deter-se junto ao muro que dava para o penhasco – mas ainda não disse uma só palavra.
- Por agora tem sido você a falar – respondeu com um sorriso – E não estou me queixando – adiantou, sorrindo verdadeiramente – Gosto de falar com alguém que viveu na América. Fala da sua vida lá. É um lugar onde eu sempre quis ir.
Seria melhor manter a conversa em terreno neutro. E Belle falou, sem parar, sobre a sua vida em Nova Iorque e do seu colégio interno na Suiça. Passavam férias nas Caraíbas, nas ilhas Seychelles e em cruzeiros pelo mundo. Parecia ter uma educação magnífica, apesar de ser fruto de uma relação instável.
- Não podíamos vir de férias à Sicília – explicou – O Arthur continuava casado, apesar de a mãe se escapar de vez em quando para aqui, para o ver. Ele costumava ir visitar a gente a Nova Iorque quatro a cinco vezes por ano. Olha, aqui estão as escadas. Não tem vertigens, pois não? São muito íngremes, tem cuidado.
Ginny começava a compreender tudo. Arthur era casado com outra mulher quando teve uma relação com Lily e concebeu Belle. Seria igualmente casado quando a teve a ela? Ginny era apenas dois anos mais velha do que Belle, e talvez o facto de ele ser casado explicasse o porquê de ter sido entregue para a adopção. Chegaram ao fim das escadas ao fim de algum tempo e Belle se sentou na areia, sendo imitada pela ruiva. Esta ardia em desejo por saber mais sobre Arthur, Lily e o casamento de ambos, de Harry e de como encaixavam na vida uns dos outros.
- Então, suponho que o Arthur se tenha divorciado para se casar com a Lily, não?
- O Harry não te contou a história? – perguntou Belle, meio incrédula, rindo depois – Bom, acho que devem ter tido demasiado que fazer para falarem sobre isso – sorriu maliciosamente, deitando-se sobre a areia e fechando os olhos – A vossa história é tão romântica. A mãe ficou tão contente que está desejosa por te conhecer. Esta noite, é ela quem vai fazer o jantar e será em sua honra – Ginny pestanejou, imóvel, sentada de pernas cruzadas na areia.
- A mulher do meu pai morreu o ano passado – começou Belle – Já estava doente há muito tempo, pelo que não foi surpresa para ninguém. Segundo o meu pai, passou a vida doente, desde o dia do casamento de ambos. Não devia ter-se casado com ela, ele sempre admitiu que se casou sem pensar. Ambos pertenciam a famílias importantes desta zona e o meu pai queria ter filhos, mas ela dava sempre uma desculpa para não os ter.
“O que não o impediu de ter filhos com outras mulheres”, constatou tristemente a ruiva.
De repente, Belle virou-se de lado para a olhar.
- O meu pai é maravilhoso – disse ela, com os olhos repletos de amor – Além disso, é o banqueiro mais inteligente de toda a Sicília e um grande artista. Ele é muito respeitado e amado por todos os que o conhecem – sorriu orgulhosa. Ginny devolveu o olhar.
- Acho melhor não me contar mais nada, Belle – disse, baixando os olhos – O Harry pode não gostar…
- O Harry gosta muito do meu pai e, de todas as formas, você vai fazer parte da família.
Ginny não conseguiu evitar de sorrir com cinismo. Ela, parte da família? Quanto mais Belle lhe contava, mais afastada se sentia.
- Os meus pais eram amigos desde jovens, mas nunca chegaram a nada. O meu pai andava demasiado ocupado a aprender os negócios da família e a minha mãe se casou com James Potter. Era muito jovem, demasiado jovem, acho eu…tinha dezoito anos. Eles amavam-se muito, a minha mãe e James, e o meu pai só descobriu o quanto gostava dela quando chegou o dia do casamento. Ao vê-la de braço dado com o pai do Harry, se apercebeu daquilo que tinha perdido, mas já era demasiado tarde – suspirou – Ele me contou tudo isto porque pensou que esta história me ajudaria a não me envolver numa situação semelhante. A minha mãe era muito feliz e, por isso, não fazia ideia daquilo que ele sentia. Viviam aqui, esta é a casa da família Potter. Foi aqui que o Harry nasceu, e é dele agora. O meu pai vivia em Palermo, trabalhava lá, tentando esquecê-la e, não tanto tempo depois, voltou a apaixonar-se.
- E casou rapidamente para se certificar de que não voltaria a perder a mulher que amava – adiantou Ginny, interrogando-se onde é que a sua própria mãe encaixava naquela história.
- Não, não casou – Belle sorriu enigmaticamente, algo triste também – No entanto, ele amou-a muito e, durante um tempo, ela preencheu totalmente a sua vida. A minha mãe e ela eram grandes amigas e ela ficou muito contente por Arthur ter, finalmente, encontrado a felicidade. Não era siciliana e isso marcava a diferença, pelo menos naquela altura. A família ficou completamente contra a relação. Trabalhava para outra família de banqueiros em Palermo, tomava conta dos filhos deles, e os meus avós não a achavam suficientemente boa para o filho – de repente, riu-se – Vê como as coisas mudam? Você toma conta de crianças, o Harry se apaixonou e a minha mãe está encantada. E vai acontecer o mesmo com o meu pai, tenho certeza.
Ginny não foi capaz de sorrir. O seu coração batia com tanta rapidez que lhe gelara o sangue nas veias.
- Ela era…inglesa?
Estaria Belle a falar da sua própria mãe? Não sabia nada dela, nem o nome. Os seus pais adoptivos também não ou, pelo menos, não lhe haviam contado nada. Tudo o que disseram foi que ela falecera num acidente quando Ginny era ainda muito pequena.
- Sim, o nome dela era Molly. O meu pai me contou que era linda, doce mas muito forte, diferente das mulheres sicilianas que ele conhecera. Ele estava decidido a se casar com ela, mas a família…- suspirou – Foi tão trágico…
Ginny deu um murro contra a areia, de forma a que Belle não visse. Não queria saber mais, mas precisava saber. Tinha tanto calor e sentia-se tão fraca…
- O que foi tão trágico?
Belle encolheu os ombros. Parecia muito triste e Ginny quase desejou não a ter incentivado a falar.
- Acho que eu não estaria aqui agora…- murmurou – Se eles tivessem casado e o bebé tivesse sobrevivido…
Ginny sentiu como se a tivessem apunhalado rapidamente pelas costas, uma lâmina gelada e afiada penetrando pelos seus pulmões, direccionada ao coração.
- Ela engravidara e o meu pai estava encantado pois, desse jeito, a família teria que consentir no casamento de ambos. Mas não foi o que aconteceu. Eles obrigaram-na a regressar a Inglaterra. O meu pai só descobriu isso depois, quando já era demasiado tarde para ir buscá-la. Pensou que ela tinha partido para pensar melhor sobre toda aquela situação. Depois, escreveu para dizer que…para dizer que perdera o bebé e que, ao regressar a Inglaterra, se apercebera que não tinham sido feitos um para o outro. O meu pai ficou destroçado e nunca superou isso, foi então que se casou com uma mulher siciliana….o que resultou num desastre, e…
Fez uma pausa para recuperar o alento, mas Ginny sentiu-se incapaz de soltar o ar que bloqueara nos pulmões. A sua mãe mentira a Arthur, tal como ela mentira a Harry. Não perdera o bebé. A pressão da família dele e perceber que nunca poderia encaixar na sua vida, obrigara-a a mentir. Tivera uma filha e morrera pouco depois, fazendo com que Ginny fosse adoptada. Aquela era uma história verdadeiramente trágica e tão triste. E ela, Ginny Knight, era a prova viva daquela tragédia.
- A minha mãe esteve sempre ao lado dele – dizia Belle – como amiga, claro…tal como ele esteve ao lado dela quando o pai do Harry morreu. Foi aqui, nesta praia. Ele foi atirado do penhasco e o principal suspeito foi Antonio Firenzzi, tudo porque James estava perto de obter provas que denunciassem a organização criminosa dele. Infelizmente, e embora nós tenhamos certeza, ele foi inocentado – Ginny sentiu-se mergulhar num verdadeiro horror e, num flash, lembrou as palavras de Harry: “nós julgamos que ele possa ter sido responsável por uma morte” O Harry tem feito de tudo para terminar a investigação do pai e colocá-lo atrás das grades por tudo o que fez. Foi muito duro para a minha mãe, ela ainda era muito jovem – respirou fundo e cobriu os ombros com as mãos – Foi então que Lily Potter e Arthur Weasley se apaixonaram a sério…- de repente, sorriu – E ela ficou grávida de mim. Pode imaginar as dificuldades que isso lhes causou? Entretanto o meu pai tinha casado por influência da família.
Ginny assentiu.
- Mas o meu pai esteve sempre do lado dela. Um divórcio estava fora de questão, pelo que a levou para os Estados Unidos. Desde então, o Arthur tem vivido uma vida dupla, mas quando se é um Weasley, pode dar-se ao luxo de o fazer – voltou a rir-se e continuou – O Harry estudou entre cá e lá e o mau pai tomou conta das propriedades dos Potter até ele ter idade para assumir tudo. Não sei o que é que vai acontecer depois do casamento, nem para onde vamos viver todos. O meu pai é siciliano da cabeça aos pés e desconfio que a minha mãe também queira ficar. Não sei o que é que o Harry vai fazer. Já falaram sobre onde é que querem viver depois de se casarem?
Ginny ficou boquiaberta. Mais mentiras? De repente, não quis ouvir mais nada, nem dizer nada que pudesse incriminá-la. Queria ficar sozinha e pensar em tudo aquilo que acabara de descobrir, em como todas aquelas vidas haviam se cruzado até chegarem àquele momento. Sentia uma enorme tristeza devorando o seu interior.
- Olha! – exclamou, enquanto se erguia – O Padfoot tirou a ligadura da pata e anda com ela presa na outra. Eu vou buscá-lo. Vai indo, eu vou mesmo atrás de você.
Belle levantou-se com um salto ágil.
- Sim, acho melhor fazer isso. Tenho um monte de coisas para tirar da mala. Ginny! – chamou, já que ela se afastara para ir ter com o cachorro que, já impaciente, se retorcia todo para se livrar da ligadura. A jovem virou-se ao ouvir o seu nome e viu que Belle sorria, genuinamente feliz. - Estou encantada por você estar aqui. Depois vai ter que me contar tudo da sua vida, já que eu nem deixei você falar – desculpou-se com um sorriso envergonhado – Mas teremos tempo para tudo isso.
Ginny sorriu brevemente e agitou a mão num gesto de despedida. Ajoelhou-se sobre a areia molhada para soltar o pastor alemão. Este agradeceu, roçando o focinho molhado contra o rosto dela. Ginny abraçou-o com força e deixou que as lágrimas corressem livremente. Chorou pela mãe que não conhecera e que mentira para a proteger de qualquer mal; por Arthur, o seu pai, que nem sequer sabia que ela nascera; por Harry, que obrigara a odiá-la, matando o amor da sua vida; e por ela mesma, perdida e confusa.
- Oh, Padfoot! – soluçou – Nunca deveria ter vindo à Sicília. Foi…a pior decisão da minha vida!
N/A – E pronto, já sabem toda a verdade sobre a história dos pais dessas criaturas. Eta, gente com vida complicada! XD Para aqueles de vocês que começam a ter um instinto assassino para comigo, graças à demora para a Gi contar tudo…posso dizer que podem guardar a faca, o veneno e o revólver, pois a verdade surge já no próximo capítulo! =D (que por sinal, pode ser um pouco maior do que o costume e poderá conter mais NC). E ficamos bem perto do momento de reviravolta nessa fic, ahah (vocês vão mesmo me matar). O que vocês acharam da Belle?
Agradecida a quem lê!
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