Tempestade de emoções
Capítulo 7 – Tempestade de emoções
A tempestade surgiu à meia-noite. Ginny ainda estava acordada e ficou na cama, ouvindo como o vento arrojava a chuva contra as portadas das janelas e as telhas do telhado. Esforçava-se também por ouvir algum ruído que indicasse o regresso de Harry, mas até agora nada.
Meia hora depois, o candeeiro da mesa-de-cabeceira se apagou após a queda de um raio nas imediações da casa. O calor era insuportável, uma vez que nem a chuva conseguia refrescar o ambiente. Ao acender uma vela que tinha sobre a mesa, Ginny percebeu porque é que existiam tantas velas espalhadas por toda a mansão: ao mínimo contratempo, a electricidade falhava. Resolveu se levantar de uma vez, já que a insónia tinha vindo para ficar. Vestida apenas com a sua camisola de dormir de algodão, foi acender as velas do corredor e das escadas, pensando que se Harry voltasse precisaria daquela luz para encontrar o caminho até ao respectivo quarto. Finalizada a operação, desceu as escadas para ver se Padfoot estaria bem e encontrou-o dormindo, ressonando levemente. Estava tranquilo e já comera praticamente tudo o que ela lhe tinha deixado mais cedo, pelo que certamente iria ficar bom. Após acariciar a cabeça do cachorro, resolveu voltar para o seu quarto. Se sentia nervosa demais e ficou satisfeita por se enfiar novamente na cama, cobrindo-se com o lençol fino. Deu por si a desejar ardentemente que um certo moreno estivesse em casa ou, mais concretamente, ali ao seu lado. Esse sentimento se agravou quando o vento voltou a soprar ainda com mais força.
Odiava ter de admitir, mas estava com muito medo. Se o telhado se partisse, se o ramo de uma árvore se quebrasse e batesse contra a janela, se o vento atirasse uma vela ao chão e a casa se incendiasse, se…Odiava se sentir assim, tão mulherzinha. Ela, sempre tão forte e confiante, estava tremendo por estar sozinha no meio de uma tempestade.
Acordou a gritar e com um peso sobre o peito. As estátuas de pedra do panteão estavam à sua volta, molhadas e nuas, rindo-se dela e avançando sobre si.
- Giiiiiiiiiiiiny, Giiiiiiiiiiiiiiiny…
- Ginny! Não se passa nada. Eu estou aqui com você. É só um pesadelo!
A jovem abriu os seus belos olhos castanhos. Estava a suar e o mundo parecia girar à sua volta. As estátuas, lentamente, desapareceram na escuridão e, então, viu Harry a abraçá-la. Os horrores do pesadelo continuavam a formar uma bola na sua garganta, impedindo-a de falar ou respirar normalmente. Teria gritado?
Mas agora estava a salvo. Era Harry quem ali estava e ela se agarrou a ele com o coração aos pulos e, após uns instantes, se separou para o olhar. Estava encharcado, como as estátuas do seu sonho, mas não estava a rir-se dela. Os seus olhos verdes mostravam preocupação e alívio por encontrá-la a salvo. A chuva marcara ainda mais os seus cabelos desarrumados e espetados para todos os lados, e a ruiva teve de se conter para não levantar a mão e tocá-los. Por fim, recuperou a voz.
- Foi horrível – disse, com os olhos ainda dilatados – As estátuas vinham me buscar e riam de mim, e o vento…
- Não foi nada, Gi. Foi apenas um pesadelo, eu não deveria ter deixado você aqui sozinha.
- Não…não tinha pesadelos desde criança – confessou – Quando me disseram que eu não…quando soube que não era…não compreenderam….ninguém entendia e eu estava sozinha….completamente sozinha…
- Mas agora já não está, minha Gi. Eu estou aqui com você.
A ressonância profunda da sua voz a acordou por completo. Oh, Deus, o que fora dizer?
- Já…já estou melhor – murmurou, tentando soltar-se dele, mas ele a reteve nos seus braços.
- Não, não está. Vou buscar um brandy. Isso vai acalmar você. Fica aí – ordenou com delicadeza.
Sentiu o peso do seu corpo másculo levantar-se da cama e com os olhos desmesuradamente abertos, viu-o sair do quarto. Se sentia tão idiota que voltou a se deitar na cama, tapando-se até ao pescoço. Chamar a tenção dele com um pesadelo…Devia ter chegado a casa e ao ouvi-la gritar, amaldiçoara a hora em que a fora buscar. Para Harry, Ginny não passava de um problema, uma mulher frívola e meio louca que tinha medo da escuridão e de trovoada e...e…chamara-a de Gi. De minha Gi.
Não podia ser, devia ter ouvido errado.
Quando Harry voltou com a garrafa de brandy, dois copos e uma toalha ao pescoço para limpar as gotas de água que caíam do seu cabelo, ela lutava para recuperar o equilíbrio mental – tarefa nada facilitada pela visão do tronco agora nu de Harry e das gotas de água que se passeavam por ele. Tossicou para afastar o embaraço.
- Lamento ter causado problemas. Não há luz e a tempestade me deu nos nervos. Acho que por causa do problema do Padfoot e tudo o resto, estava um pouco angustiada.
- E eu não fui propriamente uma boa ajuda – admitiu ele com um sorriso breve, ao mesmo tempo que lhe oferecia um copo com a bebida.
Ginny fez uma careta como quem diz “Eu não bebo, esqueceu?”, mas acabou por aceitar, achando que só lhe faria bem.
- Não tem nada a ver com você. Tem todo o direito do mundo de sair. Só foi azar ter escolhido a noite das mil e uma tempestades – sorriu. Sentado na beira da cama, ele olhava-a fixamente.
- Não era isso que eu queria dizer. Nem me lembraria de pensar que uma mulher corajosa como você, que atravessou a Europa, teria medo de passar uma noite sozinha nesta casa. E acho que se estivesse tudo bem entre nós quando saí, você não teria tido pesadelo algum.
- Ora, Harry…que grande ego você tem! Não pensei em você a noite inteira – mentiu directo.
- Você…é uma péssima mentirosa – gracejou ele – Ou então é só por ser para mim.
A jovem bebeu um pouco do líquido espirituoso e quase não conseguiu conter a tosse, mas a sua voz parecia ter sido queimada.
- Harry, se você se sente culpado por me ter deixado sozinha, esqueça.
- Não me sinto culpado por isso, apesar de que não devia tê-lo feito. Só me sinto culpado por te ter tratado como tratei. Você tinha razão. O meu orgulho me prega imensas partidas – confessou, franco – e tenho dificuldade para me compreender a mim mesmo – Ginny arqueou uma sobrancelha ao ouvir estas palavras.
- Talvez você esteja há demasiado tempo longe de Nova Iorque – flectiu as pernas e rodeou os joelhos com os braços – Quando regressar para lá, se sentirá como novo. O seu cérebro está arrefecendo nesse cantinho de paz.
- Neste momento, não desejo regressar nunca mais – retorquiu ele com suavidade, olhando-a bem nos olhos com tamanha intensidade que Ginny teve que baixar o olhar e fitar a dobra do lençol. Sentia novamente o sue pulso acelerado. Estaria a referir-se a ela? Era uma ideia deliciosa, mas altamente improvável. Harry devia regressar a Nova Iorque e ela a Inglaterra, que era onde ambos pertenciam…excepto ela, que agora pertencia à ilha da Sicília. Estava no seu coração, sob a sua pele, na sua alma. Pousou o copo. A sonolência começava a invadi-la e queria se deitar, deixando que o licor a levasse até aos seus sonhos, aqueles que nunca seriam reais, mas que a ajudavam a enfrentar a noite.
- O que queria dizer com isso de ter ficado sozinha na sua infância e de que ninguém te entendia? – questionou ele.
- Nada, nada…isso não tem importância alguma. – balbuciou ela.
- Eu gostaria de saber – insistiu ele mais fortemente – Você nunca me falou sobre a sua família.
- Você também não.
- Já sabe que o Arthur ocupou o lugar do pai que perdi quando ainda era criança e sabe que a minha mãe é coleccionadora de efígies de pedra que, por sua vez, te pregaram um susto de morte essa noite – enunciou ele. A jovem riu-se.
- Pode ser que não queira mesmo conhecê-la – gracejou.
- E o que me pode contar sobre os seus pais? Você tem irmãos? – perguntou ele. Ginny remexeu os pés sob os lençóis. Não queria falar do seu passado, mas…mas o brandy estava a baixar as suas defesas e, fosse o que fosse que dissesse a Harry, este jamais seria capaz de imaginar a verdadeira razão pela qual ela se encontrava na Sicília.
- Nem irmãos, nem irmãs – confessou – Gostaria imenso de ter pelo menos um – sorriu – os meus pais não podiam ter filhos. A minha mãe é médica e o meu pai matemático e, bom, na realidade nunca deveriam me ter tido porque são duas pessoas totalmente absortas pelo seu trabalho e eu nunca encaixei nos sonhos deles. Mas suponho que nalgum momento das suas vidas – encolheu os ombros – enfim, suponho que pensaram que tinham tudo menos um filho e me trouxeram como se eu fosse mais uma peça para a sua colecção particular. Me disseram que quando eu fosse mais crescida para compreender, eu entenderia tudo. O facto é que até hoje eu não entendo. São pessoas demasiado frias e acho que teria sido diferente se eu fosse realmente filha deles, mas…
- Ginny – interrompeu-a – Você é…foi adoptada? – A sua voz era grave e densa, tal como sentia a cabeça naquele momento. Achou que Harry iria sentir pena dela.
- Sim – admitiu, sinceramente, mas o seu sorriso não foi tão sincero assim – São pessoas com um grande êxito profissional, você sabe? Agora, estão nos Estados Unidos e vão estar lá por mais um ano. Pode ser que vá ter com eles depois de sair…daqui. Sim, pode ser que vá ter com eles. Escreveram e…e disseram que sentem saudades minhas… - sentiu as lágrimas invadirem-lhes os olhos, pois estava mentindo: eles não haviam escrito ou telefonado desde a partida. Com um enorme esforço de vontade, conteve-as e conseguiu sorrir a Harry, que a observava com muita atenção – Eu…preciso de dormir – murmurou e, deslizando sob os lençóis, apoiou pesadamente a cabeça sobre a almofada – Pode ir espreitar o Padfoot antes de ir para a cama? Acho que está bem, mas…
Quando acordou com a luz do sol que entrava pelas frinchas das portadas, se lembrou de tudo. Um gemido escapou dos seus lábios, fazendo-a virar a cabeça. Um delicioso perfume com cheiro a limão fez o seu coração correr.
Harry estava a dormir ao seu lado.
Ginny ficou imóvel. Ele ficara a seu lado durante toda a noite. Lembrou da tempestade, do pesadelo, da forma como ele a despertara. Depois, o brandy, a conversa sobre os seus pais…Ele devia ter ficado com ela com medo que se levantasse a meio da noite, e que os efeitos da bebida a fizessem cair das escadas ou algo assim. Outro pensamento fez com que sorrisse. Talvez tivesse ficado ali porque não suportava estar separado dela. Suspirou. Fosse qual fosse a razão, a sensação era maravilhosa, tê-lo adormecido a seu lado para a proteger. Tentou mover-se silenciosamente, mas sentiu que a sua mão estava presa. Olhou e viu, sentindo o seu coração realizar um triplo mortal, que Harry segurava a mão dela na sua, não a largando mesmo depois de ter adormecido.
O lençol se encontrava entre os dois corpos. Harry estava deitado de barriga para cima, meio de lado, e vestia apenas a parte inferior de um pijama azul-marinho. De tronco nu, excitantemente nu e algo bronzeado, como se os ares da Itália estivessem fazendo maravilhas por ele. Olhou para ele dormindo, as suas feições serenas e firmes, a sua respiração profunda e compassada, os cabelos revoltos na almofada. A ruiva mexeu-se com imenso cuidado, soltando a sua mão e apoiando o cotovelo sobre a cama, a cabeleira ruiva a brilhar sobre o seu braço.
Foi então que soube, sem sombra de dúvida, que amava Harry Potter para lá do que imaginara ser possível. Não saberia exactamente dizer o momento em que perdera o seu coração para aquele estranho – talvez tivesse sido na manhã em que haviam tocado piano como um só, talvez muito antes disso. Talvez no momento em que os seus olhares se cruzaram pela primeira vez, ou talvez muito antes disso. Talvez antes de o conhecer, de sequer o ver, já o amasse sem saber. A noção do alcance do seu sentimento retumbava constantemente no seu peito e era um misto de grandiosidade e terror. Mas naquela manhã, enquanto tudo estava sereno e em paz com o mundo, a sensação foi deliciosa. Talvez aquela fosse a única oportunidade que ia ter para desfrutar do luxo de amá-lo tão profundamente, já que ele estava dormindo e não a observava com o seu olhar desconcertante.
Não conseguiu resistir à tentação de tocar o cabelo dele. Já antes o fizera, nomeadamente nos momentos em que se haviam beijado desesperadamente, mas aquele foi um toque diferente, tão terno como a primeira descoberta do amor. Desejou poder enrolar os seus dedos naqueles fios negros e sentir os mesmos roçando o seu rosto, nos seus lábios. E porque não? Ele ainda dormia profundamente, pelo que se aproximou. Era tal como ela imaginara: quente, suave e perfumado. Ainda que não voltasse a vê-lo, aquela imagem ficaria com ela para todo o sempre.
Harry murmurou algo, mas não acordou e Ginny continuou a observá-lo. Estendeu a mão e deslizou-a abertamente sobre o peito masculino, sem lhe tocar, apenas sentindo o calor do mesmo. E então não conseguiu se conter. Lentamente, baixou a mão até roçar nele. Queria senti-lo, sentir aquele calor com toda a sua alma. Se aproximou com os lábios e provou o seu sabor, aroma, mística. A sua excitação, a sensação de ter as pernas líquidas e pesadas, empurrou-a ainda mais. Com a ponta da língua acariciou o peito de Harry, que gemeu suavemente, ainda sem despertar. Ginny se afastou e sorriu. Era como apoderar-se do fruto proibido, ainda mais excitante e tentador porque não lhe fora oferecido. Queria possuir tudo: a sua boca, corpo, coração e espírito.
O sol, o calor, a beleza daquela ilha mágica tinham provocado o florescer de uma sensualidade que Ginny desconhecia possuir, mas que Harry retratara na sua plenitude. Talvez porque, finalmente, acabara por encontrar o seu lar…
Não, não queria pensar em nada mais. Nada mais importava, nada mais existia. Só ele, o homem que ela amava, e o sol da manhã entrando vitorioso pelas portadas. E incapaz de resistir, inclinou-se sobre a boca dele e beijou-o docemente. O sangue correu-lhe pelas veias, o coração começou a cantar, estava viva e todo o seu corpo vibrava com aquela sensação. Estava num local onde nunca antes estivera, atravessando o ar como um pássaro, livre…
Mas não estava sozinha. Harry voava com ela, a sua boca movia-se agora sob os seus lábios, levando-a cada vez mais alto. E foi então que começou a cair. Ele envolveu-a com os seus braços e, de repente, ele estava sobre ela e sorria, os olhos brilhando como ela nunca antes vira.
- Eu sabia que esse ardor não era exclusivo das discussões – murmurou suavemente, a voz rouca, ao mesmo tempo que deslizava as costas da mão pelo pescoço feminino e mais abaixo ainda, mais além do algodão da camisa de dormir – Vê? – suspirou, extasiado em tê-la nos seus braços – Tal como eu pintei você, cheia de desejo e inspiradora.
Voltou a beijá-la e Ginny não protestou. Como poderia? Por acaso, aquilo não era tudo o que desejava? Assim, deixou que tudo o que tinha no seu interior viesse à superfície. Harry abraçava-a contra o seu corpo, como se não quisesse separar-se dela nem por um segundo. A sua boca, quente e sensual, ia acendendo um rasto de fogo pela pele de Ginny. Eles estavam indo para um lugar sem volta, um lugar onde ela nunca antes fora. Ela e Dean nunca haviam ido muito mais longe do que aquilo, ela nunca quisera. O estranho é que eles haviam estado juntos por muito tempo e Harry era praticamente um estranho para ela, mas ela sentia perto dele algo que nunca sentira com o seu antigo namorado. E esse factor a mais fazia com que ela não desejasse travar dessa vez.
- Harry…- murmurou ela, mas ele a calou, apoiando os dedos suavemente sobre os seus lábios.
- Não, Gi. Nada de perguntas. Nada daquilo que você possa dizer vai interromper isso. É o nosso destino e não podemos mais lutar contra o que sentimos. Eu não quero mais e sei que você também não. Quero apenas amar você, como desejo fazer desde a primeira vez que te vi – a voz dele estava tão cheia de amor e ternura que Ginny se sentiu ainda mais inebriada. Abraçou-o e fechou os olhos, cheia de felicidade e desejando perder-se naquele fogo de paixão devastadora que os queimava a ambos.
Harry era um amante sensual e conduziu o desejo de ambos com tamanha precisão como se estivesse dirigindo uma coreografia delicada e complexa. As suas mãos percorriam o corpo da ruiva, tocando-a por cima do tecido da camisola enquanto as suas bocas se colavam e descobriam tudo sobre os lábios um do outro, sentindo que nunca se cansariam daquele beijo. Ela passava as mãos pelas costas dele, arranhando-o levemente, especialmente quando ele tomou o seu pescoço e o beijou, passando a língua pela zona onde a sua pele era mais sensível, mordendo com uma força calculada o lóbulo da orelha da garota. Harry acariciava a coxa dela, acabando por subir lentamente a mão por debaixo da roupa dela e se espantando com a suavidade e delicadeza da sua pele. Num movimento rápido ele subiu a camisola e Ginny o ajudou, levantando os braços para que ela saísse mais facilmente. Ele contemplava o corpo fresco e suave dela, admirando a perfeição das suas curvas e formas. Como ele se esquecesse de agir, ela o puxou novamente para si e ele sorriu, um sorriso malandro e feliz:
- Tudo isso é pressa?
- Você nem imagina – murmurou ela, ocupada a desapertar o cordão das calças dele, fazendo-o rir ainda mais. Dessa vez foi ele quem a ajudou, retirando a peça. A mão dele deslocou-se sobre a barriga lisa dela, até chegar num dos seus seios e, hesitando brevemente, ele a tocou com delicadeza, mostrando que não queria assustá-la nem apressar nada. Mas ela não se sentia pressionada, pelo contrário, ela o desejava tanto ou mais do que ele a desejava, com ternura mas também com uma urgência imensa. Ela gemeu com o contacto e ele o aprofundou, passando os lábios pelo peito dela e fazendo sentir que o céu era logo ali. O gemido dela pareceu deixá-lo ainda louco de desejo e a beijou, mais forte e selvagem do que antes. Cada movimento seu era calculado para proporcionar o prazer mais intenso. Cada exploração íntima do seu corpo era tão profunda que fazia aumentar o seu amor por ele como se fosse uma flor que desabrocha, animada pelo sol para que o mundo admire a sua beleza. Ela podia sentir a excitação dele, a masculinidade, ainda oculta pela roupa interior, contra o seu corpo. Ela optou por libertá-lo, sabendo que o momento estava cada vez mais próximo, mas era um conhecimento instintivo, que não necessitava de palavras, porque ambos beijavam cada centímetro de pele do outro como se tivessem a vida inteira para o fazerem.
E, à medida que o calor aumentava dentro dela, tudo mudava. Os dois eram fogo, respirando e gemendo tão rapidamente que era impossível controlá-los. Ginny suspirou, indefesa, quando Harry lhe agarrou as ancas e acariciou com os lábios a sua parte mais íntima. A jovem se arqueou até ele como se fosse um sacrifício humano. Desejou morrer naquele momento de êxtase no qual ele a saboreava até ela lhe pedir que preenchesse a necessidade da qual tão pouco sabia, mas que estava a ponto de descobrir pela primeira vez.
Mas ele continuou a retê-la, controlando a sua paixão.
- Juntos – disse, colocando-se entre as suas pernas. Olhou-a nos olhos longamente, procurando algo que o impedisse de prosseguir, mas o que ali viu apenas reflectia o seu próprio desejo, a sua paixão, o seu amor. Sorriu e brincou com os cabelos dela, tentando se conter de forma a ela ditar qual o momento certo. Ela sorriu de volta, acariciando o rosto dele e fechou os olhos. Ele beijou os seus olhos fechados, depositou um beijo profundo nos lábios de fruta silvestre dela e a jovem o puxou para si. Ginny mordeu o lábio inferior e apertou os olhos, tentando reter desesperadamente o gemido de dor que esperava, mas que não chegou e quando o momento de medo passou, tudo se transformou em fogo ao mesmo tempo que Harry se movia dentro dela.
E foi maravilhoso. Sentia o corpo queimar, a cabeça às voltas, Harry estava húmido e transbordante de força, o seu corpo palpitava e estremecia junto ao dela, até que Ginny deixou escapar um gemido forte quando o êxtase chegou, gemido que foi acompanhado pelo dele chegando também ao cume do prazer. Depois, ficou sobre ela com o rosto oculto na sua cabeleira ruiva molhada de suor, de alma, de coração.
A jovem o reteve junto de si, abraçando-o com força, enredando os dedos no seu cabelo ainda mais revolto e transpirado, livre para lhe fazer o que quisesse. Ela era dele, nem ele imaginava quanto. Harry foi o primeiro a falar, dizendo algo em italiano e em voz baixa.
- Não entendi – queixou-se suavemente, a respiração ainda descontrolada. Ele olhou-a com um sorriso quente e descontraído.
- Entenderá um dia – sussurrou – quando aprender a minha língua – Ginny sentiu-se derreter por dentro. Parecia que iam ficar juntos para sempre.
Ficaram nos braços um do outro por longos momentos, trocando carícias e sorrindo das coisas mais tolas que se lembravam de dizer, até que Harry se levantou e começou a se vestir.
- Não vai embora – reclamou a ruiva, fazendo cara de cachorro – Desafio você a voltar aqui para uma segunda volta – aliciou, mordendo o lábio com um ar sensual e rindo em seguida. Harry sorriu e se inclinou sobre a cama para a beijar novamente, lutando contra a força que ela fazia para o deitar na cama.
- Você quer um ovo ou dois para comer? – questionou ele, entre beijos. Ginny saltou alegremente da cama.
- Dez! Estou morrendo de fome – disse com um ar sério, simulando depois um desmaio. Harry nunca a vira com esse tipo de disposição, tão animada e se demorou olhando para ela. Deu um último beijo estalado na testa dela e avançou para a saída.
- Serão dez, então – retorquiu, antes de fechar a porta atrás de si.
A ruiva fechou os olhos, cheia de felicidade. Mas enquanto vestia a camisa de noite para entrar no quarto de banho, se apercebeu de algo: ele agora devia saber que ela nunca fora amante de Arthur, pois certamente deveria ter notado que tudo aquilo era…novo para ela. Ela era, mais precisamente, virgem, apesar de existir a hipótese de ele não se ter apercebido disso no calor da paixão. Enquanto abria as torneiras do duche, pensou que fora tudo tão natural entre eles…Perdera todas as suas inibições porque Harry a fizera sentir-se amada e sensual.
Mas enquanto a água morna lhe corria pelo corpo abaixo, as preocupações começaram a aumentar. Agora que fizera amor com ele e que iam estar mais unidos, o assunto de Arthur voltaria à baila e Harry iria fazer a pergunta temida: se não é amante do Arthur, porque andava à procura dele? Ficou imóvel. Toda a felicidade que antes sentia começou a se desvanecer. Como é que podia fazer parte da vida do homem que amava se…O medo apoderou-se do seu interior e, a tremer, saiu do banho, sentando-se na beira da cama e limpando as pernas com excessivo vigor.
Conseguiria continuar a guardar aquele doloroso segredo? Poderia conhecer o seu verdadeiro pai e não revelar a sua identidade? Estar tão perto dele e não poder alcançá-lo devido ao amor que nutria por Harry…
- Você é uma idiota, Ginny Knight! – repreendeu-se em voz alta. Devia ter confiado nele desde o início, mas não pensara na possibilidade de se apaixonar – Tenho que contar tudo agora…A verdade, toda a verdade e nada mais do que a verdade.
Levantou-se e tirou alguma roupa do armário. Olhou para as suas coisas. Desejava tanto parecer sensual naquela manhã para que Harry a admirasse. Insegura, tirou o vestido azul que ele lhe oferecera no primeiro dia e que estava pendurado no fundo. Não podia vesti-lo, claro. Aquele vestido pertencia a…alguém. Quem quer que fosse a proprietária do mesmo, talvez continuasse a fazer parte da vida do moreno.
- E devia ter descoberto isso antes de ser tão…tão…inocente e lhe dar meu coração – murmurou para si mesma. Fechou a porta num estrondo. Que ridículo! Era ela quem ocupava a vida dele naquele momento e não a dona do vestido! Acabou por vestir a sua própria roupa e penteou o longo cabelo ruivo até deixá-lo suave e brilhante. Estava decidida a que nada lhe arruinasse aquela manhã.
- Pensa de forma positiva – disse ao seu reflexo no espelho – Depois desta maravilhosa manhã com Harry, não tem nada a temer. E quando lhe disser a verdade, ele compreenderá porque te ama.
Estava já no último degrau das escadas quando o telefone tocou. Ele apareceu de imediato.
- Tenho bacon no lume, Gi. Pode tirar antes que se queime? – pediu de passagem. Ginny sorriu e entrou na cozinha, mas se deteve junto à porta ao ouvir a ansiedade do tom de voz de Harry.
- Não, Arthur, de maneira nenhuma! – ela o ouviu dizer, e depois mudou para um rápido italiano. O facto de estar a falar com o seu pai e de se mostrar aborrecido, fê-la se sentir de uma forma algo estranha. Tirou o bacon da frigideira, desligou o lume e se virou para olhar na direcção do local onde se encontravam os preparativos para o pequeno-almoço. Abriu a porta do frigorífico para tirar os ovos e se deteve.
Olhou para o quadro onde se encontrava a emblemática fotografia e, apesar de já a ter visto por inúmeras vezes, pareceu diferente naquele dia.
E soube de imediato porquê. Claro. Engoliu em seco e estudou-a detalhadamente, esperando estar errada…mas não estava. A sua meia-irmã vestia o vestido azul que Harry lhe dera no primeiro dia.
Quando este regressou à cozinha, já ela se convencera de que aquele facto não tinha importância alguma. Devido à proximidade de ambas as famílias, era provável que fossem unidos, mas isso não queria necessariamente dizer que mantivessem qualquer tipo de relação mais íntima… As suas mãos tremiam tanto que deixou cair os ovos no chão, mas ele não notou. Estava de pé, junto à porta da cozinha, com os ombros tensos, olhando para o terraço e para o jardim. Não disse nada. Parecia que nem ela existia. Ginny limpou o chão e também não falou. Algo mudara com aquele telefonema. Parecia diferente. E ela também se sentia diferente.
- Tenho algo para te dizer – adiantou ele com um tom de voz grave – Devia ter dito desde o início, mas na altura não me pareceu necessário. Agora que as coisas mudaram entre nós…
- Não…não se preocupa – respondeu ela, sentindo-se tão fraca quanto uma folha caída de uma árvore numa manhã de Outono – Já estava à espera de algo assim. Sou igualmente culpada por permitir que aquilo acontecesse. De facto, a culpa é toda minha, por beijar você quando ainda nem acordado estava – respirou fundo – Desculpa se compliquei as coisas. Você tem razão. Sou uma ingénua. Devia ter-te perguntado se… Nem sequer sei o nome dela. A minha…a sua…a filha do Arthur…a sua namorada. Devia ter imaginado. As fotografias dizem tudo. É evidente que ela adora você e eu tinha as minhas desconfianças mas, na realidade, não queria saber a verdade. Nem queria pensar nisso. Por isso, a culpa não é sua…e…bom…quero que saiba que não tem que se sentir mal pelo que aconteceu entre nós – levantou o olhar para Harry que a olhava fixamente, mais fixamente que nunca, e o seu coração quase parou. Mas não podia deixar de falar, pois tinha que salvaguardar algum do sue orgulho e ocultar a sua angústia. - Essas coisas acontecem – tentou encolher os ombros, mas estes não responderam ao seu pensamento – Os homens e as mulheres passam a vida a fazê-lo, você…sabe…a desfrutar de puro sexo. Foi bom, mas…
- Mas? – a repentina explosão de ira do moreno sobressaltou a garota. Num segundo, ele deu dois passos e a agarrou pelos ombros com tamanha força que a magoou – Você está tentando dizer que fizemos amor e que foi apenas…bom? – gritou.
- Você está me magoando – queixou-se ela – E como se atreve a se zangar comigo? Foi o telefonema que mudou tudo, não foi? De repente caiu na real? O Arthur te lembrou daquilo que realmente pensa de mim e, claro, aquilo que você está tentando me dizer agora é que o compromisso que tem com a filha dele… – de repente ele a abraçou, e Ginny deu por si a chorar.
- Gi – sussurrou – A Belle está muito unida a mim, sim. É esse o problema, você tem ciúmes dela? – ela empurrou-o e tragou as lágrimas traidoras.
- Não tente dar a volta ao assunto! Além disso, foi você que começou a dizer que tinha algo para me contar e tinha razão: devia ter dito antes, pois isso não é nada justo…nem para mim, nem para ela.
- Não ia falar a você sobre a Belle…
- Claro! Nem sequer ela já te importa! Não diga nem mais uma palavra, Harry, porque está cavando o seu próprio buraco. Que ingénua eu fui!
- Sim, Ginny, você foi uma ingénua maravilhosa e adorável e é por isso que eu amo você – Ginny sentiu-se desfalecer perante aquela resposta ao seu ataque de histerismo.
- Você não ia me falar da Belle? – a garota se ergueu, preparando-se para ouvir agora que o forçara a confessar a verdade.
- Não, não é sobre ela que eu queria falar mas já que você puxou o assunto…A Belle não é minha namorada nem nunca foi – disse solenemente – É minha irmã.
A jovem se separou dele, tremendo. Sua irmã? Empalideceu. Belle era filha de Arthur, meia-irmã dela e irmã de Harry! As consequências a deixaram sem fala. Contudo, Harry ainda não terminara.
- Mas não somos filhos do mesmo pai. Ela é minha meia-irmã.
- QUÊ?! – Ginny sentiu que o sangue voltara a correr nas suas veias, limpando e purificando. Levou uma mão à testa para se certificar de que tudo aquilo não era um sonho, humedecendo os lábios ressequidos.
- Desculpa ter gritado com você – disse, mas não conseguiu olhá-lo. Tinha demasiada vergonha daquilo que pensara dele. Levou uma chávena de café aos lábios e bebeu tudo de um trago. A Sicília era um lugar infernal!
- Desculpa…desculpa ter pensado que a Belle e você…- sentiu um calafrio – Jamais teria adivinhado a verdade – aquele telefonema fora o motor da mudança de humor do moreno. O que lhe teriam dito? – Harry, você queria dizer alguma coisa, não queria?
- Sim, mas começou a me lançar acusações. O que vale é que acabou por me dizer coisas que revelaram a sua insegurança
- Ah, é?
- Os seus sentimentos são iguais aos meus, mas nem acredita naquilo que aconteceu – concluiu ele, sorrindo. A jovem também conseguiu sorrir. A sua insegurança e culpa por ter escondido a sua identidade durante tanto tempo, a falta de confiança em si mesma….tudo junto a empurrara para conclusões absurdas – O que eu tinha para te dizer vai ser difícil, por isso não me interrompa. Devia ter dito desde o início, mas não sabia como iriam resultar as coisas. Não imaginei que acabasse apaixonado por você.
Ginny olhou fixamente para ele, os seus olhos castanhos espelhando uma imensa felicidade.
- E você sente o mesmo por mim, Gi? – aquela repentina insegurança dele atingiu-a na alma e a jovem desatou a rir.
- Claro que sim – lançou-lhe um olhar ardente – Pode falar agora, por favor? – ele agarrou as mãos dela e as levou até aos lábios. A sua boca estava quente e cheia de amor.
- Lamento ter ficado distraído e tenso desde o telefonema. É que ontem à noite, ele me disse que…
- Ontem? Você esteve com o Arthur ontem à noite? – questionou a ruiva. Harry fixou o olhar na cafeteira e Ginny apertou as mãos, esperando pela resposta.
- Tínhamos que falar sobre alguns preparativos do casamento – mencionou cautelosamente.
- Você não o viu desde que eu estou aqui. Um telefonema não seria suficiente…?
- Eu tinha que saber – disse ele, por fim, sem afastar o olhar.
- Saber o quê? – perguntou ela, temendo a resposta.
- Eu tinha que saber se você tinha sido amante dele – ele respondeu, uma máscara de dor cobrindo-lhe o rosto. Ginny sentiu uma pontada no coração. Colocara-a à prova…antes de fazer amor com ela? – Você nunca negou e…
- E você sentia uma enorme curiosidade – interrompeu-o, carregada de amargura e levantou-se da cadeira. Aquilo a magoara imenso – E o Arthur disse a verdade? Disse que jamais ouvira falar numa tal Ginny Knight.
- Nem sequer te reconheceu – Harry também se levantou e se aproximou dela para tentar tocá-la, mas ela não deixou.
- Não me reconheceu! – exclamou, afastando-se dele.
- Gi, me ouve. Não era isso que eu queria te dizer…
- Um momento! Ele não esteve cá. E você não tem nenhuma foto minha, só…o retrato! – exclamou – O retrato que você fez! Você é um canalha! Só o fez para poder mostrar ao Arthur e se certificar se tínhamos tido uma aventura ou não! – tremia de raiva e humilhação. Harry fora capaz de mostrar aquele retrato ao seu pai? - E se ele tivesse confirmado que tivera um caso comigo, você não teria vindo ontem à noite para a minha cama. É isso que você queria me dizer?! Que não conseguia confiar em mim? Claro, esse miserável orgulho siciliano não te permitiria – começou a se afastar mas ele a deteve antes de conseguir descer as escadas e susteve-a firmemente.
- Você nunca o negou – repetiu, com os olhos escuros de raiva – Tinha que saber a verdade.
- Não devia ter precisado que eu negasse! Devia ter confiado em mim para saber que, fosse aquilo que fosse que tivesse existido entre mim e ele já tinha terminado!
- Mas nunca houve nada entre vocês. Porque é que nunca o negou? O que anda escondendo, Ginny? – ele perguntou ardentemente. As dúvidas invadiram a garota. Deveria contar-lhe ou não?
- De início, estava tudo contra mim – admitiu ela em voz baixa – Você me levantou do chão, algo que deve ter sido horrível. Suportei todas as acusações, apesar de ser doloroso e tive esperança de que, quando me conhecesse melhor, não se importasse; que fosse capaz de ver que não era como parecia. Porquê, Harry? Porque é que você precisou da confirmação do Arthur?
- Porque não se trata apenas de nós dois – replicou ele, apertando-a ainda mais – O casamento do Arthur é muito importante para a Belle, para o Arthur e para mim mesmo, mas especialmente para a mulher com quem ele vai se casar. E agora passou tudo a ser diferente devido àquilo que sinto por você. Quero que você faça parte da minha vida e tinha de ter a certeza! – insistiu ele, mas ela continuava sem compreender. - Quando eu fui buscar você a Palermo, tinha que te manter fora de circulação devido ao casamento, mas me apaixonei por você, uma complicação que eu nunca previra. Agora sei que você não teve nada com o Arthur, mas aquilo que não entendo é a razão pela qual me escondeu a verdade. Mais tarde, vai ter de me conter, mas agora não há tempo.
Ginny conteve a respiração. Que diabo estava ele a tentar dizer?
- A Lily e a Belle vêm a caminho. Andaram a fazer compras em Milão, mas o Arthur só me informou ontem à noite, depois de termos falado sobre você. Não sei, parecia distraído. Esta manhã ele telefonou para me dizer que não podia ir buscá-las e que vinham directamente para aqui, e eu não estava preparado porque ainda não tinha falado com você.
- O quê? Quem é a Lily?
- A Lily é a mãe da Belle, mas também é minha mãe, Gi. O Arthur vai casar com a minha mãe.
N/A – Muahaha, cortei mesmo no momento certo. Esse capítulo é dedicado à Barbie, que faz aniversário hoje: ele é todo seu, espero que se sinta feliz com ele. Eu acho que a NC ficou terrível, mas vocês dirão. A primeira revelação está feita (e agora as acções do harry ficam clarinhas como água) e o próximo capítulo trará respostas, respostas, respostas. O encontro de Gi com o seu pai está mais próximo do que nunca e depois disso a fic entrará numa nova fase.
E pronto, é isso! Mais uma vez, agradecida a quem lê e não deixa review (embora eu adore muito reviews e elas só me dêem vontade de escrever ainda mais rápido) (isso será chantagem?). Beijo para todos ^_^
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