O outro lado da verdade



Capítulo 2 – O outro lado da verdade


Após a exclamação quase acusatória de Ginny, o estranho olhou-a como se estivesse avaliando a necessidade de uma resposta e acabou por dizer:


- Como se você escondesse o seu nome dos olhos do mundo.


Ele ia agora concentrado na estrada, a sua face mais severa do que nunca, parecia realmente irritado com algo e Ginny, inconscientemente, levou a mão à garganta com um certo nervosismo. Levava ao pescoço um fio de prata, cuja origem os seus pais nunca haviam explicado muito bem, e nele estava pendurado um medalhão com o seu nome desenhado. Um repentino impulso de raiva, uma raiva que começava agora a ferver após todas as provações daquela dia, fê-la puxar o fio e arrancá-lo. Claro. O estranho vira o fio e por isso sabia o seu nome. Mas Firenzzi não levava o seu nome pendurado ao pescoço e ele também o conhecia, isso ele teria de explicar.


- De onde você o conhece?


- Ao Firenzzi?


A cidade estava a ficar claramente para trás, já mal se avistava, à medida em que iam avançando pelos campos com uma tonalidade levemente dourada de Verão.


- Sim, ao Antonio.


- A minha família teve problemas com ele, fomos obrigados a processá-lo.


- Você é advogado? – Ginny engoliu em seco.


- Pareço assim tão velho?! – o tom do homem aligeirara-se levemente – Não, não sou, ninguém da minha família é. Mas podemos pagar a pessoas que sejam e que façam isso por nós. Na verdade eu ainda estudo, estudei durante uns tempos nos Estados Unidos e agora voltei para a Itália.


Ginny deu por si a beber cada palavra do discurso mais longo que já ouvira sair dos lábios do estranho homem e calculou que ele deveria ter uns 19 anos, enquanto ela fizera 18. O ar sério dele, a forma como estava vestido e a sua constituição física davam aquele homem um ar levemente mais velho do que o correspondente à realidade.


- Qual era a sua situação com o Firenzzi? – perguntou ele de repente, devolvendo-a abruptamente à terra. Ginny corou. Se ele o conhecia, devia saber que tipo de homem ele era e, além disso, presenciara as acusações da signora e a sua reacção ao deparar-se com ele na piazza. Provavelmente ele já teria a sua própria teoria formada.


- Não era situação nenhuma – respondeu friamente – Não passava de um mal-entendido – esperou que aquilo encerrasse o assunto, mas aparentemente ele não estava satisfeito.


- Não há fumo sem fogo – retorquiu ele e a jovem cerrou os punhos, espetando as unhas nas palmas.


- Olha, agradeço imenso pela ajuda que me prestou – murmurou ela, tentando desesperadamente mudar de assunto – mas acho que levar-me para sua casa é um pouco demais.


Ficara novamente nervosa. Já se encontravam a quilómetros da cidade, tendo adentrado numa zona maravilhosamente verde.


- Não tem dinheiro – disse ele secamente. Ginny moveu-se desconfortavelmente no assento.


- Claro que tenho e…


- Não teria trabalhado para os Firenzzi se tivesse dinheiro – respondeu ele, mas a sua voz demonstrava um toque de desconfiança. Teria ele acreditado nas acusações da mulher de Antonio? – Eu ouvi você pedindo dinheiro para a sua ex-patroa – prosseguiu – Viaja sozinha, de mochila, algo muito perigoso num lugar como este. Tenho a sensação de que não consegue tomar conta de si própria e sou eu quem vai oferecer-lhe uma hipótese. Se fosse você, agradecia a Deus, ao Iluminado, a Alá, ou a qualquer coisa em que acredite, por ter alguém passando ali naquele momento e especialmente que esse alguém seja eu.


Ginny ficou vermelha de raiva perante tanta arrogância.


- Eu não o conheço. A única coisa que sei é que pode ser como aquele velho nojento, incapaz de tirar as mãos de cima de mim – atirou-lhe ela. Quando proferiu aquelas palavras acusatórias viu como ele apertava o volante nas suas mãos, de tal forma que os nós dos seus dedos estavam lívidos. Mas continuou sem se deter – Você me encontrou num estado muito vulnerável e agora acha que te deverei ser eternamente grata. É claro que agradeço, mas não a esse ponto – concluiu triunfante.


Ele abanou a cabeça sem a fitar.


- Olha para você Ginny. Teria que estar muito desesperado para aceitar esse tipo de gratidão.


A jovem ficou lívida, mas decidiu não suportar aquela situação durante mais tempo. Aquele homem podia ser terrivelmente atraente mas ainda lhe restava algum orgulho.


- Não o conheço, por isso, como posso confiar em você? Além disso, esta não é a minha vida. Não costumo levar com tomates na cara todos os dias, esse episódio não me define! – atacou ela - E mais, não sou idiota, tenho a certeza de que tivesse sido eu a atirar a senhora Firenzzi para o meio da rua não teria parado para levá-la para a sua casa para que ela tomasse um banho!


A ideia fê-lo rir e isso, mais que qualquer coisa, a acalmou e depois ele fez um comentário que a deixou boquiaberta.


- Ora, Ginny! – riu – Você é tudo o que eu imaginei que seria.


- O que quer dizer com isso? É a primeira vez que nos vemos na vida. Além disso, quem é você afinal? – a sua respiração alterara-se novamente.


Do bolso interior do casaco ele retirou a sua carta de motorista e lhe entregou. Ginny leu-a avidamente. Harry Potter, mas a morada era de Nova Iorque, pelo que a jovem continuou sem fazer ideia de para onde iriam. Com o sobrolho carregado, devolveu-lhe a carta e ele atirou-a displicentemente para o lado.


- Imaginei que devia ser como é vendo a expressão que fez quando caiu no chão.


- E que tipo de expressão era? – atreveu-se a murmurar, horrorizada por ele parecer ter presenciado cada detalhe da sua expulsão. Ele fez um gesto vago com a mão, não encontrando palavras para descrever o que queria dizer. Mas pelo seu ar, ela diria que ele se divertira bastante ao ver tudo aquilo.


- De incredulidade. Indignação. Feroz, tão feroz que me convenceu que poderia se levantar e surrar a signora noutra situação.


- Tem a certeza que não está em psicologia? - inquiriu Ginny com sarcasmo – Você me lê como um livro aberto.


Ele passou por cima da ironia dela: - Quer dizer que acertei na minha suposição?


- Posso ser boa mas não chegaria para todas as mulheres da rua e possivelmente de Palermo – disse, fazendo-o rir. Ginny sentiu o estômago tencionar-se. A sua fria beleza de granito ganhava vida quando ele ria, tornando-o muito atraente. “Um homem de muitas facetas”, pensou ela.


- Ela magoou você? – perguntou ele, agora sério, preocupado ao reparar na ferida no seu braço.


- Não. O meu braço raspou numa oliveira. O que acontece é que eu estava muito zangada devido a toda aquela injustiça e…podemos mudar de assunto?


Já era bastante desagradável ter de recordar como fora quando a signora a encontrara no quarto, abrindo a porta e vendo-a a debater-se para evitar que Antonio se colocasse sobre ela, e como pensara (apesar de todos os seus gritos e da forma como lutava!) que a jovem estava tentando obter os favores do seu marido.


- Acho que você devia falar sobre isso – a voz dele interrompeu os seus pensamentos – Além disso, estou curioso.


- Ah, sim?! - murmurou, sentindo-se cair num leve histerismo – Como se aquele nojento fosse minimamente atraente ao ponto de eu querer algo dele!


- Parece que já estou vendo a situação – disse Harry após um momento de reflexão – Ela expulsou você por tentar roubar o marido dela…


- Não foi nada disso – Ginny explodiu – Ela entendeu tudo errado e tentou deitar a culpa em cima de mim!


- Pode ser que você tenha sido mesmo culpada – ela sentiu o sangue fugir-lhe das veias – Você é muito bonita. Uma tentação para qualquer homem.

- Me perdoe por não agradecer o elogio – discutiu Ginny, sentindo-se à beira de uma erupção característica – mas eu nunca provoquei ninguém! – forçou-se a acalmar. Como ele podia ser tão machista?


Harry travou a fundo Em frente deles estava uma pequena aldeia onde talvez existissem pessoas acolhedoras e prestáveis. Ginny pensou que era tudo o que precisava. Puxou a maçaneta da porta. Trancada. Harry apoiara o braço sobre as costas do assento dela e Ginny podia sentir o calor da sua proximidade, o seu perfume suave mas marcante.


-Escuta Ginny. Não parei o carro para que você saísse, mas porque tenho algo para esclarecer. Sei que você foi muito maltratada hoje mas não tente me fazer o mesmo só para se sentir melhor, eu não sou Antonio Firenzzi. Quero apenas compreender e não te magoar.


Ela ergueu o queixo numa atitude de desafio, o seu cabelo ruivo a estalar de electricidade e os olhos a brilharem perigosamente: - E assim termina a lição de hoje – troçou claramente dele – Obrigado pela viagem. Será que podia abrir a porta ou é suposto partir o vidro?


Ele aproximou a mão do ombro nu dela, acabando por a pousar lá, fazendo-a sentir um calor nunca antes experimentado. Tentou decifrar o que ele estava pensando, já que o humor desaparecera dos seus olhos verdes, mas foi inútil.


- Não penso abandonar você, Ginny. Vai ficar nesse carro porque eu estou do seu lado, apesar do seu gigantesco orgulho ferido não deixar que você veja isso neste momento. Mas essa conversa foi reveladora e deu alguns frutos, não acha?

- Como assim? – ela o olhou e acabou por questionar.


- Análise de carácter. Agora você já sabe que tipo de homem sou. Eu vejo sempre os dois lados de cada situação, aprendi isso com o tempo, enquanto você é uma jovem lutadora, decidida, corajosa, orgulhosa e ardente. Conseguimos compreender quem somos e…


- Um momento – interrompeu-o – Não está indo longe demais? Qualquer um diria que temos uma relação. Acabei de te conhecer e você já pretende penetrar no meu inconsciente. Agradeço mais uma vez mas…


Impossível. Nunca seria capaz de sair daquele lugar nem mesmo que a sua vida dependesse disso, porque sentiu aquela mesma mão na nuca sob o seu cabelo ruivo. Uma carícia suave, muito suave, que a surpreendeu pelo afecto que transmitia. Olhou nos olhos dele e viu que fitavam os seus, como se quisesse entrar nela por eles, conhecer tudo o que ela era, descobrir os seus segredos. A língua dele passou suavemente pelos lábios, como que para os humedecer e ela percebeu que ele ia falar.


- De certa forma, temos uma relação. Eu ofereci a minha ajuda e estou a tentar colocar tudo da forma mais fácil para ambos. Mas para que funcione a vontade tem de ser recíproca e começo a pensar se estaria – hesitou – estou louco, em tentar ajudar você contra você mesma.


- Você não tem de ter medo de mim – Ginny murmurou.


- Muito menos você de mim – assegurou-lhe, sem deixar de passar suavemente a mão pela sua nuca – Por isso, tenta colaborar. Você é linda…ou suponho que deve ser – corrigiu, olhando para o seu estado de sujidade – E eu também tenho uma reputação a proteger – concluiu, retirando lentamente a mão da sua cabeça, não sem antes puxar, amigavelmente e sem dor, uma madeixa do seu cabelo. Posto isto colocou novamente o veículo em marcha. Ginny ficou imóvel, completamente atordoada. Com que facilidade ele dera a volta à conversa, de modo a fazer com que ela visse que aquela situação podia ser muito mais comprometedora para ele do que para ela.


- Desculpa – murmurou – Mas apenas por te deixar nervoso, prescindo do resto do sermão.


- Desculpas aceites.

E não voltaram a falar durante um largo tempo.






- Meu Deus… – murmurou Ginny encantada, erguendo-se levemente no assento.


O carro abrandara e dirigia-se por um caminho secundário que serpenteava entre árvores de fruto. Estas estavam carregadas de limões e laranjas, e a ruiva imaginou como aquele cenário deveria ser na Primavera, com as flores em todo o seu esplendor.


Um homem moreno e de rosto rugoso andava pelo caminho, conduzindo meia dúzia de ovelhas. Harry parou o carro e baixou o vidro para parlamentar com o homem em italiano cerrado e extremamente expressivo. Os dois desataram a rir e Ginny ponderou se estariam a falar dela. Esse pensamento deixou-a novamente de mau-humor. O carro voltou a deslizar pela estrada apertada e de terra batida, quando Harry falou.


- É um dos meus empregados – explicou – Esse lugar pertence à minha família há gerações incontáveis. Não dá muito lucro, mas garante emprego às pessoas daqui.


Dera-lhe aquela informação sem pretensão nem tom de arrogância. Ginny apreciou silenciosamente a forma descontraída como ele falara com o seu empregado e a sua consideração por ele aumentou…mas só um pouco.


O terreno parecia estender-se por muitos quilómetros e subitamente compreendeu que Harry Potter deveria ser um homem muito rico.


- Segundo aquilo que você disse, você divide o seu tempo entre a Sicília e os Estados Unidos. Porque é que está aqui agora? Você disse que inclusivamente estudava lá…


- Tinha que tratar de uns assuntos de família, questões pessoais. Além disso, venho para um casamento. Quando tudo tiver terminado regresso a Nova Iorque.


A jovem sentiu-se reconfortada com a ideia de a casa estar cheia de gente, familiares e criados. Um casamento…seria o dele? Tentou ignorar um aperto no peito que aquela ideia lhe transmitiu.


- De quem é o casamento? Seu?


- Não – respondeu ele com um sorriso.


“Talvez já seja casado”, pensou Ginny, olhando de lado para as mãos dele em busca de uma aliança. Nada. Talvez ele apenas não gostasse de usar.


- Você é casado? Tem filhos?


- Não – sorriu enigmaticamente. Ginny alarmou-se ao constatar que se sentira aliviada com aquela resposta.


- Acho que foi indelicadeza fazer essa pergunta – continuou ela, tentando calar o que sentia – Não teria insistido para que viesse se fosse casado – só depois de proferir as palavras reparou que pareciam uma insinuação de que as intenções dele não eram as mais nobres, o que a fez corar.


- Agora já sabe quase tudo sobre mim – E você, Ginny? O que veio fazer à doce Sicília? – a pergunta soou mais cínica do que curiosa, o que a deixou desconfortável por não compreender de onde viria aquela atitude.


Na defensiva, cerrou os lábios. Não queria parecer ingénua e desesperada com aquela história da busca pelo seu pai biológico. Mas estava prestes a admiti-lo, quando ele disparou outra questão:


- Porque estava trabalhando para os Firenzzi?


Aquilo não ia nada bem. O que iria pensar dela se lhe confessasse que fora idiota ao ponto de se deixar roubar, confiando as suas coisas a uma jovem de uma pousada, que lhe apresentara um moço com quem saía que, por sua vez, lhe falara nos Firenzzi: uma família que procurava uma jovem inglesa para olhar pelos filhos e que falasse inglês com eles? Aquela história era digna de vir no dicionário como exemplo para o significado da palavra “ingenuidade”. Resolveu tentar melhorar um pouco o aspecto das coisas.


- Fiquei sem dinheiro sem me aperceber disso – admitiu – Ouvi dizer que eles procuravam uma pessoa e…bom, aceitei o trabalho apesar de meio desconfiada. O resto você já sabe.


- O que nos leva à pergunta inicial – suspirou ele – O que veio fazer na Sicília?


- Conhecer a ilha. Viajar – mentiu ela, rezando para que pegasse. Não pegou.


- Não acredito – murmurou ele – Disse que ia se encontrar com o seu namorado na piazza mas o seu pretendente parece não se ter materializado. Será que você combinou um encontro com Antonio, mas mudou de opinião porque eu era melhor partido? A verdade, Ginny. O que você faz aqui?


Incrédula, só foi capaz de olhá-lo com os olhos castanhos pestanudos muito abertos. Tinham parado junto a uma vedação de ferro e ela nem notara. Não sabia o que existia para além dali e nem queria saber. Os seus olhos estavam pregados nos dele.


- Como ousa insinuar isso? Isso já foi longe demais, nego-me a ser interrogada como se isso fosse um julgamento e eu uma condenada. Me deixa sair!


Mas claro que ele não deixou. Os olhos dela continuavam nos dele e, de repente, pensou que aquele homem a poderia levar à loucura. A sua presença fazia ferver o seu sangue, era capaz de ir do ódio ao conforto em um segundo. Aquele estranho entrara na sua vida e parecia colado, não queria sair dela de jeito algum. Numa tentativa desesperada, tentou imaginar o rosto de Dean, tentou representar na sua mente as suas feições suaves e limpas, mas foi-lhe completamente impossível. Nem da cor do cabelo exacta ela conseguia se lembrar. Ali, naquele momento, ela teve também a certeza terrível de que, ainda que não voltasse a ver Harry para o resto da vida, os seus traços ficariam para sempre marcados na sua mente.


- Deixa eu ir – implorou fracamente. Ele sorriu brevemente.


- Acho que não – respondeu, enfiando uma mão no bolso interior do casaco. Ginny sentiu uma horrível tensão. O que é que ele iria tirar daquele bolso? Suspirou, aliviada, ao ver um comando remoto que accionava os portões à distância. Ele pressionou um botão e o carro ficou com o caminho desimpedido para avançar. Lentamente, Ginny viu surgir diante dos seus olhos aquilo que parecia uma fortaleza. Altos muros de pedra amarelada erguiam-se contra o céu e a majestosa mansão parecia esconder-se do sol com um abraço de árvores centenárias à sua volta. Aquela visão deixou-a sem ar. Era tudo tão…mágico: verde e luxuriante, o jardim bem cuidado era um festival de cores e aromas. Contemplou avidamente as rosas, lírios, cravos. Observou também a existência de diversas estátuas de mármore branco, homens e mulheres nus, deuses e deusas das civilizações clássicas.


Em condições normais, Ginny não se teria deixado amedrontar por toda aquela grandeza, mas sob a influência dos estranhos acontecimentos das últimas horas sentia-se como um burro olhando para um palácio. Pararam na porta principal e Ginny contemplava encantada a beleza do edifício quando notou que Harry a olhava, ambos ainda no interior do automóvel.


- Bom, Ginny Knight. Chegámos. Prometi a você um banho e um descanso e vou cumprir o prometido, mas quero algo mais de você.


A jovem sentiu o medo apertar-lhe o estômago. A cabeça começou a dar voltas. Ginny Knight. Não tinha o seu último nome, o nome dos seus pais adoptivos, gravado no fio. E ela também não lho dissera.


“Ele sabe quem eu sou”, concluiu sem dúvida. Saiu do carro num ápice seguida dele, que tinha a sua mochila na mão.


- Você sabe quem eu sou – afirmou em voz baixa.


- Sim, sei quem é, mas não o que é. Apesar de ter a certeza de que em breve descobrirei. É melhor entrarmos para nos refrescarmos e colocarmos mãos à obra.


Ginny pensou que iria desmaiar. Tentou apoiar-se no carro para não perder o equilíbrio, mas teve de recuar pois o sol batia na chapa do carro fazendo-o queimar. Harry já caminhava com passo decidido até à porta da casa e a única coisa que a fez mover-se foi a certeza de que assim que a porta se abrisse um batalhão de criadas e tias estariam a aguardá-los. Precisava urgentemente de ver gente. Estava começando a sentir-se uma espécie de refém.


“Este homem sabe quem sou. Ele admitiu, mas como é possível, porquê? Que tipo de obra tem ele em mente?” – um arrepio cruzou-lhe a espinha e devido ao dia quente não havia hipótese de ser frio.


- Um momento! – gritou-lhe. Harry virou-se e deixou cair a mochila, cruzando os braços.


- O que se passa aqui? Você sabe tudo sobre mim, e eu nada sobre você. Me ajudou e agora… – parou. Só então percebeu e a verdade lhe bateu com uma força enorme. Ele surgira na porta da casa dos Firenzzi deliberadamente e não por acaso, como dera a entender. Harry Potter fora buscá-la.


- Eu não entendo nada – sussurrou, os seus olhos ameaçando marejar.


- Eu acho que você entende, Ginny Knight – afirmou ele, por fim – Acho que você é muito mais esperta do que parece. É verdade, o que faz você da vida?


“Han? O que isso tem a ver?” – pensou Ginny, mas optou por responder – Eu pinto. Miniaturas sobretudo. Flores, animais, cartões de parabéns.


- Bom, nesse caso tem muito por aqui com que se entreter, não precisa de se intrometer no casamento. Assim que tudo terminar, pode ir embora, claro. Nem precisa de se preocupar com o dinheiro. Quando finalizarmos o nosso assunto, você terá dinheiro suficiente para regressar a Londres em primeira classe. Não penso vender você a um preço barato – virou costas e entrou em casa, deixando Ginny surpreendida e confusa.


Aquilo só podia ser um pesadelo. Ou ele podia ser bipolar. Ou era um caso de confusão de identidades. Era um terrível erro, só podia ser. E ela ia esclarecer tudo agora mesmo. Segui-o rapidamente para o interior da casa, detendo-se bruscamente na entrada. Não havia empregados, nem parentes. Ninguém.


- Bem-vinda a minha casa – disse ele, sem qualquer amabilidade, cruzando os braços – É uma pena, mas não tenho criados. Estamos aqui só nós dois.


- Você é doido…- constatou – Positivamente insano! - como se as suas pernas tivessem vontade própria marchou até parar bem diante dele e ergueu o rosto para olhá-lo nos olhos - Não faço a mínima ideia do que passa aqui, Harry Potter. Por outro lado, não duvido de que me irá esclarecer oportunamente. Onde está o banho que você me prometeu? Pode ter sido uma desculpa para me trazer até aqui, mas a verdade é que estou necessitada. A conversa fica para depois – o seu ar era de desafio completo.


Harry arqueou as sobrancelhas negras sobre os seus espantosos olhos verdes.


- Não está pensando em começar a gritar como uma histérica pela janela do quarto de banho, pois não? – o escárnio acendeu os seus olhos.


Um sorriso de gozo chegou aos lábios de Ginny com uma certa facilidade: - Deixarei toda a histeria para você quando descobrir o erro que cometeu – baixou o olhar até à camisa dele – Além disso, não posso levar a sério um homem cuja camisa está cheia de sementes de tomate.


Triunfante como uma rainha, deu meia volta e encaminhou-se até à escadaria que subia, orando para que os duches das mansões sicilianas ficassem no andar de cima. Harry não tentou detê-la e Ginny, com a máxima dignidade de que foi capaz, começou a subir as escadas. Ouviu-o a rir-se para si mesmo e mordeu o lábio. Ele estava a rir-se dela. Quem dos dois estaria mais louco? Não demoraria muito a descobri-lo.



N/A – No próximo capítulo algumas atitudes do Harry podem ficar mais claras…ou não! muahaha. A confusão vai começar, só espero que não me matem antes pela enrolação desse capítulo! XD
Para todas as pessoas que deixaram review ou leram um muito obrigado, graças a vocês o capítulo voou das minhas mãos e o completei em apenas dois dias. Espero que continuem gostando, qualquer crítica é muito bem-vinda. Agora vou tentar escrever também um pouco da minha outra fic, embora esta saia mais facilmente porque todo o enredo está bem na minha cabeça.










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