VII- Entre um disfarce e outro
- Quer dizer que eles pensam que seus pais são assassinos? – perguntou Hermione, atônita.
Ela, Harry e Ron haviam se reunido no quarto dos garotos. Hermione levara o café para eles, já que Harry se recusava a descer. Ron estranhara um pouco que a garota tivesse demorado tanto, mas logo Harry começou a contar o que acontecera na noite anterior, e Ron o ajudou com os detalhes.
O quarto que os dois garotos dividiam era pequeno e simples. As paredes de madeira, cobertas com um papel de parede mofado lhe davam um ar sombrio que lembrava muito a casa dos Black. Uma recordação nada agradável. Duas camas de madeira puída ladeavam o quarto e, entre elas, havia uma escrivaninha caindo aos pedaços. Cortinas beges cobriam as janelas, deixando o cômodo pouco iluminado e com um ar morno. Não seria tão ruim, se não fosse o cheiro de naftalina.
- Mas, vocês têm certeza de que foi isso que ela disse? Não falou mais nada a respeito?
- Falou, e como falou. – comentou Ron, sentado ao lado dela, em uma das camas, de fronte a Harry. – Mais cinco minutos e eu ia começar a cobrar a hora! A mulher começou a desabafar, falou do marido que morreu, que ela se casou de novo e teve duas filhas...
- Estou perguntando sobre a morte dos Potter! – interrompeu Hermione impaciente. – Ela disse mais alguma coisa?
- Não! – respondeu Harry, friamente, mantendo a cabeça baixa e o olhar tenso. – Mas o que ela disse foi o suficiente, não foi?
Harry não se conformara com tamanho absurdo. Como, como podiam pensar aquilo de seus pais? Achar que haviam matado seus avós friamente e depois se suicidado? Era ridículo!
Harry sentia cada fibra se seu ser, invadida por uma fúria descomunal.
Não dormira a noite toda pensando nisso, acumulando ódio, remoendo-se em lembranças. Lembranças das vezes em que ouvira Sirius falar de James e Lily, e depois a voz de Sarah dizendo tudo aquilo... era revoltante!
- Olha, Harry. – começou Hermione calmamente. – Eu sei que é difícil pra você aceitar, mas eles são trouxas, só tentaram encontrar uma explicação...
- Explicação? – interrompeu Harry, mirando-a furioso – E isso lá é explicação?
- Pensem bem, - tentou a garota novamente. – os trouxas presenciam assassinatos assim o tempo todo e o Ministério têm de contornar a situação, arranjando explicações cada vez mais mirabolantes! Não me surpreende que eles tenham reagido assim...
- Mas eles poderiam simplesmente acreditar que alguém tinha assassinado os quatro! – comentou Ron.
Hermione parou um segundo e concluiu:
- Bem, pensem no seguinte: Os avós do Harry foram encontrados mortos, uma testemunha viu duas pessoas encapuzadas cometendo o crime. Depois os pais do Harry aparecem mortos na casa dos Potter, aonde, inexplicavelmente, os corpos dos dois primeiros mortos estavam enterrados... o que vocês queriam que eles pensassem?
- Qualquer coisa, menos que meus pais eram assassinos!
- Mas não havia motivo pra eles pensarem que os dois cometeram suicídio! – conclui Ron.
- Havia sim! – disse Hermione com convicção – Avada Kedavra não deixa vestígios! Esta é uma cidade pequena, eles não se deram ao trabalho de investigar muito, deduziram que eles haviam se envenenado ou coisa do tipo. Os trouxas são crédulos demais, acham que qualquer um pode ser criminoso se houverem testemunhas ou provas... mas quando se trata de magia, somente bruxos podem identificar a verdade.
Harry baixou a cabeça novamente. Hermione poderia ter razão, mas ele não iria aceitar, estava furioso.
- Harry, - disse Hermione num tom amigável, fazendo-o olhar para eles. – nós sabemos o quanto está chateado – Ron concordou com a cabeça – mas nós estamos nisso juntos. Viemos aqui pra esclarecer tudo de uma vez, e pra isso vamos ter que enfrentar muito mais do que trasgos ou comensais ou até mesmo Voldemort! Vamos ter que enfrentar seu passado, Harry. Mas vamos enfrentá-lo juntos, ta bem?
Harry compreendeu o que Hermione quis dizer imediatamente. Mesmo depois de todas as derrotas, de todas as perdas que sofrera, ele sabia que sempre poderia contar com seus melhores amigos.
- Mas e ai cara? – comentou Ron com um sorriso. - Pronto pra atuar lá embaixo como se nada tivesse acontecido?
Hermione olhou feio para Ron e pisou em seu pé.
- Ai, Hermione! Que foi que eu fiz?
Ela olhou-o novamente e deu um sorrisinho para Harry.
E, pela primeira vez em dias, Harry deu uma gostosa risada.
Um andar acima deles, Ginny andava de um lado para o outro, aflita.
"Acalme-se, acalme-se! Não faça nenhuma besteira! Não estrague tudo agora!"
Era quase impossível conter tanta ansiedade, Ginny não agüentava mais ficar trancada naquele quarto. Acordara sedo demais e, desde então, buscava maneiras e maneiras de se conter para não sair correndo e bater à porta do quarto de Harry.
Hermione levara uma bandeja farta de comida para ela, e descera para tomar café com eles. Não que fosse um propósito deixar Ginny sozinha naquele estado, mas precisavam se prevenir, disfarças ao máximo.
Hermione dissera que voltaria no horário do almoço para que as duas conversassem melhor, mas esperar todo esse tempo era desesperante.
Ginny olhou no relógio de bolso que Hermione lhe emprestara.
Já estava perto da hora do almoço, finalmente.
Tentando se controlar, Ginny deitou-se na cama e fechou os olhos. Nada, estava agitada demais para relaxar.
Ela ouviu passos ao longe.
"Temos mesmo que almoçar com eles?"
Era Harry, sim era a voz dele. Nunca se enganaria.
Ginny sentiu o coração afundar no peito, levantou-se e foi até a porta. Encostou o ouvido na madeira, só ouviu o barulho do bater de algumas portas, porém.
Quanto tempo mais iria durar aquele tormento?
Mais um dia quente e abafado, lá fora não havia movimento, apenas uma ou duas pessoas circulando com carrinhos de mão levando abóboras para fora da cidade. O céu estava claro como nunca, nem sinal de nuvens.
- Vamos Harry, entra!
Harry, Ron e Hermione estavam parados em frente a porta da sala de jantar. Pelo corredor abafado ecoavam as vozes das pessoas conversando lá dentro.
- Não sei se consigo se quer olhar para a cara deles!
- Tente, Harry. Viemos aqui por uma causa maior!
- Hermione tem razão, Harry... e eu estou morrendo de fome, sabe! Sinta o cheirinho da comida que você já se anima!
Harry encarou a maçaneta. Teria de ser frio como nunca fora antes, deixar a raiva de lado e fingir naturalidade.
Decidido, ele abriu a porta.
Assim que os três adentraram a sala, todos param de falar. Sarah mirou Harry assustada, como se esperasse que o garoto a atacasse de alguma maneira.
O Sr. e a Sra. Gordon se entreolharam rapidamente e baixaram os olhos para o prato. O mesmo fizeram o Sr. e a Sra. McGuire.
Durante aqueles segundos em que ele, Ron e Hermione permaneceram parados à porta, Harry sentiu a raiva se esvair e um constrangimento súbito substituí-la. Hermione tinha razão: eles eram trouxas, não tinham culpa de nada, no final das contas.
- Ora, vejam! – a Sra. Pumpkins se dirigia a eles com um enorme sorriso de orelha a orelha, uma luva de pano evolvendo uma das mãos, vestindo um hobby de grossa lã. – Entrem queridos! O almoço está na mesa, já ia chamar vocês.
Ela segurou Harry pelo braço e puxou-o para dentro. Ron e Hermione os seguiram até um extremo da mesa.
Harry logo compreendeu o por quê da pressa de Ron em entrar, o cheiro da comida estava fantástico. Na mesa, havia travessas e mais travessas de comida. Uma abóbora recheada enfeitava o centro, ladeada por uma travessa de carne e um tacho cheio de arroz.
- Ora, – a Sra. Pumpkins parou de repente. – falta um lugar.
- Não se preocupe! – disse Hermione rapidamente. – Eu almoço no meu quarto, sem problemas!
- O quê? – exclamou Ron, que pouco antes admirava uma bela travessa de macarrão. – Pra que almoçar sozinha Hermione? Está escondendo alguma coisa da gente?
- Não – respondeu a garota prontamente, embora, Harry notara, parecesse um pouco apreensiva em sua afirmação.
- O que você tanto faz naquele quarto? – perguntou Ron, perplexo.
- Nada, Ron! Só não quero atrapalhar, não me importo em almoçar sozinha.
- Tudo bem, então. – disse Harry, tentando evitar uma nova briga. – Nós vamos falar com você, mais tarde...
- Não! – exclamou Hermione.
Ron e Harry se entreolharam.
- Podem... podem deixar que eu desço pra falar com vocês, depois que almoçar.
- Tem certeza de que está tudo bem, Hermione? – perguntou Harry, antes que Ron pudesse questionar.
- Claro, - respondeu Hermione. – vou fazer meu prato.
Enquanto Harry e Ron preenchiam os pratos, Hermione servia uma bandeja. Mal Harry piscara, Hermione já desaparecera pela porta. Ele teve a leve impressão de ver dois pratos fartos sobre a bandeja que ela carregava.
- Então, - começou a Sra. Pumpkins sentando-se ao lado de Harry, olhando para cima, pois o garoto era bem mais alto que ela.- o que os trouxe a Godric's Hollow?
- Bem, - disse Harry incerto do que deveria ou não contar. – estamos só de passagem, encontramos esta cidade por acaso...
- Que bom, muito bom! – interrompeu a Sra. Pumpkins com um largo sorriso. – Querem dar uma passeada pelas redondezas?
Harry e Ron se entreolharam, Ron afirmou com a cabeça, a boca cheia impedindo que falasse.
- Seria... seria ótimo! – respondeu Harry.
- Eu poderia levá-los. – disse Sarah timidamente.
- Não! - respondeu Harry friamente, olhando-a nos olhos. – Não é necessário!
Todos à mesa se entreolharam.
- É perigoso se perderem. – explicou a Sra. Pumpkins.- Eu gostaria muito de acompanhá-los.
- Seria ótimo! – agradeceu Ron de repente, fazendo sinal para que Harry se calasse.
- Então está certo! – anunciou a Sra. Pumpkins. – Eu vou mostrar-lhe a cidade menino. E seu amigo vai conosco. Sua namorada também, claro.
- Namorada??- indagaram Harry e Ron ao mesmo tempo.
De quem ela estava falando afinal?
- Pois sim, - continuou ela, ainda sorrindo. – a garota!
Ron engasgou-se e tossiu um pouco.
Harry, compreendendo o que ela dissera, quase caiu no riso.
- Ela não é minha namorada! – disse Harry rapidamente.
- É CLARO QUE NÃO É! – concluiu Ron olhando de Harry para a velhinha, como se esperasse que ela caísse em si.
A Sra. Pumpikins ficou um pouco confusa.
- Bem... é que eu pensei...- ela parou um segundo e sorriu, como se tivesse compreendido. - Oh, sim! Claro... – ela deu uma piscadela para Harry. – não é... sei...
Harry olhou para Ron, esperando que ele achasse graça, mas o ruivo olhava tenso para ele, como se esperasse que Harry obrigasse a Sra. Pumpkins a aceitar que, ele (Harry) e Hermione, não eram mais que amigos.
Harry fez esforço para não rir da situação e começou a comer.
***
- Já estava na hora!!
No andar de cima, Ginny ajuda Hermione a levar a bandeja até uma das camas.
- Desculpe a demora, Ginny. Eu tive que disfarçar ao máximo. Eles já estão um pouco desconfiados.
As duas se sentaram e ajeitaram os pratos.
- E o Harry? – perguntou Ginny interessada. – Como... como ele está?
Hermione sorriu.
- Está bem, Ginny. – disse ela calmamente. – Um pouco triste pelo que aconteceu ontem...
- O que aconteceu ontem? – indagou Ginny, aflita.
- Calma,- pediu Hermione, servindo-se de suco de abóbora. – tudo a seu tempo. Antes de tudo, a senhorita me deve uma explicação: Como nos encontrou?
Ginny sentiu um orgulho enorme de si mesma por Hermione ter-lhe perguntado aquilo.
Não que ela não pensaria a mesma coisa em seu lugar, e bem antes que ela, porque Hermione era muito inteligente, mas porque soubera usar informações "desnecessárias" para conseguir alcançar seu objetivo.
- Se eu for contar agora, a comida vai esfriar! – respondeu Ginny.
- Tah, bem. – concordou Hermione.
Alguns minutos mais tarde... (N/A: eu não fui feliz nessa ¬¬ )
- Pronto! – disse Hermione, enquanto ajeitava os pratos vazios sobre a bandeja e fazia desaparecer os restos de comida e bebida, deixando a louça limpa e arrumada. – Agora me diga: Como foi que você nos encontrou, afinal?
- Bem, - começou Ginny sorridente. – eu tive uma certa ajudinha... – a ruiva foi até o armário, abriu uma das gavetas e começou a procurar.
- Achei! – anunciou Ginny depois de algum tempo, trazendo até Hermione uma caixinha de madeira. – Isto aqui foi a minha salvação! – ela abriu a caixinha, delicadamente, e tirou de dentro dela uma moeda dourada.
Os olhos de Hermione brilharam quando a garota identificou o pequeno objeto.
- Não acredito! É a...
- Moeda da A.D.! – completou Ginny.
Hermione pegou a moeda e começou a observar cada detalhe, como se lhe trouxessem lembranças de momentos felizes.
- Nossa... mas, - ela parou e mirou Ginny com o olhar perplexo. – como foi que ela ajudou você?
- Bom, - explicou Ginny, ainda sorrindo. – não foi só ela. Deixe que eu explique tudo desde o começo!
Hermione concordou com a cabeça, ansiosa para ouvir.
Ginny recomeçou:
"Um dia depois que vocês saíram, Fred e George foram almoçar lá em casa! Eu estava muito deprimida, não tinha vontade de fazer nada. Então, mamãe achou que, se eles ficassem por lá um pouco, eu ficaria mais animada. Eu ouvi os dois conversando com papai, sobre os produtos da loja de logros. Papai disse que estava preocupado com o problema do 'Pó Escurecedor', mas George garantiu que não havia mais problemas.Ele e Fred, disseram que haviam posto um feitiço na embalagem de cada um dos produtos, que todo o produto que fosse exatamente igual ao que eles haviam enfeitiçado, poderia ser encontrado fosse qual fosse a distância. Assim, eles saberiam onde os produtos perigosos estariam e quem os usaria. Eu perguntei qual era o 'tal feitiço', por pura curiosidade, e eles me ensinara a fazê-lo. Mamãe ficou preocupada, achando que eles poderiam detectar produtos 'parecidos', mas Fred disse que somente os que fossem 'exatamente' iguais poderiam ser encontrados."
- Você não está querendo me dizer que...
- Usei o feitiço nas moedas da A.D.! – completou Ginny orgulhosa.
- Brilhante! – exclamou Hermione entusiasmadamente. – Realmente, Ginny, você foi brilhante!
- Só somei dois mais dois, Hermione! Não foi tão difícil. A localização exata de onde vocês haviam acampado apareceu na própria moeda, foi bem prático!
Hermione ficou parada por um instante, a mente trabalhando a todo o vapor.
- Ginny, - começou ela formando um sorriso triunfante nos lábios. – você acaba de me dar uma idéia!
- Dei é? – indagou Ginny, perplexa.
- Me explica direitinho como se faz esse feitiço! – disse Hermione.
- Por quê?
- Eu tenho planos para esta moedinha!
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N/A: Demorou não é?
Semana de provas, fim de bimestre... ¬¬
Mas estou de volta!
Tah, eu sei que posso estar sendo uma chata por deixar enigmas no final de cada capítulo, mas assim fica ainda melhor de ler o próximo ><
Este não foi um dos mais cumpridos, mas eu tento não deixar muuuito grande porque não sou muito de capítulos gigantescos, acho que pode cansar o leitor, claro que depende de quem é o leitor.
Assim fica um certo suspense no ar xD
Espero que estejam gostando!
Próximo cap. em breve... mais breve que este ^^
Já tenho tudo na cabeça, então, se a criatividade ajudar, o capítulo 8 sai até quarta.
Beijão a todos que me presentearam com esses 97 comentários!
E a todos os leitores que não são muito de comentar, mas mesmo assim estão acompanhando a fanfic e colaboraram para as mais de 1300 views! ^^
Ah! Mais uma vez eu peço paciência!
O encontro H/G vai ser o clímax da fanfic, e *TCHAN TCHAN TCHAN TCHAN* falta pouco pessoal, menos do que vocês imaginam! ><
Então...
O que acharam desse cap.? ^^
\o/____COMENTEM_____\o/
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