Sem Chance
N.A.: *achando que gostou muito do capítulo pra ele ter saído tão rápido...*
Prizinha: Sério? Tomara que você não desista da história por causa dos efeitos colaterais! Valeu!
B.Black: Esse capítulo fala mais sobre o Remus, mas beijo mesmo vai demorar pra acontecer ainda... Mas não perca as esperanças, vai acontecer! Obrigada!
Ana Carolina_Patil: Eu sei que você não é uma histérica assassina, foi só uma piadinha pra descontrair *com a espingarda do lado do computador* Que bom que você gostou, mas não torça pelo Snape ainda, porque muitas águas vão rolar! Ah, e adorei a sua história mesmo! Beijos!
Gabriela Twilight: Não havia como o James não deixar de estar confuso... Mas, aos poucos, eles vão se acertando. E o Remus não podia saber que a Lily sabia que o James e o Sirius gostavam dela, por isso acabou contando... Se soubesse, teria ficado bem quietinho. Pois é, até eu me surpreendi com o Severus... E esse é só o começo! Atualiza logo lá as suas fics... Valeu!
Ana Bolena Black: É... Vozinha sinistra essa voz nova, né? Elas vão se opor de vez em quando, criar uma confusão danada na cabeça do nosso amigo Prongs... Que legal que você gostou da música! Eu achei que combina direitinho com o capítulo... Continue lendo, e beijinhos!
Nice Grint: O Severus, isso é só o começo... Ele ainda vai fazer um punhado de coisas nessa história... E quanto ao Sirius e ao James, a paz vai durar bastante, mas ainda assim é temporária... Senão não teria história! Tô esperando pelo capítulo 4! Valeu!
Thássia: Acho que você vai ficar com mais dó ainda do Remie... A história promete ser tragédia e mais tragédia pra esse pobre coitado que tem o azar de ser o meu personagem preferido. As aulas, são as aulas da fic em geral, de todos os capítulos. Fique bem atenta! Beijos!
Morgana Lupin: Puxa, Morgana, eu não vou poder te adicionar no MSN... Pelo simples fato de que eu não tenho MSN. *o ser mais atrasado do planeta* Sei lá, é tanta coisa pra fazer que eu sempre acabo esquecendo... mas se eu fizer eu te adiciono, OK? Que bom que está gostando da fic! Continue acompanhando!
Daan: Que bom que você gostou da história! Continue acompanhando! Valeu!
N.A.: Quero falar um pouquinho sobre o capítulo. Eu devia andar particularmente deprimida essa semana, para sair o que saiu... Embora eu tenha gostando do resultado final. Sem Chance me surpreendeu: não era um capítulo que eu estava planejando desde o começo, e nem ia acontecer nada importante, mas ficou legal assim mesmo... Já contei a vocês que adoro Hoobastank? Sem Chance não ia ter música até eu ouvir Disappear e me dar conta que era perfeita! Eu vou usar outra música do Hoobastank no próximo capítulo, que vai ser James/Lily total. Espero que gostem!
Você sabia que toda vez que está perto
Todos parecem distantes?
(Hoobastank — Disappear)
Quatro dias depois. Dormitório dos Marauders.
Era uma da madrugada do dia 22 de novembro, e Remus acordou de repente, se sentindo levemente enjoado. Como se alguma coisa ruim tivesse acontecido.
Tentou voltar a dormir, mas não pôde. Alguma coisa tinha se desarranjado no seu cérebro, e tentou lembrar com o que estava sonhando. Não foi nenhuma surpresa saber que estava novamente sonhando com Lily.
Ela povoava seus sonhos e pensamentos a todo instante. E o pior era saber que, naquele dormitório, havia mais duas pessoas que sonhavam com Lily. Remus tinha um sono leve e olhos muito rápidos; e não foram poucas as vezes que ele vira Sirius acordar arfando, suspirando o nome dela, ou ouvira James fazer algum movimento muito brusco, e despertar suado, indo para o banheiro lavar a cara.
Já não adiantava mais tentar pegar no sono.
“Parabéns, Remus, mais uma noite perdida…”, pensou ele com um suspiro, se levantando.
Não era a primeira vez que acordava subitamente de noite e não conseguia pregar os olhos. Nessas horas, ele simplesmente apanhava algum livro de mil páginas que estivesse lendo (geralmente sobre Poções), ia para o dormitório, iluminado sobre a fraca luz da lareira, e ficava lendo até o amanhecer. Se bem que agora preferia tomar um leite quente.
Porém, para pegar um leite quente, ele teria que descer até o térreo, para em seguida pegar os degraus de pedra que levavam até as cozinhas. Não valia o risco.
“Lily vale o risco?…”
(Há uma dor que dorme aqui dentro)
It sleeps with just one eye
(Ela dorme com um olho só)
Lily valia qualquer coisa que ele pudesse dar. Mas… não valia James e Sirius. Não que ele não a amasse, ele a amava mais que tudo na Terra, amava-a tanto que sentia seu peito se contorcer de dor quando a via, mas… há coisas, como amizade e honra, que não se podem jogar assim. Se ficasse com Lily, estaria traindo James. E, aliás, quem disse que Lily gostava dele? Quem disse que ela via alguma coisa no amigo, no rapaz magro e com cicatrizes no rosto, que nem de longe era tão bonito e popular como James e Sirius?…
“Droga.”
Pare de pensar nisso, Remus, você vai enlouquecer.
“Dane-se. Já estou louco. Louco por ela, louco de fazer isso, louco de ser tão idiota…”
Você nem deveria pensar nela. Ela é a garota do James. Até Severus Snape gosta dela.
Era verdade. Ele ficara extremamente surpreso ao perceber que o sonserino nutria sentimentos por Lily. Não sabia nem o que pensar; aquilo lhe parecia uma intricada trama da qual não havia escapatória. E agora James e Sirius tinham começado a brigar, o que ele já sabia que era inevitável, pois ambos tinham personalidade forte e não cediam facilmente. E ele sofrendo porque não queria piorar ainda mais a situação.
— Ah, Remus Lupin, você se meteu numa bela roubada… — desabafou para a lareira.
Agora, James e Sirius andavam agindo um pouco constrangidos um com o outro; pareciam querer aparentar normalidade, mas não riam tanto nem faziam tantas piadinhas. A amizade estremecida. E tudo em Remus doía ao ver essa cena tão lamentável. E imaginar o que James diria para ele quando soubesse dos sentimentos que ele nutria por Lily…
— Esta história não tem “felizes para sempre”, Lily — suspirou Remus. — Só ódio… só dor.
E, com mais um suspiro:
— Lily…
Na mesma noite, próximo à lareira em que Remus suspirava, no dormitório das garotas do sétimo ano, Lily ainda não tinha conseguido dormir. Aquilo era patético, ela sabia que precisava dormir. Não fazia nem quatro dias tinha literalmente desmaiado no corredor…
Quatro dias atrás… Isso realmente lhe doía agora…
— Droga… A cada minuto que passa a situação se complica.
Durante quatro dias ela tinha vivido em suspenso, como num sonho, e só agora podia parar para pensar direito no que estava acontecendo. No que Snape lhe falara no corredor do quarto andar. Era a segunda vez que era encurralada num corredor para depois receber um beijo que virava sua cabeça do avesso…
Eram três os garotos que ela admirava, e, o que a deixava mais confusa, dois deles correspondiam os sentimentos. E ainda mais um, que ela não contara em início, a amava com devoção também. Podia ser divertido para qualquer menina vaidosa, como Narcissa Black, mas para Lily, ingênua e simples, não era. Não era nada legal ver três garotos disputarem-na…
— E se eles se enfrentarem? E se brigarem? — ela se perguntava genuinamente aterrorizada.
E ainda havia Remus, por Ptolomeu. Ela o admirava intimamente, seus gestos calmos e controlados, seu sorriso triste. Imaginava o que ele diria se soubesse que ela o achava bonito. Imaginava o que ele diria se soubesse que, por causa dela, era provável que seus dois melhores amigos tivessem uma briga feia (se é que já não tinham tido). Se seu sorriso ficaria ainda mais triste.
— Que diabos — sussurrou.
Severus a surpreendera. Ela nunca imaginara que aquele rapaz tão calmo e reservado, tão… sonserino… pudesse amá-la, a ela, uma sangue-ruim. Pudesse tomar coragem para o que tinha feito. E sua breve declaração, de que ela tinha o seu coração nas mãos…
A verdade é que ela tinha três corações nas mãos. E temia não saber o que fazer com eles. Pois, qualquer um dos que escolhesse, os outros iriam se ferir, e isso a angustiava… Ah, o quanto ela daria para fugir do país, para um lugar bem longe…
— Não. Não adianta fugir. Eu sou uma grifinória, e eu vou enfrentar tudo o que estiver pra vir com coragem. Eu vou enfrentá-los com coragem. Eu vou decidir com sabedoria…
James? Sirius? Severus? Remus? Qual deles, por Paracelso? Qual?
E, sem se conter, deixou lágrimas contidas, doloridas, escorrerem pelo seu rosto, retendo os soluços em seu peito para não acordar ninguém. Sofrendo em silêncio.
(E acorda no instante em que você vai embora)
Manhã.
Parecia que seria novamente um domingo tedioso e normal. Pelo menos era o que os quatro Marauders achavam, sentados debaixo da faia à beira do lago.
— Ah, que sono… — resmungou Peter. — E pensar que ainda tem dever de Trato das Criaturas Mágicas.
— Eu já fiz — disse Remus, que se entretinha lendo um enorme volume entitulado Conjuração: a Mais Útil das Artes. — O professor passou quarta-feira, Peter.
— Eu sei, mas tinha dever de Transfiguração para fazer.
— Que não fez antes.
— Ei, Moony, para que exatamente você está lendo esse livro? — perguntou Sirius, entediado.
— Porque estamos estudando conjuração em Transfiguração, seu babaca.
— Moony — disse James pacientemente —, você domina conjuração desde que tinha treze anos.
— É sempre bom revisar a teoria — respondeu Remus sem sequer erguer os olhos do livro.
— Deixa, Prongs — suspirou Sirius. — Esse cara vai morrer louco.
James deu uma risada morna. Peter tentou gargalhar, mas parou ao ver que ninguém estava rindo, nem mesmo Sirius.
(Apesar de eu tentar me distrair)
The pain it still remains
(A dor permanece)
— Ô, povo sem humor — disse, se estirando na grama.
— Poxa, James, você podia ter marcado o treino para mais cedo — suspirou Sirius. — Agora vou ter que ficar enrolando até de noite.
— Por que você não faz o trabalho de Estudos dos Trouxas que eu sei que você tem? — perguntou Remus.
— Porque isso eu faço num instante. Sério, Estudos dos Trouxas é muito fácil, Remie.
Remus suspirou.
— Bem, não sou sua babá.
E mergulharam outra vez em tedioso silêncio. Até ouvirem pés pisarem na grama às suas costas.
Remus pressentiu o perigo um segundo antes de quase ser atingido por um Feitiço Estuporante. Felizmente, conseguiu rolar para o lado bem a tempo. Varinhas em punho, James e Sirius se levantaram num pulo; Peter parecia tremendamente assustado.
Severus Snape, Evan Rosier, Rabastan Lestrange e Senior Avery estavam ali, parados, diante deles.
— Droga, Rosier, você sempre se antepõe! — exclamou Rabastan. — Era para pegarmos eles de surpresa!
— Ora, ora, ora, finalmente uma diversão — sorriu Sirius girando displicentemente a varinha entre os dedos. — Queriam nos pegar desprevenidos, é? Não têm coragem para nos encarar de frente?
(E só passa quando você está perto de mim)
— Poderíamos encarar vocês a qualquer hora do dia, Black — disse Avery.
— Olha, um anão de jardim falando com a gente, James.
Avery ficou vermelho. Detestava piadinhas a respeito de sua baixa estatura.
— Você se acha o esperto, não é, Black? — perguntou Severus, depreciativo. — Deveria cuidar mais de si.
— Sevie! — sorriu James — Desculpa, não tinha te visto atrás desse monte de óleo que você chama de cabelos.
Severus sorriu desdenhoso.
— Os meus cabelos não são piores que essa moita que você tem na cabeça.
James ficou levemente vermelho, mas o sorriso travesso não saiu de seu rosto, enquanto os sonserinos riam.
— Vão rindo, vão rindo. Quero ver quem vai rir…
— Estupefaça! — gritou Rabastan repentinamente, visando Sirius, que desviou com um movimento rápido.
Começaram as ofensivas.
— Rictusempra! — gritou James, apontando para Avery, mas este bloqueou o feitiço e começou a atacar Peter com seguidos Petrificus Totalus, que fizeram o outro pular como se o chão estivesse em brasas.
Severus tomou a frente de James, gritando:
— Expelliarmus!
— Protego! — gritou James. — Vai ter que acordar mais cedo pra me pegar, Snape! Tarantallegra!
A beira do lago se transformara em um genuíno palco de duelo, tendo direito inclusive a espectadores, que foram surgindo aos poucos. Remus atacava com seguidos Uediuósi, mal deixando tempo para Rosier se defender.
— Você vai ver, Lupin! — exclamou Rosier, se desviando de mais um lampejo. — Seu pai pensa que pode prender o meu?
— Pensa? Pensei que já tinha prendido! — exclamou Remus, atacando sem cessar.
John Lupin, o pai de Remus, era chefe do Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas. Havia alguns meses, o pai de Evan Rosier fora flagrado com uma violação à lei que proíbe criar animais experimentalmente, passara por um breve julgamento e agora estava em Azkaban.
— Você se acha, não é, Lupin? — gritou Rosier. — Saiba que meu pai tem amigos!
— Nossa, agora fiquei com medo! — ironizou Remus.
Enquanto isso, Peter estabelecia um duelo patético com Avery, pulando feito um doido para se desviar dos feitiços até ser atingido por um Feitiço das Pernas Presas, que o atirou o chão. Então ficou rolando de um lado para o outro, tentando escapar, desesperado.
Sirius se divertia provocando Rabastan, seu jeito preferido de duelar.
— Olha, que bonitinho, o menininho pensa que pode me acertar — ria, enquanto desviava bocejando dos feitiços de Rabastan. — Como é que estão as coisas, agora que o Rodie foi para a Escócia? Deve estar se sentindo desprotegido, não é?
Contra-atacou com vários feitiços rápidos, mal dando tempo para Rabastan se defender; o último feitiço rasgou o tecido do ombro do rapaz.
— Nunca precisei de Rodolphus para nada, Black — disse Rabastan, vermelho de fúria.
— Sabemos que não — disse Sirius com nítido sarcasmo, bloqueando facilmente um dos feitiços de Rabastan.
James e Snape eram ambos exímios duelistas, e a luta deles era a mais equilibrada. James tinha reflexos rápidos da prática de quadribol, se esquivando enquanto atacava com velocidade. Severus simplesmente bloqueava os feitiços com Protego, enquanto atacava sem piedade.
— Travalíngua!
— Uediuósi!
— Estupefaça!
— Locomotor mortis!
— Reducto!
— Impedimenta!
— Incarcerous!
— Furnunculus!
O duelo tomava proporções alarmantes. Do meio da multidão que assistia os feitiços, surgiu Lucius Malfoy.
— O que está acontecendo? Sou o monitor-chefe, e…
Não pôde terminar a frase, atingido em cheio por um Feitiço Estuporante. Caiu imóvel na grama e ninguém mais se arriscou a se aproximar muito do duelo depois disso.
— O que diabos está acontecendo? — gritou Frank, chegando ao local com Alice e falando com Kingsley, que apenas observava tranqüilo.
— Sonserinos versus Marauders.
— Droga — resmungou Frank. — Vamos ter que interromper?
— Pra acabar que nem Malfoy? Eles que se matem.
— Tem razão.
— PAREM JÁ COM ISSO! — ouviu-se uma voz.
Atravessando a passos largos o jardim, aparecia McGonagall, seguida por Slughorn e Flitwick. Todos recuaram para lhe dar passagem, e, pulando por cima do inconsciente Malfoy, ela gritou ainda mais alto:
— PAREM!!!
Não foi realmente preciso ela dar a ordem outra vez. Os sonserinos e os Marauders já tinham se separado. Com um suspiro, sabendo que iria se meter em problemas muito sérios por estar duelando sendo um monitor, Remus se aproximou de Peter e soltou suas pernas. O outro suspirou aliviado, se levantando de um pulo.
McGonagall andou em direção a eles. Excetuando Remus e Severus, todos se desdobraram em explicações:
— Professora, eles que vieram…
— Andaram nos provocando, tínhamos…
— Nós só nos defendemos…
— Ficaram enchendo nosso saco, mereciam isso…
— Não foi nossa culpa!
— Eles são mais culpados que a gente!
— Professora, não tínhamos o que fazer, tivemos…
Ela parou diante de Remus, que estava de cabeça baixa, esperando o sermão.
— Calem-se, todos — disse. — Lupin, para a sala do diretor.
— Ei! — exclamou James indignado. — Por que o Remus vai para a sala do diretor? Ele só se defendeu, foi Rosier quem chegou atacando!
— Cale-se, Potter. Lupin, o Prof. Dumbledore deseja falar com você.
— Sim, professora — disse Remus humildemente, recebendo um papel da professora.
Sem encarar ninguém, o rapaz foi andando até o castelo. Slughorn foi até os outros, parecendo aborrecido.
— Vocês quatro, me acompanhem, agora.
Severus, Rabastan, Avery e Rosier lançaram um último olhar aos Marauders e foram. Já McGonagall fez um gesto indicando que deveriam segui-la, e não foi preciso mais nenhum aviso para que James, Sirius e Peter percebessem que estavam encrencados.
Foi hesitante que Remus subiu os sete andares que separavam o Saguão de Entrada do escritório de Dumbledore. Seria aquele duelo suficiente para fazê-lo perder a patente de monitor? Provavelmente isso seria um alívio, mas sua mãe ficara tão feliz quando ele ganhara o distintivo… Não queria decepcioná-la.
O mais estranho fora Rosier falando aquelas coisas. Sabia que ele deveria estar furioso porque o Sr. Rosier perdera o julgamento, mas de que tipo de amigos o rapaz falara?
“Bem, não vai ser agora que vou começar a ter medo de Evan Rosier.”
Você deveria tomar cuidado.
“Cuidado com o quê? Cão que ladra não morde.”
Rosier pode estar falando sério. Talvez você devesse mandar uma carta ao seu pai, avisando.
“Sei lá… Acho que não preciso preocupá-lo com uma tolice de Rosier. Ele já tem tantas coisas para se preocupar, os Comensais, e eu…”
É melhor. Pode ser que estejam conspirando para tirar seu pai do departamento.
“Tem razão… Vou pensar um pouco a respeito.”
(Você sabia que toda vez que está perto)
Everybody else seems far away?
(Todos parecem tão distantes?)
Ele parava agora diante da gárgula que abria a porta para o escritório de Dumbledore. Pegando o pedaço de pergaminho que ele mantinha apertado nas mãos, leu:
— Tablete de Nugá.
Como esperado, a gárgula pulou para o lado, e a parede atrás dela se abriu, revelando uma escada em espiral. Remus subiu, polindo o distintivo de monitor, como que querendo aproveitar seus últimos momentos com ele.
Bateu à porta do escritório do diretor.
— Entre — disse a voz de Dumbledore.
Inspirando fundo, Remus tomou coragem e abriu a porta.
— Senhor? — disse, entrando no escritório de Dumbledore. — A Profª McGonagall disse que o senhor queria falar comigo.
Remus olhou ao redor. Se não estivesse numa situação tão complicada, teria adorado entrar ali. Achava o escritório de Dumbledore um lugar fascinante, com todos aqueles instrumentos, aqueles quadros de diretores, e Fawkes, a fantástica fênix de estimação do diretor. Mas agora não era hora de contemplar o escritório, pois Dumbledore estava sentado atrás de uma escrivaninha com visíveis intenções de falar com ele.
Com um suspiro, Remus colocou o distintivo de monitor em cima da mesa do diretor.
— Está aqui o distintivo, senhor.
— Do que está falando, Sr. Lupin? — perguntou Dumbledore calmamente.
— O senhor vai me tirar o distintivo pelo duelo lá nos jardins, não vai? — perguntou Remus tristemente.
— Duelo nos jardins? Não, não foi por isso que eu o chamei, Sr. Lupin. Sente-se, por favor.
Sentindo o alívio invadi-lo, Remus puxou uma cadeira e praticamente desabou em cima dela, cansado e suado por conta do duelo.
Ao encarar Dumbledore, porém, ele percebeu que algo não ia bem.
— Sr. Lupin… Eu tenho uma notícia a te dar.
Remus sentiu as entranhas congelarem. Não poderia ser algo bom. Ele subitamente se lembrou de todos os ataques que aconteciam lá fora, de todas as pessoas que morriam nas mãos dos Comensais. Viver em Hogwarts era como um sonho; ele se sentia fora da realidade da Inglaterra. Mas a verdade é que os ataques de Voldemort se tornavam cada vez mais cruéis, e não eram poucos os alunos que saíam no meio do ano, porque seus pais tinham morrido ou os tiravam do colégio, com medo. A mãe de Alice não parecia querer deixar ela voltar, segundo ouvira a loirinha falando.
Rezando para que nada tivesse acontecido, ele murmurou:
— Aconteceu… alguma coisa? Com a minha família?
Dumbledore fechou os olhos com um suspiro. O rapaz sentiu o sangue fugir de seu rosto. E seus piores receios se confirmaram quando a voz do diretor fez-se ouvir:
— Sr. Lupin… Seu pai foi morto por Comensais da Morte.
(Então você pode vir e fazê-los desaparecer?)
Make them disappear and we can stay
(Faça-os desaparecer e poderemos ficar juntos)
Havia um clima decididamente pesado no dormitório dos Marauders. Frank, que viera encontrá-los e tivera a entrada permitida por Daisy, foi o primeiro a falar depois de muito tempo em silêncio:
— Por Morgana, ele deve estar arrasado.
— É claro — replicou James. — Quem não estaria? — e, com um murmúrio: — O Sr. Lupin era um cara tão simpático…
— É — concordou Sirius, desconfortável. — Será que Dumbledore já falou com ele? Será que ele foi direto pra casa dele?
— Não — respondeu Peter, que andara conferindo o Marauder’s Map. — Moony está lá na Sala Precisa.
— O que diabos ele está fazendo lá? — perguntou James.
— Sei lá.
— Ele está pensando um pouco, sempre vai pra lá quando quer pensar — suspirou Frank. — Tomara que ele volte depois do enterro. Quero dizer, que não fique em casa, que nem o Winston, quando os pais dele morreram.
— Ele vai voltar — disse Sirius confiante. — A Sra. Lupin não iria querer que o Remie parasse de estudar.
— É — concordou James preocupado. — Será que deveríamos falar com ele?
— Melhor não — disse Peter. — Eu duvido que ele esteja com vontade de falar com alguém. Quando ele vier pegar as coisas dele, a gente fala.
— Tem razão, Pete.
— Eu vou jantar — continuou o Marauder. — Alguém quer vir comigo?
— Eu vou, tenho que falar com Alice, explicar o que aconteceu — disse Frank.
— Tô sem fome — disse James.
— Eu também — suspirou Sirius.
Frank e Peter fizeram um aceno afirmativo com a cabeça e partiram, descendo as escadas, deixando James e Sirius solitários no dormitório.
— Estou me sentindo mal — murmurou Sirius.
— Eu também — disse James. — Não gosto de pensar em como o Remus deve estar. Sei lá, aqui em Hogwarts, é como se nada nos atingisse… Nunca pensei que uma tragédia dessas ia chegar tão perto da gente. Do Moony. Ah, que droga, eu juro que eu mato o dito Comensal!
— E eu te ajudo — disse Sirius sombriamente. — Quem se mete com um Marauder, se mete com todos.
A desavença por causa de Lily havia ficado pequena frente ao problema maior. Sirius e James, desde que McGonagall havia lhes contado, pareciam ter se esquecido que tinham brigado em favor do amigo desafortunado.
— Droga — xingou James novamente. — Droga, merda de vida.
— Calma, Prongs — disse Sirius. — Não vai adiantar nada a gente ficar assim. Ah… eh… eu sei que o momento não é muito próprio pra isso, que a gente não deveria falar disso, que deveríamos estar pensando no Remie, mas eu preciso falar com você sobre a Lily.
(Então eu fico de pé e olho ao redor)
Distracted by the sounds
(Distraído pelos sons)
Of everyone and everything I see
(De todos e tudo que eu vejo)
James sentiu o sangue lhe afluir às faces e as entranhas congelarem.
— Não quero falar sobre isso, Padfoot. O que já passou, passou.
— Não é nada do que você tá pensando — disse Sirius apressadamente. — Eu só queria dizer… você tem reparado no Ranhoso?
— No Ranhoso? — repetiu James incrédulo. — Pra que eu iria reparar no Ranhoso?
— Eu se fosse você repararia — disse Sirius sombriamente. — Você nunca viu como ele olha pra Lily?
— Ele olha pra Lily?
— James, pensei que você prestasse mais atenção nas coisas! Nunca viu como ele fica olhando pra ela na aula, como ele sorri quando ela fala com ele, e como ele fica olhando pra nossa mesa lá do outro lado do Salão quando estamos almoçando?
James sacudiu de leve a cabeça, tentando digerir a súbita informação. Então, foi atingido por um assomo de indignação:
— O Seboso com a Lily? Nem pensar! Eu morro antes de deixar que ele toque nela!
— Sabia que você iria dizer isso — disse Sirius, com um sorriso maroto que indicava: ele estava armando alguma. — E eu acharia legal da gente fazer alguma coisa a respeito.
— Também acharia — disse James, o olhar maroto.
Estavam finalmente se entendendo, se recuperando daquela ferida na amizade. Finalmente se unindo, para fazer o que mais gostavam de fazer: aprontar.
— O que acha que a gente pode fazer?
— Por enquanto nada — disse Sirius. — A gente tem que esperar a nossa poeira com a McGonagall baixar um pouco. Mas a gente fica de olho no Ranhoso pra ver se ele não chega perto da Lily. Daí, depois do Natal, podemos fazer alguma coisa.
James gostou muito da idéia. Quem sabe, Sirius apaixonado por Lily não fosse algo tão ruim assim, se ele ficasse longe da ruivinha. Poderiam afastar os outros pretendentes juntos.
James Potter, eu não acredito que você teve uma idéia tão idiota.
O que você quer? Que Sirius Black afaste os outros pretendentes e aproveite para ficar com Lily às suas costas?
“Ah, a gente vai poder fazer as coisas juntos, como sempre fez.”
…
…
Que merda. Como se ele já não tivesse detenções até o fim do trimestre, acabara de ganhar mais uma de Slughorn. E, juntos, tinham perdido oitenta pontos para a Sonserina, vinte por cabeça. E, para piorar, o último feitiço de Potter o atingira, e ele estava com uma bruta enxaqueca. Cada vez que um de seus amigos falava, era como se estivesse tocando pratos em sua orelha.
(E eu procuro em todas as faces)
Without a single trace
(Mas não acho um único traço)
Of the person, the person that I need
(Da pessoa, da pessoa que eu preciso)
— Que droga! A McGonagall tinha que chegar bem quando eu estava pra derrotar o Black! — exclamou Rabastan, furioso.
— Sim, você estava pra derrotar o Black — disse Avery ironicamente. — O Black que quase te derrotou, Rabastan, se enxerga.
— Você diz isso porque só pegou o Pettigrew. O Black é bem melhor duelista.
— É, foi fácil — admitiu Avery. — Ele só ficou desviando, parecia apavorado demais para atacar.
— Então! Aliás, quem foi que derrubou o Malfoy?
— Acho que fui eu — disse Severus baixo.
— Bem, pra todos os efeitos, foi um dos Marauders. Não quero ouvir a ladainha do Lucinho no meu ouvido o dia inteiro.
— OK — disse Rabastan.
Rosier não falara desde o duelo, quando uma coruja viera encontrá-lo no corredor do primeiro andar. Segurava o pedaço de pergaminho que ela trouxera espremido em sua mão, uma expressão de verdadeiro júbilo em seu rosto.
— Ei, Evan! O que é que a coruja falava? Você está estranho.
— Nada, só recebi boas notícias.
Todos se alvoroçaram.
— É sobre aquela história daquele seu amigo nos apresentar para o Lorde das Trevas? — perguntou Rabastan.
— Falem mais baixo — sussurrou Severus. — Se alguém escuta…
— O que é que ela falava?
— Não é algo tão bom como ser aceito pelo Lorde no círculo, mas é quase tão bom quanto — disse Evan. — Finalmente meu pai teve a desforra contra o pai do Lupin.
O rosto de Severus se tornou sério.
— Os Comensais entraram na história?
— Entraram — disse Rosier com um sorriso. E, sarcástico: — Meus amigos, sinto muito lhes informar que o Sr. John Lupin já não está entre nós.
As risadas de Rabastan, Avery e Evan explodiram no corredor. Só Severus não riu, pensando em como o olhar de Remus Lupin ficaria ainda mais triste. Porém, se ele fosse pensar bem, era capaz de Lupin não voltar mais, e daí seria menos um na corrida por Lily. Deveria ficar feliz, sim.
— Ah, Sev, por que não está rindo?
— Enxaqueca — disse Severus num resmungo.
— Ah, é, o Potter te acertou, né? Não consegue nem derrotar um idiota que nem ele?
— Fiz um trabalho melhor que o seu, Rosier. Lupin quase te matou. Se McGonagall não chegasse para salvar sua pele…
— Há, há, engraçadinho.
— Ah, vá à merda, Rosier! — disse Severus, apressando o passo para ir até a enfermaria. Precisava acabar com aquela maldita dor de cabeça.
Era noite alta.
A torre de Astronomia estava vazia, afinal, era domingo. As estrelas estavam cintilantes, e o vento, mais frio do que de costume. Em menos de um mês começaria o inverno, e a neve…
Era o que pensava Remus, apoiado na amurada, os cabelos castanhos agitados por um vento frio, tão frio quanto sua expressão. Ele não pretendia ver a neve do inverno.
(Você sabia que toda vez que você está perto)
Everybody else seems far away?
(Todos parecem tão distantes?)
Numa de suas mãos, segurava fortemente um pergaminho. O escrevera com toda a sua dor. Saberiam entendê-lo. Poderiam até ficar tristes, mas, afinal, ele nunca fora uma parte importante de nada mesmo… Os Marauders eram James e Sirius, ele não faria diferença… Frank tinha a namorada… Lily não sentiria tanto assim sua falta, tinha mais três pessoas a escolher… Apenas sua mãe era que o fazia hesitar. Mas ela também compreenderia que fora melhor assim… Ela tinha irmãos ainda, poderia ficar com eles… Ela certamente se sentiria melhor se soubesse que ele finalmente estava em paz.
Naquelas horas na Sala Precisa, preparara tudo. O jeito mais fácil, em Hogwarts, seria se jogar da Torre de Astronomia. Lógico que ainda haviam os punhais de prata da masmorra, mas, na Torre de Astronomia, seria mais rápido e indolor… Com menos chances de alguém conseguir socorrê-lo…
Doeu-lhe imaginar as expressões doloridas de James, Sirius, Frank e Peter, mas eles eram jovens, iriam superar…
Não faça isso, Remus, não desista…
“Eu sempre te escuto, mas não vou te escutar agora… Vai ser melhor assim, eu não agüento mais sofrer por causa dela, por causa de tudo…”
E sua mãe?
“Meus tios vão cuidar dela. Ela é forte, ela saberá seguir em frente… E, na verdade, eu não sou o protótipo de filho dos sonhos…”
Ela te ama mesmo assim, babaca. Ela já perdeu seu pai, vai perder você?…
“Ela vai entender. Agora, melhor ir logo, antes que alguém apareça…”
Se sentou na amurada da torre, onde ficavam as lunetas. Por alguns instantes, deixou que seus pés balançassem no vento. Então, com um suspiro, se largou no ar.
— NÃÃÃÃÃO!!!
Uma mão forte o agarrou pelo tornozelo, e uma voz querida gritou:
— INCARCEROUS!
Remus se viu envolvido por milhares de cordas finas, que prenderam dolorosamente seus membros ao corpo. Sentiu as mãos puxando-o até que novamente tocou o chão de pedra, caindo em cima do amigo, Frank.
— Remus, seu pirado, o que você tava fazendo?! — perguntou este, saindo debaixo do castanho e sacudindo-o.
— Nada… eu caí… — mentiu Remus sentindo lágrimas afluírem aos olhos.
Frank viu o pergaminho em suas mãos e o agarrou com brutalidade. Agitadamente, leu toda a carta de despedida de Remus. Quando ergueu a cabeça para encarar o amigo, este tinha as faces manchadas de vergonha.
— Remie… Acho que precisamos conversar…
(Então você pode vir e fazê-los desaparecer?)
Logo após voltar da enfermaria, Severus teve uma idéia.
Ele ainda não contara a Faunt sobre os seus progressos com Lily. Portanto, nenhum mal faria em passar na sala do professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.
Entrou para ver Faunt dormindo na escrivaninha, sobre a fraca luz de uma lamparina, o rosto vincado e olheiras escuras.
Por um momento, ficou observando o rosto ao mesmo tempo jovem e envelhecido do professor, e pensando em como aquele homem poderia ter acabado daquele jeito. Como poderia alguém se perder por amor?…
“Do mesmo jeito que eu estou me perdendo…”.
Um leve sobressalto, e Faunt despertou, os olhos de um azul-escuro mórbido se abrindo rapidamente, como se estivesse em permanente tensão.
— Quem está aí? — ele perguntou, desnorteado mas alerta. Um segundo depois, porém, reconheceu: — Severus! Que bom que veio!
Eram apenas alguns dias de convivência amistosa, e o observador Severus já aprendera que era um dos únicos capazes de fazer Faunt sorrir verdadeiramente. Com um estalo, as luzes da sala se acenderam e Faunt convidou Severus a se sentar.
— E então, meu rapaz, o que me conta de novo? Soube da detenção.
— Rosier foi precipitado — disse Severus balançando a cabeça. — Se não o tivesse sido, teríamos pegado aqueles quatro de jeito.
— Você tem rancor contra os quatro grifinórios, não? — perguntou Faunt olhando atentamente para ele.
Severus fez que sim, sério.
— Me fizeram passar por muitas humilhações.
— Concordo — disse Faunt —, mas não é só por isso, não é?
O sonserino não encontrou palavras.
(Faça-os desaparecer e ficaremos juntos)
— Não — disse, após vários minutos. — Não é.
— É por causa da Srta. Evans, não?
— Ela… — ele inspirou fundo, procurando se manter calmo. — Ela vive com eles.
— É natural, são todos da mesma casa.
— Seria natural se eu não soubesse que Potter, Black e Lupin nutrem sentimentos por ela.
Foi a vez de Faunt ficar em silêncio por algum tempo. Quando falou, foi certeiro:
— Sente ciúmes? Queria afastá-los dela?
— …Queria — disse Severus.
Faunt apenas sorriu.
(Há uma dor que dorme aqui dentro)
It sleeps with just one eye
(Ela dorme com um olho só)
And awakens the moment that you leave
(E acorda no instante em que você vai embora)
— Por Hufflepuff — disse Frank, dando um passo para trás e batendo numa luneta.
Remus acabara de relatar, detalhe por detalhe, do seu doloroso suplício. Seus olhos amendoados não tinham brilho algum, e cada palavra que saía era custosa e parecia tirada do mais íntimo do seu ser.
— E você tentou esquecê-la?… — sussurrou o rapaz de cabelos cacheados.
— Tentei — gemeu Remus. — Juro que tentei. Mais que tudo, durante todas as noites em claro… Pensei até em me lançar um Obliviate, mas eu iria tornar a me apaixonar por ela novamente se assim fosse…
Frank meramente encarou aqueles olhos castanhos, enquanto ouvia o decreto definitivo e cada vez mais dolorido:
— Eu amo Lily. Eu sei que eles também a amam, mas não posso evitar. Faz parte de mim.
— Por Hufflepuff — repetiu Frank, atordoado.
Sentou-se por alguns instantes na amurada da torre, tentando reorganizar os pensamentos. Quando conseguiu, olhou para Remus, que estava ali, imóvel. Quase morto.
Frank William Longbottom podia não ser muitas coisas, mas se tinha uma qualidade era a generosidade. Seu coração era gentil como o da própria Helga Hufflepuff, e, se não era popular como James e Sirius, tinha ligações duradouras com algumas poucas pessoas, como Alice e Remus. E essas poucas pessoas poderiam contar com sua amizade fiel sempre que precisassem; Frank era o tipo do amigo com o qual se dividem lágrimas e glórias, porque era muito afetado pelos sentimentos dos amigos. E ver Remus assim, abatido, prostrado, era demais para seu espírito.
Sem se conter, venceu a distância que os separava em duas passadas e envolveu o amigo em um abraço forte.
— Nunca mais faça isso, tá legal?! — exclamou, furioso, entre as lágrimas que brotavam de seus olhos. — Nunca mais faça isso!
— Eu quero morrer, Frankie! Só isso! — foi o que sussurrou Remus.
— Você não vai morrer porcaria nenhuma! — disse Frank, se afastando para olhar Remus nos olhos. — Você não vai morrer porque faz falta, seu egoísta idiota! Como é que você acha que a sua mãe vai ficar se perder você depois de ter perdido seu pai?! Como é que você acha que James e Sirius vão ficar?! Você não vai morrer, porque é insubstituível aqui na Terra!
Remus desviou o olhar, mas Frank o sacudiu até que se encarassem novamente.
— Você está sofrendo, eu entendo. E entendo bem que nessas horas você quer mesmo parar de sentir. Mas você está sofrendo por motivos errados! Eu sei que você quer a felicidade de James e Sirius, e que desistiria de tudo por eles, mas não pode deixar de querer conquistar Lily simplesmente porque gostam dela!
— Mas… Eu não vou suportar vê-los olhar com inveja para mim…
— Pelo menos dê à Lily a chance de escolher! Não aja assim, não se tranque! Como é que você vai saber se ela gosta de você se nunca falou com ela!
— Como é que eu vou saber? — disse Remus sarcástico, se libertando do aperto de Frank. — Como é que eu vou saber! Por Circe, Frankie, veja quem mais está gostando dela! Os dois garotos mais populares do colégio gostam dela, além de mais um que é tremendamente inteligente! Como é que ela vai baixar os olhos justamente para mim?!
— Pare de se diminuir! Você é grande, Remie, você é inteligente e sensível, e saberia conquistar Lily se quisesse!
— E sou um lobisomem, um fraco, um covarde! Quando eu vou falar com ela, tudo enrola, não sai nada! — ele fez um gesto de desespero em direção à garganta, como se estivesse sufocado. — Eu não sou o cara seguro que ela merece, eu não tenho nem segurança comigo mesmo, eu não passo segurança pra ninguém! Pra quê viver em incerteza como eu vivo?!
— Porque você está se martirizando demais!
— Não estou!
— Remus, você é um cara fantástico, tenho certeza que, se quisesse, seria tão seguro quanto James e Sirius! É só uma questão de parar de encarar a vida tão a sério!
— SE EU NÃO ENCARASSE A VIDA A SÉRIO, NÃO SEI ONDE ESTARIA AGORA!
— EU TAMBÉM NÃO SEI, MAS CERTAMENTE SERIA MELHOR DO QUE VIRAR UMA MASSA DE OSSOS NO CHÃO DOS JARDINS! — gritou Frank.
Remus ficou muito quieto quando captou o sentido da frase. Frank respirava ofegante. Inspira, expira, inspira, expira.
— Olha, eu sei que está mal, Remie, mas não tem nada mais importante que viver — disse, mais calmo.
— Eu sei — sussurrou Remus.
Naquele instante, os primeiros brilhos da lua crescente surgiram no céu. Era uma lua quase cheia, mas pouco nociva, até bela se a pessoa soubesse apreciar, e Moony sabia. O lago se tingiu de prateado, o vento frio agora provocava um ruído agradável, espalhando um doce aroma de grama úmida no ar. As estrelas brilhavam no céu limpo, e toda Hogwarts parecia exalar uma tranqüilidade incomparável. Sentindo os olhos marejados de lágrimas, Remus apenas se deixou contemplar os jardins daquele castelo que lhe trouxera tantas alegrias, tantas felicidades…
— Você realmente quer morrer e nunca mais poder ver coisas assim?… — perguntou Frank, se postando ao lado de Remus e vendo a bela paisagem.
Sem nada dizer, Remus fez que não com a cabeça. Frank sorriu.
— Acho que temos o nosso Moony de volta.
O sorriso também voltou ao rosto de Remus, enquanto ele apenas punha a mão no ombro de Frank.
Ele decidira partir durante as aulas. Não queria alunos nos corredores comentando a sua presença.
Se despedira de James, Sirius e Peter bem cedo, e prometera a eles que voltaria depois do Natal. Como se pudesse deixar Hogwarts realmente. Como se não quisesse aproveitar cada mísero momento que a escola tinha a oferecer no seu último ano, como se não tivesse medo da realidade lá fora.
Agora era só atravessar os jardins e os portões, e aparatar como sabia fazer tão bem. Então por que cada passo lhe era tão difícil?
“Por que ainda não me despedi dela…”
(E eu procuro em todas as faces)
Without a single trace
(Mas não acho um único traço)
Of the person, the person that I need
(Da pessoa, da pessoa que eu preciso)
— REMUS!
Seria verdade que aquela voz cortara os ares? Seria verdade que ela estava correndo em sua direção naquele instante, o rosto afogueado num misto com os cabelos vermelhos caindo pelo rosto?
— Remus… — ofegou Lily, parando diante dele. — Eu… você… vai embora?…
— Vou — disse Remus, tão vermelho quanto Lily, porém por outros motivos.
— Ah, Remie… Eu soube… Eu sinto muito por seu pai…
— Tudo… tudo bem, Lily — sussurrou Remus. — Tudo bem. Mesmo que não esteja agora, vai ficar tudo bem.
Como se ele acreditasse em ilusões.
E seria verdade que ela tomara suas mãos cheias de cicatrizes entre as suas próprias, e que estivesse olhando-o naquele instante com aqueles lindos e preciosos olhos verdes?
— Remus… Você vai voltar, né? Promete que volta? As coisas ficam sem graça sem você…
Como se ele acreditasse em ilusões…
(Você sabia que toda vez que você está perto)
Everybody else seems far away?
(Todos parecem tão distantes?)
— Eu prometo sim, Lily. Eu vou voltar depois do Natal.
E seria verdade que ela tocara suas mãos com aqueles lábios mimosos que ele só tinha em sonhos?
— Volta logo, Remie.
Remus apenas sorriu. Por um momento, seus olhos brilharam, e ele se deixou acreditar numa suposta ilusão. Ninguém poderia acreditar que aquele rapaz de sorriso tão doce que apenas fitava a garota, sem nada poder dizer, havia tentado pôr fim à própria vida na noite anterior. Nem ele mesmo.
Como poderia ter esquecido de todas as coisas boas de viver?
— Vou voltar.
E apenas beijou as mãos dela delicadamente, para em seguida, sair pelos jardins. Cada passo agora era fácil, e havia um doce e tranqüilo sorriso pousado em seus lábios. Andando como se caminhasse em nuvens. Pois agora não desistiria mais. Nunca mais.
(Então você pode vir e fazê-los desaparecer?)
Make them disappear and we can stay
(Faça-os desaparecer e ficaremos juntos)
N.A.: Dedicado ao meu amigo Leôncio, que diz que "stars may collide" significa "estrelas colidem com a May".
Prévia:
Sozinho na Torre da Grifinória com Lily. O que mais James poderia querer? Sedentos de carinho na solitária época do Natal, o Marauder e a monitora acabam se aproximando e terão uma conversa esclarecedora...
"— As pessoas têm medo de você. Você gosta disso?
Reforçando o convite — quem quiser, passe lá nas minhas songs...
Incondicionalmente
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Shining Like a Diamond
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Os Outros
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Matar ou Morrer
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