O Expresso Fora de Controle
Harry sentiu seu queixo cair. Então era por isso que os comensais não haviam investido com mais força...
Tentou pensar rápido, olhando em volta. Haviam alguns alunos caídos inconscientes no chão de madeira polida do trem, com colegas dando tapinhas nos seus rostos, ou conjurando água com a varinha. Havia estilhaços de madeira e vidro por todo o canto.
- Harry – chamou Luna novamente, parecendo, pela primeira vez na lembrança de Harry, assustada. – o que faremos?
- Vamos... – ele parou. Não fazia a mínima idéia do que eles iriam fazer. – vamos para o vagão que você...
Ele deixou a frase morrer, se encaminhando para o lado frontal do trem em movimento. Passou por todas as cabines, onde as pessoas pareciam em pânico, algumas até ergueram as varinhas quando ouviram a aproximação do garoto. Ele continuou em frente, seguido de perto por Luna, que ainda estava um tanto nervosa. Ao chegar no primeiro vagão, onde não haviam mais cabines, e apenas caldeiras incandescentes, e muitos dispositivos, botões, alavancas, mostradores de temperatura, Harry começou a procurar por algum sinal do maquinista desmaiado, mas não havia nenhum. Em vez disso, Harry viu uma nota presa à uma das alavancas, onde se lia:
“Potter, pare o trem se puder.O maquinista não pode te ajudar, estando nesse momento muitas dezenas de metros abaixo de vocês, desmaiado na floresta onde você jogou alguns dos comensais da morte. Divirta-se!”
Harry se sentiu sem chão. Como poderia controlar aquela máquina gigantesca? Não tinha nenhuma noção de mecânica, nem nada disso... Mas foi então que lhe surgiu uma esperança.
Indo até a janelinha sem vidraças do maquinista, ele gritou “Expecto Patronum!”, e um veado branco-prateado se lançou da ponta da sua varinha, galopando contra o vento produzido pelo trem.
Harry esperava, nervoso, até que alguns segundos depois Rony aparecia voando ao lado da janela, os cabelos chicoteando o rosto, e ele perguntou aos berros:
- O QUE?!
Harry gritou em resposta:
- O MAQUINISTA FOI LANÇADO PARA FORA DO TREM – ele apontou para a mata abaixo deles – PELOS COMENSAIS! ESTAMOS SEM CONTROLE! MAS EU ACHO QUE SE NÓS FORMOS ATÉ A FRENTE DO TREM, E USARMOS FEITIÇOS PARA PARÁ-LO, PODEREMOS SALVAR OS ALUNOS!
Rony encarou o amigo, com os olhos arregalados. Mas depois de alguns segundos aturdido, ele fez um gesto afirmativo e deu a meia volta para o local onde Mione e Gina continuavam a vigiar.
Harry, sem nem ao menos olhar para Luna, começou a correr para o vagão de onde viera, ignorando Neville, que lhe abordara no meio do caminho, perguntando se ele havia trazido alguma planta medicinal para ajudar um quintanista da Lufa-lufa que se ferira arrancando, pela janela, o chapéu de um dos comensais. Ao chegar à janela quebrada, ele viu que os alunos haviam retornado para suas cabines, desbloqueando o corredor estreito, embora alguns retardatários ainda perambulassem por ali, com as varinhas na mão, se comunicando aos sussurros sobre o ocorrido. Harry apanhou a vassoura que deixara ali mais cedo, mas então teve uma súbita lembrança.
- Luna... Cadê o comensal de quem eu roubei a...
- Ah... – ela fez uma cara de triunfo – ele acordou e... Bem, só devo dizer que ele foi muito bom pra derrubar um outro comensal da vassoura, quando a gente o atirou pela janela.
Harry sorriu, impressionado, e montou a vassoura.
Saiu disparado pela janela estilhaçada, e encontrou os amigos voando próximos ao vagão do meio. Chegou até eles, e os quatro voaram juntos na mesma formação de antes, indo parar na frente do trem.
Eles voaram por alguns segundos em silencio, todos pensando numa maneira de parar o trem abaixo deles...
Então, com um sobressalto, Harry viu o Castelo de Hogwarts se aproximar à frente deles.
Harry tomou uma atitude: saiu em disparada à frente dos amigos, ultrapassando Rony em alta velocidade, e sentiu que os outros faziam o mesmo atrás de si.
Sentiu o vento passar levantando seus cabelos violentamente, e ele poderia jurar que seus ouvidos nunca haviam sido açoitados por tal vento, nem mesmo numa partida de quadribol... Aquilo era uma questão de vida ou morte, morte de centenas de alunos... Harry sentiu seu estomago despencar e passar pelo trilho enferrujado lá embaixo... O que Dumbledore diria se ele falhasse? Ele, que sempre dera prioridade para a segurança física, mental e emocional de seus estudantes... Ele se lembrou, enquanto desviava de um galho sobressalente, daquela ocasião em que Dumbledore livrara até Marieta Edgecombe, uma garota que terminara a escola no ano anterior, que lhe havia desertado entregando a AD para o conhecimento de Dolores Umbridge... E também se recordou da noite em que Dumbledore implorara pela morte para salvar a vida de Draco Malfoy... Ele instigou a vassoura à voar mais rápido, e aquela bombeada lhe permitiu vislumbrar a Estação de Hogmeade, numa reta logo após a ponte estreita em curva. Mas havia um problema... A ponte havia sido quebrada no meio, deixando apenas a ponta que levava para a longa reta para a estação de trem, e uma ponta por onde o trem passaria em menos de dois minutos, no máximo.
Ele se sentiu sem ar, mas não tinha relação alguma com o fato de estar voando a mais de cento e cinqüenta kilômetros por hora. Continuou voando á esmo por alguns segundos, tentando se dar conta do perigo iminente, mas logo em seguida se virou, muito decidido, para os amigos que estavam bem uns setenta metros atrás dele. Rony indagou, balançando os ombros, qual o motivo da parada, e Harry simplesmente engoliu em seco. O outro veio voando rápido à frente das amigas, expressando preocupação.
- O que mais? – indagou ele, entre exasperado e receoso.
- Uma falha na ponte – respondeu Harry, engolindo em seco mais uma vez. – se não agirmos rápido a escola inteira irá para as profundezas do lago!
Rony não respondeu, simplesmente ficou mais branco do que uma folha de papel, e chamou com um aceno as outras duas, que já estavam muito próximas, e os quatro voaram mais alto.
Ao chegar no alto, Gina simplesmente boquiabriu-se, completamente aturdida, e Mione tampou a boca com a mão direita. Rony tremeu violentamente sobre a vassoura.
- O que faremos? – perguntou assustada Gina, que tinha os cabelos açoitados para trás, parecendo uma espécie exótica de fogueira.
- Precisamos impedir o trem!
- Como?! – tornou ela, repentinamente nervosa.
- Nem que nos atiremos na frente do trem! – tornou Harry, acenando para o trem, irritado.
- Então vamos! – rosnou ela, olhando feio para o namorado.
Os quatro desceram rapidamente até o trem, chamando por Luna, que apareceu numa das janelas, empunhando a varinha, ao lado de um vermelho Neville, que aparentemente estava cuidando de alguns poucos alunos feridos de leve.
- Subam na vassoura! – mandou Mione, autoritária. Neville abriu a boca, incerto, para perguntar o porquê – AGORA!
Neville apenas murchou sob seu olhar chamejante, e subiu com cuidado, pela janela, na garupa de Gina, que por alguma razão fizera questão disso. Luna subiu graciosamente na garupa de Mione, e os seis voaram, velozes, para a fenda da ponte que se aproximava.
Ao se aproximar, Neville gemeu baixinho, ficando verde lentamente. Eles pousaram rápido na extremidade oposta da ponte, e então ficaram lado a lado, com algum espaço entre eles, encarando o caminho por onde o trem apareceria à qualquer instante...
E então uma fumaça branca apareceu por cima das copas das árvores, indicando a chegada da locomotiva, e ela se tornou visível, parecendo imensa, imponderável...
Os seis se entreolharam decididos, e levantaram as varinhas, pensando igual, no momento em que um grande coro de gritos aterrorizados emergia pelas janelas abertas do trem.
E, numa só voz, os seis membros da AD trovejaram juntos:
- IMPEDIMENTA!
Os efeitos foram instantâneos e fantásticos: uma onda de impacto se elevou das varinhas que trabalhavam unidas, se expandindo em direção à locomotiva; uma forte luz vermelho-fogo que sacudiu toda a poeira da ponte antiga, fazendo algumas pedras soltas voarem para o lago escuro; e o trem parou fazendo muito barulho, os vagões encarrilhando ligeiramente, como se fosse uma cobra se enrolando, mas só por um instante: logo parou, faíscas fortes escapando das rodas de ferro em atrito com o trilho, exatamente no limite da ponte...
A respiração de Harry ainda estava presa na garganta. A varinha se mantinha segura e muito firme na sua mão suada. Ele suspirou, trêmulo.
Olhou para ou outros, que estavam tão arrebatados quanto ele: Gina ainda olhava, assustada, para o trem. Rony tinha os olhos tão arregalados que pareciam à ponto de saltar. Mione tremia loucamente, embora estivesse respirando, já Neville estava ficando gradualmente roxo, com a boca muito fechada. Luna já havia abaixado a varinha, e olhava distraída para a unha do dedo indicador da mão esquerda, que parecia ter quebrado.
Ele saiu correndo, sem avisar os outros, para a fenda. Reparou que as portas do trem já haviam sido abertas; ou arrombadas; pelos alunos desesperados. Eles falavam alucinados, todos parecendo muito embolados: provavelmente na hora da parada brusca, eles tinham sido arremessados pelo trem, uns por cima dos outros e no chão de madeira. Viram Harry na outra extremidade e desataram a pedir por socorro, e alguns poucos agradeceram. Umas cinco garotas haviam caído de joelho no chão, trêmulas, por que suas pernas estavam possivelmente fracas do susto, entre elas Lilá Brown e Parvati Patil.
Harry voltou até os amigos, lento, e viu que eles finalmente haviam se dado conta do sucesso, embora Neville vomitasse sonoramente atrás de um arbusto, na beira da estrada de ferro.
Luna tentava consertar a unha com a varinha, sentada num pedregulho, com as pernas cruzadas, como se salvasse trens todos os dias. Mione estava abraçada com Rony, em pé.
Harry foi até Gina, que lhe encarou com os olhos apertados, parecendo absolutamente furiosa. Ele se abaixou até a pedra onde ela se sentara e pegou sua mão, hesitante. Ela puxou a mão pra longe, olhando decidida para os lados da locomotiva.
Mas na mesma hora ela arregalou os olhos, ficando branca. Harry se virou e viu que a locomotiva começara a escorregar lentamente, à partir da cabine, para dentro da fenda. Os alunos berraram, alucinados, e correram pra longe.
Harry correu novamente até a beira da ponte, e berrou:
- JÁ TÁ TODO MUNDO FORA?! – os alunos não responderam, apenas encararam ele, desnorteados e apavorados, as roupas da escola voando indolentemente sob o vento que se abatia sobre a cena, vindo do céu tempestuoso.
- Já, Harry, já! - esclamou Ernesto Mcmillan saindo de um vagão do meio com um salto, parecendo pálido.
- ENTÃO SE AFASTEM DAÍ! - tornou Harry, gesticulando freneticamente. Alguns alunos ainda estavam perto do trem, se mexendo confusos como baratas tontas. O garoto correu novamente para perto dos amigos, que estavam novamente alertas, com as varinhas em punho, esperando Harry tomar alguma atitude.
- Não há nada que possamos fazer - comentou Neville tremulo, ainda muiro verde. Harry achou seguro manter alguma distântia dele, até a cor voltar ao normal.
- Tem sim - Hermione falou, se desvencilhando dos braços do namorado, decidida. - esse trem carrega boa parte da nossa história. Nos conhecemos, todos, aqui nessa locomotiva. Ela não vai afundar no lago. Não deixo.
A garota saiu, pisando firme, para a borda da ponte. Luna saiu atrás dela, andando quase calmamente. Rony trocou um olhar de medo e exasperação com Harry e Neville, que por sua vez olhava para os pés como se decidisse se faria ou não algo para preservar o trem. Gina seguira as amigas, correndo contra o vento que lançavam seus cabelos para trás com força.
Harry viu que não havia mais o que decidir. Levantou a varinha e correu para junto da namorada e as amigas. Sentiu Rony freiar ao seu lado, e Neville chegou logo depois, parecendo querer se lançar ponte abaixo.
O trem deu outro tranco para baixo, fazendo algumas pedras se soltarem, e os alunos berraram assustados.
Harry montou a vassoura que apanhara um pouco antes, lá atras.
Voou para a outra extremidade da ponte, e avisou à todos para se afastarem, pois poderia ser perigoso. Os outros chegaram logo depois, pousando ao seu lado.
- Harry - chamou Mione da sua esquerda. Harry olhou pra ela, e viu que a garota olhava para o trem pensando à anos luz dele. - tenho uma idéia. - ela olhou para o amigo, que ainda encarava abobalhado para ela, completamente sem idéia. - precisamos soltar o segundo vagão do prime...
Outro estouro sobressaltou a todos quando o primeiro vagão inteiro se arremessou em direção à água revolta do lago à mercê da tempestade que começava. A parte do lado deles da ponte, de repente, se soltou também, caindo no lago com um estrondo poderoso, que fez a água subir até eles, extravasando o leito rochoso e encharcando os alunos mais próximos da beirada. Agora o segundo vagão se arrastava lenta, perigosamente, para se juntar ao primeiro, que já pendia molemente, a junção com o segundo rangendo penosamente.
- Tudo bem, minha idéia - continuou a garota, mais rápido e olhando hesitante para o trem que se locomovia lentamente. - é separar os vagões à partir do seg... - o segundo vagão caiu com um movimento repentino, fazendo os amunos se jogarem para longe, assustados. - terceiro - terminou ela, com um suspiro.
- Otima idéia - respondeu Rony, procurando o olhar de confirmação de Harry.
- Precisamos de feitiços Redutores - falou Luna, olhando para Harry, se balançando na ponta dos pés. Colocara a varinha atrás da orelha esquerda, provavelmente para deixá-la à mão.
- Vamos - decidiu-se Harry, se adiantando para o trem. ficou na frente do local onde havia a junção do terceiro e quarto vagão, e apontou a varinha, no momento em que os outros cinco se puseram ao seu lado, também com as varinhas apontadas pra frente.
- REDUC...
Os quatro iriam gritar o feitiço Redutor, mas nesse mesmo momento um grito estrangulado vindo do trem. O estômago de Harry deu um tranco desagradavelmente forte quando ele percebeu que o grito vinha do trem. Fez um gesto repentino para todos pararem seus feitiços.
- TEM ALGUEM LÁ - berrou Luna, com os olhos (ainda mais) arregalados.
- Eu vou - Harry saiu correndo para a porta mais próxima, fingindo não ouvir o grito de "pare" de Gina.
Entrou no trem em movimento, onde as malas atravancavam o chão, quase todo o conteúdo delas espalhado no chao.
"TEM ALGUÉM AQUI?" berrou, colocando as mãos em concha perto da boca, para fazer o som se propagar melhor pelo corredor estreito.
Outro grito enregelante fez o peito de Harry disparar, e ele sentiu desespero.
"PRECISAMOS SAIR DAQUI, APAREÇA!" gritou desnorteado, olhando em volta, no momento em que alguem se atirou sobre ele, derrubando-o de cara no chão. Alguem de preto estava segurando seu rosto no chão do trem, ele podia divisar a capa balançar enquanto seu dono pisava seu rosto.
-É fácil atrair alguém corajoso, Potter - falou uma voz arrastada, perto do seu ouvido - Principalmente alguém tão burro - ele parou pra apreciar o efeito da palavra no ouvido de Harry, que se debatia, inutilmente - que cai duas vezes na mesma armadilha...
- Malfoy! - Harry poderia reconhecer aquela voz em qualquer lugar. Sentiu seu nariz quebrar novamente, exatamente um ano depois da última vez.- como entrou aqui?! Você é um comensal procurado!...
- Sabe, Potter - respondeu ele, de modo cantarolado - diferente de você, eu aprendi a aparatar muito rapidamente. Não foi fácil, admito, entrar no trem depois de aparatar na plataforma, foi muito difícil. Foi preciso usar uma capa da invisibilidade, o que você deve saber que é um artefato muito útil para se esconder...
- É, Malfoy, mas diferente de você - respondeu Harry, se lembrando da resposta que dera à Malfoy, algum tempo atrás. - eu não sou um babaca. Sectumsempra! - berrou, apontando a varinha com dificuldade por cima da cabeça. Malfoy pulou pra trás para evitar o feitiço, e Harry aproveitou a oportunidade para se levantar. Mas não foi por muito tempo. O vagão deu um tranco e caiu no abismo, jogando os dois garotos para trás. Harry bateu dolorosamente na parede da locomotiva, e Malfoy estava de cabeça pra baixo, estirado no corredor, agora na vertical. Harry tentou divisar alguma coisa onde se apoiar, tentando agir antes que Malfoy se levantasse. Havia uma maçaneta na porta da parede oposta, agora o teto de Harry. O garoto apontou a varinha, exclamando "Accio!", e ele voou em direção à maçaneta. Malfoy levantou a cabeça, e apontou para Harry a varinha, tentando fazer mira no corpo de Harry que se balançava precariamente, segurando com uma mão na maçaneta de latão.
Teve uma idéia repentina... É, poderia dar certo.
"Alohomorra!" murmurou ele, ofegante, apontando para a porta acima dele. Ela se abriu de lado, e Harry tentou segurar com a mão da varinha no lado da porta. Se içou para cima, no momento em que o feitiço de Draco estourava um pedaço da parede fina de madeira. O trem produziu outro ruído quando se arrastou para baixo, e outro vagão desceu, Harry sentiu como se estivesse num pesadelo, o chão era a parede, a parede era o chão, ele nem sabia dizer. Se agarrou na maçaneta no outro lado e fechou a porta sob ele, evitando Malfoy. Se levantou a aproximou-se da janela, por onde ele via a encosta rochosa e o lago revolto, que se abria numa imensidão cinzenta, por onde Hogwarts se via, grande e silenciosa, contra o céu negro e as montanhas escuras. Bateu no vidro, gritando por ajuda.
Mas então sentiu-se impelido para cima, voando contra sua vontade, seus pés abandonando o chão, e no momento seguinte, tudo à sua volta era azul profundo, escuro. Ele se afastou, lentamente, do vidro que começava a rachar, onde a água começava a entrar em grandes e poderosos jatos, encharcando as roupas de Harry.
- Reparo! - ordenou ele, apontando para as janelas, mas elas apenas fecharam e voltaram a se abrir... A força da água era maior.
Harry tentava pensar, fugindo da água que alagava o vagão. Ouviu o grito de Malfoy, seguido de um grande estrondo que provocou grande pressão no chão sob ele. A porta tremeu por um instante, e se arrebentou enchendo o vagão até a metade, impelindo Harry novamente pra cima.
Foi daí que ele se lembrou do feitiço cabeça-de-bolha. Se concentrando sobre a massa de água que enchia o compartimento, ele apontou a varinha para a propria cabeça. Murmurou o encantamento, e sentiu algo como um desentupidor de pia nos ouvidos. Logo podia ver tudo à sua volta alagado, e alargado.
A água enchia completamente o vagão, agora. Nadou para baixo, procurando uma saída... E então viu Malfoy, com as bochechas cheias de ar, encarando ele com os olhos semicerrados. O garoto lançou-lhe um feitiço não-verbal, e um jorro de água fervente veio em sua direção. Harry se desviou, com um impulso dos pés.
- Dê uma trégua, seu idiota! - exclamou, gesticulando para o inimigo que estava muito roxo.
Então o olhar dele ficou turvo... Sua cabeça pendeu, sua varinha escorregou dos seus dedos, se perdendo na água escura...Desmaiou.
Harry hesitou. Sentiu raiva de si mesmo, mas foi até ele, abraçou-o pelas costelas e olhou para os lados, pensando... Agora que a pressão estabilizara dos dois lados, o vidro parara de rachar.
Mas não havia outra maneira. Harry mirou numa das janelas, e gritou "Reducto!".
Uma bolha de ar se arremessou da varinha do garoto, e abriu um buraco no vidro, saindo pelo outro lado. O fluxo de água empurrou Harry para trás, e ele bateu dolorosamente contra a parede oposta. Nadou com força, e saiu pelo buraco, que ele terminou de abrir com chutes, ferindo de leve a perna direita. Ignorando o sangue que boiava na água escura à sua volta, ele continuou nadando. Olhou pra trás, e viu, com espanto, que seis vagões do trem já jaziam no leito do lago, e o sétimo já se arrastava lentamente.
Harry divisou através da bolha uma luz lá em cima. Nadou com força, disparando, à intervalos, feitiços redutores que lhe davam um ligeiro impulso. Quando sua cabeça varou a superfície, ele falou "Finite!", e a bolha desapareceu. O sol incindiu sobre seu rosto frio, e ele colocou Malfoy sobre seu ombro. Segurando a varinha firmemente, ele deu mais umas braçadas e olhou pra cima.
Sorriu ao ver Rony, Mione, Gina, Luna e Neville voando sobre o lago, chamando seu nome, rasando sobre as ondas revoltas do lago tempestuoso...
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