A volta de Percy
Depois da conversa com Snape, Harry ficou um pouco assustado com a perspectiva de Voldemort aparecendo em carne e osso para impedi-lo de destruir as outras horcruxes.
Mas duas semanas depois, acompanhando as noticias que a ordem trazia, ele não se sentia mal.
Sentia-se pior.
Segundo os relatórios, os comensais estavam recuperando numero, por meio da persuasão, pressão emocional, e o uso generoso da maldição Cruciatus.
Mas nem tudo eles ouviam de relatórios da Ordem. Todos os dias o Profeta noticiava novos ataques, mortes, seqüestros, desaparecimentos, e várias desgraças em massa, como um bando de rabo-córneos que haviam sido soltos de uma ilha do norte do país por um grupo de comensais, e que juntos haviam destruído uma cidadezinha, matado vários trouxas, queimado casas, prédios, carros, e levado a cidade a desaparecer do mapa.
No grau de ataques, podia ser destacado o ataque de dementadores num trem de carga que ia de Surrey para Londres. Segundo a noticia, o trem passara direto pela estação de King’s Cross, sendo parado na estação seguinte. Mas o susto de verdade foi quando a policia entrara no trem e encontrara todos os passageiros caídos no chão, vivos, porém em estado vegetativo.
Também havia o ataque que se dera numa casa de bruxos no leste do país. Todos os membros da família Midgeon, exceto a colega de Harry, Rony e Hermione, Heloisa, e sua mãe haviam sido assassinados, e nenhum culpado havia sido pego. Ninguém sabia a razão do ataque, mas todo mundo sabia que os pais de Heloisa lhe haviam tirado da escola por razão de segurança, no ano anterior... Se eles soubessem, com certeza a teriam deixado na escola até mesmo nas férias...
Mas o que amenizava o sentimento de receio crescente no peito de Harry era o fato de que em duas semanas estaria de volta à Hogwarts, e poderia distrair a atenção com os trabalhos, ensaios, provas e deveres passados por professores rígidos como Minerva McGonnagall.
Oito dias depois da lamentável noticia sobre os Midgeon, Harry, Rony e Mione estavam se arrumando, logo depois do almoço, para ir ao Beco Diagonal novamente para comprar seu material escolar, cuja lista chegara na noite anterior, trazida por uma encharcada Edwiges.
A chuva já não perdurava, mas uma névoa muito densa e muito, mas muito molhada mesmo, deixava o numero 12 do Largo Grimmauld frio e muito mais parecido com a versão antiga, verde e embolorado; ainda mais com as velas apagadas graças as correntes de ar frio que entravam pelas poucas janelas abertas.
Quando eles estavam à porta da casa, se preparando pra sair, Tonks veio correndo até os garotos, com os cabelos roxos amarrados em uma trança até as costas.
- Eu vou acompanhar vocês – falou, animada, a mulher. – preciso de mais sorvete de chocolate com nozes. Apesar de Olho-Tonto não gostar muito das nozes... Ele acha que é muito fácil trocar elas por fezes de fada-mordente...
Ela parou, pensativa, e depois balançando a cabeça, abriu a porta e deixou os garotos passarem antes de fecha-la novamente. Harry registrou mentalmente as palavras de Tonks e decidiu nunca mais colocar uma colher de sorvete de chocolate com nozes.
Depois de dez minutos de caminhada, eles chegaram até o encarquilhado Caldeirão Furado, onde Tom lhes lançou um olhar mal-humorado, limpando um copo sujo, com um pano ainda mais sujo, atrás do balcão empoeirado.
Já na ruela quase vazia, eles compraram os livros necessários (O Livro Padrão de Feitiços, 7ª série; Guia Básico de Transfiguração: N.I.E.M. ’s; e Defesa contra o Lado Negro: Guia do N.I.E.M.’s), ingredientes para poções, vestes novas, e o pote de três litros e meio de sorvete de Chocolate e Nozes da Senhora Wonka Nestléia.
Assim que terminaram as compras necessárias, foram até as Gemialidades Weasley, para uma visita rápida aos gêmeos.
Logo na entrada, os cartazes roxos do ano anterior, Harry percebeu, haviam sido trocados por outros novos, alaranjados, berrantes, que diziam:
“POR CAUSA DE ALGUÉM; NÃO VENDEMOS FIADO A NINGUÉM!”
Harry riu-se, e entrou na loja apinhada de gente, com os amigos e Tonks, que observava tudo com vivo interesse, parecendo ainda mais nova do que eles.
- Olha! – exclamou ela, apontando para uma pilha verde-limão no canto esquerdo da loja – eles têm os novos chicletes Droobles sabor maçã verde com Formas Extravagantes de Luxo!
Ela andou até a pilha mal equilibrada, parecendo uma criança muito grande, extremamente excitada.
- Olá, Harry, meu caro! – uma voz sobressaltou-o.
Percy Weasley andava até ele, extremamente pomposo. Harry sentiu um assomo de aversão tão grande que nem ao menos estendeu a mão para apertar a do homem. Percy manteve a mão no ar, e, dando-se por vencido, olhou por cima do ombro do garoto.
Rony chegava até a cena, com uma expressão furiosa no rosto.
- Que você quer, Percy? – perguntou agressivo.
- Ah, Rony! – ele exclamou, com uma expressão soberbamente agradável. Não a Rony, ao que pareceu. Ele continuou olhando, furioso, para o irmão.
- Você parece muito simpático comigo, Percy – falou Harry, sem sorrir. – pra quem disse que eu era possivelmente perigoso e desequilibrado à um ano e meio atrás – insinuou, apreciando o rosto desconcertado do outro. Mas Percy não se deixou abalar. Reafirmando seu sorriso, ele deu um tapa cordial no ombro do garoto, falando displicentemente pomposo:
- Ora, Harry... Isso é...
- É patético, Percy, como você – falou uma voz agressiva atrás deles. Fred Weasley veio até eles, com vestes muito chiques, em couro carmim.
- Meu irmão – falou Percy, pomposo, abrindo os braços – quantas saudades, quantas saudades!
- Falso como o couro da sua roupa, não é, Fred? – falou Jorge, chegando à cena, também muito agressivo. O sorriso de Percy desapareceu, mas ele continuou irredutível.
- Esperava seu perdão! – disse ele, inflando o peito e ajeitando os óculos. – mamãe e papai me receberam em casa, semana passada! Voltei a morar lá! Estou muito bem! Sabe, ocupo o cargo de ministro-mirim!
- Pouco nos importa! – falou Rony, ficando vermelho com a velocidade de um sinal de trânsito. – você é um babaca, Percy, e isso é que conta! Você saiu de casa ofendendo seu pai, sua mãe, o Harry, e Dumbledore, a ainda tem a coragem de aparecer por aqui, seu...
- Ora, Ronald! – ignorou Percy, com um gesto soberbamente irritante. – eu errei, e admito.
- Ah, e isso muda muito as coisas – ironizou Fred, fulminando o irmão com os olhos.
- É, Percy. – Tonks entrou na conversa, pressurosa. – você poderia ter ficado ao lado de Dumbledore, mas muito pelo contrario, você praticamente possibilitou, junto ao Fudge, o crescimento do poder de Você-Sabe-Que...
- Eu trabalho no ministério! – exclamou Percy, escandalizadamente ofendido – era o comportamento que o ministro esperava de seus...
- Kingsley Shacklebolt, Tonks, nosso pai – interrompeu Jorge, contando nos dedos e alteando a voz para impedir Percy de se defender – também trabalhavam no ministério. Contudo, foram fiéis aos segredos e serviços de Dumbledore. E se Fudge não iria tolerar um empregado fiel à Dumbledore – ele alteou ainda mais a voz, por que o irmão mais uma vez abrira a boca, indignado, para revidar – tampouco nós deveríamos tolerar sua traição para com as pessoas que sempre se importaram com você. – ele terminou, e Harry notou que seu olhar inflamado parecia estar diminuindo o ego de Percy.
- Eu vim apenas para pedir o perdão de meus irmãos – falou, solenemente desapontado, depois de uma pausa em que ele olhara para os sapatos ofuscantemente engraxados – mas parece que minha jornada foi em vão!
- Percy – chamou Hermione de repente, quando o homem se virava pra sair da loja, cabisbaixo. Ela hesitou, torcendo as mãos umas nas outras, como costumava fazer quando nervosa. – Ah, vocês são irmãos! – ela desabafou, com uma expressão de desanimo no rosto – deveriam estar juntos, unidos contra o poder maligno de Voldemort! – houve um tremor involuntário no grupo - Como vocês se sentiriam se Percy – ela apontou com a mão tremula para ele – aparecesse, amanhã mesmo, morto na primeira pagina do Profeta?
Houve um silencio bem desagradável. Mione pareceu hesitar, abaixando o braço lentamente.
Fred olhou, abobado, o rosto teatralmente arrependido do irmão. Jorge parecia estar fazendo uma conta muito difícil de matemática, com a testa franzida. Rony, por sua vez, estava irredutível, e ainda mostrava as orelhas vermelhas,como tomates de forma peculiar. Harry achava que Hermione estava certa. Ela era mesmo estranha, mas de qualquer jeito, Percy merecia uma segunda chance.
- Ta bem – murmurou Fred – perdoado, por minha parte.
- Beleza – falou Jorge, balançando os ombros.
Os gêmeos receberam uma grande ovação dos clientes da loja que, Harry acabara de notar, haviam se aglomerado em torno da lavação-de-roupa-suja em família. Hermione, por sua vez, estava profundamente emocionada, chorando de se acabar no ombro de um orgulhoso Rony.
Depois de alguns minutos de silencio, Harry se lembrou que eles tinham ido ali a fim de fazer compras na loja, e discretamente saiu da companhia dos outros, acompanhado apenas por Hermione, que ainda fungava sonoramente. Harry escolheu, nas prateleiras apinhadas de produtos sortidos coloridos, barulhentos, berrantes, um pote de Pó Escurecedor do Peru, uma idéia relativamente boa de Malfoy; uma roupinha sob medida para mini-pufes, para Arnaldo, o bichinho de Gina, que estava sofrendo de uma forte gripe; um saquinho de Droobles Paixonite Aguda (um chiclete baseado nos efeitos da Amortentia, que tem o aroma daquilo que a pessoa mais gosta no mundo, incluindo os beijos do namorado.); e uma caixinha de bombons musicais, que enquanto eram comidos faziam a pessoa ouvir a musica preferida, ou o som que a pessoa mais gostasse no mundo. Ele mandaria os chocolates, os chicletes e a roupinha como pedido de desculpas para Gina, que não lhe enviara nem uma carta desde sua ausência n’A Toca.
Quando ia voltando para o lugar onde o grupo estava, ele deparou-se com Fred e Jorge conversando absortos com Percy; Rony observando-os com os olhos apertados; e Tonks mascando um dos Droobles Formas Extravagantes. Enquanto ela olhava, interessada, a prateleira berrantemente rosa de encantos femininos, um cisne em tamanho real parecia estar inflando de sua boca, como um balão de festa chamativo. Ela parecia muito no clima da loja extremamente colorida, com uma ave rosa-berrante perdurada a boca, os cabelos roxos e o vestido rodado preto e rosa com cintos de couro no abdome que ela escolhera para a ocasião.
Discretamente, Harry chamou Rony, e o amigo murmurou “Que...” sem desgrudar os olhos dos irmãos.
Depois de conseguir puxa-lo para fora da loja, e fazer o mesmo com a animada auror, eles tomaram o rumo para sair do Beco, carregados de sacolas, enquanto uma bola de chicle em forma de poltrona crescia para fora dos lábios de Tonks.
Hermione deu uma ultima fungada, sorrindo contrafeita.
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