O maior medo da Sra. Weasley



Logo depois de apanhar o medalhão no meio do cemitério, e acenar um adeus para o túmulo de seus pais, Harry se virou para o lado do portão de ferro fundido. Rony e Mione pareciam bem cansados, e ele resolveu ir direto para o hotel.
No prédio, eles subiram as escadas, lentamente, ignorando os olhares curiosos dos hospedes que murmuravam ante a sujeira, sangue, ferimentos, e cansaço dos garotos.
No quarto, Harry foi o terceiro a tomar banho. Ficou olhando, pensativo, pela janela, analisando o medalhão de prata. Estava com a mesma aparência, exceto por uma rachadura no meio da fronte e uma queimadura no côncavo interior, onde antes havia uma luz estranhamente verde.
Ele segurou o medalhão com força, no momento em que a voz de Rony avisava que ele podia ir tomar banho.

Na manhã seguinte ele acordou às seis horas, se vestiu, apanhou a gaiola de Edwiges e colocou do lado da porta.
Como no dia anterior, ele desceu para o salão de café, para esperar os amigos.
As roupas do garoto estavam, por mais incrível que pudesse parecer, limpas. No momento em que ele levara as vestes na lavanderia, a velhinha embolorada que trabalhava ali apontou a varinha, consertando os pequenos rasgos e extraindo todo o sangue e a sujeira remanescente.
Enquanto tomava o último gole do seu café, cujo calor ele preferiu manter com as mãos, em vez de enfeitiçar a xícara, ele ouviu os amigos descendo as escadas, e olhou maquinalmente para trás. Eles desciam abraçados e barulhentos, fazendo carícias e dando risadas.
Harry sentiu uma grande pontada de inveja, e lembrou de Gina esperando por ele n’A Toca.
Mais algumas horas até vê-la novamente...
Os dois passaram por ele, rindo, e depois de pegar seu café no balcão, voltaram para a mesa.
- Estaremos saindo em, no máximo, agora – disse Harry ancioso, mexendo com a colher no fundo da xícara.
- Nossa – exclamou Mione, sorrindo – alguém está com saudades da namorada...
Harry apenas sorriu, e deixou o assunto no ar.

- Rápido, Ronald! – exclamou Mione, depois de vinte minutos, enquanto o namorado tentava pegar a corujinha Píchi, que voava pelo quarto, piando feito louca.
- Immobullus! – disse Hermione, da porta, apontando para a ave, que estacou no ar, e caiu com um barulhinho engraçado sobre a cama.
- Vamos – gritou Harry, irritado, do corredor.
- Ta bom, ta bom! – exclamou Rony, saindo do quarto e guardando a coruja na gaiola. A ave pendeu por um instante e depois caiu, pateticamente, no forro coberto de titica, imobilizada. O dono parou hesitante. Balançou os ombros, e desceu as escadas até Harry, que já estava quase na porta.
Eles andaram rapidamente, ignorando os guinchos de Bichento, cuja cesta balançava muito enquanto Mione corria atrás de um apressado Harry.
Edwiges, por sua vez, estava muito calma, sustentando uma postura bem digna, enquanto sua gaiola sacolejava, desconfortável.
Chegando a casa, os três pararam olhando, nervosos, para os dois lados da rua.
Entraram pela porta depois de atravessarem o quintal velho e cheio de mato.
Depois de inserir os bilhetes na rasura do espelho, voaram, um de cada vez, pela escuridão das lareiras bruxas, caindo embolados no chão d’O Caldeirão Furado.
Apanharam as malas no Gringotes, e então voltaram ao bar, e dali, voltaram para A Toca.
- Ah, Rony, Harry, Hermione! – A sra. Weasley agarrou os três, num abraço apertado.
- Sra. Weasley, desculpe-nos por... – mas suas palavras foram calando ao que ele viu a menina dos seus olhos descendo, sorrindo, as escadas.
Harry correu até ela, sem nem ao menos pensar. Jogou para trás a gaiola de sua coruja, e abraçou a namorada, que o agarrara pelo pescoço, chorando e rindo ao mesmo tempo.
- Você é um idiota, sabia? – ela falou no momento em que eles se soltaram.
- Eu não podia te levar, Gina... Você sabe, os comensais...
- O QUE?! - a sra. Weasley avançou para os dois, inchando como um balão.
Harry explicou toda a história, como eles haviam achado o medalhão no túmulo, como os comensais apareceram, lutaram com eles, como eles os haviam subjugado, e como Lupin, Tonks e Moody haviam levado os comensais para o ministério.
No fim, ela tinha lágrimas nos olhos, e depois de dizer que queria matar os membros da Ordem por não a terem informado do atentado, ela deu os parabéns pros garotos por terem vencido os seis comensais sem ajuda.

Os dias seguintes, incluindo o aniversário de Harry, passaram sem acontecimentos grandes, exceto a volta de Gui e Fleur. Eles apareceram, no meio do jantar de aniversario de Harry, parecendo muito felizes e super bronzeados. Falavam maravilhas sobre o Hawaii, local para onde eles haviam se ausentado em lua-de-mel. Harry ouvia, animado, mas não tanto quanto Gui quando ele contou como foram atacados pelos comensais da morte no meio de um cemitério de trouxas, sem nenhuma ajuda.
Ele não mencionara pra ninguém, exceto Lupin, o fato de ter destruído a Horcrux. Mas sabia quem seria o primeiro, a saber: Snape.
Harry sabia que Dumbledore dividira todos os assuntos que tratara com Harry com ele.

Então, no dia seguinte ao seu aniversário, dia primeiro de agosto, ele foi falar a sra. Weasley.
- Hum... Sra. Weasley?
- Sim, Harry, querido?
- Eu quero ir ao largo Grimmauld. – falou o garoto, sem parar pra ver a expressão da mulher. – preciso falar com Snape.
- Mas... Mas... – ela fez uma cara de desanimada, como se não agüentasse mais uma aventura mortal envolvendo seu filho e seus amigos.
- Eu vou hoje. Á tarde.
- É... Eu imaginei que você iria querer, mas...
- Eu quero sra. Weasley.
- Bem, bem – falou ela, irritada – mas você vai ficar muito bem comportado, mocinho!
- Sim, é claro – falou o garoto, rindo-se.

- O que?! – berrou Rony, quinze minutos depois quando o garoto contou pra ele de sua nova saída. - Mas... Aquela casa horrível...
- Ah, vamos lá, Ronald! – animou Mione, batendo em seu braço. – nós já somos adultos, se esqueceu? Poderemos entrar na Ordem!
O garoto fez uma cara de espanto, e olhou dela para Harry, que confirmou com a cabeça, animado.
- Sim! – berrou Rony de triunfo, caindo na cama.
- Será o máximo... – falou Mione, olhando a esmo pelo quarto do namorado.
- Mas os perigos serão tantos... seus pais não iriam querer, não é, Hermione? – indagou Harry, inseguro.
- Ah – ela abanou as mãos, como quem espanta uma mosca – eles já devem estar acostumados com minhas aventuras mortais nesses cinco anos. – ela sorriu – e eles não vão me impedir de ficar ao lado de meu amigo, e de meu Roniwonny!
Rony enfiou a cara nas mãos, enrubescendo. Mione riu bobamente, abraçando o garoto, enquanto Gina, que entrara no quarto na mesma hora, juntou as mãos fechadas no peito e falou, fazendo beicinho:
- Ronywonny - Harry caiu na gargalhada, enquanto Rony saía correndo atrás da irmã, os dois descendo aos pulos a escadaria desmantelada.
Mione revirou os olhos, e murmurou “homens...”.
Ela se levantou e olhou pela janela, para o céu que formava colunas de nuvens escuras que giravam, ameaçadoras, deixando visíveis alguns clarões azuis, cujos estrondos sobressaltavam as corujas empoleiradas no armário alaranjado de Rony.
- Que faremos enquanto estamos no Largo Grimmauld?- ela perguntou, ainda olhando para as nuvens daquela manhã tempestuosa.
- Ah – começou Harry, meio pego de surpresa. – Bem. Poderemos ajudar nos serviços da ordem. Quero dizer, missões e – ele parou, pensando no que os membros da organização faziam – coisas assim. – ele terminou, pouco conclusivo.
- Bem, então precisamos arrumar as malas – disse ela, se virando para o amigo. Suspirando, ela foi até a porta e gritou a mesma coisa para um Rony que ainda perseguia uma Gina que ainda se ria estridentemente.

Duas horas e meia depois, após um almoço prodigioso da sra. Weasley, um papo sério com o sr. Weasley, que trazia noticias do Ministério. Segundo ele, Satanislau Shumpike havia sido pego torturando Adalberto McMillan, tio do amigo de Harry em Hogwarts, Ernesto McMillan. Eles ficaram chocados com a noticia, até que o sr. Weasley explicou que, na verdade, o moço estava sob o efeito da maldição Imperius, lançada por ninguém menos do que Ernesto Prang, que por sua vez fora enfeitiçado por Crabbe pai, que morrera na batalha de Godric’s Hollow. O feitiço acabou no momento em que o homem morreu, mas pelo fato de Shumpike ter estado preso numa cela do Ministério, aguardando por julgamento pela Suprema Corte, eles só haviam descoberto sua inocência naquela manhã.
- Mas – ele continuou ele, limpando seus óculos nas vestes – o fato é que Ernesto Prang foi encontrado morto ontem, perto da meia noite, dentro do Nôitibus.
“ É lógico que os comensais estavam tão interessados nos dois justamente por causa da prisão do mais novo, o Lalau, no ano passado. Levantaria mais suspeita para ele, teriam mais provas, e provas incontestáveis, vejam bem.”
- Ele poderia fazer o trabalho sujo por eles. Mas agora, depois da morte de Crabbe, o assassinato de Prang, durante a prisão de Lalau, eles entenderam.
- Mas e McMillan – indagou Mione, preocupada – como ele está? Ele já depôs?
- Ah, não! – exclamou o sr. Weasley, arregalando os olhos. – ele ainda está no St. Mungus. Coitado, estava em estado de choque. Esta sendo tratado por curandeiros especializados. Coitado – repetiu o homem, balançando a cabeça.
Então, logo depois, eles estavam se preparando pra viajar para o Largo Grimmauld.
Abotoando a capa, Harry viu Gina sentada no degrau da escada, parecendo infeliz. O garoto foi até ela, relutante, e sentou ao seu lado. Observaram por um instante Rony e Mione se despedirem do senhor e da senhora Weasley.
- Você vai... – ele começou, envergonhado.
- Ah, Harry, me poupe. Você vai dizer, com certeza, que está me escondendo do perigo, e quer saber, Harry? Estou farta. Boa sorte.
Ela se virou e subiu as escadas, batendo os pés. Harry se virou, impotente, para a namorada que se afastava, decidida.
- Gina... – exclamou ele, aturdido – então... Venha conosco!
A garota parou, olhando para o degrau, girando o pé.
- Mamãe não deixou – ela falou como se não se importasse, mas Harry sabia que ela se importava, sim, e muito. Ela sempre fora independente. – não sou maior de idade.
- Mas isso não é minha culpa, Gina! – disse ele, gesticulando para as costas da namorada.
- Você deveria ficar comigo! – berrou ela, sublinhando a ultima palavra, e todo mundo na cozinha se calou, assustado.
Harry começou a ficar envergonhado e aborrecido, e seu rosto, ele tinha certeza, estaria pegando fogo em alguns segundos.
- Gina – começou ele, agora positivamente tremendo de raiva – você sabe, essa é minha missão! Eu nunca quis admitir, mas a verdade é que, de um modo ou de outro, ou eu, ou ele, irá morrer no fim dessa guerra!
Atrás dele, no momento em que ele terminara a palavra “morrer”, a sra. Weasley berrara e começara a chorar descontrolada, e um som de queda sobressaltou Gina e Harry. Os dois se viraram em tempo de ver o pai da garota acudindo a sra. Weasley, que estava caída, aos prantos, no chão de madeira. Eles desceram as escadas, correndo, afobados, e Harry se ajoelhou diante da mulher.
- Sra. Weasley! – chamou ele,com firmeza.
Ela olhou pra ele, parecendo assustada e desesperada.
- Por que você disse aquilo – perguntou a mulher, aos soluços, agarrando a gola das vestes de Harry.
- Por que... – ele pensou, apavorado, em como dizer a verdade, aquela verdade que o maltratava a tanto tempo. Aquela que ele evitava mais do que tudo. – por que é verdade.
A mulher encarou o garoto nos olhos, como se procurasse ali por confirmação. Ela soluçou alto, fechando os olhos e encostando a cabeça no peito do Harry.
- Harry – começou Gina, os lábios tremendo – o que você quer dizer com isso?
Então, conformado, ele começou a contar tudo sobre a profecia que Dumbledore lhe contara naquela noite a um ano e meio.
Quando ele terminou, olhou pra baixo.
Todos o encaravam, e todos, a não ser Rony e Mione, pareciam estarrecidos.
- Não p-pode... S-ser v-verdade – soluçou a sra. Weasley, chorando muito, sentada agora numa cadeira, sendo ajudada pelo marido.
Gina encarava o vazio, sem expressão, embora varias lagrimas brilhassem em seu rosto.
Harry olhava para Rony e Hermione, quase implorante.
- Mamãe – disse Rony baixo e timidamente. – precisamos ir...
- Vão, Rony, Hermione... Harry... Vão. – o Sr. Weasley falou, baixo. – eu cuido dela.
Os três se dirigiram inseguros, até a lareira. Ali, Harry olhou pra trás. Gina o encarava chorando, com o queixo tremendo e os braços cruzados.
- Adeus – falou baixinho. Ela não retribuiu com palavras. Em vez disso, acenou com a mão, o olhar em seu rosto dizendo com todas as palavras que ainda lhe amava e sentiria saudades. Sentimento que Harry retribuía, da mesma forma e ainda com mais força.

Quando ele saiu, embolado e coberto de pó, na lareira da cozinha de pedra escura e encardida, foi recebido por um aperto de mãos de Lupin e um abraço de Tonks. Moody apenas balançou a cabeça, severo.
Quando Harry saiu da cozinha, subindo pela escada de pedra, ele sentiu o queixo cair de espanto. A casa fora radicalmente reformada, e parecia até uma mansão daquelas de trouxas ricos, que se viam em filmes.
As paredes estavam, agora, limpas e belas. Em vez de verde oliva, haviam se tornado vermelho-escuras, com luminárias douradas. Os quadros nas paredes tinham as molduras limpas e bem cuidadas, embora os retratos estivessem cobertos com cortinas de veludo vermelho.
O carpete e o soalho também haviam sido trocados, embora o feio porta guarda-chuvas de perna de trasgo continuasse firme e forte próximo a entrada.
As portas estavam, visivelmente, bem lustradas e novíssimas. Os puxadores de prata oxidada em forma de serpente enrolada haviam sido substituídos por alguns novos e muito mais bonitos, dourados e bem entalhados.
- Uma mudança drástica – falou Harry, em tom de aprovação, abarcando com os braços todos os armários de vidro, agora com porta-retratos da ordem e das famílias, e também para o piano e os aparadores em mogno muito bem lustrados, enquanto Rony e Mione olhavam, assombrados, com as cabeças espichadas por cima do ombro de Harry.
- A Tonks deu uma ajudinha – falou Lupin, sorrindo para a namorada, que o abraçara pelas costas. Hoje ela estava com os cabelos roxo-berrante, lisos, até os ombros.
- Podemos ir para o nosso quarto? – perguntou Rony, bocejando.
- Claro! – exclamou a moça, correndo até o garoto. Puxando a varinha, ela murmurou “locomotor malão!”, e as malas saíram levitando pelas escadas, batendo de leve nas paredes, e voando para os quartos.
Os garotos foram logo atrás de Tonks, correndo na subida das escadas. Deixaram as malas nos quartos de hospedes onde costumavam ficar, que também haviam sofrido grandes mudanças. Na volta para o corredor, Tonks falou que precisava descer, e os três garotos ficaram por ali pra ver as novas e bem-vindas mudanças. Harry reparou que as cabeças dos elfos domésticos continuavam ali, assim como a tapeçaria da sala de estar do segundo piso, embora estivesse pouco visível sob um grande mapa-múndi que fora afixado ali. Haviam, em volta, cadeiras confortáveis para os membros da ordem, e mesas redondas abarrotadas com pergaminhos, mapas, velas derretidas, folhetos, entre outras coisas que mostravam claramente que eles estavam trabalhando arduamente. As cortinas estavam abertas, e deixavam entrar pelas janelas altas a luz pálida das nuvens, agora que a tempestade abrandara.
Nos cômodos dos andares superiores haviam pouquíssimas mudanças. Deveria ter sido difícil ter mudado aqueles dois andares com o térreo, pensou Harry, com todos os moveis lutando bravamente contra eles, então já estava mais do que bom ter um quarto limpo e sem cheiro de mofo, pra variar.

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