Caminho para o passado escuro



Eles desceram as escadas, sem fazer ruído, os malões apertados nas mãos. Enquanto atravessavam a cozinha, Harry não pôde deixar de pensar na próxima vez que veria aquela casa. E se não houvesse uma próxima vez?
Eles se dirigiram até a lareira da sala, e apanharam um pouco de pó brilhante num vaso de flores ao lado do console.
Rony adentrou-a, abaixando a cabeça para não bater com ela no alto da lareira. Ele se virou para os amigos, na mesma hora em que jogava o pó no chão e gritava “Beco Diagonal!”
O mesmo fizeram Mione e Harry. Antes, porém, o garoto olhara longamente pra cozinha escura, comovendo-se. Tantas lembranças... Podia se recordar da primeira manhã dele ali, no segundo ano de Hogwarts. Ele deu um adeus imaginário, enquanto as chamas o arrebatavam dali, num turbilhão de cor e vultos difusos, que ele via aos giros rápidos e nauseantes do Pó de Flu.
Então ele parou de rodopiar, e sua visão tonteou um pouco antes que ele tivesse parado. Ele saiu no salão de chá do bar O Caldeirão Furado. Harry olhou pra frente, e notou que os amigos já o esperavam um pouco a frente, olhando hesitantes pro bar vazio e escuro.
Eles se dirigiram ao pátio nos fundos, passando por alguns cartazes que retratavam os Comensais da Morte foragidos. Tom, o estalajadeiro, olhou-os esperançoso, usando um roupão amarelo-canário, e pareceu muito desapontado quando Harry sacudiu a cabeça negativamente. Eles finalmente passaram pela porta atrás do bar, e saíram naquele velho espaço de paredes de tijolo à vista, com duas latas de lixo. Estas refletiam a luz da lua, lá em cima, enquanto os garotos paravam em frente a parede.
Harry puxou a varinha, estando à frente, e bateu num certo tijolo que se torceu, e todos os tijolos ao redor começaram a torcer também, até que se abriu o arco para o Beco Diagonal, por onde os três passaram, apressados. A ruela estava completamente escura, exceto nas pequenas lâmpadas que ficavam na frente de cada loja. As janelas em cima das lojas também estavam apagadas, e as cortinas, cerradas. Tudo estava vazio, exceto o Gringotes, no fim da rua de pedra, onde os duendes já haviam aberto as portas de bronze, acendido todas as luzes e Harry foi diretamente até o banco, sem olhar para os lados, puxando o malão com a gaiola. Eles entraram no saguão de mármore, onde uns poucos clientes falavam apressados com os atendentes, olhando nervosamente para os lados. O garoto foi até o duende diretamente no meio do saguão, puxando a chavinha do bolso.
- Harry Potter – disse o garoto, entregando a chave na mão nodosa do duende – vim fazer uma retirada e guardar alguns itens. Eles estão comigo – disse o garoto, quando notou o olhar desconfiado que ele lançava para Rony e Hermione.
- Bem, bem – resmungou ele, entregando a chave dourada para um duende subordinado, que saiu apressado, fazendo um gesto para os garotos o seguirem, em direção a porta de madeira, que desembocava em um corredor um tanto agourento, feito de pedra, com archotes a cada espaço. Eles entraram num dos vagonetes que sempre transportava os clientes, e saíram sacolejando pelos trilhos de ferro. No meio do caminho um dragão passou por eles, cuspindo fogo, uma corrente grossa balançando em volta do pescoço, enquanto ele batia as asas gigantes. Os três olharam, assustados, para o duende, que encolheu os ombros, dizendo:
- Patrulha noturna.
- Vocês sempre trabalham de madrugada, aqui? – perguntou Hermione, franzindo a testa.
- Não, só nessa época de crise. As pessoas estão o tempo todo saindo de casa, fugindo, com medo. Vêm a toda hora.
Eles sacudiram por mais alguns minutos desagradáveis, e logo o duende dizia, em voz alta:
- Cofre 675!
Harry desceu do vagão, com um certo alívio. Ele puxou os malões dos amigos e o seu, enquanto eles desembarcavam, também.
Quando a porta se abriu, Harry colocou lá as três malas, e tirou um pacote cheio de ouro.
Ao sair do banco, levando as gaiolas de Edwiges, Píchi e Bichento, eles se dirigiram até a calçada da livraria Floreios e Borrões, e se sentaram, olhando nervosos em volta.

As horas passavam lentamente. Harry olhava em seu relógio constantemente, batendo os pés no chão. Hermione cochilava no ombro de Rony, que olhava pra todo lado, menos pro de Harry.
Lá pelas seis e meia, quando céu começou a clarear, e eles podiam ver uma linha dourada do horizonte, o ar ficou realmente frio. Harry esfregava as palmas das mãos, quando Mione acordou, esfregando os olhos.
- Já é manhã? – perguntou ela em tom de choro.
- É – respondeu Harry – já é de manhã. E por falar nisso... Digo... – ele tirou um pergaminho e uma pena da mala, se abaixando pra escrever com o papel apoiado no chão. Ele parou um pouco, pensando no que escrever. Se decidiu por ser o mais sucinto possível, sem ser rude, ou ingrato:

“Caros Sr. e Sra. Weasley:
Desculpe-me. Mas eu precisava sair.
Não direi aqui meu destino, pois a carta pode se extraviar.
Só é importante saber que Rony e Hermione estão comigo, e estaremos bem. Não pretendo leva-los a nenhum perigo.
Atenciosamente, Harry Potter.”

O garoto leu e releu a carta, e finalmente tirou Edwiges da gaiola. Prendeu a carta na perna dela, e quando a ave se preparava pra levantar vôo, Harry sussurrou, calmo:
- Nos procure... Não podemos ir sem você.
A coruja piou baixinho, concordando. Ela saiu batendo as asas, indo desaparecer por detrás do telhado da Floreios e Borrões, cujas portas, Harry notou, estavam se abrindo.
Havia um bruxo bem a frente, empunhando a varinha no alto. Ele colocou a cabeça pra fora, espiou pros dois lados, e terminou de abrir as portas, parecendo mais seguro.
Harry levantou-se, se espreguiçando. Ele cutucou os amigos, que conversavam baixinho, e eles olharam dele para a loja atrás. Os dois também se puseram de pé, pegando as gaiolas respectivas. Harry andou decidido até o interior da loja, onde o bruxo já estava atrás do balcão, lendo um livro intitulado “Um romance mágico!”. Ele levantou os olhos, corando. Escondeu o livro numa gaveta, atrapalhado.
- O que desejam assim tão cedo? – perguntou, se recompondo.
- Ã... Precisamos de um mapa... Hum... Prático. Que mostre o vilarejo de Godric’s Hollow.
- Vão fazer uma viagem? – indagou ele alegremente, se virando de costas pra procurar, numa prateleira cheia de folders que diziam coisas como “Hogsmeade: uma aventura pela história da bruxidade na Grã-Bretanha”, ou “Venha nos ajudar como voluntário no St. Mungus!”. – um passeio assim numa época dessas, cuidado, hein, pode ser meio perigoso! – concluiu ele, com uma expressão de incerteza.
- Claro – disse Harry distraído, olhando pro homem, que acabara de subir numa escadinha pra alcançar um folheto maior, meio embolorado.
Ele desceu, entregando o folheto na mão estendida de Harry.
- Dois sicles – pediu ele, estendendo a mão.
Harry pagou, olhando pro folheto. Tinha a frase “Povoados trouxas com habitantes bruxos famosos” escrita em letras garrafais pretas.
- Obrigado – disse Hermione, sorrindo, sob o braço de Rony.
Eles saíram da loja um minuto depois. Harry abrira o folheto, procurando algum indicio da sua cidade natal. Ele encontrou um grande quadro no canto superior esquerdo, onde se lia, em letras grandes e vermelhas:
“GODRIC’S HOLLOW: CIDADE NATAL DE HARRY POTTER E SEUS PAIS!”
Logo abaixo havia um quadrinho com várias imagens pequenas relacionadas: um pórtico da cidade, em estilo germânico; uma casa grande, de aparência velha, com janelas quebradas, no meio de um bosque de árvores muito secas. A casa de Harry. Ele sentiu seu coração disparar num segundo,
e um tanto mais ao ver a imagem ao lado. Um túmulo duplo, de mármore negro, com dezenas de buquês de flores em cima.
Rony e Mione, que vinham atrás, conversando, olharam curiosos por cima do ombro do amigo.
Ele ouviu a amiga prender a respiração nas suas costas, e se virou, forçando um sorriso.
- Ta tudo bem – disse ele, balançando a cabeça. Ainda se sentia meio perturbado, mas um tanto feliz e bem satisfeito.
- Tem o endereço – falou Rony, de repente, apontando pro espaço logo abaixo ao mosaico de fotos. Havia, de fato, uns endereços na vila.
Harry olhou pros amigos bem nos olhos, procurando uma confirmação. Eles balançaram as cabeças, expressando coragem.
- Vamos lá! – exclamou Rony, sem conseguir esconder um pouco de receio.
- Então vamos – disse Harry, agora sorrindo de verdade.
Eles começaram a andar em direção ao Caldeirão Furado, meio que correndo. Na lareira, eles jogaram o Pó de Flu, (que eles compraram de um mal-humorado Tom) e entraram, um após o outro, gritando “Godric’s Hollow!”. Num segundo depois eles estavam girando numa lareira desconhecida, coberta de poeira, que se espalhou nos cabelos e capas dos garotos, causando em Rony uma tosse irrefreável. Mione apontou a varinha pra ele e murmurou “Anapneo”, e a garganta dele desobstruiu na mesma hora. Ele agradeceu, massageando o pescoço.
Olharam em volta. Estavam na sala desmantelada de uma casa pequena, coberta de sujeira secular acumulada. Havia um espelho no console acima da lareira, que começou a girar no momento em que Harry saiu da lareira, e agora um rosto aparecera nele, com um fundo completamente diferente daquela sala em que eles estavam. O rosto era de um bruxo velho, encardido, de cara azeda. Ele começou a falar, de repente:
- Bem vindos à Godric’s Hollow. Esta é a passagem de bruxos para dentro da cidade. Tudo o que você precisa fazer é inserir sua varinha no candelabro sobre a lareira, e pegar o certificado que sairá da rasura, na moldura do espelho. Você deverá usar esse certificado como um passaporte para pontos turístico bruxos, e no caso da Seção de Aurores sitiadas na cidade pará-lo na rua, você deverá mostrá-lo como identificação. Obrigado pela atenção, e saiam pela porta dos fundos.
O espelho voltou à posição inicial, e Harry foi, hesitante, até o candelabro sob o espelho. Havia um pequeno buraco próximo a base, onde Harry colocou a varinha, esperando, incerto.
Então um som de máquina registradora de trouxas chegou até seus ouvidos, e ele reparou que uma pequena rasura na moldura deixava cair um pedaço de pergaminho. Ele aparou quando o papel se desprendeu, e o garoto leu “Harry Tiago Potter – natural da cidade – 17 anos”.
Rony e Mione fizeram o mesmo, e eles saíram pela porta dos fundos. Desembocaram num jardim mal cuidado, cheio de lixo e mato. Trepadeiras subiam pelas paredes de tinta branca descascada da casinha. Eles contornaram-na, e se viram numa ruazinha simpática, bem cuidada. Haviam trouxas à toda volta, em sua rotina, aparando a grama com suas máquinas, andando de bicicleta, e cochilando em redes armadas nas varandas, presentes em todas as casas (inclusive naquela que eles haviam acabado de sair, embora Harry não se sentisse muito tentado por deitar naquela rede milenar). Tirou, então, o mapa do bolso da calça, e procurou por sua casa. Segundo o mapa, eles deveriam seguir na direção oposta à do pórtico (que Harry podia divisar no começo da rua), até chegar ao fim da rua, e então pegar à direita na bifurcação. Depois ir reto até o fim da estrada, seguir a placa informativa e chegar ao destino.
Ele apontou pro lado oposto da rua, e os amigos vieram atrás dele, apressados, mas não tanto quanto Harry. Ele se sentia um tanto emocionado, um tanto eufórico... Veria a casa que ele nascera...
Eles chegaram até o fim da rua principal, que dava acesso a várias ruelas cheias de mato e casas menores, e se viram num ponto de estrada de chão. Havia ali uma bifurcação, como o mapa predissera, e Harry tomou o caminho da direita, sempre olhando, nervoso, em frente.
Os três levavam as varinhas nas mãos, em todo o caso.
Quando eles já haviam andado bem uns cento e cinqüenta metros, as casas começaram a rarear, e os bosques de árvores altas e secas começaram a se avolumar sobre a estradinha, formando um tapete de folhas amarelo-escuras e marrons. O silencio era mórbido ali, com todo aquele espaço entre as árvores, e o som dos galhos estalando. O sol entrava com dificuldade pelos ramos secos e entrelaçados, deixando apenas algumas réstias de luz pelo caminho.
A rua continuava sempre reta, cada vez mais estreita e escura. Bem lá no finzinho, Harry avistou alguma coisa colorida.
Era uma placa de madeira, que fora pintada de branco, com letras vermelhas garranchosas, que formavam as palavras “Visite a Casa dos Potter”. Harry reparou que ela tinha um feitio de flecha, e apontava pro lado direito, em direção à uma trilhazinha que fora aberta no mato. O chão era coberto de pedras ali, como se fosse um caminho. Não havia mais nada a se ver. Eles entraram, hesitantes, na trilha, Harry a frente.
Ele estava ainda mais eufórico, os olhos bem abertos. Apertava a varinha na mão esquerda.
Então a trilha começou a subir, se alargando um pouco mais, e quando eles começaram a se perguntar quando iriam chegar, o chão nivelou.
Eles se depararam com uma casa de aparência antiga e muito misteriosa, com os vidros um tanto quebrados. Ela fora construída no alto de uma colina sem árvores, no meio do bosque, mas as arvores ao redor ainda eram mais altas. O chão estava coberto de folhas, também, embora em alguns pontos fosse possível ver um gramado bem verde.
Uma balança de madeira havia sido construída ao lado da casa, em frente a janela da cozinha, cujo vidro estava inteiro, embora coberto de pó.
Harry sentiu um nó na garganta, e olhou, meio sorrindo, meio chorando, para a porta da casa, que estava fechada.
Ele quase pode ver seus pais saindo por ali, com ele no colo, colocando-o na balança, rindo, felizes, diante de um jardim muito verde, num dia quente de verão. Mas a visão desapareceu de sua mente, sendo tomada pela visão do jardim amarelado, da casa mal-cuidada... Do vazio.
Rony e Mione olhavam, assombrados, a casa.
Harry, então, começou a andar lentamente em direção a porta, com os amigos em seus calcanhares. Ele parou de chofre à frente da casa, olhando, incrédulo, para algo que lembrava um parquímetro, e balançou a cabeça negativamente quando viu uma pequena abertura para o certificado.
Um ponto turístico... Sua casa antiga era nada mais do que um ponto turístico. O lugar onde uma desgraça terrível acontecera, agora era considerado um lugar interessante e divertido? Aquele pensamento ecoou em sua mente, e ele teve vontade de jogar um feitiço redutor naquela máquina nojenta.
Mas ele se controlou, pensando que não seria de todo bom se ele tivesse que comparecer a mais alguma audiência no Ministério por indisciplina.
Colocou, então, o certificado na abertura, que se fechou por um instante, e depois cuspiu o papel de volta, no mesmo momento em que a porta se abria. Ele entrou na casa, chamando pelos atônitos Rony e Mione, que o seguiram, mas quando iam passando pela porta, ele se fechou com um estrondo, deixando Harry lá, sozinho.
- Coloquem o pergaminho na rasura! – berrou Harry, e os amigos gritaram um sim em resposta.
Ele se virou para ver a casa. Estava tudo muito bagunçado ali. Os móveis estavam todos jogados uns por cima do outro, cobertos de pó, e muito danificados.
Harry ouviu a porta se abrir rangendo e ouviu a exclamação de espanto de Rony e Mione.
Apesar de toda essa sujeira, havia um pequeno caminho onde o chão fora bem limpo, mostrando uma madeira bem polida. Esse caminho fora ladeado por correntes, para empedir os turistas de mexer em algo.
Harry percebeu que estava tudo exatamente do jeito que estava na noite da morte dos pais de Harry. Na lareira danificada, do lado oposto da sala, Harry pôde ver os vultos de vários porta-retratos quebrados e caídos, cujos ocupantes ainda se moviam, por trás da camada de poeira acumulada. O garoto pulou a corrente, e foi imitado pelos amigos. “A casa é minha” – pensou ele, revoltado – “não sou turista!”.
Ele se dirigiu a lareira, e olhou, comovido, as fotos da sua família. Hermione puxou pra frente a mochila que trouxera, olhando hesitante para Harry. O amigo fez que sim com a cabeça, e ela começou a pôr os retratos no interior da bolsa.
O garoto olhou para as escadas, que estavam bem a sua frente. Ele pulou novamente as grades, e subiu aos pulos, dois degraus de cada vez, para ver o primeiro andar. Nas paredes ele podia ver quadros, fotografias e troféus, todos cobertos de caliça e com os vidros estilhaçados. Os amigos vieram atrás dele, e quando chegaram ao patamar, viram quatro portas fechadas, onde as correntes não deixavam entrar, embora todas as portas estivessem quebradas.
O garoto apontou a varinha pro buraco da fechadura, na primeira porta, e murmurou “Alohomora!”, e ela se abriu, rangendo. Ele a empurrou, e, ignorando as correntes, entrou.
Se viu no antigo quarto de seus pais. Era amplo, com uma cama de casal que se mantinha, inexplicavelmente, arrumada, embora coberta de pó. Harry deu um toque com a varinha no abajur do lado direito, e ele se acendeu imediatamente, iluminando o guarda-roupa grande e uma penteadeira cheia de frascos e encimada por um espelho dourado. O garoto pode ver sua mãe se maquiando e olhando para ele, sorridente, através do espelho...
Ele apagou o abajur e saiu do quarto, para procurar os amigos.
Encontrou-os num quarto cheio de bugigangas, roupas e brinquedos, que ele imaginou ser o armário. Tinha uma grande variedade de carrinhos, bonecos, peças, cubos de bebê, e vários livrinhos infantis, cujos desenhos se mexiam. Rony murmurou “lumos!” e a ponta da sua varinha se acendeu, iluminando as fotos felizes, em que Harry brincava com o pai, via a mãe cozinhar, sentado no balcão da pia, e muitas outras. Mione olhava para uma em que os pais de Harry se abraçavam, fazendo caretas e sorrindo com o filho no meio, e ela riu também, uma lágrima escorrendo pelo rosto.
Harry saiu daquele quarto, e entrou pela porta seguinte, destrancando-a antes, e chegou ao aposento mais arruinado de todos. Cabeças de brinquedos de pelúcia pelo chão, o berço sem uma perna, vários lençóis sujos, caídos pelo chão empoeirado. Um armarinho branco, com as vidraças, enfeitadas, trincadas. Ele viu um móbile com várias vassourinhas, torto em cima do berço precário. Ele tocou nele com a varinha, e o objeto começou uma volta lenta, acompanhada de uma música meiga, porém triste. havia também um tipo de queimadura no chão, com o formato de um corpo feminino... Ele sentiu o choro sair sem controle e sem som, sentiu o coração doer dentro de si... Viu que não queria mais ficar ali. Fechando a porta do quarto, no mesmo momento em que o móbile rangia e parava, ele chamou pelos amigos, e convidou-os a sair.
No momento em que ele fechava a porta da frente, com os olhos vermelhos, Mione perguntou, olhando pra ele:
- Lembranças?
- Fantasmas – respondeu o garoto, com um suspiro trêmulo. – Fantasmas apenas.

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