Casamento bruxo
Harry desceu as escadas, sonoramente. Na cozinha, todos o censuravam ou apontavam pra ele, murmurando assombrados “Arry Potter!” Harry Potter!”, Harry, ignorando-os, continuou seu caminho apressado até o jardim. Chegando lá, ele pensou que se não estivesse tão agitado, ficaria assombrado com a transformação no jardim dos Weasley.
O gramado fora visivelmente aparado, e dezenas de cadeiras brancas, divididas em duas filas, sendo que um tapete verde de veludo cortava as filas, com arranjos de lírio por toda a sua extensão. No meio, fora erguido um altar muito alvo, em madeira entalhada. Ele emanava uma claridade branca misteriosa, tornando o ar à sua volta prateado. As muitas árvores em volta haviam sido enfeitadas com luzinhas que eram, na verdade, fadinhas vivas presas, de má vontade, nos galhos exteriores. Elas guinchavam e faziam gestos obscenos com as mãozinhas, mas ninguém parecia se importar muito, exceto aquele garotinho loiro, que tentava subir nos galhos mais altos pra agarrá-las.
Então, no momento em que o galho cedeu, e o garoto caiu embolado no chão, eles ouviram um som de relinche vindo do céu. Todos os convidados olharam pra cima, surpresos. Os franceses, por alguma razão, murmuravam excitados, sem, é claro, perder a pose. Harry, então, viu que havia uma nuvem se aproximando muito rapidamente do chão, como se tivesse despencado da abóbada do céu, e quando já estava muito perto do chão, a nuvem se dissipou rapidamente, e uma carruagem azul-clara do tamanho de um casarão surgiu diante de todos, puxada por doze cavalos brancos gigantes, alados, com olhos cor-de-fogo: a carruagem de Beauxbatons. Todos que estavam na casa colocaram a cabeça para fora, apontando e gritando, excitados, quando a carruagem deu um rasante sobre os convidados, os arreios balançando perigosamente embaixo, e fez a meia-volta. Quando as rodas tocaram o chão, houve um tremor enorme. Então tudo ficou silencioso, exceto pelo garotinho recém caído, que agora gemia no chão e os cavalos, que observavam á todos do alto, com ar de superioridade, relinchando, as cabeçorras balançando.
Então a porta da carruagem se abriu e alguém conhecido saiu de dentro dela: Hagrid. Ele acenou brevemente para todos, e estendeu o braço pra alguém que a segurou, com delicadeza. Então, uma mulher tão grande quanto o guarda-caças, saiu graciosamente da carruagem, usando vestes de cetim rosa, o rosto elegante se abrindo num sorriso diante dos convidados. Todos os franceses fizeram uma reverência, e os que estavam sentados se levantaram imediatamente, com respeito. O casal deu os braços e veio andando em direção à festa, acenando. Harry foi até o encontro deles, feliz.
- Hagrid! - disse ele, indo até o amigo enorme e apertando sua mão. Harry reparou que nunca vira o amigo tão elegante.
Usava um terno preto gigantesco, com sapatos lustrosos do tamanho de skates. Madame Maxime parecia ter dado um jeito nele, pensou Harry, olhando para as vestes impecavelmente ajustadas da diretora. Nos seus dedos cintilavam vários anéis de prata, com diamantes rosa engastados no topo. Ela andava com extrema graciosidade, pra quem tinha dois metros e meio de altura.
- Harry! – exclamou Hagrid alegremente, um sorriso se abrindo sob a barba negra, irreparavelmente embaraçada. – como vai indo?
- Ótimo – disse Harry muito convincentemente – e você? Conseguiu arrumar a sua cabana... quero dizer...recuperá-la?
A cabana do amigo, nos terrenos de Hogwarts, havia sido incendiada pelos Comensais da Morte no mês anterior. Harry e o gigante haviam conseguido parar o fogo com um feitiço de conjurar água, mas a cabana ficara muito destruída.
- Bem... sim! Olímpia aqui me deu uma mãozinha... boa com uma varinha, ela!
- Oh, Agrrid! – exclamou ela querendo ser modesta, e balançando a mão esquerda majestosamente, com um leve toque de superioridade.
- Hagrid! – exclamou a voz de Mione às suas costas. A garota vinha correndo pelo gramado, junto com Rony, parecendo muito animada. Eles já estavam prontos: ela usava um belo vestido de seda lilás, com detalhes florais dourados, que subiam pelo ombro, e um arranjo semelhante fora preso aos seus cabelos, que haviam sido presos num belo coque no alto da cabeça, e caíam encaracolados pelo ombro. Ele usava uma bela veste negras, como as de Harry.
- Olá, Hermione! – cumprimentou Hagrid, animado. – já cumprimentou Olímpia?
A garota olhou hesitante para a mulher, que lhe lançou um sorriso bondoso.
- Ah... olá, então!
- Olá, minhe querride!
- O pessoal está se sentando, Harry, Hagrid... - disse Rony, em tom ansioso.
- Então vamos, não queremos nos atrasar, não é mesmo? – perguntou o homem, sorrindo alegremente.
Os cinco voltaram apressados, para o círculo vivo da festa, e, ao chegar próximo ao altar, Rony esticou o pescoço, pra procurar lugares para o grupo.
- Cadê a Gina? – perguntou Harry, dando por falta da namorada.
- Ela é dama de honra, não é mesmo? – disse Hermione, erguendo o cenho, enquanto eles se dirigiam a um espaço vazio entre as cadeiras ali colocadas, na primeira fila. Carlinhos já estava ali, e acenou para Hagrid; a sra. Weasley estava ao lado do marido, em pé ao lado do altar. Do lado oposto estava a mãe de Fleur, e então Gabrielle apareceu correndo em direção a Harry, que a olhou, intrigado.
- Vece non sab? É o padrrinho da minhe irrmã! Meu pai non pode virr, enton Fleur escolheu vece de ulltima horra...
- Q... que? – perguntou o garoto, olhando abobado para Rony e Hermione, que apenas o incentivaram com um olhar a seguir a menina à sua frente.
O garoto se deixou levar, espantado. Ela o deixou ao lado da mãe de Fleur, uma mulher muito elegante, com os cabelos e olhos exatamente iguais aos da noiva.
Ela nem olhou para Harry quando o garoto chegou até ela, apenas agarrou o braço dele, sem cerimônia, e olhou em direção ao caminho entre as cadeiras, por onde Gui chegava nervoso. Alguns convidados, na maioria crianças francesas, apontavam para o seu rosto ligeiramente grotesco, que estava aberto num sorriso. Seus longos cabelos estavam, como sempre, presos num rabo-de-cavalo.
Ele chegou ao altar, deu um adeusinho discreto para a mãe e o pai, que retribuíram, parecendo muito emocionados. O rosto da mulher estava todo borrado de maquiagem, resultado do seu choro excessivo, mas ela conservava um sorriso radiante no rosto. O marido segurou a mão dela, dando um virtuoso aceno de cabeça para o filho.
Então o silêncio se abateu entre os convidados. Eles olharam novamente para a entrada entre as cadeiras, o próprio ar da tarde parecia carregado de expectativa e emoção... então uma música bela, etérea, começou a tocar...e foi então que Gina apareceu, ao lado de Gabrielle, as duas usando roupas idênticas, de cetim dourado claro, com detalhes em prata, que subiam pelos cabelos soltos e bem penteados das garotas, num tipo de diadema, pontuado por flores mínimas, douradas. Levavam no rosto uma maquiagem brilhosa, que dava um ar de delicadeza, combinando com o batom rosa-claro. Harry piscou pra Gina, que retribuiu quase imperceptivelmente, enquanto seu vestido deixava cair, sem explicação, pétalas de rosas brancas que permaneciam flutuando no ar, levados por uma leve corrente de ar, como se estivessem mergulhadas em água muito transparente...
Então,as fadinhas nas árvores, de repente, se soltaram, e se espalharam pelo céu, como se fossem pedacinhos do sol que brilhava lá em cima, e foi então que a noiva apareceu.
Fleur estava absolutamente incrível. Seu vestido era branco radiante, como se o sol estivesse batendo mais forte ali. Todos os convidados olharam, assombrados, enquanto ela vinha como se flutuasse, o rosto meio nervoso, meio radiante. Havia um belo véu branco nos cabelos da moça, e seu vestido era recoberto de brilhantes. As flores nas suas mãos, rosas branco-prateadas, refulgiam sob o sol da tarde. Enfim, a beleza dela era tão grande, que fazia a forte luz solar, o altar branco-luminoso, as fadas, e tudo o mais, perder o brilho. Gui a olhava, entre feliz, chocado e extasiado.
Então, no que pareceu uma eternidade, ela chegou até o altar, onde, Harry reparou, estava parado um homem, o mesmo homem que fizera o velório de Dumbledore. Harry sentiu um nó na garganta que não tinha nada a ver com a ocasião... Ele balançou a cabeça pra espantar a tristeza, e olhou para o casal a sua frente, o braço da sra. Delacour segurando seu braço com firmeza.
- Familiares, amigos - começou o homem, diante de todos - estamos aqui hoje para reunir em matrimônio o sr. Guilherme Weasley e a srta. Fleur Delacour.
Sr. Weasley: - recomeçou ele, depois de uma pausa, virando-se com ar monótono para Gui, que suava visivelmente, e que se sobressaltou espetacularmente, arregalando os olhos como uma coruja. - repita após mim: "Eu, Guilherme...
- "Eu Guilherme - repetiu o moço, engolindo em seco.
- "... Aceito a vós, Fleur...
O garoto repetiu, parecendo um pouco mais confiante, embora seu queixo ainda tremesse como se ele fosse um ventríloquo mal controlado.
- "... Como minha amada esposa..."- continuou automaticamente o homem que Harry não saberia dizer se era juiz ou padre.
- "... Como minha amada esposa..."- Gui agora estava ligeiramente verde, e o suador recomeçara com mais força.
- "... Para amá-la e respeitá-la..."
Gui continuou, a voz ligeiramente vacilante. Fleur deu-lhe uma cotovelada, sem demonstrar a menor irritação.
- "... Na alegria e na tristeza. Na saúde e na doença. Na magia e trouxesa, até que a morte nos separe, no caso de não virarmos fantasmas."
- "...Na alegria e na tristeza. Na saúde e na doença. Na magia e trouxesa, até que a morte nos separe, no caso de não virarmos... fantasmas."
O garoto terminou, inspirando profundamente. Um som de estouro veio até Harry, acompanhado de um desagradável cheiro de fumaça, e ele reparou que havia um fotógrafo dançando em volta dos noivos, tirando fotos como louco.
- Srta. Delacour, repita após mim, se me faz o favor.
Então o ritual se repetiu, embora a garota demonstrasse uma firmeza muito maior do que o noivo, quase como se fizesse parte de sua rotina. Após a troca de alianças, Harry olhou para o seu relógio. Quinze para ás cinco. A mãe de Fleur lhe lançou um olhar condescendente e superior, ele disfarçou, olhando ao redor.
A sra. Weasley, do lado oposto ao seu, chorava de alegria, a maquiagem completamente derretida no rosto, o lencinho encharcado, abraçada pelo sr. Weasley, que parecia meio contente, meio orgulhoso. Rony cochilava na sua cadeira na primeira fila, e Mione cutucava seu braço com força, parecendo mortalmente envergonhada. Já Gina, que encontrara um lugar ao lado da amiga, e prestava atenção no que o juiz de paz falava, com a expressão amena, sorriu para Harry, que falou "oi" sem emitir som, e ela piscou pra ele.
Os franceses em geral tinham a mesma expressão de educado interesse, e os Weasley pareciam mais emotivos, alguns chorando, outros rindo, outros falando entre si, ignorando os olhares de censura dos Delacour. Havia um pequeno grupo de membros da Ordem, incluindo Lupin, com as roupas milagrosamente inteiras, de braços dados com Tonks, que viera com os cabelos louro brilhantes e encaracolados, presos num coque. Ela acenou animadamente quando viu o garoto. Olho- Tonto olhava para a cerimônia, embora o garoto tivesse certeza de que seu olho mágico estivesse observando-o atentamente. Ele desviou os olhos rapidamente, enquanto imaginava o que o homem diria se soubesse que o menino estaria se encontrando com um Comensal da Morte condenado dali à dez minutos. Ele estava ansioso, mexendo a perna esquerda e espiando por cima das cabeças dos convidados. Então ele ouviu, aliviado, o juiz encerrar a cerimônia, e Fleur beijou Gui, enquanto os convidados aplaudiam (Rony observava os noivos com os olhos apertados. Hermione deu-lhe um beliscão). Os noivos se viraram para a saída, e quando eles desapareciam pela curva do corredor, Harry saiu discretamente para trás do altar, tirando a capa do bolso.
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