Uma Carta Inesperada



No dia seguinte, Harry achou ter acordado no meio de um furacão. Havia barulho por toda a casa, e passos pelas escadas. O vampiro no sótão estava batendo os canos com toda a força, talvez pra tentar abafar os barulhos restantes. Hermione que o acordara, a ele e a Rony, parecendo muito atarantada.
Harry desceu as escadas e se assustou: a casa inteira estava cheia de pessoas diferentes, todas com belas roupas, na maioria com cabelos louro-prateados, com cara de extrema superioridade.
Harry percebeu na hora que eram parentes de Fleur. Todos falavam rapidamente em francês, olhando criticamente para as paredes e pilares, que Harry então reparou, estavam cobertos com xales em prata e verde, com belos arranjos de lírios muito brancos. Os móveis, todos, haviam sido afastados ou retirados, e a sra. Weasley andava por entre os convidados, agitada, usando um vestido magenta cheio de babadinhos cor-de-rosa, com um chapéu de aba enorme, com um gigantesco arranjo de flores vermelho-berrante em cima.
Ela carregava uma bolsinha de festa, de onde saía a ponta da sua varinha. Ela caminhou com dificuldade até Harry, ignorando os convidados que resmungavam e massageavam os pés, que ela pisara sem cerimônia.
- Harry, querido, você está pronto?
- Não, sra. Weasley, você não me entregou...
- Ótimo, Harry, ótimo...
Harry mal falara e ela já estava longe, falando, à alguns intervalos “merci...merci, bocu!...merci”.
Harry achou muita graça, mas subiu as escadas mesmo assim. Ele imaginou que suas vestes estariam no quarto da sra. Weasley, e ele chegou até a porta, bateu, e como não houve resposta, entrou no quarto.
O aposento era quadrado e ligeiramente apertado. Havia uma cama de casal no meio do quarto, um guarda-roupas desmantelado, e o chão era coberto de tapetes puídos. Havia um espelho na parede oposta, e Harry sentiu vergonha de estar ali, mas não havia outro jeito: todos estavam se arrumando, e a dona da casa estava espetacularmente perdida.
Ele olhou ao redor, e logo avistou, do outro lado da cama, sobre uma poltrona, uma grande sacola roxa cintilante, escrita em letras garrafais douradas: “Madame Malkin”. O garoto foi em direção à sacola, mas no caminho ele viu uma forma vindo pelo céu, em direção à casa, e ele percebeu instantaneamente que era uma coruja. Ela entrou pela janela do quarto, deixando cair a carta nas mãos de Harry, fez uma meia volta vertiginosa, e saiu pela janela, batendo de leve na esquadria de madeira.
O garoto olhou, intrigado, pra carta em suas mãos. Ele virou o envelope, pra ver quem à enviara. Ele prendeu a respiração, ao ver o nome no verso do pergaminho.

“De: Severo Snape
Para: Harry Potter
A Toca, Ottery St. Catchpole”
Ele olhou, boquiaberto, pra carta em suas mãos. Trêmulo, ele abriu a carta. Parecia em branco.
Mas no canto inferior, ele viu escrito “Bata com a varinha!”, e obedeceu, puxando a varinha do cós.
Na hora em que ele deu um tapinha no pergaminho em branco, as palavras se espalharam pelo pergaminho, como teia de aranha, na letra feia e garranchosa de Snape:
“Potter:
Você não deve mostrar essa carta pra mais ninguém, nem mesmo Weasley e Granger!
Eu sei que deve ser difícil, especialmente pra alguém obtuso como você, entender o que eu vou dizer agora, mas eu devo contar. Eu não sou culpado pela morte de Alvo Dumbledore!
Estava obedecendo ordens superiores. Ordem do próprio Dumbledore. – Nessa hora Harry engasgou, arregalando os olhos para a carta – Não posso dizer mais nada agora. Vá até o fim da estrada do povoado, onde há uma igrejinha, às cinco da tarde. VÁ SOZINHO!
Snape”
Harry ainda estava abobalhado. Olhava para a carta, sem ousar acreditar no que lera. Olhou pela janela, pensando, seu cérebro parecendo que havia sido esvaziado com o choque. Ele encarou a carta de novo, a testa franzida. Ele tirou a varinha de cima do pergaminho, e ele se apagou instantaneamente. Então, lembrando-se do que viera fazer, ele caminhou até o lado da cama e abriu o pacote. Havia lá dentro um conjunto de vestes completamente negras, até a gravata e a camiseta. Mas ele não se importava muito com isso agora: poderia ir até de cueca e pantufa. Ele tinha acabado de ler uma carta que mudava tudo. Tudo. Como poderia Snape não ter sido culpado pela morte de Dumbledore? Como poderia Dumbledore ter pedido, ter ordenado que Snape matasse-o? Não fazia o menor sentido...
Lembrando-se de onde estava e da situação da casa, ele se dirigiu, atordoado até a porta. Ali, ele quase foi atropelado por um bando de crianças ruivas e loiras que corriam uma atrás das outras, fazendo todos no caminho se encolherem contra as paredes, e uns desavisados que acabavam desabando nas escadas. Então Rony apareceu, parecendo absolutamente cansado, o rosto vermelho, a varinha na mão. Ele caminhava entre as pessoas que atravancavam o corredor, e Harry viu que as crianças agora tentavam subir num aparador de madeira pra apanhar um vaso de vidro que flutuava junto ao teto, enquanto o móvel se balançava perigosamente. Rony saiu desabalado naquela direção, e algumas crianças o viram, e saíram correndo e zombando dele, um dos garotos ficara sozinho em cima do aparador, que finalmente cedeu, mas antes que o garoto batesse no chão, Rony sacara a varinha e falara em voz cansada:
- Wingardium Leviosa!
O garoto parou no ar, rindo-se de se acabar e começou a tentar apanhar o vaso, e Rony, exasperado, baixou a varinha, e o garoto desabou com estrondo.
- Que dia não? –perguntou ele, olhando pra Harry, desolado, enquanto o garotinho levantava-se, xingando Rony em francês, mas ele captou o sentido. Gritando, ele saiu atrás do menino.
Harry passou pelo quarto de Gina, onde ele ouviu as vozes descontraídas de Hermione e da dona do quarto, e ele se sentiu sozinho, embora estivesse num corredor apinhado de gente atarefada. Uma das mulheres ruivas, muito parecida com a sra. Weasley, falava com outra, loira:
“As conservas de larvas estão caras demais! Antigamente comprava com dois sicles um vidro cheio, e ainda sobrava para um pote de excremento de fada...” Harry teve a nítida impressão de que a loira queria conversar com qualquer pessoa exceto aquela diante de si, mas ele de repente parou, olhando pros lados, confuso. Então ele se lembrou que deveria ir para o quarto de Rony, se trocar. Ele subiu os dois últimos lances de escada e entrou no quarto vazio. Começou a se despir, sem prestar muita atenção. Quando estava pronto, ele teve uma súbita inspiração: correndo em direção ao malão aberto aos pés de sua cama, ele começou a revirar tudo, e finalmente achou a Capa da Invisibilidade, no momento em que Rony entrava no quarto. Ele viu a capa na mão de Harry e levantou uma sombrancelha, sorrindo.
- Planejando alguma coisa? – perguntou ele, indo em direção à sua cama.
- Hm...
- Estava, não estava? Bem, se você pretende fugir...
- Não! Eu... bem...eu...recebi uma carta e... – ele hesitou, olhando para aquela frase “não mostre essa carta pra ninguém, nem mesmo Weasley e Granger”... – uma carta do... bem ...de qualquer jeito, é melhor você se trocar, depois nos falamos, OK?
Rony deu de ombros, mas pareceu intrigado.

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