A euforia de Fleur
Harry parou ao chegar a calçada, e ouviu a porta do nº4 bater atrás dele. Rony e Hermione pararam, cada um ao seu lado, e eles ficaram em silêncio por alguns segundos, então Rony falou:
- Harry, mamãe e papai estão um pouco mais à frente, no fim da rua... Mamãe não quis...hum...ver os trouxas. Ou melhor, papai não quis que mamãe visse os trouxas. Ela seria capaz de atacar eles, ou algo do gênero...anda meio violenta, ela...com toda aquela história dos Comensais e tudo o mais...
Eles começaram a andar em direção ao fim da rua, onde Harry reconheceu o carro verde do Ministério, e ao lado dele, uma senhora baixinha e gordinha, de cabelos ruivos, parada nervosa ao lado de um homem alto, magro e meio careca, o senhor e a senhora Weasley.
Ao vê-los, a senhora veio correndo, ansiosa, e deu um grande abraço em Harry, que se sentiu meio envergonhado.
- Harry, querido... – começou ela, os olhos marejando de lágrimas, enquanto se moviam pelo rosto corado de Harry. O garoto desviou os olhos, em direção ao carro. Ele não tinha visto, mas havia outra pessoa ali, sentada no carro, com as pernas pra fora.
- Gina... – começou Harry, baixinho, sem olhar para aquele rosto pequeno, de olhos castanhos, envolto por aqueles belos cabelos ruivos. Ela olhou para Harry, um sorrisinho brincando no rosto.
Mas no momento seguinte, ele se viu envolto nos braços da menina, que o seguravam com muita força e Harry largou a mala e a gaiola, e abraçou-a também. Os dois se afastaram um pouquinho, se olharam nos olhos, e Harry sentiu o que ia acontecer antes mesmo que ela lhe segurasse o pescoço e lhe desse um beijo carinhoso.
- Ah, Arthur! – ele ouviu a Sra. Weasley exclamar um pouco atrás. Harry, rindo, virou-se para encarar os pais da garota, que riram para ele, contrafeitos, embora o Sr. Weasley ainda mantivesse uma expressão um pouco arrebatada. Harry percebeu que ele nunca vira a filha beijar um garoto antes. Rony ria abertamente, agora, enquanto Hermione exibia uma expressão meio risonha, meio chorosa, abraçada por Rony. O Sr. Weasley pigarreou e disse, numa voz ligeiramente perdida:
- Pro carro, então.
Harry pegou a alça do malão, sentindo-se muito feliz, e reparou que o motorista do carro, usando vestes verde-oliva, esperava ao lado do porta-malas aberto, com ar eficiente.
Harry guardou a mala e a gaiola, e entrou no carro magicamente ampliado, seguido por Gina, Mione e Rony. O Sr. e a Sra. Weasley entraram no banco da frente, ela ainda fungando num lenço rosa. O motorista deu a partida, e Harry olhou pela janela, vendo as casas quadradas da rua dos Alfeneiros passarem velozes...
Chegaram no povoado de Ottery St. Catchpole por volta das oito e meia da noite, e pegaram a estradinha lateral, passando por um longo prado, até chegar à Toca, a casa estranhamente torta, com vários andares, dos Weasley. Tudo estava quieto, quando chegava na porta de entrada, segurando a mala. O Sr. Weasley, Harry reparou, estava com a varinha na mão direita, e, antes de entrar na casa, ele parara na frente do portal, murmurando palavras que Harry não entendeu, e a porta se abriu, rangendo, e o homem entrou na frente, a varinha ainda erguida, seguido então pela esposa, Rony, Hermione, Gina, e Harry.
A cozinha continuava como sempre fora, ligeiramente apertada e muito acolhedora. Harry seguiu Rony na subida das escadas desmanteladas, e as meninas vieram logo atrás. Subiram até o último nível, antes do sótão, e entraram no quarto berrantemente alaranjado de Rony. Bichento pulou no colo de Harry no momento em que o menino sentou na cama do amigo, e logo estava enroscado, ronronando sonoramente, enquanto o garoto lhe coçava atrás das orelhas, pensativo.
Tinha noção de que os amigos o observavam, e não olhou pra eles. Os pés de Rony passaram pelo seu campo de visão, indo em direção à janela. No momento seguinte, Harry sentiu a brisa noturna espalhar seus cabelos. Então, ouviram o som de alguém subindo as escadas as pulos, e Gina entrou no quarto, com o rosto afogueado.
- Gui e Fleur estão a caminho de casa... sabe, do banco – disse ela, ao ver a expressão perplexa no rosto de Harry – eu vi no relógio da mamãe. Ele tem mostrado “perigo mortal” o tempo todo agora, mas ele muda de vez em quando. – Gina estava se referindo ao relógio que geralmente ficava pendurado na parede da cozinha dos Weasley, que em vez de mostrar as horas, mostrava o local ou a situação de cada um dos Weasley no momento. – Em todo o caso, melhor ficar aqui em cima, eu não agüento mais ouvir eles falando do casamento...mamãe está muito animada. Muito mesmo, entende? Um pouco além da conta. – Gina fez uma pausa, durante a qual ela também encarou Harry, séria. – Como você ta?
- Ótimo – mentiu ele, calmo.
- Não. Não está não. Eu sei que não está. Todo mundo ficou abalado com a morte dele, Harry, e não teria por que você não estar.
Harry não respondeu na hora. Não sabia por que, mas não queria demonstrar medo, nem tristeza. Agora, mais do que nunca, era hora de demonstrar coragem e força, na opinião dele... Dumbledore não iria querer que lhe ficassem lamentando a morte e esquecessem de lutar pelo que ele lutara a vida inteira, até seu último instante...
Ele levantou os olhos para Gina, que ainda o encarava, e passou os braços por seus ombros, ao que Bichento pulou, assustado, para o chão, sibilando furiosamente, e foi se refugiar sob a cama de Rony.
- Então, Rony...Mione...O que vocês..? – indagou Harry. Na tentativa de iniciar uma conversa mais descontraída. Para sua surpresa, Hermione não insistiu no assunto de Dumbledore, mas sorriu radiante foi até Rony, que estava sentado no parapeito da janela, olhando distraído para as moitas lá em baixo, onde os gnomos corriam e se escondiam, iluminados pela luz que refletia no gramado, vinda da porta dos fundos. O garoto levantou os olhos, assustado, e suas orelhas pareciam a ponto de pegar fogo, de tão vermelhas.
- Eu e Ronald...ah, Rony, pára com isso! – o garoto estava murmurando, cutucando o braço dela, pra ela ficar quieta – Ronald e eu estamos namorando!
A notícia não foi exatamente um choque para Harry. Já estava mais do que na hora, pensou ele, mas dizer isso não lhe pareceu muito sensível diante da expressão de absoluto contentamento no rosto de Hermione
- Ótimo! – disse Harry, a primeira coisa que lhe veio a mente.
- Não é?! – disse Hermione, e Harry percebeu que ela estava se segurando para não contar isso no momento indevido e Harry sentiu um assomo de carinho pelos seus amigos. – Começamos semana passada, e ah, Harry, estamos muito contentes!
As orelhas de Rony estavam atingindo um ponto crítico de vermelhidão, atingindo um forte tom de ameixa, por isso Harry achou melhor mudar o rumo da conversa. Mas antes que pudesse, ouviram-se novos passos na escada, e a porta se escancarou pela segunda vez
- Ah, Arry! Que bam verr você!
Harry ficou momentaneamente sem fala quando uma garota impressionantemente bonita entrou no quarto, uma garota alta, esguia, de olhos azul-profundos e cabelos prateados que cascateavam até sua cintura. Era tão linda que tudo ao redor dela pareceu embaçar. Ele arregalou os olhos quando ela veio em sua direção: Fleur Delacour, uma garota que fora campeã da Academia de Beauxbatons três anos antes, no Torneio Tribruxo. Ela deu-lhe um beijo em cada bochecha, e o menino corou loucamente. Gina lançou-lhe um olhar fulminante pelas costas de Fleur, e o garoto encolheu os ombros, sem parar de corar. Rony, que se desequilibrara perigosamente no momento em que a garota entrara no quarto, desceu do parapeito da janela, corando também. Hermione parecia ter engolido uma bola de tênis.
- Olá, Fleur, como vai?
- Moi? Ah, otimaman! Sabe, Gui e eu irremos nos casarr na semana que vam! Eu querria que nos casássemes em Palace de Beauxbatons, mas serria forra de mom parra a famile de Gui...
Ela olhou por cima do ombro para alguém parado a porta, e Harry se assustou ao ver Gui Weasley, habitualmente um garoto muito bonito, com o rosto cheio de cicatrizes que estavam, ainda, muito vermelhas. Entre elas, haviam marcas amareladas e arroxeadas, e seus olhos estavam lupinos, meio amarelados e com pupilas negras que brilhavam a medida que ele mexia a cabeça. Contudo, ele sorria para Harry, o mesmo sorriso de sempre. Harry retribuiu-lhe o sorriso, sem mostrar espanto.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!