Último dia na rua dos Alfeneir



Harry Potter estava em seu quarto, na rua dos Alfeneiros nº 4, olhando pensativo para o teto. Fora um dia extremamente exaustivo, pois tivera de recolher cada pertence seu na casa, enquanto tia Petunia bafejava em seu pescoço, como se esperasse que o garoto fosse roubar algum de seus preciosos álbuns de foto do primo gigante, Duda. Ainda não conseguia acreditar no fato de que em poucas horas ele sairia pela porta da frente dos Dursley, para nunca mais voltar...Isso por que recebera uma carta de seu melhor amigo, Rony Weasley, que dizia que Harry deveria esperar por ele e Hermione Granger, sua grande amiga, no fim de tarde de sábado.
Harry não fazia idéia do que traria seus amigos até ali, sendo que Harry podia, perfeitamente, ir sozinho embora.
Imaginava, porém, que a Sra. Weasley tinha algo a ver com isso, que ela presumia, sabiamente, que Harry poderia fazer uma besteira, sozinho, podendo fazer magia, na casa dos insuportáveis tios. Ela tinha um certo preconceito com os Dursley, um sentimento retribuído pelos mesmos, que a olhavam muito atravessado nas poucas ocasiões em que se viam. Mas Harry não pensava nisso agora.
Haviam coisas mais importantes a fazer, como tirar a titica acumulada no fundo da gaiola de sua coruja muito branca, Edwiges, que no momento encarava-o com uma expressão séria, como sempre fazia quando ficava presa na gaiola. Ela estalou o bico, e Harry, automaticamente, acariciou sua cabeça, enquanto observava o céu muito azul lá fora.
Uma pergunta não parava de espocar em sua mente, acompanhada por uma sacudida desagradável de seu estômago... Onde estaria Voldemort? O que estaria fazendo, agora que seu maior obstáculo, Alvo Dumbledore, caíra... Harry fizera essa mesma pergunta a si mesmo centenas de vezes no silêncio modorrento de seu quarto, nas longas situações de apatia em que se encontrava, nesse meio mês com os trouxas.
Procurou com os olhos um certo medalhão que estava em algum lugar na escrivaninha, e encontrou-o embaixo da carta do amigo, Rony.
Aquele medalhão era um dos motivos que levara Dumbledore a morte. Fora na tentativa de minguar o poder de Voldemort que ele se envenenara, e no fim das contas, o medalhão era falso... uma falsa Horcrux.
Um misto de raiva e tristeza se apossou dele enquanto ele observava a superfície lisa do ornamento... e ao bater os olhos na carta ao lado, a sensação diminuiu. Ele releu a carta de longe, arrumando os óculos na ponte do nariz:

"Caro Harry:
Tudo bem? Espero que sim. Bem, estou escrevendo pra avisar que nós estaremos te buscando na sua casa no sábado, às seis horas, pra te trazer à Toca. Você tem que ver os preparativos pra festa de casamento do Gui! Mamãe está completamente eufórica, roendo as unhas, gritando mais do que o normal, enfim, você sabe.
Bem, espero sua resposta pela Edwiges, por que a Píchi pegou a mania de parar no caminho para namorar com uma outra coruja, o penoso idiota.
Atenciosamente, Rony
Seu objeto de maior estimação é sua Firebolt.

P.S.: papai me obrigou a colocar essa frase ridícula no fim, foi mal!
P.S.2.:Gina está quase colocando ovos de dragão, de tão anciosa.
P.S.3.:Não temos notícias do Príncipe Mestiço

Harry lera essa última frase mais do que todas as outras... Nada de noticias do Principe...Harry suspirou, voltando a atenção para a gaiola á sua frente.
-Edwiges, saia... -disse Harry, abrindo a portinhola, distraído. Ele olhou o nojento conteúdo - Nossa, Edwiges..
Ele ignorou o olhar de digna censura da ave, enquanto olhava ao redor, à procura do pano que a tia Petunia havia enfiado embaixo do seu nariz mais cedo, jurando que se Harry não limpasse cada superfície do seu quarto antes de ir, ela arrancaria suas calças pela cabeça. Harry levou esse juramento muito a sério.
Enquanto a coruja voava para se encarrapitar no alto do armário do garoto, ele limpava o fundo da gaiola, franzindo o nariz.
-Que idiotice! - exclamou ele de repente, sobressaltando Edwiges.
Pegando a varinha no cós das jeans, ele apontou pro fundo da gaiola e murmurou
-Limpar!
Toda a titica desapareceu com um estalo, e Harry suspirou.
-Harry! - chamou lá de baixo uma voz irritada.
Harry, revirando os olhos enquanto repunha a varinha no cós, foi em direção à porta, abriu-a, e desceu as escadas lentamente.
-Traga as malas pra baixo, já são quase seis horas! - exclamou a tia, no momento em que o sobrinho entrou pela porta da ofuscantemente branca cozinha da senhora.
Harry sobressaltou-se, olhando para o relógio de pulso. Aturdido, saiu da cozinha correndo, subiu as escadas, dois degraus de cada vez, e entrou no quarto.
Edwiges já havia entrado na gaiola, e escondera a cabeça sob a asa.
Ele apanhou a carta de Rony, atirou no malão aberto apinhado de livros, vestes, instrumentos de magia, penas quebradas e tinteiros vazios.
Passou os olhos pelo quarto, à procura de alguma coisa deixada de fora, no momento que a campainha tocava no andar térreo.
Ele agarrou a gaiola, acordando Edwiges, que piou indignada, apontou a varinha para o malão, que estava aberto, e a tampa imediatamente se fechou, as travas se trancaram com um estalo, e o malão parou estremecendo.
Harry apanhou-o pela alça, e, ao chegar à porta, parou hesitante.
Olhou para trás, para o cômodo que nunca mais veria, e não se sentiu nem um pouco triste. Sorriu, contrafeito, e fechou a porta devagarinho.
Já na escada, com a gaiola e o malão, ele ouviu vozes no hall, uma delas era de sua amiga, Hermione Granger:
- Olá, o senhor deve ser o Sr. Dursley. Viemos buscar o Harry..
A outra voz pertencia ao seu melhor amigo em Hogwarts, Rony Weasley, e estava estranhamente agressiva quando disse:
- E não sairemos daqui sem ele!
-Rony! – censurou a voz de Mione, irritada. – Desculpe, sr. Dursley. O Harry já está pronto?
- Estou. – Harry descera as escadas e olhava sorrindo para os amigos.
A primeira coisa que notou foi que Rony estava com o braço passado por cima do ombro da amiga.
Ela, por sinal, estava muito diferente. Estava mais bonita, viva, do que Harry jamais a vira. Mais até do que na noite do Baile de Inverno, no quarto ano, ao qual ela fora com Vitor Krum. Seus cabelos castanhos não estavam mais fartos, mas bem cacheados e brilhantes. Suas faces estavam mais coradas, e ela parecia mais sorridente.
Rony parecia ter crescido trinta centímetros durante aqueles 15 dias, e embora seus braços, pés e nariz não parecessem mais tão compridos, as sardas e o cabelo cor de fogo continuavam indiscutivelmente iguais. Ele, também, parecia mais sorridente do que Harry jamais se recordara.
- E aí, tudo bem, Harry? – perguntou ele, animado.
- Uhum... – Harry olhou, hesitante, para os tios ( tia Petúnia acabara de chegar, com o rosto impassível, até eles). Tio Valter encarou-o com aqueles olhinhos miúdos de porco, enquanto Duda chegava, gingando, à cena. Rony lançou-lhe um olhar maldoso.
- Hum. – começou Harry, sem jeito. Tio Valter ainda o encarava. Harry pigarreou, olhando para Rony e Hermione, que lhe retribuíram, inseguros.
- Até, então – disse Harry, sem olhar de todo para tia Petúnia, que olhava insistentemente para um ponto um pouco acima da cabeça de Harry, como se observasse uma pessoa invisível encarrapitada na cabeça dele.
Ele saiu, desajeitado, pela soleira da porta, a gaiola debaixo do braço.
Naquela hora, porém, um vento estranho passou por seus cabelos e levantou umas folhas do jardim, e ele entendeu que aquilo significava que a magia que Dumbledore lançara naquela casa acabara de se extinguir, e olhou rapidamente para a tia, que agora o olhava de um modo misterioso, quase temerário, e Harry virou-se para a calçada, Rony e Hermione vindo atrás.

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