Gina Weasley



A compreensão de que a partir daquele momento era um homem lhe veio a mente. Um homem sozinho, sem ninguém que pudesse ficar com ele, sem perspectiva de vida, mas um homem. Daquele momento em diante era responsável por ele e ninguém o obrigaria a mais nada.
Agora, poderia ir em busca de Voldemort e matá-lo ou morrer lutando pelo seu povo, bruxo e trouxa, por que pertencia aos dois mundos, tal como sua mãe. Sua mãe, grande mulher, invejada até pela própria irmã.
Achava que conhecia tudo o que Voldemort conhecia. Podia ser tão bom quanto Voldemort se tornou. “Ele que me aguarde”, pensou. E faria de tudo para que voldemort sentisse o peso do amor que ele sentia pelos pais, mesmo que não se lembrasse deles, como seus pais fizeram Voldemort sentir o peso do amor que tinha pelo filho. Amor que Voldemort não teve. Amor que Voldemort jamais teria.
Embebidos em seus pensamentos nem lembrou-se de abrir a porta. Mais uma vez a campanhinha tocou e Harry percebeu que todos na sala o observavam.
- Quer que eu abra a porta, Harry?
Gina lhe perguntou parecendo um pouco assustada com o que via em Harry. Nunca vira o olhar que Harry acabara de ter. Era mais do que ódio. Era mais do que tudo o que Gina pensava que veria e seu amor por Harry doía ao ver que ele despertava um olhar assim. Mas esse mesmo amor fez com que ela observasse que junto a esse olhar tinha uma ponta de profundo amor. De amor eterno. E isso apagou de Gina qualquer ressentimento que por ventura ela viesse a ter.
- Eu abro.
Duda disse isso e foi se levantando vendo que Harry não movia nem os olhos do ponto em que os havia fixado. Imóvel, absorto em seus pensamentos, Harry percebeu que mesmo que não conseguisse derrotar Voldemort, que, talvez, eles morressem juntos, Harry tinha, e isso ele não podia negar, pessoas que o amavam. Seus pais haviam morrido por esse amor. Rony, Hermione e Gina, estavam ao seu lado agora, nessa fase mais decisiva de sua vida. Sirius tentou salvá-lo. Dumbledore queria lhe preparar para o dia em que só Harry e Voldemort poderiam lutar.
Mas Harry acordou quando viu a cabeça de um meio-gigante entrando primeiro pela sala da casa dos Dursley, exibindo um largo sorriso. Depois um dos ombros, seguido pelo outro e então seu corpo se pôs de pé na sala. Seu sorriso parecia maior que o natural, embora seu olhar transparecesse a dor por que estava passando. Harry, mais do que ninguém entendia o que ele estava sentindo.
- Como vai, Harry?
- Bem - E foi se levantando e abraçando Hagrid. Sabia que se entenderiam nesse momento – Queria que você pudesse estar bem também, Hagrid.
- Estou tão bem quanto você, meu pequeno.
Hagrid tinha muito carinho por Harry. Por Harry, Hermione e Rony. E não esquecendo a pequena Gina, como ele a chamava. Era o meio-gigante, mas seu coração era muito gigante, embora seus sentimentos fossem tão humanos e serenos quanto os da mais doce criatura.
- Podemos ir, Hagrid. Minerva interveio.
- Sim, diretora.
McGonagall estava prestes a dizer o que estava acontecendo, mas Harry foi bem mais objetivo.
- Gostaria que fosse direto ao ponto, professora. Quero saber o que veio fazer em minha casa, a importância do que tia Petúnia me contou e, principalmente, o que eles estão fazendo aqui, por que não quero envolvê-los em minha missão.
- Você ainda não entende, Harry? Essa missão não é apenas sua. É de todos nós, que nos consideramos bruxos. Não é contra você que você – sabe - quem está lutando, mas contra o mundo bruxo que não se alia a ele. Entende?
“Se quiser, realmente, derrotar aquele – que – não – deve – ser – nomeado, precisará da ajuda de pessoas competentes para tanto.
- Mas professora... – Harry não podia permitir que pessoas inocentes morressem – Cometeremos um erro deixar que esses meninos morram lutando.
- Um erro? Meninos? Você não é muito mais velho do que eles, Harry.
- Harry. – A voz fez Harry calar. O olhar que tinha Petúnia lhe lançou fez Harry congelar.- Você é apenas um garoto. Um garoto inteligente, convenhamos, mas um garoto. Sua idade não quer dizer maturidade suficiente e um garoto inteligente, jamais diz não quando as pessoas querem lhe ajudar.
Harry estava sem ação, mas mal deve tempo de respirar e o cheiro floral fez com que ele visse Gina a sua frente. Ela se ajoelhou e tomando sua mão disse:
- É o que estou tentando te dizer o verão inteiro, Harry.
- Não posso permitir, Gina. Não posso vê-la morrer, entende?
- Não pode permitir? – Gina levantou-se, séria e pôs as mãos na cintura.- Morrerei de qualquer de jeito Harry. Só acho que morrer lutando pelo homem que eu amo é muito mais reconfortante do que morrer de tristeza, jogada em meu quarto, vendo meus pais morrerem junto comigo. Não foi assim que eu fui criada, entende?
Harry sorriu ao ver a expressão zangada de Gina. Quando ela dizia tudo isso nas cartas era muito mais fácil de responder do que vendo-a assim, tão perto de si. Seu desejo era pôr-lhe bem mais perto e beijar a sua boca. Sua boca parecia lhe pedir isso desde o momento em que ela chegou ali.
- A Gina tem razão, Harry. Foi o que Rony disse.
- Sei que é um ótimo bruxo, mas nós sempre estivemos com você, quando você o enfrentou. Sempre estivemos juntos na sua luta contra ele e agora, é tudo ou nada e já decidimos, iremos com sua permissão ou não.
O tom decidido de Hermione pareceu resolver a questão. Harry não sabia mais o que dizer. Fora vencido. Fora vencido pelo amor que sentia por aquelas pessoas e que elas dedicavam a ele. Nada mais poderia ser feito ou dito que os convencesse a ficar fora dessa.
- Está bem! Disse em fim.
- Foi uma decisão sensata, Harry. Mas temos outras coisas a tratar. Primeiro, eu vim aqui por alguns motivos básicos. Alguém precisava fazer você a começar do jeito certo. Você deve ter observado que sua mãe era trouxa. O pai daquele – que – não – não – deve – ser – nomeado também. Sua tia não gostava da sua mãe por causa da magia que ela tinha. Idem para os avós paternos dele.
“Bem, sei que Gina, Hermione e Rony já foram aceitos por você, mas vai precisar de mais gente do que eles.”
- Não. Harry foi firme.
- Sim. - Mcgonagall mais firme ainda. – Já andei falando com eles e todos tem um talento a mais a acrescentar a Armada de Dumbledore.
- A AD? Mas ela não existe mais.
- Sim, ela existe. Eu a reconvoquei. Exclui e acrescentei alguns membros e a Ordem da fênix concordou em fazer parte dela.
“Achei o nome propício. Uma boa sigla. E, todos em Hogwarts, queremos fazer justiça pela morte de Dumbledore.
“Consegui também autorização no Ministério da Magia.”
- Mas, quem são as pessoas que farão parte da AD? Hermione quis saber.
- Neville, Luna, Ernesto, Juca Sloper, Tooks, Gui e Carlinhos e mais alguns.
“Em breve poderão se reunir com eles. Mas, Harry, você precisa voltar para Hogwarts.
- Não. Desculpe, professora, mas não pode me obrigar.
- Sei que não posso, mas você voltará. E dizendo isto estendeu a Harry um pergaminho.
De imediato Harry reconheceu a caligrafia e o pegou. Sentia seu peito faltar ar. O que será que Dumbledore havia escrito para ele antes de... bem, antes de morrer?

Harry,

Provavelmente, se chegar a ler essa carta, significará que eu não estarei mais entre vocês. Então, independente de todo o ódio que com certeza sentirá e da culpa que igualmente se instalará em seu peito, quero que volte para a Escola de Magia. Por que, você se pergunta. Bem, Harry, aquela escola é a minha vida e terminando o curso que ela oferece, você, então, poderá me conhecer e se tornará um grande homem, como seu pai se tornou.
A escola, não é apenas uma brincadeira ou um passatempo. Com ela você aprendeu muito do que sabe hoje. Com ela, você soube quem você é e nela, você surgiu, Harry. Foi em Hogwarts que você nasceu.
E seus amigos, bem, lembre-se do que eu lhe disse no armário de vassouras dos Weasley. Precisa deles, mesmo que não queira feri-los.
Bem, este é meu último adeus. Atenciosamente,
Alvo Dumbledore


- Quem lhe deu isso, professora?
- Eu achei na sala dele, Harry.
- Você a leu?
- Não. Mais gostaria muito de saber o que está escrito nela.
O que interessava a Harry, lhe foi dito. Não sabia o que pensar. Seu coração dizia, você precisa voltar, mas ele temia tanto. Tinha tantas coisas para fazer.
- Se eu voltar... Professora, se eu voltar, como lutarei contra Voldemort?
A professora soltou um longo e profundo suspiro.
- Terá os fins de semana livres. Você e os alunos que eu disse e mais alguns que quiser acrescentar.
Harry sentiu que não podia dizer não. Hogwarts também era sua vida. Era também sua casa. Antes de ter feito sua primeira visita à toca, jamais havia se sentido tão bem em qualquer outro lugar. Jamais fora recebido com tamanho entusiasmo por uma pessoa em uma determinada casa, como fora acolhido quando chegou ao trem na primeira vez em que foi para a escola. Voltaria. Não era questão de querer, ou não. Era questão de dever, de honestidade com ele, com a escola, com Dumbledore, com seus pais, com sua vida.
- Harry – Minerva parecia ansiosa e preocupada -, vai voltar?
Foi a vez de Harry suspirar lentamente. Olhou a sala impecável de sua tia. Olhou todos os que estavam ali a espera de que ele fizesse a escolha certa. Seu olhar se deteve em Gina mais do que nos demais. Ela lhe balançou a cabeça, como se dizendo “Estarei com você qualquer que seja sua decisão, mas sabe o que deve fazer”. Harry riu para ela. Ela lhe retribui o sorriso.
Depois ele olhou para Hagrid. Os olhos do amigo mareados. Hagrid tinha a Harry como a um filho, mas não podia pedir-lhe que voltasse. Todos, até seu tio, pareciam lhe dizer que ele devia voltar.
- Será que eu podia dar uma palavrinha com Harry, antes dela dar a resposta final?
Gina disse isso enquanto caminhava até Harry.
- Aonde posso conversar com você, Harry?
Harry estava surpreso. Sabia qual resposta dar, mas tinha medo de dá-la. Não entendia por que, pois sabia que era exatamente isso o que todos queriam que ele fizesse.
- Podemos subir, no meu quarto, se quiser.
- Pra mim está ótimo – Falou a decidida Gina - . Vamos agora?
- Sim.
Harry saiu a frente. Ela em seu tornozelo. Ele imaginando o que ela podia querer sem os olhares dos outros por perto. Ela pensando em como dizer. Pararam em frente da porta. Ambos mudos e petrificados. Ele a olhava nos olhos, seus olhos castanhos e firmes, seu cheiro floral invadindo o corredor, incendiando o coração de Harry como costumava fazer.
Os olhos verdes de Harry a atormentando. Preferia que seus olhos estivessem fechados e esses olhares mortos. Preferia estar beijando Harry, mas, sem entender por que, não podia desejar que esse momento passasse. Via nesses olhos sentimentos de amor, de carinho e de respeito e isso era tudo o que Gina queria que ele sentisse. Não queria ver nos olhos de Harry tristeza ou ódio. Seus olhos eram fascinantes quando exibiam amor. E estavam fascinantes!
- Vamos entrar, Gina?
Harry precisava parar de olhar para ela. Abriu a porta e entrou. Ela o seguiu.
- Senta em algum lugar, por aí.
Ele fechou a porta. Ela escolheu a poltrona em que Harry estava quando Minerva chegou. Viu a carta em cima da poltrona e a pegou antes de sentar.
- Não as guarda?
Harry a olhou de novo. A carta que ele passara o dia lendo nas mãos de Gina. Seu coração batia mais forte do que ele tinha lembrança que um dia batera. Suas pernas tinham dificuldades de se manter em pé. Procurou também um lugar para sentar-se. Sentou-se no fim da cama, bem em frente a Gina, mas com uma distância razoável, suportável.
- Sim. Eu guardo, estava lendo-a quando a professora chegou.
- Mas já havia me mandado a resposta...
- Eu queria lê-la de novo. Você, eu não sei o que dizer, você me surpreende.
- È. Eu imagino. Mas, não era isso que eu queria quando pedi pra falar com você.
- O que é, Gina? O que não pode ser comentado na frente de Hermione e Rony?
- E seus tios, seu primo e a professora Mcgonagall.
- É. Na frente deles.
- Harry, precisa voltar para a escola. Tive uma idéia que parece ser boa. Escuta: Se tiver na escola e atacar os comensais e procurar as horcruxes que faltam, eles não saberão o que está atacando-os.
- Mas eles nos verão?
- Se quisermos. Podemos usar capas, sei lá, fantasias, entende? Estabelecer roupas, como uniformes, para quando agirmos. Assim, poderemos agir por mais tempo na espreita. Nós saberemos quem eles são, mas eles não saberão quem somos.
Harry estava surpreso. Jamais havia pensado em algo parecido. Jamais havia pensado em um plano de combate que fosse. Tinha ao seu lado uma mulher forte, inteligente, sensacional. Ele levantou-se. Ela também. Ele a pegou no colo. Ela mal podia respirar. Fazia tanto tempo que eles não haviam ficado assim tão próximos.
- Gina – Harry falou com a voz entrecortada -, você é genial.
E ela o beijou. Sentiu mais uma vez o calor do corpo dele em seu corpo. Pareciam um mais uma vez. Gina não deixaria mais que ele a deixasse. Ela o amava. Voldemort teria que ser mais forte e mais inteligente e mais mal do que era para separá-la dele.
- Harry...
Ele a colocou no chão. Passou a mão pelo rosto dela. Além de tudo, era uma menina linda. Não, ela não era mais menina. Era uma mulher. Tinha corpo, cabeça e atitudes de uma mulher. De uma mulher prefeita.
- Sim..
- Nós não podemos ficar separados. Eu não quero.
- Não posso te expor.
- Separado de mim você deixa de mim amar?
- Não.
- Então continuo correndo riscos. Não é melhor que eu esteja por perto para você me defender, Harry?
Harry não podia mais negar qualquer coisa que fosse para ela. A queria. O que ela falou não deixou de ser verdade. A imagem de Gina iria com ele para o túmulo. Iria com ele até o fim.
- Sim. Eu vou proteger você, Gina. Até com a minha vida, eu protejo você.
E mais uma vez eles se beijaram antes de descerem. Eles estavam conversando mais calaram-se quando viram Gina e Harry de mãos dadas descendo as escadas. Não pareciam as mesmas pessoas que a dez ou quinze minutos a haviam subido.
Hermione e Gina trocaram olhares confidentes e então, Hermione riu para Harry, que ficou envergonhado ao ver o olhar da amiga sob sua mão.
- Então, Harry?
- Eu vou. Por razões variadas. Por vários sentimentos. Por inúmeras pessoas. Não posso dizer que não, professora.




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