A hora do adeus
Mcgonagall saiu satisfeita da casa de Harry. Sabia, agora, por que Dumbledore o defendia tanto. Sim, por que acreditava que era apenas uma questão de dever, de responsabilidade perante as pessoas que foram os pais dele. Era muito mais do que a tentativa de defender um órfão do maior bruxo da terra. Era a tentativa de dar esperança a vida do bruxo que se tornaria o maior bruxo do mundo. Estava satisfeita e disposta a fazer qualquer coisa para ajudá-lo. Ia deixar que o espelho chegasse nas mãos de Harry, para começar.
Harry e Rony subiram ao quarto de Harry para que ele pudesse arrumar suas coisas e irem embora. Estavam felizes. Rony considerava Harry um irmão e, não fosse o fato de que Harry namora sua irmã, nem se lembraria que não tinham os mesmos pais.
Harry tinha a Rony e a toda a família Weasley admiração e respeito. De Arthur a Gina, todos eram encantadores. E até mesmo Percy, que teve seus dias de rebeldia, era um cara inteligente, que pensava alto. Mas, Rony, Rony era como um pedaço dele. Sem Rony por perto ele nem imaginava como teria sido sua vida. Talvez, já estivesse até morto. Acima de qualquer coisa queria a felicidade de Gina, Rony e Hermione. Por falar em Hermione...
- Foi só impressão ou você e a Mione estavam de mãos dadas?
Harry viu seu amigo ficar vermelho e isso era muito engraçado quando alguém tem cabelos tão ruivos, como Rony. Depois soltar um sorriso, um largo sorriso.
- Coisa da Gina, você sabe como ela é!
- Ah, se sei.
Harry lembrava com carinho as mudanças que Gina tinha feito em sua vida. Agora, não queria mais morrer. Não achava que esse seria um fim justo. Queria viver e construir sua vida com Gina. Queria viver para Gina.
- Vai, conta! – Harry quis saber como aconteceu – Anda logo!
- Tá bom!
Então, enquanto Harry colocava suas coisas dentro do malão, Rony ia narrando, com uma fidelidade aos fatos de fazer qualquer um achar lindo esse novo Rony bobão.
- Eu estava conversando com a Gina no jardim...
- Acha mesmo que o Harry vai aceitar que você vá com a gente?
- Ele vai ter que aceitar!
- Não. Não vai. E aí, o que você vai fazer?
- Só não vou fazer o que você ta fazendo.
- O que eu to fazendo? Mas eu vou com o Harry, ele não vai poder dizer não.
- Não estou falando disso. Estou falando da Mione.
- O que tem haver a Mione?
- Você gosta dela, quer ficar com ela e não se assume. E depois fica todo irritadinho quando ela fala do Krum. Se eu fosse ela, ficava com ele e te deixava pra lá.
- Mas ela não ta com ele, já?
- Não ta nada. Fica esperando você se decidir, aquela boba.
- Esperando eu... Eu me decidir?
- É, Ronald Weasley. Esperando você. Então vê se dá um jeito nisso. Mione!
E deu um grito pela Mione, que já estava mesmo vindo ao nosso encontro. Eu estava sem fala. Paralisado. Não sabia o que fazer.
A verdade é que sempre gostei da Mione, mas achava que ela tava na tua. Aí, depois, quando vi que não tinha nada a ver vocês dois, eu não sabia mais como fazer pra gente ficar juntos, por que a gente só vivia e vive ainda, brigando. Mas a Gina foi logo dizendo quando ela chegou:
- Mione, o Rony quer falar uma coisa muito séria com você. Acabou o tempo, Rony. Eu farei de tudo pra que se não for agora, não ser nunca mais.
E saiu. E eu a Mione ficamos lá, mudos, olhando um para a cara do outro sem saber o que fazer. Eu ficava pensando no que dizer pra ela, em como dizer, em como fazer, mas ela não ajudava nada, me olhando daquele jeito que não fazia noção do que eu dizer.
Aí, de repente, ela tirou o olhar do meu e se encostou em uma árvore, bem próxima. Eu me levantei decidido que era agora ou nunca. Ela ta diferente, Harry. Ele ta, sei lá, mais mulher. A Mione não é mais nossa amiguinha chata que não quebra regras.
Mas o fato é que ela estava linda, encostada naquela árvore, quase chorando agora, com os olhos no chão, mordendo o cantinho da boca. Seus cabelos incrivelmente arrumados. Eu fui até ela e a beijei. Depois ficamos abraçados um tempão e eu fiz a pergunta:
- Mione, quer namorar comigo?
Ele me abraçou mais forte, se aconchegou mais no meu corpo. Eu a senti como nunca a havia sentido antes.
- Rony! Porque você demorou tanto?
- Eu pensava que... Bem, não se zangue, eu pensava que você gostava do Harry.
Então ela me soltou. Tinha aquele olhar bravo de quando dizia que estávamos errados, sabe?
- Do Harry? Mas o Harry é nosso amigo, Rony? O que você pensa, hein? Eu dava a maior bandeira o tempo inteiro. Tanto que às vezes até eu me sentia envergonhada e triste de ficar esperando por uma coisa que nunca ia acontecer.
- E o Krum, o Krum também é nosso amigo?
Quis mostrar a ela que não era fácil pra mim, mas fracassei. Foi pior. As lagrimas começaram a cair dos olhos da Mione e ela me falou triste.
- Eu saí com o Krum por que você não me convidou. Ficou o tempo inteiro sem me ver e só me chamou quando não tinha ninguém para ir com você. Então, eu... Eu quis fazer ciúmes, mesmo! E sabe o que mais? Esquece isso! Foi loucura minha, mesmo. Eu e você. Nada a ver.
E ela foi saindo. Eu fui vendo ela se afastar pisando firme. Parecia que ia matar quem ela visse primeiro. Mas a Gina saiu de casa correndo e elas se abraçaram. Vi que a Mione gostava de mim, de verdade, sabe?
- E você nunca tinha visto isso, Rony? Corta essa.
Harry estava feliz pelos amigos. Achava graça do jeito como Rony lhe contava as coisas. Agora, ele percebia que Rony não tinha crescido apenas no tamanho, mas, também, na alma.
- Eu não sabia, Harry. Juro!
- Ta, ta.
- Me deixe continuar.
Aí, então, eu fui até elas. Meu coração batendo ainda mais forte do que estava batendo todo aquele momento. Pensando que o certo era correr pra longe dali, mas minhas pernas não conseguiam ir a outro lugar que não fosse ao encontro dela.
- Gina.
Minha irmã me olhou séria, estava furiosa, com certeza, mas eu não tinha tempo para explicações, não com a Gina.
- O que você quer ainda? Gina me perguntou gritando.
- Quero que me deixe sozinho com a Hermione. Temos coisas para resolver.
Falei calmo. Minha irmã me olhou incrédula. Achava, e assim Mione também, que pronto. Fim. Mas ainda não tinha acabado, por que eu queria a Mione, queria muito. Mesmo assim ela saiu. A Mione ainda de costas pra mim.
- O que você quer, Rony?
- Mione... Olhe pra mim.
- O que você quer? Ela gritou.
Eu passei a sua frente. Ela cobriu o rosto com as mãos. Eu tirei suas mãos do seu rosto e passei pelo rosto dela a minha mão. Foi um momento incrível, sabe? Os olhos dela cheios de lágrimas. Os meus olhos quase desabando a chorar também. Nunca pensei nas coisas desse jeito. Achava que tinha ciúmes da Mione, como tenho da Gina.
- Você ainda não respondeu a minha pergunta.
- Pra quê? A gente nunca vai dar certo, Rony. Mesmo que eu desejasse...
Ela, definitivamente, não queria dar o braço a torcer. Eu decidi que eu daria.
- Eu quero ficar com você, Mione. E esse papo de que a gente não dá certo é mentira. Somos tão melhores quando estamos juntos...
- Como amigos, sim, mas...
- Também. Nunca fomos amigos de fato, por que sempre quisemos ser mais do que amigos esse tempo inteiro.
E a abracei. Ela me abraçou também, devagar e com cautela, mas me abraçou. E a gente passou aquela tarde e muitas outras juntos, desde então. E a gente não se larga mais, sabe. Só pra dormir mesmo e mesmo assim ainda sonho com ela. É incrível!
- É! – Harry respondeu. Já havia terminado de arrumar suas coisas mais não quis interromper. – Vamos?
- Vamos, sim. Elas devem estar furiosas com a demora.
Mas elas não estavam. Estavam sozinhas na sala rindo. Conversando sobre alguma coisa muito engraçada que não quiseram contar aos meninos.
- Como vamos fazer para ir à Toca, Hermione?
Harry perguntou a ela por que ela sempre tinha resposta para tudo o que lhe era perguntado.
- O sr. Weasley já deve estar chegando. Vamos aparatar.
- Mas, eu...
- Eu sei, Harry. O sr. Weasley já marcou o seu exame e o do Rony. Vocês e a Gina vão aparatar acompanhados. Vamos esperá-los lá fora?
- Vocês podiam ir andando? Eu queria...
- Eu sei, Harry. – Gina lhe olhou decidida. – Isso é o certo a fazer.
E dando um beijo em sua boca, levou Hermione e Rony para fora.
Harry queria se despedir da sua família. Mesmo não sendo tratado como parte dela, faz parte e isso ninguém pode negar. Queria muito dizer um adeus harmonioso, mas tinha medo do que podia acontecer.
A porta da cozinha se abriu e ele viu tia Petúnia saindo por ela. Tinha um olhar abatido, mas trazia feição de missão cumprida. Ia subir as escadas, mas ao ver Harry a olhando, com o malão nas mãos, parou.
- Já está indo, não é?
Ele apenas confirmou com a cabeça. Sua tia falava de um jeito amoroso, parecia estar até sentindo por Harry está indo embora e ele não acreditava em tamanha transformação.
- Valter! Duda! Venham aqui.
Harry permanecia imóvel. Aquela família, de repente, já não parecia mais a mesma família. Algo os modificou de uma hora para outra. Seu tio e Duda saíram da cozinha. Duda, ao ver a mala, demonstrou tristeza. Tio Valter, que devia apresentar alívio, demonstrou culpa.
- Bem, preciso ir. Queria dizer adeus, apenas. Mas não precisam dizer nada, está certo? Quem sabe algum dia a gente ainda se vê por aí.
- Sabe onde vai morar, Harry?
Tia petúnia o perguntou.
- Não.
- Essa casa ainda é sua, Harry.
Foi a vez de Duda. E seu jeito de falar não restava dúvidas de que ele estava sendo sincero.
- Não, Duda. Essa casa jamais foi minha.
- Escute, Harry – Tia Petúnia interveio -, realmente nunca tive raiva de você. A culpa não foi sua, nem de sua mãe, nem minha, talvez. Eu me acomodei. Fiz as coisas como achei mais fáceis, mas elas se tornaram mais difíceis. Pode vir a essa casa quando você quiser. Pra falar a verdade, essa casa é sua. Papai a deu a sua mãe e sua mãe me deu por que Tiago não quis morar por aqui, sabe? Mas ela é sua.
Harry estava emocionado. Jamais tivera uma despedida assim de qualquer parente seu.
- Me desculpe, Harry – Tio Valter parecia sério, ao falar. Estava sendo verdadeiro -. Eu... Nem sei o que te dizer que possa realmente fazer sentido pra tanto desprezo. Mas, quero que saiba que amo sua tia e não podia suportar que, tendo sua mãe sido melhor do que ela, você fosse melhor que meu filho.
- Então você sabia?
- Não da historia toda. Não como de fato era. Mas eu sabia por partes. Sua tia tinha pesadelos. E eles só cessaram no ano passado.
A porta da casa se abriu. Gina apareceu.
- Desculpe interromper, Harry, mas papai chegou.
- Eu já estou indo, Gina.
Ela sorriu para ele e saiu. Mais uma vez Harry olhou sua família. Sim, chegara a hora do adeus.
- Bem, adeus.
E dito isto, deu-lhes as costas e abriu a porta.
- Espere, Harry!
Harry reconheceu a voz de Duda.
- Quero lhe dar uma coisa. Um minuto. Vou buscar.
E Duda subiu as escadas com agilidade e presa. O que Duda podia querer dar a Harry? Que importância tinha, agora que enfim, se veriam livres do peso que lhes foi incumbido. Duda voltou com a mesma rapidez. Trazia em suas mãos um pacote pequeno, retangular e não muito espesso.
- Toma!
- O que é isso?
- Um presente, Harry. Mas, só deve abri-lo quando precisar realmente de uma luz na sua luta.
- Mas...
- Vá! Até, Harry.
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