Uma virada do Destino



Uma Virada do Destino

Hinge of Fate

Autora - Ramos

Tradução - Clau Snape

Beta reader - Bastetazazis

Disclaimer: Estes personagens são de propriedade de J.K. Rowling. Nenhum lucro foi obtido pelo seu uso.



Cap. 2

Quinta e a sexta-feira passaram como um borrão bizarro e surreal. Mais de uma vez Hermione teve que lembrar para si mesma que sua vida não estava normal; doze polegadas de pergaminho sobre a rebelião dos duendes e, eu estou grávida. Torrada e suco para o café da manhã e, eu estou grávida. (Teve que pular o resto do café da manhã, quando cheirou os ovos). Preciso aparar outra vez as unhas de Bichento, e oh, a propósito, eu estou grávida.

Na manhã de sábado o incômodo no seu estômago transformara-se num aperto cruel e tenso, e suas mãos estavam com uma perturbadora tendência de tremer enquanto se preparava para sua reunião com o Professor Dumbledore. Usando seu emblema de monitora-chefe, com as vestes da escola colocadas sobre a sua roupa ocasional de sábado, ela se aproximou da gárgula que guardava a entrada do escritório do Diretor.

– Biscoito de coco – ela disse firmemente, agradecida ao menos por sua voz não estar tremendo, impedindo-a de passar.

O diretor estava esperando por ela, e convidou-a para sentar. Ela aceitou a cadeira estofada que ele ofereceu, assim como uma xícara de chá, e então aguardou nervosamente, não sabendo por onde começar.

– Você entrou com um processo de emancipação, não foi senhorita Granger? – Dumbledore perguntou finalmente. – De outra maneira, eu seria obrigado a informar seus pais sobre sua condição.

– Sim, senhor. No último outono, quando eu fiz dezessete anos. Pareceu-me tolo, ter que pedir permissão para eles toda a vez que eu quisesse fazer algo.

– Algo que significa suas atividades com Rony e Harry, eu imagino?

– Sim, isso também. Meus pais e eu tivemos muitas discussões, e eles deram várias dicas de que preferiam que eu terminasse a escola no mundo trouxa. Se eles realmente soubessem do que aconteceu algumas vezes. Eles sabem que Harry e Rony são meus melhores amigos, mas me fariam voltar para casa se tivessem a mínima idéia de que nós poderíamos estar envolvidos numa guerra. Eles não compreendem que eu jamais daria às costas ao Harry.

– Seus pais estão apenas preocupados que você possa se machucar, senhorita Granger. E agora, você foi. Os Comensais pretendiam acabar com sua vida naquela noite, minha cara, e foi somente por acaso que não o fizeram.

– Isto é verdade. Mas eu sou maior de idade, no mundo bruxo e no mundo trouxa, agora. Eu tenho dezoito anos. Mais, se você contar o Vira-Tempo que usei no meu terceiro ano.

Dumbledore assentiu, depois deu um último gole do seu chá e baixou a xícara. – Você tem perguntas, Hermione, e eu tenho as respostas. Por favor, não tenha vergonha de perguntar.

– Tudo bem – ela disse, engolindo secamente, e alcançou no bolso de suas vestes um pedaço de pergaminho. Ela reescrevera a lista três vezes, e estava quase certa de que tinha englobado tudo. Uma parte dela queria pôr isto de lado, discutir alguma coisa, qualquer outra coisa; mas ela era uma Grifinória. Desdobrando o pergaminho, começou pelo alto.

– Você acha que a madrinha da minha mãe foi assassinada?

– Não, minha cara. Eu havia recebido a informação de que os alunos poderiam estar em perigo em Hogsmeade naquele fim de semana, por isso eu cancelei os passeios daquela tarde. Eu não fui informado da sua ausência prolongada até aquela tarde, ou então eu teria pedido para a Diretora da sua casa que a esperasse no Três Vassouras. Então, já era tarde demais.

– Foi por isso que me escolheram? Eu era a única estudante em Hogsmeade naquele dia?

Dumbledore cerrou seus lábios finos. – Eu imagino que o plano original era pegar várias crianças de famílias não-bruxas e amedontrá-las, abusar delas certamente, e devolvê-las. Na minha opinião, a frustração de terem seus planos arruinados foi a razão por terem tratado-a tão severamente. A monitora-chefe, nascida-trouxa, era um prêmio caído em seus braços após o desapontamento anterior.

– As anotações de Madame Pomfrey diziam que o professor Snape também fora admitido naquela noite. Ele era um dos Comensais naquela noite?

– Sim. Ele fora chamado por um companheiro Comensal mais tarde naquela noite. Somente alguns Comensais estavam envolvidos, e o ataque pareceu-lhe ser mais pessoal que o normal. Eu suspeito que a lealdade dele fora questionada naquela noite, e quando ele provou não estar tão entusiástico para seus planos, eles o atacaram.

– O que aconteceu? Seu disfarce caiu?

– Um termo trouxa excepcionalmente interessante. Não, eu acredito que aconteceu alguma coisa naquela noite que expôs de algum modo seu papel, mas eu duvido que nós saibamos a verdade ao certo. A memória dele, assim como a sua, foi igualmente danificada, porém devido a seus ferimentos, não a um feitiço.

Hermione concentrou-se firmemente no papel sobre seu joelho, mas a pergunta que queria fazer não estava nele. Sua voz tremia enquanto a botou para fora: – Você acha que o professor Snape lembra-se o bastante daquela noite para saber quem é... – ela tomou fôlego para firmar a voz. – Será que ele sabe quem é o pai do meu bebê?

Dumbledore encostou o queixo em seu tórax, sua barba branca e prateada roçava macia contra suas vestes enquanto refletia em como responder a ela: – Severo me disse que o pai da sua criança foi submetido à Maldição Império e foi obrigado a violentá-la, senhorita Granger. Foi um ato absolutamente fora da natureza deste homem, e isso pode vir a destruí-lo.

Ela olhou fixamente para o velho bruxo por uns instantes, sabendo da verdade, antes mesmo que ela pudesse dizer: – Foi o professor Snape, não foi?

O silêncio de Dumbledore foi suficiente para respondê-la, e Hermione respirou trêmula. – Bem. Certamente é mais fácil aceitar isso que pensar em Lúcio Malfoy. A menos que...

– Não, senhorita Granger. Foi apenas uma vez. – Ele fez uma pausa, e a seguir fez uma pergunta delicada: – Você se lembra de ter visto o Sr. Malfoy naquela noite?

– Não, estava apenas fazendo uma suposição educada – respondeu, e soube que tinha suposto corretamente, apesar da tentativa do Diretor de manter uma expressão afável.

A idéia de que poderia estar grávida de um irmão de Draco Malfoy tinha cruzado sua mente mais de uma vez nos últimos dias. Ela não tinha nenhuma evidência de que Lúcio Malfoy esteve presente naquela noite, mas ela conhecia bem tanto as tendências depravadas de Malfoy como seus atos de sutil hostilidade contra Snape para suspeitar da sua participação. Esta imagem formada era tão horrível que a verdade era quase um alívio. De algum modo, sabendo que seu agressor não era um maldoso Comensal da Morte, mas um participante relutante, a fez sentir-se, se não melhor, pelo menos ligeiramente menos horrorizada que antes.

Hermione fechou os olhos e inclinou-se de encontro ao braço acolchoado da cadeira enquanto finalmente caia na realidade. Ela fora violentada. Estava grávida. As lágrimas brotavam de suas pálpebras, e ela mordeu os lábios numa tentativa de manter sua respiração calma. O som ondulando de mais chá sendo derramado em sua xícara finalmente transpôs sua aflição, e ela percebeu que Dumbledore estava dando-lhe o tempo necessário para absorver a informação que ele estava passando a ela.

Com um pigarro ela limpou a garganta e secou o nariz com o canto da manga antes de aceitar a outra xícara com um murmúrio de agradecimento. Ela bebeu aos poucos, agradecida pelo líquido quente que acalmava a tensão em sua garganta antes de retornar às perguntas escritas; a lista metódica mantinha seus pensamentos em ordem.

– Como nós - o professor Snape e eu - escapamos naquela noite?

Dumbledore encolheu os ombros: – Isto ainda não está claro. Eu lancei o feitiço Anisthetae para acalmá-la naquela noite, Hermione. Você estava um tanto histérica, o que é compreensível e Madame Pomfrey necessitava de todo meu auxílio para salvar a vida de Severo. Naquela hora, era o mais coerente. Eu tomei a decisão de manter o feitiço ativo e deixá-la retornar a seus estudos. Ele, infelizmente, não se recorda de mais nada além do seu estupro, e depois da tentativa deles de matá-lo.

– Há alguma possibilidade do Ministro mandar prender Malfoy por isto, se eu quisesse prestar queixa? – A raiva que ela estivera ocultando no ápice do seu choque finalmente começou a fazer-se presente. Dumbledore assentiu com a cabeça como se aceitasse, mas sua resposta foi negativa.

– Dificilmente. Você é uma bruxa nascida trouxa, muito jovem, e é conhecida apenas pelo seu relacionamento com Harry. Lúcio Malfoy é um homem muito poderoso. Seu testemunho seria extremamente convincente, para não mencionar que indubitavelmente ele teria uma renca de testemunhas atestando que ele estivera em outro lugar naquela noite.

– E seria mais provável que o Ministro Fudge jogasse Quadribol pela Inglaterra que deixar um Auror dar Veritaserum ao Malfoy.

– Exatamente. Adicionado ao fato de que ele não a prejudicou diretamente, não até onde nós sabemos. Ele enfeitiçou Severo, cujo testemunho provavelmente não teria crédito em nenhuma corte, exceto no círculo de Voldemort. Além disso, sua posição como Comensal apenas contribuiria de forma negativa.

– O que seria ainda mais perigoso para ele. Sendo assim, seria minha palavra contra a do Malfoy – ela afirmou amargamente.

– Exatamente.

Irritando-se, o próprio senso comum de Hermione disse-lhe que Dumbledore estava certo. Não havia nenhuma possibilidade de que todas as alegações contra Malfoy pudessem ser provadas, não sem colocar todos em um perigo ainda maior que o que já estavam, e com uma possibilidade de sucesso mínima. Por mais irritada que estivesse não poderia encontrar nenhuma alternativa melhor à manobra de Dumbledore. O fato de ter engravidado foi uma conseqüência turbulenta que ninguém poderia ter predito. De fato, essa possibilidade foi considerada, mas o Diretor e Madame Pomfrey a rejeitaram em seguida, baseados no seu pedido precedente pela poção contraceptiva.

– O que eu vou fazer? – Ela perguntou calmamente, a raiva dando lugar ao pânico mais uma vez. – Vou perder meu distintivo de monitora-chefe? – Uma pergunta absurda, depois que a tinha dito, mas ela estava muito orgulhosa dele. Era o símbolo de tudo pelo que tinha trabalhado desde que recebera sua carta de aceite em Hogwarts.

– Não, não – acalmou Dumbledore. – Eu falei com Madame Pomfrey. Existe uma poção que pode ser feita, que fará com que você aborte. – O Diretor idoso levantou-se da cadeira e foi à sua mesa. – A poção requer diversos ingredientes que pela nossa política interna não são mantidos em Hogwarts, entretanto. Eu precisarei de um dia ou mais para obtê-los. Ainda, Madame Pomfrey necessitará de ajuda para prepará-la.

– Não o Professor Cluny? – Hermione empalideceu com sua própria grosseria, mas beber uma poção preparada pelo Professor Cluny não era algo que ela ousaria fazer, mesmo que fosse para a sua saúde.

O canto da boca de Dumbledore se contraiu, mas sua voz não revelou sua diversão: – Não, não o professor Cluny. Isto requer um Mestre de Poções, e acontece que eu tenho um por perto, mais ou menos.

– O Professor Snape está aqui em Hogwarts? – Hermione presumiu.

– Sim. Eu vou pedir a ajuda dele para isso. Infelizmente, nós teremos informá-lo por que a poção é necessária antes que ele concorde em prepará-la. Além disso, eu acho que também poderia ser benéfico para os dois se vocês conversarem sobre esta situação. – Dumbledore endireitou-se em toda sua altura e olhou de cima para ela, o rosto dele estava mais sombrio do que ela jamais vira antes.

– Eu temo o que este conhecimento fará senhorita Granger. Severo Snape não está bem. Ele esteve tão perto de morrer naquela noite que até hoje isso me assusta, e sua saúde desde então pode ser descrita apenas como precária. Madame Pomfrey está se esforçando ainda para curá-lo de alguns danos.

– Você quer dizer que contar a ele que me engravidou pode lhe causar algum desconforto? – Ela disse mordazmente, e lamentou imediatamente com a expressão no rosto de Dumbledore.

– Você é a parte ferida aqui, senhorita Granger. Mas por favor, tenha em mente que Severo Snape foi também forçado a fazer algo completamente contra a sua natureza ou disposição naquela noite. Saber que executou um ato tão repugnante para ele já é terrível bastante; saber que ao mesmo tempo ele gerou uma criança em sua vítima pode ser um golpe ao qual ele ainda não esteja forte suficiente para receber.

– Eu compreendo professor – ela respondeu pesarosa. – Eu gostaria de poder tornar isto mais fácil, mas para ser honesta, eu estou muitíssimo estarrecida. Eu não sei o que dizer para tornar isto mais fácil para todos nós, mas gostaria que eu pudesse.

– Eu devo confiar em sua força para carregar este peso, senhorita Granger. Eu argumentaria que um homem tem o direito de saber que gerou uma criança, mas esta situação desafia as convenções normais – Dumbledore pausou, como se quisesse dizer mais, mas acabou conduzindo-a simplesmente para fora do seu escritório e desceu as escadas.

Seguindo na trilha do Diretor, Hermione refletiu sobre o ausente Mestre de Poções. Do seu sobretudo antiquado e cheio de botões até à sua voz irritada e cruelmente sarcástica de barítono. Severo Snape sempre lhe pareceu ser um homem que sempre deu valor ao seu autocontrole mais que tudo. Para ter sido forçado a fazer alguma coisa que fosse contra a sua própria vontade, especialmente um crime que presumidamente ele achava repulsivo, ele deveria estar excessivamente humilhado.

Apesar do temperamento e de língua afiada dele, Hermione acabou respeitando Snape, e até mesmo sentia alguma simpatia pelo homem. Suas ações foram de um equilíbrio perfeito enquanto espionava um inimigo psicopata e percorreu por uma linha tênue entre Voldemort e seus parceiros, que lhe proporcionariam uma morte lenta e dolorosa se descobrissem suas atividades, e entre os Aurores que o jogariam em Azkaban assim que vissem a Marca Negra em seu braço.

Sua escravidão virtual a Voldemort como um Comensal da Morte enquanto honrava seu compromisso com Dumbledore de atuar como espião significava que Snape tinha pouco tempo para viver sua própria vida. Seu papel como o Diretor da Sonserina, fiscalizando um grupo de estudantes cujos pais eram prováveis Comensais ou parceiros de Voldemort, também exigiam que ele cuidasse e supervisionasse os filhos daqueles que estava traindo. A tensão imposta por este disfarce deixaria qualquer temperamento tão vil.

Ron Weasley poderia ter argumentado que seu jeito seboso e humor áspero simplesmente faziam parte da personalidade dele, mas Hermione tivera dúvidas por vários anos. Certamente alguém tão terrível jamais se incomodaria em trabalhar como um agente duplo, ou fazer o possível para salvar a vida de Harry Potter em mais de uma ocasião.

Hermione e Dumbledore chegaram à Ala Hospitalar antes que ela pudesse decidir como lidaria com o eminente confronto com Severo Snape, mas evitou pensar nele em qualquer outro termo, a não ser como no mestre de Poções que prepararia a poção que necessitava. Seguindo humildemente atrás de Dumbledore, decidiu simplesmente seguir sua liderança e deixá-lo começar a falar.

No final da Ala de Pomfrey, ao lado da pequena pia, um painel de vidro jateado em uma porta de madeira anunciava-se como sendo a Ala de Isolamento. Desde que a medicina bruxa há muito tempo lutava contra as doenças transmissíveis com misturas de preparo fácil tais como a poção anti-gripal, a porta estava empoeirada e parecia que rangeria horrivelmente se fosse forçada a abrir. Ao toque de Dumbledore, entretanto, ela abriu fàcilmente. A iluminação de uma pequena janela revelou três pequenas, camas portáteis desfeitas, que pareciam estar na mesma posição desde que o próprio Dumbledore estivera matriculado na escola.

– Severo? – Dumbledore chamou. – Você está acordado? – Com um aceno da sua mão vazia, a parede distante desvaneceu revelando um arco.

– Sim. – A voz seca, sibilante que respondeu ao chamado se parecia com os tons uniformes e vibrantes que tinham chicoteado Hermione e seus companheiros grifinórios pelos últimos sete anos. Assim que captou a visão do homem, ela mal conseguiu evitar um arquejo.

Se Snape parecia um espantalho preto e branco antes, agora ele era a própria personificação da morte. Suas vestes flutuantes de professor foram substituídas por um casaco de passeio acolchoado preto e desgastado, mais para seu aquecimento que para algum efeito, que esboçava seu esqueleto longo e magro. Suas mãos pálidas pareciam quase esqueléticas quando agarradas aos braços da sua cadeira, enquanto que seu rosto estava fino, a pele sugada e amarelada sobre os ossos da sua face. O cheiro do quarto, de doença e de demasiado conhaque, golpeou-a, e era aparente que os elfos domésticos não poderiam fazer muita coisa. Obviamente ele não tinha saído para a parte externa destes quartos por algum tempo, mas as janelas estavam fechadas com as cortinas puxadas, e sua cadeira foi girada deliberadamente para longe da claridade que conseguisse passar por aquelas barreiras.

A melancolia evidentemente incomodou Dumbledore tanto quanto a Hermione, porque ele fez um som irritado: – Honestamente, Severo, este lugar parece com um túmulo.

– Que apropriado, Alvo. Talvez a alegação de que sou um vampiro finalmente venha se tornar a ser verdadeira. – A voz de Snape era ainda profunda, mas seu peito subiu e desceu em palpitações curtas e rasas após o discurso. Hermione ficou intimidada com a aparência dele. E ficou ainda mais insegura quando a cabeça dele girou e ele registrou sua presença ao lado de Dumbledore. Por um momento, seus olhos pretos resplandeceram uma variedade de emoções até que ele os girasse deliberadamente para longe.

– Porque ela está aqui? – Perguntou sem rodeios.

– Nós temos um problema – Dumbledore respondeu.

– Um problema – ele repetiu de forma direta. – Nós sempre temos “um problema”. – O escárnio não tinha diminuído em nada. Snape deixou sua cadeira e andou cambaleando até à mesa na parede, seus dedos longos acariciaram uma pilha de livros que não mostravam nenhum sinal de que tinham sido lidos. – Vá embora, Alvo. Leve-a com você e deixe-me fora disso. Minha participação nisso só pode nos conduzir a um desastre.

– Eu tomo a liberdade de discordar, Severo. Sua participação é extremamente necessária.

– Não há nada que se beneficiaria de meus esforços – Snape insistiu. Virou-se por um momento, seu olhar tocou em Hermione antes que ele voltasse para trás novamente, para seus livros não lidos. – Nada – repetiu estupidamente, dando às costas a seus convidados como se os ignorando pudesse fazê-los partir.

– Bem, essa é exatamente a atitude que nós precisamos Severo – Dumbledore disse, com um toque frígido em sua voz normalmente cordial. – Por acaso, nós estamos precisando de uma poção.

– Deixe que Pomfrey a faça – veio a resposta negativa.

– O Gravis Expirerato requer a mão de um mestre – Dumbledore reagiu.

Gravis Expir... – Snape olhou fixamente no espaço por alguns momentos, até que seu olhar horrorizado encontrasse Hermione. Ela cruzou os braços defensivamente.

– Eu estou grávida.

Um som áspero eclodiu do homem, mal reconhecível como uma risada com um toque irritado, histérico. Hermione só conseguiu agüentar alguns momentos daquilo; depois dos últimos dias, ter de ouvir o riso de Snape era demais. Com uma exclamação silenciosa, ela caminhou rapidamente para frente.

Se ela o empurrou ou o golpeou, ela não poderia dizer, mas o homem encolheu-se para trás ao seu avanço e tropeçou, caindo no assoalho. A explosão de raiva repentina com o seu riso transformou-se em uma tosse áspera que pareceu sacudi-lo por dentro. De repente, envergonhada de si mesma, Hermione ficou parada de lado enquanto Dumbledore veio ao lado do homem caído e conjurou um cálice de água.

Hermione ficou tão chocada com o recuo dele quanto com a conscientização repentina de como ele estava frágil. Ele permitiu apenas que Dumbledore o ajudasse a ficar de pé, então dispensou imediatamente a ajuda do bruxo mais velho e ignorou a bebida oferecida. Inclinando-se na mesa e oscilando ligeiramente, Snape dirigiu uma pequena saudação para ela, nada mais que um aceno de sua cabeça.

– Minhas desculpas, senhorita Granger – ele conseguiu dizer, com uma voz rouca que apenas se aproximava do seu tom normal. – Eu não estava rindo de você; apenas admitia a tendência do destino para seus caprichos sem fim. Você recuperou suas memórias, então, eu suponho?

– Não senhor – Hermione respondeu. – O professor Dumbledore removeu o encanto, mas as memórias ainda não voltaram. Ele teve que me dizer o que aconteceu depois que eu fui ver Madame Pomfrey achando que estava um tipo de gripe.

Snape contraiu-se, mas não respondeu, continuou olhando fixamente para a borda das vestes dela. Por um momento Hermione pensou que poderia ter um rasgo ou alguma outra falha no tecido antes de perceber que o professor mais apavorante de Hogwarts era incapaz de encará-la nos olhos. Apesar da sua natureza não-vingativa ela experimentou uma leve sensação de conforto ao perceber que tinha, por assim dizer, Severo Snape em suas mãos. Ela parou, perguntando-se de onde viera essa idéia, e ao mesmo tempo, seis anos e meio aturando as observações odiosas dele a permitiram aproveitar um longo e delicioso momento para de deleitar-se com esta sensação, antes que seu senso comum e integridade inata o reprimissem para sempre.

– Professor Snape, eu sei que você não está bem, mas o professor Dumbledore diz que Madame Pomfrey não pode preparar esta poção sozinha, e eu tampouco não desejo pedir a ajuda do professor Cluny.

Snape limpou sua garganta com um pigarro rude: – Eu ajudarei a preparar a poção que você precisa, senhorita Granger, e farei o que puder para poupá-la dos efeitos colaterais. A Expirerato é desagradável, mas é ainda pior se preparada impropriamente. Agora, se você me desculpar – declarou, e virou-se com um toque de sua impetuosidade usual. Apenas quatro ou cinco passos o separavam da cadeira que ocupara anteriormente, mas Snape controlou mal à distância antes que desmoronasse completamente sobre ela.

– Diretor, você vai acompanhar a senhorita Granger para fora e falar com Papoula sobre os ingredientes da poção? – Ele perguntou. Sua voz profunda estava apenas um pouco mais fina e trêmula. Mesmo que Hermione tivesse ficado irritada com ele antes, a evidência visível da enfermidade de Snape era perturbadora. Dumbledore murmurou algo em resposta, que Hermione não conseguiu ouvir, foi até o lado dela, envolvendo o braço dela sob o dele e conduzindo-a para fora do quarto.

Um último olhar de relance sobre seu ombro para o Mestre de Poções mostrou-lhe um homem que se inclinava pesadamente para um lado, sustentando sua cabeça em uma mão enquanto seus cabelos pretos e finos pairavam desordenadamente lisos sobre o seu rosto. Uma aura de dor e de total solidão irradiava de seu corpo magro e ela foi golpeada por uma punhalada de repentina simpatia por um homem que nunca lhe dirigira uma única palavra amável em sua vida.

N/T- Espero que vocês estejam gostando. Gostaria de agradecer novamente a minha beta Bastetazazis pela rapidez e eficiência, mesmo estando sem net, além é claro da Fer que sempre tem como dar uma mãozinha quando a coisa aperta. Adoro vocês!!!
Bom mais emoções vão abalar a resistência de Hermione e ela terá que tomar algumas decisões...



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